“Somente
alguém que possa sondar as mentes das crianças será capaz de educá-las e, nós,
pessoas adultas, não podemos entender as crianças porque não mais entendemos a
nossa própria infância”. (Freud, 1913b:224)
Vivemos
em um mundo cuja educação tem sido marcada por profundas modificações ocorridas
em todos os campos. A política educacional tem sido gravemente afetada pelas
acomodações do sistema capitalista, afetando a dinâmica nas escolas, nas
relações entre os familiares e a escola, e mesmo entre os professores e os
alunos. De maneira mais específica, tem acontecido em nossa cultura mudanças
comportamentais que têm impactado na escola e também nas famílias. Assim como a família, a escola vem perdendo
autoridade, pois os valores vêm sofrendo mutações e os professores têm sido
colocados no mesmo patamar que as crianças. Em família, a situação é similar.
Crianças se colocam no mesmo patamar dos pais e, a título de uma “educação
contemporânea e liberal”, o que temos é geralmente a perda de autoridade dos
pais. As crianças, sem a referência da autoridade, crescem acreditando que
podem tudo, que não precisam de limites e que sabem o que desejam na vida.
Resultado disso? Indisciplina, desrespeito e desorganização social. O que
existe para orientar essas crianças? Qual o modelo que seguirão? Será que
vivemos em um mundo sem limites?
Vivemos
em um mundo do consumo e os excessos se tornam preponderantes. Aí temos um
cenário assustador. Crescem os laudos de hiperatividade, angústias, depressão
etc. A ciência tenta encontrar medicação para solucionar as patologias, as
famílias ficam assustadas e a escola acaba recebendo uma carga maior do que
originalmente seria a sua missão. Crescem as diferenças e os educadores
necessitam se adequar, e a escola a se reinventar. Muitos pais, simplesmente,
preferem não tomar ciência do problema e culpam a escola que, por sua vez,
atribui a responsabilidade às famílias. A criança fica no meio dessa situação....
Isso acontece em todo o mundo, pois é um fenômeno desse mundo líquido que
estamos vivendo. Os pais estão cedendo aos desejos de consumo dos filhos e não
estão conseguindo colocar limites. Como encontrarmos o equilíbrio em um sistema
globalizado que apregoa um mundo sem fronteiras, exigindo qualidade total,
eficácia e sucesso a qualquer preço?
Sempre
no início do ano letivo, me dirijo a minha comunidade escolar para buscarmos um
entendimento acerca das práticas necessárias para que, juntos, possamos
construir um caminho que nos oportunize a construção de pontes que unam escola
e famílias, para que possamos nos encontrar em um único ponto: a formação de
nossas crianças. Para que isso aconteça, se faz necessário um quesito
essencial: a confiança! Sem isso, não teremos um diálogo franco e saudável. A
escola e a família somente conseguirão o sucesso junto às nossas crianças se fizermos
juntos. Estabelecer laços de confiança e seguir as orientações da escola, é a
certeza de que acertaremos. Claro que o tempo todo, nós e a família, teremos
que buscar uma afinação única. É essa sintonia que garante a base da formação
de nossas crianças. Jamais poderemos estar nos opondo e nos desacreditando.
Esse embate gera desconforto e incertezas. Por isso, sempre convido os
familiares que se aproximem das educadoras e educadores, coordenadoras e
coordenadores e das nossas orientadoras. São eles os condutores da vida escolar
de seus filhos. São eles os parceiros para a educação de nossas crianças. Por
isso, são amigos e profissionais habilitados e competentes para resolverem tudo
o que pode parecer ou mesmo ser uma lacuna entre nós escola e você família.
Queremos o diálogo, a escuta, apostando um a um, na singularidade de cada
sujeito que é aluno de nossa Escola. Queremos você conosco, para juntos
oferecermos o melhor para as nossas crianças.
Nossa
experiência na Escola é dessa ordem. Estamos interessados em cada um, em cada
aluno e em sua história em particular, promovendo laços e garantindo um
funcionamento de rotina e aprendizagem dos conteúdos. Somos assim, humanos,
pais e mães, profissionais, educadores e carregamos também a nossa história de
vida. Somos Escola e Família, Mestres e Aprendizes. O que precisamos é de você
conosco para que possamos completar a nossa essência.