quarta-feira, 6 de junho de 2012

Levem seus filhos para o mundo da literatura!


Tenho defendido em minhas falas mais recentes a importância da leitura para a formação da criança. Usando a linguagem figurativamente, os contos de fada e  as histórias infantis nos ajudam a lidar, de forma literária e artística, com problemas do nosso cotidiano. Esses textos, aparentemente tão inocentes e de pouco conteúdo, ensinam as crianças  através de exemplos. E nos ajudam como pai ou educador a repensar as relações humanas e os riscos a que diariamente nos expomos.
Sem nos fazer sofrer muito, a Borralheira nos coloca em contato com a relação conflituosa entre irmãos;  o clássico “Chapeuzinho Vermelho” nos alerta sobre os perigos da sedução do desconhecido, ali representado pelo Lobo Mau, reforçando nos pais a consciência dos riscos envolvidos no desenvolvimento de seus filhos. Com muita persuasão,  o Lobo Mau tira   a Chapeuzinho Vermelho, tão bem orientada pela mãe, de seu caminho  e consegue dela o endereço da casa da vovó.  As crianças estão sujeitas a perigos assim  durante a vida, e Charles Perrault nos dá esse alerta.
A combinação de vários elementos no enredo de uma história infantil desperta o interesse e mexe com o imaginário das crianças, adolescentes e adultos. Comumente essas histórias falam de amor e de ódio, da disputa e da necessidade de vencer limites. Suscitam a questão da ética e do respeito e fazem com que os leitores assumam para si as características do personagem. Há sempre uma mensagem subjacente que atua no inconsciente de todos, pois os contos envolvem conflitos, necessidade de transformação, superação e trazem todos os ingredientes necessários para uma vida feliz e de sucesso. Essa é a magia da literatura.
Quando escrevi  O Sapo Leleca e a Princesa Lili, trabalhei com todos esses elementos. E nas contações de histórias que acompanho, percebo o quanto que a saga do sapo Leleca mexe com o imaginário infantil. As crianças testemunham a mudança do sapo, que se transforma em camponês por magia e pela busca do amor e a do camponês, que,  novamente impulsionado pelo amor, se transforma em príncipe e casa-se com a princesa, que ele salvou do ataque perverso de um lobo.
Todas essas mudanças que personifiquei na minha história estão presentes no imaginário infantil. E como estão em  fase de pleno desenvolvimento orgânico e sócio-afetivo, estimulando-as  a crescer, a se “transformar”, as crianças sentem  a   própria capacidade de mudar e a associam às próprias vidas.  De certa forma, elas,  diante das ações heroicas dos personagens, se veem no sonho do próprio personagem, aprendendo com ele a superar as dificuldades e tendo na força do exemplo a habilidade emocional necessária para conquistar a maturidade e a autonomia por todos tão sonhadas.
Nos contos de fada é característico colocar um dilema da existência humana que possibilita à  criança compreender o problema em sua forma mais essencial, já que uma trama mais elaborada certamente confundiria o seu entendimento. As figuras e os personagens são criados de forma a colocar o bem e o mal sempre em uma situação de confronto. Os conflitos reproduzem os nosso dilemas,  e a trama leva  à solução desses problemas. O mal, presente no poderoso gigante, no lobo, na bruxa, na madrasta e em tantos outros personagens,  nos leva sempre a uma profunda reflexão sobre moral e ética. E a eterna  vitória do herói virtuoso contra o mal é objeto que imprime moralidade  à nossa vida.
Toda essa dinâmica faz com que pais e professores levem as crianças a um ambiente seguro, em que as identificações com os personagens do bem fazem  um reforço inconsciente dos valores mais dignos. Por isso, é muito importante a leitura. Deixo aqui, mais uma vez,  um grande desafio a todos: encaminhem seus filhos ao mundo da leitura desde a idade mais tenra, dando–lhes livros de presente e lendo para eles.   Contem  as histórias clássicas da literatura mundial e (re)descubram   o quanto elas nos ensinam, libertando a nossa capacidade imaginativa e nos preparando para a vida. Tenham certeza de que as histórias infantis ajudam e muito na educação e na formação das crianças!
 
Fonte: BETTELHEIM, BRUNO. A Psicanálise dos Contos de Fadas. 16ª edição – ED. Paz e Terra. 2002.

Autoestima e Aprendizagem, Associação Perfeita.


A auto estima é um sentimento que é aprendido e desenvolvido ao longo da vida do ser humano. O tipo de educação que uma criança recebe em casa e na escola será determinante para suas relações sociais  com o mundo em que ela vive e o entendimento de seus fenômenos.
A criança, para ser feliz, necessita acreditar que é capaz de criar, de desenvolver ideias, de errar e de acertar, de transformar informações em conhecimentos, mas, acima de tudo, ela precisa ter segurança em tudo que faz. Na Escola, nós, educadores, temos o compromisso de torná-las autônomas e com motivação para as descobertas. Em casa, essas mesmas obrigações cabem à Família.
Educar é promover às crianças situações em que elas possam ir adentrando no universo dos sentimentos, das ideias, da razão e das diversas sensações. Ela precisará, para crescer, construir o seu saber, transpondo alguns limites e desenvolvendo habilidades e competências ao mesmo tempo que aprenda que para viver será preciso, também, respeitar limites. Essa construção será sólida na mesma proporção que sólida for a autoestima da criança. Uma criança amada e valorizada em suas potencialidades é uma criança feliz. Não vamos esquecer, no entanto, que nosso amor é também demonstrado aos filhos quando disciplinamos, cobramos e encaminhamos. Não existe nada de errado em educar. Aliás, essa é uma forma de amor mais perceptiva à criança. Educar é amar!
E é nossa obrigação como pais e educadores garantir que a criança tenha autoestima elevada. Para isso, é necessário assegurar a ela condições emocionais adequadas para um bom aprendizado na escola. Como? Respeitando seus limites e reconhecendo que a construção da autoestima da criança passa pelo respeito às  suas potencialidades. As crianças precisam sentir sua capacidade produtiva valorizada e estar com a autoestima elevada para que possam crescer felizes.
Dessa forma, é fundamental que pais e educadores reflitam sobre as exigências que fazemos às nossas crianças.  Ao cobrarmos algo que elas não conseguem fazer, estamos contribuindo para que desenvolvam baixa autoestima.  Por isso é importante valorizar o que elas podem nos dar, o máximo de sua capacidade.
Mas isso não quer dizer que devamos exigir dela o 10,0 ou 9,0. Lembro-me de minha mãe, que sempre me pedia nota 7,0. Ela dizia que sete estava ótimo. Essa cobrança nada mais era do que o respeito a minha capacidade produtiva. Para mim, o sete sempre teve som de dez, e, sinceramente, nunca que fui cobrado mais do que 70% em todos os cursos que fiz. Esse respeito ao meu limite e, ao mesmo tempo, a cobrança sobre mim foram suficientes para eu ser o profissional que sou e um adulto feliz e pleno.
Que gostoso isso! Pensem em exemplos assim e saibam que, se sua criança não for dez, não significa que ela é aluno ruim. Valorizem o que ela pode dar com esforço. Se puder dar mais, tem que dar. Mas, se o que está conseguindo é o máximo naquele momento, então ela é nota 10,0. 
A escola não educa sozinha. Por isso defendo sempre que é preciso estarmos juntos, escola e família, para a construção dos seres humanos com a autoestima elevada, felizes e completos. Só assim teremos cumprido plenamente nosso papel de educadores.