Semana passada, um casal de amigos me confidenciou que necessitava
de ajuda. Eles têm um filho temporão com 5 anos de idade, e a criança, segundo
relato deles, está insuportável. Autoritária, manipuladora, o centro das
atenções. De imediato pensei... Essa criança tem a “síndrome da criança
imperador”. Ouvi o depoimento da mãe e também a fala do pai. É incrível como os
problemas nos filhos sempre têm a ver com a conduta dos pais. Afirmo e reafirmo
sem dar trégua: Somos sim os responsáveis por tudo o que acontece no emocional
de nossos filhos. Contudo, quero aprofundar o meu entendimento, a partir da
escuta do casal.
A despeito de toda idealização de que as mulheres são “mães
natas”, o pai tem também um papel fundamental na vida dos filhos. Aliás, o que
tenho mais refletido ultimamente em Psicanálise é exatamente o impacto do pai
(figura masculina) na vida dos filhos, sob o ponto de vista do emocional. Na
verdade, educar é um projeto conjunto e, de acordo com o psicanalista Rubens Maciel,
o pai e a mãe irão preparar os filhos para a vida. Alguns estudiosos afirmam, até,
que os pais costumam ter mais habilidade do que as mães, pois eles oportunizam
mais “janelas de negociação” em situações de conflito. A função de pai e de mãe,
então, se completa na tarefa de educar.
É surpreendente a forma como o pai conduz a educação dos filhos de
forma mais abrangente e menos protetora. Ele costuma deixar os filhos se
arriscarem, tirando as crianças da zona de conforto. A visão paterna de que o
risco é necessário à criança a torna mais autônoma e futuramente mais segura em
suas escolhas. Também é o pai quem mais brinca de forma participativa com os
filhos. Parece que age como criança em casa, quando brinca com os filhos. A mãe
é mais reservada nas brincadeiras de pular, jogar ou mesmo “bagunçar”. Pode ser
estranho, mas essa negligência gostosa, que o pai fomenta, desperta a
criatividade e autoconfiança nas crianças.
Outro aspecto muito interessante é que as expectativas do pai em
relação aos filhos são diferentes das expectativas da mãe. Para o pai, ao
contrário da mãe, as frustrações não se transformam em sentimento de culpa. Há
também pouca pressão externa acerca do desempenho dos pais e isso os deixa mais
livres e soltos. É o pai, também, quem dá menos importância aos pequenos
problemas. A mãe valoriza muito as situações; o pai é mais tranquilo, menos
impositivo e mais rápido nas decisões. Ele também costuma ser mais enérgico e
estipula metas mais exatas. São firmes, porém mais pacientes, deixando os
filhos mais à vontade. Está vendo? O pai deve participar mais da educação dos
filhos. Bom para ele, para a mãe e para as crianças!
Um cuidado, contudo, deve ser tomado: nunca poderá existir
controvérsia no posicionamento de pai e mãe em relação à conduta com os filhos.
Pelo menos nunca na frente das crianças. Elas, com certeza, usarão essa
divergência para tomarem conta da relação e se imporem emocionalmente. Por isso
mesmo, pai e mãe têm que estar bem sintonizados. Para tanto, um bom diálogo
resolve tudo.