terça-feira, 28 de março de 2017

E a tal motivação...



Ouço e leio muito sobre a importância da motivação. No mundo corporativo, na escola, nas possibilidades de sucesso, em todos os aspectos. De certa forma, reproduzo o que leio e tento buscar sempre a motivação. Procuro motivar os professores, os colaboradores e os alunos e alunas, acreditando na força dessa motivação. Contudo, os anos de experiência e a constante autocrítica que não me deixam relaxar, me levaram recentemente a uma reflexão que desejo compartilhar. Sabemos mesmo motivar as pessoas? Estamos atentos a cada um, quando buscamos motivá-los? Estamos buscando corretamente a nossa motivação? Ora, saber motivar é fundamental para quem está educando, seja os pais em casa ou os educadores na escola.
O problema ao se tentar motivar as pessoas é: ninguém sabe motivar de fato. É exatamente por essa razão que a indústria de livros de autoajuda, de palestras fabulosas com conselhos mágicos e receita de sucesso estão na moda. É muito difícil de explicar e mesmo medir o que nos incentiva. Na verdade, tipos diferentes de personalidade reagem a motivações diferentes. Além disso, devemos considerar também que a motivação é mais interna do que externa. Dessa forma, encontra-se em nós e não no outro. Mas como descobrirmos isso? Vou insistir na tese do diálogo, da escuta e da aproximação. Ajudar alguém a se encontrar e se motivar depende e muito do conhecimento que temos desse alguém. Às vezes, nós pais e educadores, encontramos dificuldades em conhecer as nossas crianças e adolescentes. Até porque buscamos motivá-los, a partir de valores e desejos que são nossos e não deles. É comum, buscarmos a nossa realização no sucesso de nossos filhos ou o que nós atribuirmos ser o sucesso. Já procurou se permitir a escutar seus filhos para ajudá-los em suas buscas?
Muito bem... se a motivação depende também de fatores internos, inerentes a cada um de nós, ela está em nós. Para conhecê-la e tê-la como fator de impulso positivo na vida, precisamos tomá-la como de fato nossa. É aí que entra a questão do autocontrole, a força de vontade e a busca por metas que nos trarão a felicidade que buscamos.  Mas, isso não quer dizer que não podemos mudar a motivação de uma pessoa. Podemos sim e pode ser surpreendentemente fácil! Não pense que está na recompensa ou na bonificação. Pesquisas revelam que a premiação não é o fator decisivo para a motivação. O bom resultado está mesmo relacionado com determinação, autocontrole, entusiasmo, inteligência social, gratidão, otimismo e curiosidade. São sentimentos ligados ao caráter de cada um de nós. Assim, se educarmos pensando nessa base de sustentação, estaremos motivando os nossos filhos e alunos e também oportunizando a eles a busca pelos desejos internos de sua realização. O segredo está no caráter. Respeito à diversidade, tolerância, capacidade solidária de ajudar os outros são valores que acionam o “botão da motivação”, pois garantem autoconfiança. Pessoas seguras são motivadas e motivadoras. Ensinar a elas que a possibilidade real de fracasso, no que tentamos, é real na vida de cada um. Precisamos que saibam que em uma empreitada de alto risco, seja no mundo dos negócios, nas artes, nos esportes, as chances de derrota são grandes e que o sucesso vem com os erros e com as novas tentativas. Isso é motivação e também caráter! Dessa forma, motivação tem, sim, um forte relacionamento com caráter.
No que se diz respeito à motivação, caráter é tão importante quanto a disciplina. Somente uma pessoa disciplinada e de caráter encontrará forças para tentar de novo e se superar. Essa força é o que se denomina motivação. Portanto, não precisamos de palestras fantásticas e livros de autoajuda com receitas de motivação. Precisamos dar aos nossos filhos valores para eles encontrarem força e vencerem os desafios. Isso é motivação.
Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, aconselho a leitura do livro “Uma questão de Caráter”, de Paul Tough. Ele fala o que devemos buscar para proporcionarmos uma educação de futuro para os nossos filhos. A Editora Intrínseca foi quem editou o livro, com a tradução de Clóvis Marques. Tenho certeza que você irá adorar!         


sexta-feira, 10 de março de 2017

As crianças de hoje têm um cérebro igual ao cérebro das gerações passadas?



