Buscando o
conceito psicanalítico de “identificação”, encontro a ideia de que o termo
designa o processo pelo qual um sujeito se apropria dos traços ou atributos de
outros seres humanos, com os quais convive. É, na verdade, o processo
fundamental para a construção do outro enquanto sujeito. Assim, a identificação
opera como uma carga de influência essencial à construção do “eu” no outro.
Quero dizer que a construção do outro como sujeito se dá, sim, a partir da
identificação que se estabelece na relação parental. Já deu para perceber a
importância enorme do pai e da mãe nesse processo. Sim, os filhos, de certa
maneira são constituídos de nosso material genético e também de elementos de
identificação que formarão a sua personalidade. As crianças desde a primeira
infância vão desenvolvendo e assimilando valores, traços e características do
outro, cuja relação de identificação se estabeleceu.
O que busco dizer é que o enlaçamento dos pais com
os filhos molda, sim, as personalidades. Dessa forma, quando falamos aos nossos
filhos, ainda no berço, ressaltando as características atribuídas, vamos moldando
essa personalidade. Por exemplo: quando
falamos “ que criança risonha e alegre”, “tem o jeito do papai”, “nossa, como ela
é tímida” etc., estamos moldando de maneira volumosa a carga de personalidade
que irá suportar a formação dessa criança. Isso me leva a dizer que, de certa forma,
o que dizemos aos filhos é o que de certa maneira estarão moldados a serem.
Sinceramente, se eu tivesse esse conhecimento, quando os meus filhos ainda eram
bebês, certamente, eu teria tido um outro modelo de direcionamento a eles. Digo
isso por entender, hoje, a luz do conhecimento psicanalítico que a
identificação é a marca do outro em nós. Isso aconteceu conosco também na
relação parental com os nossos pais.
Bem, mas se é assim tão natural, qual é o
significado desse breve ensaio? Seria apenas levantar a questão? Não, dar luz a
um fato real: esse processo de identificação faz com que o “eu” desenvolvido no
outro (nossas crianças, no caso), não seja exatamente o que esse outro é em sua
essência. Descomplicando... quero dizer que essa carga de identificação, embora
tenha contribuído para a formação da personalidade de nossos filhos, eles não
são o que nós transferimos a eles e, por isso, chegará o momento em que a
personalidade de cada um irá, sim, ter que lidar com toda essa identificação.
Ocorrerá em cada um a necessidade natural de encontrarem a sua própria
identidade, rompendo, portanto, com esse espelhamento. É nessa busca que certamente
haverá alguns choques e conflitos, bem típicos da fase da adolescência. Sendo
assim, é aí que o sujeito estará construindo a sua personalidade, o seu “eu”.
Se não conseguir quebrar esse espelhamento e se construir uma nova existência, poderemos
estar diante de uma situação que leve à clínica psicanalítica em decorrência de
uma desestruturação do aparelho psíquico. O sujeito necessita ser dono de si
mesmo.
Dessa forma, podemos dizer que há o momento no desenvolvimento
da criança ou do adolescente, que ela(e) necessita deslocar-se do outro e tornar-se
um sujeito real. A psicanálise freudiana nos ensina que o descolamento, ou
seja, a separação daquele que se configura como o outro de sua existência, é
necessária para que a criança se situe no mundo em relação não mais a uma
criança idealizada, mas a uma pessoa constituída como sujeito real, dotado de
autonomia enquanto ser.
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