quinta-feira, 21 de novembro de 2013

Meu filho não é o primeiro aluno da classe


Eu nunca quis que meus filhos fossem os melhores alunos da classe e muito menos que fossem melhores em tudo o que fazem. Sempre priorizo que eles tenham alegria de fazer o que estão fazendo. Quero sim que tenham prazer no que fazem e que tenham compromisso com os seus sonhos. Ao longo de minha carreira, pude ver alunos brilhantes na escola, mas desejando a felicidade, a alegria de brincar e de poder ser criança.
Estudar é o mais importante que existe na vida de nossos filhos, mas só se concretiza como realização quando se faz com alegria. Estudar não pode ser um estorvo, um peso, mas sim um desejo adquirido através da consciência de que será através do estudo que eles terão seus sonhos realizados. Portanto, estudar é um meio de se buscar a felicidade e, por isso, não pode ser um castigo ou um peso. Daí a necessidade de compreensão dos pais. Alunos terão um bom desempenho nos estudos, se tiverem a consciência de que o estudo é o caminho para a sua felicidade.
É através dos estudos e da vida escolar que os nossos filhos aprendem a importância da disciplina, da organização e, principalmente, da determinação. Contudo, todo esse aprendizado tem que acontecer de forma natural, sem aquela pressão por resultados. O que precisamos é ensinar às nossas crianças que, se não estão bem na escola hoje, certamente estarão amanhã. E que o que elas hoje nos entregam de nota pode vir a ser uma entrega melhor amanhã. Mas sem culpa ou comparações. E castigo muito menos. O que necessitam é de motivação e de encontrarem nos estudos a razão para a vida.
Procure ter com seus filhos uma postura conciliadora para que eles consigam avançar em suas metas. O tom conciliador não é a aceitação de um resultado ruim, mas apenas uma forma diferente para dizermos aos nossos filhos que esperamos mais deles e que podem render mais para seu próprio sucesso.
Eu bem sei da ansiedade de nós, pais, sempre querendo o máximo para os filhos. Queremos que eles estejam bem, seguros, saudáveis e com ótimo aproveitamento na escola. Todos queremos, mas precisamos de ter um pequeno cuidado... pode ser que algum de nossos filhos não tenha tanta aptidão assim para os estudos, mesmo que isso possa ser temporário. O certo aqui é estarmos acompanhando as nossas crianças, dando-lhes o incentivo e o suporte emocional para seu crescimento.
Tenham tranquilidade e saibam que todos eles, cada um a seu tempo, nos surpreenderão positivamente.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Deixe que seus filhos manifestem as suas emoções




As emoções são energias da vida. Saber lidar com elas é fundamental para sermos completos e felizes. As gerações de filhos do passado sempre tiveram suas emoções “controladas” pelo rigor e pela severidade da educação dos pais. Eu mesmo fui criado ouvindo de meu pai frases do tipo: “Homem que é homem, não chora.” e “Faça como eu, que sou durão”.
É com os pais que os filhos aprendem a manifestar os próprios sentimentos. Assim sendo, é natural que filhos de pais depressivos sejam mais tristes; filhos de pais que brigam muito sejam também brigões; e, claro, pais alegres e resolvidos emocionalmente, seus filhos também o serão. Portanto, é hora de percebermos que somos também responsáveis pela forma como os nossos filhos lidam com as suas emoções.
Infelizmente, todos temos uma tendência a reprimir as emoções de nossos filhos. Raros são os pais que ajudam os filhos a conhecer a energia de suas emoções. Como pais excessivamente rigorosos poderão entender os filhos que desabam em choro quando algo os desestabiliza emocionalmente? Pois é, as crianças necessitam de compartilhar o seu afeto, as suas alegrias e suas tristezas. Mas, para tanto, temos também que aprender a lidar com as nossas próprias emoções. Precisamos disso e com urgência. Precisamos de nos permitir, para que possamos permitir aos nossos filhos a liberdade natural de suas manifestações emocionais. Deixe-os chorar, gritar e manifestar raiva, ciúme e frustração. Não podem se machucar ou machucar os outros, mas podem desabafar. Depois deste “surto”, dê colo, amor e diálogo. Bater nunca é preciso, quando a crise advém do campo emocional.
Compartilhe as emoções. Sinta-se à vontade diante de seus filhos para expressar sentimentos. Se tiver que chorar, chore, e explique por que está chorando. Se tiver um momento de ira, explique a razão. Declare-se aos filhos e ao companheiro (a) diante de todos e sinta como é gostoso deixar fluir as emoções. Seja alegre ou demonstre tristeza, mas, acima de tudo compartilhe tudo isso com os seus familiares. Guardar sentimentos nos causa angústia e até somatização. Além disso, não estamos ensinando aos nossos filhos que é bom manifestar as nossas emoções. Pense nisso, viva isso e verá o quanto é maravilhoso sentir as emoções.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A vida acontece no presente


