Um final de
semana desses, encontrei, quando passeava na orla da Ponta verde, um amigo que
também é pai de um aluno de nossa Escola. Conversamos demoradamente sobre o
momento atual do país, a situação política e econômica em que vivemos e o
reflexo disso no humor das pessoas.
Sem
compromisso, observamos que o grau de descontentamento das pessoas é tão
grande, que todos estamos muito irritados. Perdemos a paciência com muita
facilidade e toda essa irritação tem provocado um enorme estresse até mesmo nas
relações interpessoais.
Mas, por que
estou lhe participando isso? Ocorre que
a nossa conversa foi para a experiência dos filhos, alunos, escola, crise da
adolescência...
O referido
amigo mostrou-se preocupado com os sinais da adolescência no filho. O pior, foi
que se assustou quando eu disse que há hoje, entre os educadores e
especialistas, a constatação de que a adolescência é um comportamento que está
se prolongando e muito. Não é um período entre a puberdade e a idade de 18 anos
como se classificou um dia. A adolescência está mais demorada, os filhos estão
cada vez mais imaturos e permanecendo por mais tempo em casa. Surpreso, ele me
pediu para escrever algo sobre o tema. Assim, aqui eu faço um breve ensaio a
respeito.
A psicanálise
tem nos ensinado que uma das tendências mais marcantes da pós-modernidade é a
efemeridade, a fragmentação, a descartabilidade e a inexistência de padrão
dominante. Essa pós-modernidade é, aos olhos dos especialistas, uma sociedade
centrada no lazer, na aparência, na imagem, no consumo, além do desinvestimento
nas relações vinculares. (Vaitsman – 1194).
Há em nossa
sociedade pós-moderna a vivência de um sentimento de descontinuidade do ser na
medida em que se busca essencialmente valores externos e não o viver criativo.
Certamente, nesse contexto, o “amadurecimento” afetivo e social dos jovens em
formação, torna-se perene, atrasado, de forma que ainda é comum encontrarmos
muitos jovens aos 20 e 30 anos, com precária subjetividade. Quer dizer, ainda
“imaturos”, sem a construção de um eu e sem as respostas que são essenciais
para o entendimento do mundo. Na verdade, é comum ainda a pergunta: “quem eu sou?”
O que temos
hoje é o surgimento de uma nova geração entre as tantas que já foram
denominadas. Especialistas a classificam como a “Geração Canguru”. Ela se
caracteriza pela experiência de demora dos filhos em sair de casa. Há jovens,
com idade entre 25 anos e 34 anos, que preferem ficar na casa dos pais, mesmo
já estando no mercado de trabalho. O que eles não querem, é perder a segurança
da casa dos pais, enquanto ainda estão se preparando mais para o exigente mercado
de trabalho. Fazer mestrado, doutorado, MBA, cursos de especialização e
conquistar a desejada segurança externa tem segurado os filhos em casa. Também
a dificuldade de se colocarem no mercado de trabalho, os altos custos da
independência e o conforto que encontram são fatores de fixação por mais tempo
na casa dos pais. Esse comportamento torna-os mais “garotões” e, por isso,
aparentemente menos responsáveis. Se pensarmos que outro dia, os jovens (já com
18 anos) estavam prontos para iniciar a vida independente. Aí é que ficamos
preocupados com o comportamento de nossos filhos. Eu mesmo, sou de uma geração
que o aniversário de 14 anos era um marco de maturidade, que nos colocava em um
patamar de “homenzinhos”, até nas roupas mesmo. Hoje, os jovens da “Geração Canguru”
até têm preparo intelectual, mas são carentes de preparo emocional para saírem
de casa.
Mas de onde
vem isso? Ora, vem do modelo de sociedade que temos aí construído nessa dita
pós-modernidade. Jovens que cresceram sob a proteção exagerada dos pais, com
medo da violência das cidades grandes, compensando-os com presentes devido à
ausência deles, que se separam a toda hora ou que tem que trabalhar e muito
para garantir o sustento dos filhos. São resultado da superproteção de pais na
escola, no condomínio, nos ambientes sociais. Ficam em casa, presos aos jogos
eletrônicos que desenvolvem os neurônios, mas dificultam o desenvolvimento da
inteligência emocional e a capacidade de relacionamento, resolução de
conflitos, de desafios que vencidos geram confiança, como ganhar uma corrida,
um jogo de futebol ou um queimado. Falta-lhes ter vencido o medo de subir em
uma árvore, correr, cair e se curar com a própria saliva as escoriações
expostas. Esse modelo atual de sociedade está transformando os nossos jovens em
pessoas que encontram dificuldades em enfrentar o mundo. Sabemos que ele não
anda fácil. Tenho os meus filhos na adolescência e sei o quanto tem sido
difícil dar a eles essas oportunidades. Contudo eu me esforço. Os problemas
deles com os colegas, com as dificuldades na escola, precisam ser resolvidos
por eles. Não interfiro. Questões de relacionamentos etc, são por eles
resolvidas. Posso e devo orientá-los, mas não interferir. A escolha
profissional que estão fazendo partiu de cada um e eu apoio e incentivo. Se
estão com dificuldades em algo, oriento-os no sentido de enfrentarem, mas não
os protejo. Jamais! Não serei eterno e eles crescerão.
O que
precisamos é de encontrarmos um meio termo nessa questão. Deixar de lado a
superproteção já pode ser um bom caminho. Despertar neles o desejo do desafio
também, mas acima de tudo, levá-los a entender que precisam crescer para o
mundo. Tem sido muito confortável ficar na casa dos pais, mas eles precisam
entender a necessidade da construção de seus próprios mundos. Caso contrário,
serão eternos adolescentes, dependentes de nosso conforto e sem a independência
necessária para a realização na vida.
Precisamos
estar atentos à atualidade, que é marcada por mudanças subjetivas que acabam
por influenciar as relações entre os sujeitos, nas quais os ideais presentes,
que serviam de balizadores, já não existem mais. Os limites não estão muito claros,
ou talvez, já não existam mais. É o tempo da flexibilidade e da fluidez das
relações, lugar de vínculos enfraquecidos, como nos ensina Bauman (2004). O
sujeito enfraquecido, o “eu” não formatado, acaba desaguando crianças que foram
superprotegidas e por isso não conseguiram se encontrar, para fazer a passagem
para a maturidade. Esbarraram na adolescência e inconscientemente prolongaram
essa experiência pelo conforto de não ter tido forças para enfrentar a vida.
Não podemos aceitar isso para os nossos filhos e filhas.
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