segunda-feira, 22 de maio de 2017

A Educação e a contemporaneidade




A Educação contemporânea tem sido marcada por profundas modificações ocorridas nos campos econômico, científico e cultural. Se considerarmos os avanços tecnológicos e a forma de interação e comunicação entre crianças e jovens, aí diria até que as mudanças são significativas em todo mundo.
Na semana passada, em São Paulo, participei da Bett Educar Brasil, uma enorme feira de educação. Participei de várias palestras com educadores da Finlândia e Cingapura, que nos revelaram o quanto de mudanças significativas acontecem na educação mundial.
Há um novo conceito de educação que certamente choca-se com o modelo tradicional que nós conhecemos aqui. Não me refiro apenas a introdução de recursos tecnológicos na sala de aula, mas principalmente na mudança significativa de valores e paradigmas educacionais. Isso no sentido metodológico, mas também na organização espacial da escola e das salas de aula. Esse formato conhecido por nós, do professor que ensina e o aluno aprende, está sendo substituído pelo modelo em que o professor instiga e os alunos aprendem e ensinam. O professor vem deixando de ser um palestrante e passando a ser um orientador, um mediador. Os alunos estão sendo provocados no sentido de serem mais ativos e menos passivos nesse processo.
Se pensarmos que as crianças e jovens de hoje não conseguem mais ficar sentados e ouvindo por muito tempo, faz sentido repensarmos as estratégias de ensinar. Precisamos de mais movimento e provocações, além é claro de utilização de recursos tecnológicos de acordo com a linguagem desse mundo contemporâneo, conectando os nossos alunos no universo global em que vivem. Estamos certos disso e evoluindo gradativamente para isso. A escola, enquanto instituição transformadora, necessita de fazer esse papel inovador e está fazendo. Talvez por isso, vivemos uma certa onda de inconformismo de algumas famílias que atreladas a conceitos antigos, acham que a escola tem perdido a mão. Reclamam sempre dos passos dados no sentido das mudanças necessárias e se apegam ao apelo: “ Na minha época, a gente...” Pois é, essa época foi sua, foi minha, mas não é a época das gerações contemporâneas. A escola de hoje é certamente para a geração de hoje. Por isso mesmo, ela tem que se adequar aos apelos do presente e continuar de olho no futuro, caso contrário, não consegue cumprir o papel de instituição transformadora. Essa entrega de contemporaneidade é o que determina a sua sobrevivência enquanto instituição para o futuro.
Como sabemos que essa “Geração Z” já nasceu segurando um smartphone, a escola de hoje precisa entender melhor as demandas dessa nova gente. A pergunta simples, mas de solução complexa é: Como ajudá-los a aprender mais?  Certamente não com os métodos e estratégias do passado. Precisamos de aulas voltadas para o protagonismo dos alunos e precisamos de inovar na metodologia e na didática também. Estamos certos disso.
A Profª Marjo Kyllömen, Secretária de Educação de Helsingue, Finlândia, em sua palestra para os diretores do grupo SEB, foi enfática ao afirmar que a única saída para a qualidade educacional dos alunos é a inovação na metodologia e na prática relacional dos educadores com seus alunos. Não se trata aqui de relação social amistosa, mas sim de mudança de comportamento em relação aos atores do teatro da educação. Os professores precisam garantir aos alunos um ambiente de aprendizagem, onde a colaboração, o movimento e o interesse dos alunos seja o foco. O protagonismo dos alunos garantirá a aprendizagem de qualidade. No passado, o professor era o colecionador de informações. Hoje, a conexão do mundo contemporâneo abre perspectivas ilimitadas no que tange fonte de conhecimento. Os saberes estão nas nuvens. O professor tem que orientar e despertar, mas o aluno é quem deve buscar o conhecimento.
Aquela escola pautada em pilares da disciplina rígida e da rotina pedagógica engessada, não atende às demandas educativas das gerações contemporâneas. O próprio conceito de disciplina e valores também se modernizam. As roupas, o corte de cabelo, os adereços, as múltiplas expressões de linguagem devem também fazer parte desse ambiente educativo. Tudo com racionalidade e dentro de normas de convivências, mas ainda assim sem a rigidez de um quartel. A escola é o espaço das manifestações humanas. Não é na escola que as crianças e jovens vivem grande parte de suas vidas? É por isso mesmo que a escola precisa buscar uma identidade com os alunos de seu tempo. Muito interessante é ver que, no segmento de educação infantil, toda essa leveza e movimento que se busca sempre existiram. O que sentimos na escola, é que na proporção que as crianças vão crescendo, mudando de segmento, ela vai perdendo a identidade com o espaço escolar. A escola vai se distanciando, tornando-se não mais estimulante. Torna-se chata na verdade. Aí, instala-se um clima de pouca identidade e interesse. Precisamos mudar isso ou teremos sempre uma escola distante de seus alunos. Esse desafio é mundial e o mundo está discutindo a necessidade do reposicionamento da escola como instituição de ensino e transformação. Saliento que estamos atentos e comprometidos com uma educação inovadora, responsável e criativa.