Somos obrigados a viver a cultura do futuro. Ensinaram-nos a poupar para o futuro, a investir para o futuro, a estudarmos para o futuro e a pensarmos no futuro. Igualmente ensinamos isso aos nossos filhos, o que não há nada de anormal. Contudo, precisamos estar atentos a uma realidade: bons pais vivem o momento, até porque não sabemos como será o nosso futuro. A vida acontece no presente; isso é certo e ninguém muda. O futuro é um tempo que a Deus pertence. Por isso, devemos viver intensamente e carinhosamente o presente com os nossos filhos. Planejar o futuro é necessário, mas viver só pra ele, pode estar comprometendo o presente.
O que vejo hoje em dia é a “ditadura da neurose da segurança no futuro”. Inventei essa “síndrome” para estar na moda. As pessoas vivem o presente para que tenham um futuro seguro e estão esquecendo de viver deliciosamente o presente. Muitos estão chegando ao futuro planejado e chegando à seguinte conclusão: “sinto-me culpado por ter passado minha vida toda pensando no futuro. Se eu pudesse voltar atrás, viveria mais o presente”. Pois é isso mesmo! O melhor de nossas vidas é gasto na preparação do futuro que desejamos. Quando ele chega, olhamos para o passado e aí descobrimos que poderíamos ter vivido melhor e, principalmente, ter nos dedicado mais aos nossos filhos.
Qual é a ideia então? Não pensar no futuro? Nada disso! A ideia é viver intensamente o presente, pensando no futuro. Temos que estar presentes no tempo em que nossa vida está acontecendo. Sabe quem mais sente? Os nossos filhos. Eles precisam que nós vivamos com eles, no tempo presente em que estão. Eles não sabem: nada de futuro: eles conhecem o presente, o imediato. A vida é assim: ela acontece no tempo presente.
Escolhi esse tema para compartilharmos uma situação muito comum hoje em dia. Os pais, preocupados com o futuro, estão deixando de viver em família o presente. E os filhos, muitos estão próximos de viver uma “solidão”, mesmo tendo família completa. A Escola é onde mais observamos essa realidade. A correria para o sucesso e a estabilidade no futuro estão nos tirando do convívio com a família no presente. Eu também vivo isso e, por ver tudo isso, tomei uma decisão: todas os dias almoço com meus filhos e não abro mão do domingo em família. Ainda consigo tempo para o trabalho, para os negócios pessoais e para relaxar com os amigos. Pense nisso! Você pode organizar o seu tempo e conseguir viver cada momento presente de forma prazerosa. E ainda planejar o futuro!

Pronto... saiba se dividir, sem perder a deliciosa oportunidade de acolher gostosamente seus filhos e dar a eles a estabilidade emocional de que necessitam. Viva com intensidade os momentos no presente que pode dedicar a seus filhos. Planeje o futuro para a estabilidade de todos e a segurança da família, mas lembre-se de que nada vale tanto a pena quanto os momentos que tiver com seus filhos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Educar os filhos para a felicidade