Segundo alguns especialistas contemporâneos, os cérebros das crianças e adolescentes de hoje em dia, estimulados que são por toda “tecnologia internética”, são mais rápidos do que os cérebros das crianças e dos adolescentes do passado. Os estímulos provocados pelos jogos eletrônicos, a exposição midiática e toda evolução tecnológica dos dispositivos disponíveis no mercado provocaram uma aceleração das atividades cerebrais. Neste mundo tecnológico, crianças e adolescentes convivem com personagens maravilhosos, belos, fortes, corajosos e sensacionais que são capazes de ofuscar a imagem de pais e educadores. A exposição midiática e os jogos eletrônicos têm sido tão grande, que é comum crianças e adolescentes apresentarem algum tipo de distúrbio emocional ou comportamental. A neurociência chega a afirmar que a ansiedade gerada, provoca uma certa dependência, levando a necessidade de buscar novos estímulos.
Assim, como a escola e mesmo a família vai perdendo espaço para o mundo dos jogos e da mídia, fica claro entendermos o tamanho do abismo que vai se formado e claro o desinteresse por esses ambientes. Essa tem sido uma realidade, principalmente em crianças e adolescentes, que não são disciplinados no uso de seus dispositivos. Famílias, com dificuldades de dizer não aos filhos, têm deixado eles horas e horas expostos aos encantos dessa tecnologia. Qual o problema disso? Sequelas enormes, principalmente nas relações interpessoais e na valorização dos pais e professores. Para eles, nós nos tornamos desestimulantes, cansativos e repetitivos. Ultrapassados e lentos. Estamos assim sem cor, sem termos a linguagem deles. Isso é um enorme problema.
Claro que o contexto é complexo e polêmico, mas nem tudo está perdido. Precisamos tomar a frente, conhecer as linguagens modernas, melhorar a comunicação e o relacionamento com as nossas crianças e adolescentes e valorizar os momentos com eles. Precisamos tomar consciência de que os avanços são importantes para nós e que não dá para fugir da evolução. A própria escola tem ido ao encontro de novas linguagens de comunicação com os alunos. Temos procurado estar mais próximos das novas tecnologias, incorporando-as ao nosso projeto pedagógico. Mas, mais do que isso, estamos atentos às múltiplas linguagens de expressão de cada um, visto que elas estão conectadas com o mundo contemporâneo em que vivem as nossas crianças. Por isso, convido-os à quebra de paradigmas. Precisamos estar conectados ao novo tempo. Tudo muda e vem mudando. Precisamos estar abertos a isso ou perdermo-nos com a ilusão de que os valores do passado eram melhores. Cada tempo tem os seus valores e os nossos valores serviram para a nossa geração.
Precisamos nos atualizar como pais e educadores. O abismo não pode ser tão grande. Estamos certos da necessidade de um novo modelo de educação que já vem nascendo com força. Precisamos saber que os nossos filhos necessitam de ambientes que garantam o desenvolvimento de suas múltiplas inteligências e para tanto se faz necessário uma nova forma de comunicação. Isso, em casa e na escola. Esses cérebros agitados necessitam de novos modelos e, até para receber o nosso não, precisamos ter maneiras contemporâneas de comunicação. Os estímulos, o diálogo franco e a proximidade que garantem um conforto emocional, são fundamentais para o nosso sucesso. Embora modernos e ágeis, são crianças e jovens que necessitam estar acolhidos emocionalmente e seguros em sua caminhada. Essa segurança e essa acolhida encontramos no seio da família e nas trocas que acontecem na escola. Contudo, é na família que o amor irá ser a ferramenta mais importante na formação de nossas crianças e jovens. Portanto, temos aí os papéis da Escola e também da Família. Absolutamente em momento algum podemos inverter esses papéis. Igualmente é necessário supervisionar os filhos, exigindo que cumprem as suas obrigações escolares. É importante que saibam sempre que estudar é fundamental para as suas vidas e que o conhecimento transforma as pessoas. Muito importante essa consciência. Vale também ressaltar que, se faz importante dar autonomia aos filhos para que possam se expressar, lerem o mundo e por ele serem lidos. Superproteção não tem sido hoje o melhor caminho para que as nossas crianças possam se desenvolver de maneira saudável e confiante.