segunda-feira, 8 de maio de 2017

A adolescência tardia



Um final de semana desses, encontrei, quando passeava na orla da Ponta verde, um amigo que também é pai de um aluno de nossa Escola. Conversamos demoradamente sobre o momento atual do país, a situação política e econômica em que vivemos e o reflexo disso no humor das pessoas.
Sem compromisso, observamos que o grau de descontentamento das pessoas é tão grande, que todos estamos muito irritados. Perdemos a paciência com muita facilidade e toda essa irritação tem provocado um enorme estresse até mesmo nas relações interpessoais.
Mas, por que estou lhe participando isso?  Ocorre que a nossa conversa foi para a experiência dos filhos, alunos, escola, crise da adolescência...
O referido amigo mostrou-se preocupado com os sinais da adolescência no filho. O pior, foi que se assustou quando eu disse que há hoje, entre os educadores e especialistas, a constatação de que a adolescência é um comportamento que está se prolongando e muito. Não é um período entre a puberdade e a idade de 18 anos como se classificou um dia. A adolescência está mais demorada, os filhos estão cada vez mais imaturos e permanecendo por mais tempo em casa. Surpreso, ele me pediu para escrever algo sobre o tema. Assim, aqui eu faço um breve ensaio a respeito.
A psicanálise tem nos ensinado que uma das tendências mais marcantes da pós-modernidade é a efemeridade, a fragmentação, a descartabilidade e a inexistência de padrão dominante. Essa pós-modernidade é, aos olhos dos especialistas, uma sociedade centrada no lazer, na aparência, na imagem, no consumo, além do desinvestimento nas relações vinculares. (Vaitsman – 1194).
Há em nossa sociedade pós-moderna a vivência de um sentimento de descontinuidade do ser na medida em que se busca essencialmente valores externos e não o viver criativo. Certamente, nesse contexto, o “amadurecimento” afetivo e social dos jovens em formação, torna-se perene, atrasado, de forma que ainda é comum encontrarmos muitos jovens aos 20 e 30 anos, com precária subjetividade. Quer dizer, ainda “imaturos”, sem a construção de um eu e sem as respostas que são essenciais para o entendimento do mundo. Na verdade, é comum ainda a pergunta: “quem eu sou?”
O que temos hoje é o surgimento de uma nova geração entre as tantas que já foram denominadas. Especialistas a classificam como a “Geração Canguru”. Ela se caracteriza pela experiência de demora dos filhos em sair de casa. Há jovens, com idade entre 25 anos e 34 anos, que preferem ficar na casa dos pais, mesmo já estando no mercado de trabalho. O que eles não querem, é perder a segurança da casa dos pais, enquanto ainda estão se preparando mais para o exigente mercado de trabalho. Fazer mestrado, doutorado, MBA, cursos de especialização e conquistar a desejada segurança externa tem segurado os filhos em casa. Também a dificuldade de se colocarem no mercado de trabalho, os altos custos da independência e o conforto que encontram são fatores de fixação por mais tempo na casa dos pais. Esse comportamento torna-os mais “garotões” e, por isso, aparentemente menos responsáveis. Se pensarmos que outro dia, os jovens (já com 18 anos) estavam prontos para iniciar a vida independente. Aí é que ficamos preocupados com o comportamento de nossos filhos. Eu mesmo, sou de uma geração que o aniversário de 14 anos era um marco de maturidade, que nos colocava em um patamar de “homenzinhos”, até nas roupas mesmo. Hoje, os jovens da “Geração Canguru” até têm preparo intelectual, mas são carentes de preparo emocional para saírem de casa.
Mas de onde vem isso? Ora, vem do modelo de sociedade que temos aí construído nessa dita pós-modernidade. Jovens que cresceram sob a proteção exagerada dos pais, com medo da violência das cidades grandes, compensando-os com presentes devido à ausência deles, que se separam a toda hora ou que tem que trabalhar e muito para garantir o sustento dos filhos. São resultado da superproteção de pais na escola, no condomínio, nos ambientes sociais. Ficam em casa, presos aos jogos eletrônicos que desenvolvem os neurônios, mas dificultam o desenvolvimento da inteligência emocional e a capacidade de relacionamento, resolução de conflitos, de desafios que vencidos geram confiança, como ganhar uma corrida, um jogo de futebol ou um queimado. Falta-lhes ter vencido o medo de subir em uma árvore, correr, cair e se curar com a própria saliva as escoriações expostas. Esse modelo atual de sociedade está transformando os nossos jovens em pessoas que encontram dificuldades em enfrentar o mundo. Sabemos que ele não anda fácil. Tenho os meus filhos na adolescência e sei o quanto tem sido difícil dar a eles essas oportunidades. Contudo eu me esforço. Os problemas deles com os colegas, com as dificuldades na escola, precisam ser resolvidos por eles. Não interfiro. Questões de relacionamentos etc, são por eles resolvidas. Posso e devo orientá-los, mas não interferir. A escolha profissional que estão fazendo partiu de cada um e eu apoio e incentivo. Se estão com dificuldades em algo, oriento-os no sentido de enfrentarem, mas não os protejo. Jamais! Não serei eterno e eles crescerão.
O que precisamos é de encontrarmos um meio termo nessa questão. Deixar de lado a superproteção já pode ser um bom caminho. Despertar neles o desejo do desafio também, mas acima de tudo, levá-los a entender que precisam crescer para o mundo. Tem sido muito confortável ficar na casa dos pais, mas eles precisam entender a necessidade da construção de seus próprios mundos. Caso contrário, serão eternos adolescentes, dependentes de nosso conforto e sem a independência necessária para a realização na vida.
Precisamos estar atentos à atualidade, que é marcada por mudanças subjetivas que acabam por influenciar as relações entre os sujeitos, nas quais os ideais presentes, que serviam de balizadores, já não existem mais. Os limites não estão muito claros, ou talvez, já não existam mais. É o tempo da flexibilidade e da fluidez das relações, lugar de vínculos enfraquecidos, como nos ensina Bauman (2004). O sujeito enfraquecido, o “eu” não formatado, acaba desaguando crianças que foram superprotegidas e por isso não conseguiram se encontrar, para fazer a passagem para a maturidade. Esbarraram na adolescência e inconscientemente prolongaram essa experiência pelo conforto de não ter tido forças para enfrentar a vida. Não podemos aceitar isso para os nossos filhos e filhas.