Eu tenho recentemente pensado muito sobre a educação dos filhos. Minha motivação reside em um momento lindo que vivo: o aprofundamento no estudo da Psicanálise e na alegria de estar me preparando para a chegada do meu quarto filho. O encontro comigo mesmo e o crescimento de minha família me tornam um privilegiado. Estou muito feliz e como sempre, um pensador. Educar meus filhos para a felicidade é o meu foco hoje e quero muito compartilhar com vocês esse meu pensar.
Na difícil missão de educar para vida, o que nós, pais, desejamos é um manual de regras e estratégias a seguir. Ocorre que cada criança é um universo próprio, cheio de experiências próprias e que certamente não haveria no mundo um manual que contemplasse toda essa diversidade que é o ser humano. Assim, torna-se impossível desenvolvermos um manual, um método, ou mesmo uma regra para educarmos nossos filhos para a felicidade. O que necessitamos é de buscar em cada filho a sua essência, a sua natureza e fazermos, em cada um, a leitura de sua personalidade.
Se a criança nasceu com a alma independente, ela precisa de liberdade para ser, o que verdadeiramente ela é. Orientar sim, ensinar também, mas “doutrinar” em um padrão por nós sonhado não será o melhor caminho. Procurar criar filhos perfeitos, moldados em nossos sonhos, pode não ser exatamente o correto e, aí, podemos estar criando um filho para a nossa felicidade e não para que ele tenha a sua própria felicidade. A vontade que temos de criar filhos perfeitos pode nos levar a esquecer que o ser humano tem alma e que cada um tem a sua alma. Se a alma de seu filho não for escutada, pode ser que ele encontre muita dificuldade em ser feliz.
Para que eduquemos nossos filhos para a felicidade não é fundamental que eles façam de suas vidas a realização de nossos sonhos. Eu já coloquei isso em um outro ensaio meu. Não podemos transferir para os nossos filhos os nossos desejos ou frustrações. “A infelicidade de muitas pessoas começa exatamente quando seus pais têm um projeto de vida grandioso para elas. Ser pai, ser mãe, portanto, não pode ser enquadrar o seu filho em um projeto de vida que você criou, mas sim ajudá-lo a realizar sua própria vocação existencial” (Roberto Shinyashiki, p. 17). Essa verdade mexeu muito comigo, e eu estou convencido de que o meu papel como pai é o de descobrir com os meus filhos qual é o melhor caminho para que eles encontrem a felicidade. Descobri que se eles crescerem felizes e forem felizes como adultos, eu estarei feliz e realizado como pai. Claro! A minha felicidade reside na felicidade de meus filhos.
Educar os filhos para a felicidade é dar a cada um a oportunidade mágica de ser ele mesmo. Mas como se faz isso? Dando a eles o sentido do respeito ao jeito de ser de cada um. Nenhum dos meus três filhos é igual ao outro e, por isso mesmo, estou aprendendo que não posso tratá-los em suas demandas de uma mesma forma. Descobri também que cada filho meu é uma oportunidade maravilhosa que tenho de ter contato com a minha própria essência. Posso, então, me conhecer melhor, na medida em que procuro conhecer e aceitar a maneira de ser de cada um. Que genial! Aprendo a me conhecer melhor quando busco uma forma de conhecer melhor os meus filhos. Assim, eles também ensinam a mim o que tenho em mim. E isso é muito bom!
De tudo o que compartilhei com vocês, em momento algum eu disse: “deixe-os à vontade”. Não. Sou disciplinador e educador. O que estou dizendo é que educar os filhos para que sejam felizes passa pelo respeito a cada um e também pela ajuda que daremos (com disciplina, organização e educação) a cada um para que possam realizar o seu sonho. Portanto, convido a todos os pais que foquem em conhecer o mundo interior de seus filhos e que oportunizem a eles que encontrem, em seus sonhos, a busca para a felicidade.

Bibliografia:
Shinyashiki, Roberto. Pais e filhos (companheiros de viagem) – uma educação para a felicidade. Ed. Gente. São Paulo.

Professor, o meu filho é inteligente?


