Outro dia, enquanto conversava com um amigo meu em um clube da cidade, o
filho dele se aproximou. O pai, com ar
de orgulho, bateu no ombro do garoto de apenas 9 anos e disse assim: “Este aqui
será o médico da família”. Eu olhei para o garoto que esboçava um “sorriso
amarelo” e perguntei: “Você vai ser um médico?” Ele então olhou para o chão e
disse: “Vou”. Certamente não senti nenhuma firmeza nele. Na verdade, nem me pareceu que ele estava mesmo com
interesse na conversa. O pai, muito seguro,
reafirmou a mim que o filho seria médico, que levava jeito para a
profissão e que era aluno com boas notas,
por isso seria médico e teria muito sucesso na vida. Quantas vezes
fazemos isso com os nossos filhos?
Você é um profissional por
escolha sua ou por determinação dos seus pais? Você fez a sua escolha? Pois é,
devemos deixar que os nossos filhos façam a sua escolha. A carreira será dele e
o sucesso dependerá dele. Por hora, temos que estar satisfeitos com o
desenvolvimento social, cognitivo e afetivo de nossos filhos; querer que tenham responsabilidades de
escolher uma carreira, nessa idade (9 anos!),
é muito para eles. Até os 14 anos, eles não têm a menor maturidade para saber o que querem
da vida. Por enquanto, necessitam de brincar, de serem crianças e terem um lar
gostoso para se viver.
Meu pai tinha essa mania com os filhos. Ele queria que eu fosse
advogado. Até poderia ter sido, sinto que me sairia bem, mas eu tinha desde
pequeno alguns sonhos: quis ser padre e depois policial militar, por isso
estudei em seminário e em colégio militar. E, por incrível que pareça, foi na
educação que eu me encontrei. Meu pai achava sempre que todas as minhas opções
não eram boas e adequadas. Como disse, fiz a minha opção e não escutei os
conselhos dele. Sofri resistência, mas fiz vestibular para o curso de História.
Era a faculdade que havia escolhido.
Com meus filhos é assim: brinco com a situação, mas respeitarei a opção
de cada um. Afinal, quem terá que conviver com a escolha que fizerem serão eles
e não eu. Hoje tenho certeza absoluta de que o sucesso na vida depende de amar
o que se faz, e, para tanto, é óbvio que
a escolha tem que ser pessoal. O que podemos,
e até devemos, é orientar os filhos, no sentido até de ajudá-los a
conhecer melhor as suas habilidades e competências, mas nunca impor a eles a nossa vontade. Eu me
lembro de um amigo que. após a morte de seu pai, depositou em seu túmulo o
diploma de engenheiro e foi ser ator de teatro. Trabalha até hoje com
isso, e o seu filho é também ator em
Nova York. Como eu disse, queria que algum filho meu fosse militar, outro
médico e, por fim, o outro um Juiz de Direito. Sonho meu e não deles. Pensei
bem e resolvi deixar com cada um a oportunidade de escolher o seu próprio
destino. O que não abrirei mão é de orientá-los na vida, mostrar como o mundo
funciona e acolhê-los sempre em seus conflitos.
Quando escrevia este pequeno ensaio, ouvia a linda música de Renato
Russo que diz assim: “O que você quer ser quando crescer? Alguma coisa
importante, um cara muito brilhante, quando você crescer não adianta, perguntas
não valem nada, é sempre a mesma jogada. Um emprego e uma namorada. Quando você
crescer é cada vez mais difícil de vencer...” É isso, lembram-se dessa música?
Ela nos ensina que quando a gente cresce, a felicidade está mesmo no “cafezinho
mostrando o filho para a vó”, “sentindo o apoio dos pais”, “achando que não
está só”. Acho isso fundamental. Vamos dar aos filhos a segurança de que eles podem
contar com a gente, independente do que escolherem ser.
Sejamos felizes! Estamos juntos!