“Professor, o meu filho não mente!”. É o que
costumo ouvir em vários atendimentos que faço a pais. Escuto respeitosamente,
contudo tenho outro entendimento. Na verdade, à luz da Psicologia, sabemos que
as crianças mentem sim, e por duas razões: por desejo de realização ou por
medo. No desejo de realização, a criança cria situações positivas para ela. Por
exemplo: chega em casa dizendo que marcou três gols na aula de Futsal, quando
na verdade isso não aconteceu. Ela está buscando autoafirmação e também o
elogio dos pais. No segundo caso, por medo, ela mente sobre algo para fugir do
castigo ou da repreensão. Diz que não foi ela e culpa os outros. De fato, a
maioria das crianças, e mesmo os adolescentes, mentem por medo.
Nós, pais e educadores, precisamos entender que
a mentira existe, e quando enxergarmos que ela está instalada, devemos mostrar
às nossas crianças que elas não estão agindo de forma correta. É preciso
fazê-las entender que mentir, esconder a verdade, não é um valor ético
aceitável. Precisamos ensinar que a mentira compromete a confiança e pode até
mesmo prejudicar outras pessoas. Enxergar a mentira nos filhos e fazê-los ver
que não estão certos é a melhor forma de educá-los para a vida. É muito normal,
diante de uma situação de “aperto”, a mentira ser a janela de escape. Adultos
costumam agir assim também e isso não é ético. Nós, pais e educadores,
precisamos muito estar atentos a esse comportamento em nós mesmos, pois as
mentiras, mesmo que inocentes, são mentiras.
Muitas vezes, na vida real, a mentira tem sido utilizada.
Na verdade ela convive conosco o tempo todo. Mas (observem bem!), repudiamos a
mentira sempre. Criticamos os que mentem, achamos que a “mentira tem pernas
curtas” e para nós, mesmo que seja dolorosa, queremos a verdade sempre. Por
isso mesmo, aconselho a não aceitar a mentira de seus filhos. Punir, castigar e
humilhar? Mil vezes digo não! O que temos que fazer sempre com as nossas
crianças é ensiná-las. Se desejarmos mesmo um mundo mais ético, uma sociedade
mais digna e um lugar bom para os nossos filhos, então não podemos permitir que
eles cresçam na mentira.
Ninguém nasce sabendo mentir. Esse é um
comportamento que adquirimos a partir da convivência com outras pessoas. Claro
que não me refiro aqui às “fantasias infantis”. Isso é outra coisa que um dia
tratarei em um outro ensaio. Na fase das fantasias, a mentira ocupa o lugar da
“imaginação”. Tal fato é parte do processo evolutivo e principalmente de
aprendizagem. As crianças estão “viajando” na imaginação. Estão se conhecendo e
conhecendo o mundo. A fase da fantasia vai até por volta dos 7 anos, podendo é
claro se estender.
Voltando à questão... quando a criança mente
para esconder algo ou para se promover, nós, pais e educadores, temos que estar
atentos para atuarmos no sentido de corrigirmos esse desvio de comportamento.
Se faz necessário aqui ouvir a criança e não criticá-la ou puni-la, apenas
deixá-la à vontade para falar a verdade e sentir que falar a verdade não pode
gerar punição. Essa atitude gera um clima favorável à confiança e à segurança,
o que aumenta a chance de a criança sempre dizer a verdade. A mentira pode ser,
então, uma forma encontrada inconscientemente pela criança de denunciar que
ninguém sabe de fato o que ela faz. Certamente essa sensação é quase uma
permissão para que ela minta. Portanto, o diálogo franco, a liberdade da fala
da criança e a escuta dos pais e educadores são essenciais para que a criança
perceba que não é necessário mentir para resolver os problemas que lhe são
postos. Caso não funcione, recorra a atitudes mais disciplinadoras. Se
funcionou com você, na medida certa, acontecerá com seus filhos.