Todos nós somos inteligentes! Todos nós pensamos, e o pensamento é produto do cérebro humano, que é dotado dessa enorme capacidade inata. O que nos torna seres inteligentes é o pensar. Essa capacidade é inerente aos humanos e é o que nos diferencia das demais espécies. Nós temos um cérebro evoluído graças à energia do combustível que o alimenta e o faz evoluir ainda mais: a inteligência.
A inteligência humana não significa apenas uma representação de alguma atividade humana ou a capacidade de executá-la. Aborda toda a estrutura corporal e cognitiva do ser humano. Está diretamente relacionada à capacidade humana de aprendizagem e, consequentemente, à educação, sem desprezarmos as demais e importantes experiências decorrentes da vida em comunidade. Dessa forma, seremos mais inteligentes, quanto mais aprendizagem tivermos, seja na educação ou no aprendizado informal do dia-a-dia. Assim, pessoas mais expostas aos estímulos e ao conhecimento, certamente mais e mais desenvolverão a sua inteligência.
Para Jean Piaget, a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo, mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto. Portanto, depende da ação do homem. Eu diria assim: nascendo com todas as condições biológicas e estruturais perfeitas, a inteligência é inata. Aproveitar as habilidades e desenvolver ainda mais a capacidade de aprender é mecânico e depende da vontade humana. Aí é que a escola, o meio social e a família são peças fundamentais. Disciplina no estudo, estímulo e motivação são elementos que, se não definem a capacidade de inteligência do sujeito, pelo menos garante uma enorme ajuda à busca pelo saber. Oportunizar ao indivíduo contato com o mundo do conhecimento e incentivar a descoberta do novo são também ingredientes fundamentais para despertar a inteligência.
Muito bem, mas o que me levou a esta breve introdução sobre a inteligência humana? A tentativa de responder ao questionamento inicial deste artigo que eu transformei em título: Professor, o meu filho é inteligente? Será que ele é tão inteligente quanto o fulano? São perguntas comuns em nossos atendimentos diários. Ora, eu diria que sim. Pode até ser que ele não seja tão motivado, tão incentivado e disciplinado, mas inteligente ele é sim. Motivação é disciplina! Guarde isso, pois é fundamental para que a inteligência aflore e os resultados também.

Evocando novamente Piaget, vale ressaltar o conceito de “sujeito epistêmico”. Para ele, esse “sujeito” expressa aspectos presentes em todas as pessoas. Suas características conferem a todos nós a possibilidade de construir conhecimento. Como explica a psicóloga Zélia Remozzi – Chiarottino da USP – SP (Universidade de São Paulo), o “sujeito epistêmico” de Piaget é o que permite o ser humano a desenvolver uma gama de operações essenciais para a aquisição do saber: observar, classificar, organizar, explicar, provar, abstrair, reconstruir, fazer conexões, antecipar e concluir. Está vendo? Todos nós podemos ser inteligentes. Motivemos nossos filhos em casa e na escola e teremos crianças inteligentes e felizes.


Fonte Bibliográfica
Piaget, J. Seis estudos de Psicologia. Ed. Forense.
Revista Nova Escola-Edição 238. Dezembro de 2010.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

“A princípio estranha-se. Depois, entranha-se”


Foi lendo o livro Educação dos Sentidos, do grande educador Rubem Alves, que me deparei com uma história muito interessante. Conta Rubem Alves que a frase que tomo para o título deste ensaio é do poeta português Fernando Pessoa. O que mais me chamou a atenção é que o poeta cunhou essa frase nos anos de 1920, quando trabalhou em uma empresa de publicidade, para lançar a Coca-Cola em Portugal. É isso mesmo. Fernando Pessoa lançando o “marketing poético” para que o refrigerante tivesse aceitação em Portugal.
Mas, o que isso tem a ver? A mim, ficou a ideia da síntese dialética do choque entre o novo e o velho. A novidade tendo que vencer a antiguidade. Tomar a Coca-Cola primeiro provoca estranheza, mas logo a gente se acostuma e aí, então, entranha-se, “entra na gente”. Educação é assim também. Tudo que é novo, que foi aprendido, que nos surpreendeu e que, por isso, foi estranho, será absorvido e entranhará em nossas vidas. Quando refiro-me à educação, refiro-me às mudanças que ela traz (o novo constante) e as transformações que ela provoca em nossas mentes. Meu Deus! Como evoluímos, como mudamos, como um mundo novo se entranha em nós!
Por tudo isso é que nós, educadores, nos sentimos felizes. Nós sabemos, ou pelo menos buscamos saber, transformar o “estranha-se” em “entranha-se”. Fazemos isso sempre. A Escola, em sua essência, tem essa enorme faculdade. Sinto isso acontecer com toda a comunidade, inclusive com os familiares que nos acompanham e acompanham suas crianças e adolescentes. Vocês, pais e responsáveis, também são maravilhosamente atingidos pela força das mudanças. Diria até ”contaminados” pela pulsão das mudanças, só por acompanhar os filhos.
Outro dia, uma mãe me expressou isso com clareza. Ela disse: “Professor, estou aprendendo de novo e também muitas coisas novas, somente acompanhando meus dois filhos”. Que mágico! Absolutamente genial! O poder transformador da educação provocando mudanças e ampliando as nossas mentes. Essa metamorfose, o “estranhamento” se transformando em “entranhamento”, abre para todos nós possibilidades de conhecer e assimilar ideias novas, o que certamente provoca mudanças em nossa própria maneira de ver e perceber o mundo. E precisamos muito disso! Não podemos mais nos estranhar com o “novo”, pois, se assim fizermos sempre, estaremos criando os nossos filhos para um mundo irreal ou, quem sabe, afastando-nos de nossos filhos de tal maneira que chegará um dia em que não mais os teremos como amigos, companheiros e confidentes. Corremos o risco de perdermos os nossos filhos. Já pensou nisso?
Por isso tenho sido recorrente na ideia de que vocês, pais e responsáveis, têm um papel enorme na formação e também na felicidade de seus filhos. É minha tarefa como educador despertar em minha comunidade educacional o verdadeiro sentido da educação. Lançando-me novamente em Rubem Alves, eu digo que o verdadeiro sentido da educação é levar-nos a aprender a amar, a sonhar, a fazer nossos próprios caminhos, a descobrir novas formas de ver, de ouvir, de sentir, de perceber, a ousar, pensar diferente... e sermos cada vez mais nós mesmos, aceitando o desafio do novo. Entendendo como é extraordinário tudo isso, busco estar próximo de vocês com meus artigos de opinião na esperança de que aproveitem a reflexão e tenham certeza de que a educação que transforma, forma e transforma de novo seus filhos tem, também, ao mesmo tempo a força de transformar a vocês mesmos.
Nosso ano letivo caminha no seu 4º bimestre. Estamos dando início ao processo de encerramento, que sinaliza a passagem para uma nova etapa. Os alunos “passarão de ano” e certamente mais e mais novidades acontecerão. Estou para apostar que a dinâmica da educação é tão transformadora que ainda teremos muito o que ensinar e muito o que aprender nesse final de ano letivo. Nesse momento que estamos, sugiro que procurem estar mais presentes na vida de seus filhos. Procurem ouvi-los, orientá-los, motivá-los e depositem muita confiança neles. Eles estão em plena “metamorfose ambulante”, sem a velha opinião formada sobre tudo, como dizia Raul Seixas. Estão em “construção”, e nós, escola e família, somos os arquitetos responsáveis por toda essa obra. Por isso, tenho dito e jamais cansarei de dizer, que estamos juntos nessa missão maravilhosa que é educar.


