É constante a preocupação de pais e educadores com a
permanência das crianças na frente de um computador ou dispositivo qualquer.
Fala-se nisso demais e eu mesmo já tratei esse tema em um artigo encaminhado
aos pais. Contudo, proponho aqui um aprofundamento na discussão. Esse
comportamento é mesmo prejudicial para as crianças e adolescentes? Em que
sentido? Qual deve ser a atitude dos pais? Vamos construir um raciocínio capaz
de elucidar esses questionamentos. Para tanto, estarei me baseando em “olhares”
psicanalíticos a respeito do tema.
Eu faço uso constante dessa tecnologia em minha
vida. Utilizo o computador para trabalhar, escrever e mesmo para me comunicar
com a família que hoje está fora. Utilizando-se de meu smartfone, acesso as
redes sociais, consigo a transmissão de imagens e conversas com todos em tempo
real. É uma maravilha. De certa forma, eu assumo que estou exposto a um tempo
enorme à frente das tecnologias e nas redes sociais, me beneficiando de tudo de
bom que posso usufruir. Em meu caso particular, utilizo toda essa ferramenta em
benefício do meu trabalho e minha comunicação. Portanto, para mim, o computador
em si é apenas um instrumento que pode ser usado de maneira saudável. Então a
pergunta é: o que torna o uso do computador prejudicial? A resposta depende do
número de horas em que a criança ou adolescente passa na frente de uma tela,
roubando o tempo das atividades que são necessárias ao bom desenvolvimento
físico e social, bem como ao bom desempenho escolar. Se a criança ou jovem
deixa de brincar, praticar esportes, ir ao cinema, ler um livro, estudar etc,
por estar exageradamente “enfiado” em uma tela de computador ou qualquer
dispositivo, aí sim temos um grande problema. Se ele ou ela está demasiadamente
se relacionando com pessoas no mundo virtual, criando fantasias com a
imaginação ou mesmo deixando de lado o mundo real para viver o mundo virtual,
aí temos um enorme problema instalado.
Um perigo muito grande é a criança e o jovem começarem
a viver um descompasso entre o mundo real e o virtual. As fronteiras entre as
duas realidades podem se tornar confusas e aleatórias. Isso é um problema, pois
quanto menor for a maturidade do usuário, mais real ele achará o mundo virtual.
Tudo em suas mãos, via internet. Isso quer dizer que, para alguns, viver o
mundo virtual pode então ser mais interessante do que viver o mundo real. Mais
rápido, mais sofisticado e mais interessante. Os encantos das redes sociais faz
de qualquer um, uma pessoa popular, cheia de amigos envolvidos em momentos deliciosos
com postagens que só mostram lugares lindos e festas. Reparem o perigo... O
mundo virtual nos leva a um mundo de felicidade. Não há cobranças ou limites,
como no mundo real. Tudo é extraordinário. Pode se comprar, assistir a um show,
baixar músicas, jogar, conhecer parceiros e parceiras, postar ideias... tudo é
possível. Esse mundo é mais sedutor e gostoso de se viver. Para as crianças e
jovens a sensação de estarem em um mundo real quando acessam a internet é muito
grande. Aos poucos, ele vai se alienando do mundo real e se isolando dele.
A expressão extremada da existência virtual é o site
Second Life, em que os usuários podem mesmo construir uma nova vida, uma nova
identidade (nickname), com perfil de personalidade nova. Pense no tamanho do
problema... aqui eu tenho a desconstrução de uma personalidade real e a
construção de uma personalidade virtual desejada. No campo psíquico, o
descompasso do que é vivido na realidade e o que é criado no virtual, cria
desvios que levam a mente humana a trabalhar mais próxima do funcionamento
psicótico, com uma possível sensação de onipotência e uma tendência ao
isolamento narcísico. Claro que tudo isso nos leva a entender que precisamos,
sim, limitar aos filhos a utilização excessiva dessa maravilha. Fala-se hoje no
surgimento de novas doenças, as ligadas às tecnoneuroses. Então, há perigo e
nós devemos estar atentos. Devemos estar atentos ao isolamento deles, a falta
de vontade de brincar e se relacionar socialmente. Precisamos dialogar para
vermos se estão vivendo em um mundo paralelo ou estão conosco no mundo real.
Precisamos estar atentos para não perdermos os nossos filhos para essa
virtualidade, pois há perigos ocultos que envolvem sedução e mentiras nas redes
sociais. O mundo virtual possui encantos que podem levar os perigos a todos,
inclusive os que nem ainda ouvimos falar, perigos silenciosos que operam em
nossa mente.
Para você conhecer mais o que tem sido discutido
sobre a vida de nossos filhos e tudo o que envolve o seu psíquico, eu sugiro a
leitura do livro “Perguntas a um
Psicanalista”. Ele foi escrito por Roberto Girola e editado pela editora
Ideias Letras.