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Timidez na infância e na pré-adolescência


Até por volta dos 5 e 6 anos de idade, a criança está totalmente voltada para a família. O seu mundo é do tamanho da dimensão do lar e seus pais e irmãos, quando os têm, são à base de sua relação interpessoal. É no seio da família que ela se realiza como pessoa. A partir da ida da criança para a escola (algo que tem acontecido cada vez mais cedo), a criança é chamada a ampliar o seu meio social. Ela começa a conviver com os colegas, com a professora e com o “mundo novo” que se vislumbra diante dela. É o mundo externo, fora de casa, que ela começa conhecer.
Em contato com esse “mundo novo” a criança, e da mesma forma, guardando as devidas proporções, o adolescente, irá ter a percepção deste mundo e se relacionar com ele, a partir da experiência que teve no seu “mundo lar”. É aí que entra a questão da timidez. A timidez denuncia que a criança e o adolescente estão vendo o “mundo novo” como uma forma de ameaça. Algo que provoca insegurança. Seria uma forma de defesa, um recalque à necessidade de ter que se posicionar diante de um mundo muito diferente daquele em que vivia. Explico um mundo com pais ansiosos, excessivamente protetores e por demais cuidadores de seus filhos na infância podem gerar nos filhos dificuldades com o “mundo novo”. Pode acontecer também com as crianças, cujos pais fazem tudo por ela. A criança se sente insegura e não consegue ser original.
Pais muito rígidos, exigentes e excessivamente disciplinadores também podem levar ao mundo da criança e do adolescente a timidez. É preciso estar atento a isso. As crianças quando se relacionam no “mundo novo”, fora da família, podem achar que todos ali são tão severos como os pais e, diante dessa intimidação, fecham-se como defesa. Eu particularmente tenho pensado muito nisso. Muito mesmo!
Em um mundo cada vez mais competitivo, as crianças e os adolescentes tímidos necessitam de resgatar o seu valor. Eles devem ser estimulados a agirem por si mesmos e aprenderem a lidar com os desafios. Para tanto, cabe aos pais uma relação mais aberta com os filhos a ponto de transmitir a eles segurança o suficiente para que se sintam capazes de olhar no olho do outro. Agora, se a timidez for tão severa a ponto de a criança ou de o adolescente não conseguir se expressar em nenhum grupo, nem com os colegas da escola, aí, então, estamos diante de um caso que exigirá acompanhamento, ajuda profissional.
O que tenho a dizer a vocês é o seguinte: deem autonomia a seus filhos, mantenham um diálogo aberto e elevem a autoestima deles a ponto de fazê-los confiantes. Acompanhem a sua rotina, mas não interfiram a ponto de se tornarem pais superprotetores e dominadores. Não sejam severos. Organização e disciplina não se conquistam com severidade. Mostrem a seus filhos que vocês são amigos deles. Transbordem amor e confiança. Com tudo isso, eles serão “donos de si”. Eu aprendi isso mais recentemente e estou vendo que, de fato, é assim que funciona.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

Criança que somatiza está pedindo ajuda


Paula (nome fictício) é uma linda garota de 10 anos de idade, estudiosa e com bom relacionamento interpessoal com as colegas. Porém, Paula veio a mim mais de uma vez com a mesma queixa: dor de cabeça, uma enxaqueca crônica, rebelde, que resiste aos analgésicos. Devido à intensidade das queixas e às ocorrências sucessivas em função da enxaqueca, orientei a família a fazer exames neurológicos, o que foi prontamente atendido. Os resultados vieram para as minhas mãos. Paula não apresentava nenhuma alteração. Aí, não tive dúvidas... Paula somatizava como forma de querer chamar atenção dos familiares. A questão está no emocional, no psíquico, em algum problema de fórum íntimo.
Assumi para mim a tarefa de orientar aos pais. Tracei o perfil de Paula e a rotina familiar. Não foi difícil observar que a garota estava em uma zona de desconforto, diante do relacionamento com os irmãos e a carência e a atenção da mãe. Não faltava amor, na essência da palavra, principalmente aos olhos da mãe. O que estava óbvio era a necessidade de um ajuste na forma como se relacionava com os irmãos e, principalmente, com a mãe. O pai era o esteio de Paula e, portanto, nesse caso, a questão não passava na relação com a figura paterna.
O trabalho é simples, e aqui compartilho com vocês, para que possa servir de ajuda no caso muito comum e simples, onde crianças somatizam, apresentando um mal-estar orgânico, cuja raiz está no emocional e não no seu corpo. Muitas vezes, o que não podemos expressar com palavras é expresso através do corpo.
Vamos, então, compartilhar. O mais importante agora é deixar de lado as defesas, o senso de responsabilidade e de autoridade de pai e mãe e se perguntar: tenho dado aos meus filhos a atenção devida? Sou amigo (a) de meus filhos e estou sempre disponível para ouvi-los? Sou do tipo que diante de um problema envolvendo o (a) filho (a), já saio responsabilizando-o pelo ocorrido? Dou chance para que fale, ou só quem fala sou eu?
Pois é, nos diversos casos em que a criança ou até mesmo o adulto somatiza, a questão passa pelas respostas a esses questionamentos. Criança triste, insegura e com autoestima baixa é criança que apresenta quadro de doença desenvolvida por conta de ansiedade e sensação de isolamento, mesmo tendo um lar e familiares. Na pré-adolescência e na adolescência, é a fase onde se instaura quadro de anorexia e bulimia. Precisamos estar atentos. Se a situação tornar-se crítica, certamente necessitaremos de ajuda de profissionais, mas o melhor mesmo é não deixar que se instale um quadro de doença psico-somática.
Qual é a melhor dica? Responda aos questionamentos acima e encontre a melhor forma de se relacionar com os filhos. O que é bom para um não é bom para o outro. O que parece ser adequado a um pode ser problema para o outro. Portanto, tenha paciência e encontre a melhor forma de conhecer melhor cada um e, principalmente, dê a cada um a atenção que lhe sirva como bálsamo. Fácil? É não! Mas nunca disse que educar seria fácil.


Crianças desobedientes: o que fazer?

Tem sido cada vez mais comum nos atendimentos que fazemos ouvir dos pais queixas sobre a desobediência dos filhos. É voz corrente a reclamação: “as crianças de hoje são mais indisciplinadas e difíceis de lidar”. Diante da dificuldade de educar, de fazer com que os filhos ouçam os pais, as famílias têm sofrido e muito no que se refere à harmonia do lar. Às vezes, até mesmo o casal não se entende quanto à educação dos filhos. Nessa divergência é que se instalam as “janelas” por onde as crianças (e principalmente os adolescentes) escapam. E acabam fazendo o que querem, muitas vezes errado.
Para que tenhamos adolescentes obedientes e responsáveis, é fundamental que os pais ou os responsáveis pela formação educacional de um indivíduo, em especial da criança, comece a ensinar-lhe o que é certo e a discipliná-lo em casa, ainda bem cedo. Essa orientação é importante para que a criança se situe e conheça as regras do bom convívio e da boa relação.
Muito do que serão na escola e na rua certamente será reflexo do que estão trazendo de casa. Vamos lembrar que a criança ao nascer é como um livro em branco. Quem irá escrever a história desse ser humano é a família e a escola. A família com amor e com valores; a escola com conhecimento e regras sociais que reproduzem as leis de nossa sociedade. A família ensinando o amor a Deus e ao próximo, a escola ensinando sobre cultura, relação social e esporte. Em uma única coisa, família e escola se encontram quanto à responsabilidade: disciplina e organização. Aí estamos juntos!
Considerando que nenhuma pessoa é educada de uma hora para outra, temos que ter muita paciência (e muita parceria com a escola) e sabedoria para termos sucesso com as nossas crianças. Como ninguém gosta de crianças desobedientes e de adolescentes “rebeldes sem causa”, o que devemos fazer, como devemos agir para que desde bem cedo consigamos estabelecer a disciplina em casa?
A primeira coisa a saber é que pai e mãe são as autoridades para os filhos. Não existe esse negócio de querer se igualar tanto aos filhos, ao ponto de as crianças e os adolescentes ficarem sem norte. Pai e mãe são os que colocam o norte em casa. Nada mudou em relação a isso na tão falada “educação moderna”. Não deixe de, nem por um minuto, deixar claro aos filhos que a orientação na família é dada pelo pai e pela mãe. Por isso, essa orientação não pode ser divergente e contraditória. Se um discorda do outro e na frente das crianças... Complicou e muito! Não abram mão de serem educadores de seus filhos. Não são os avós nem os professores que educam. Quem orienta e educa são os pais!
A segunda coisa a saber é que devemos educar sem culpa! Você está autorizado a educar. É bíblico o seu papel; assim como é bíblico o dever dos filhos de amar e respeitar pai e mãe. Nada de tentar compensar a pouca presença com superproteção ou mimos. Não tolere birra ou qualquer artimanha da criança. Se a criança sentir que tem culpa no ato educativo, ela vai desenvolver comportamento manipulador, defende a psicanalista Patrícia Nagawa (USP – Depto. de psicologia escolar).
A terceira coisa importante é criarmos um bom vínculo afetivo com nossos filhos. Brinque, demonstre carinho e garanta atenção. Não é preciso de muito tempo, apenas um pouco de tempo quando você chega em casa. Mas faça isso diariamente. Um pouco de atenção todos os dias basta.
A quarta coisa importante é entendermos que, diante da birra, é preciso aguentar firme. Corrija, não fique com receio dos olhares dos outros, caso esteja fora de casa. Não são eles que educam os seus filhos. Eles nem os conhecem! Tudo é com você! Não ameace, não bata ou humilhe a criança. Desvie a atenção dela e a acolha nos braços. Mas não ceda!
Estão aí quatro dicas simples e seguras. Não parece orientação de educador ou psicanalista, não é? Parece mesmo dica de métodos antigos e que sempre funcionaram. Pois é! Não precisamos de inventar nada, apenas resgatar métodos que sempre funcionaram.
Na casa da gente, não era assim? Orientação de meus pais era uma ordem a seguir. Eu e meus irmãos cumpríamos com segurança, pois sabíamos que os pais queriam o nosso bem. Sempre foi assim, na infância e na adolescência. Eu aprendi assim. E você?

“O desenho fala do sujeito, da sua subjetividade, da sua posição frente ao mundo”.


Família:

̶            A figura da mãe (maior proporção) indica que o Guilherme atribui a ela um papel de maior importância na família.
̶            Na figura da mãe e da babá temos a construção do corpo com partes omissas (Braços e Mãos). No pai, a omissão das mãos, o que acontece também com os avós, pode revelar censura à parte omitida (relação com tratamentos -> Carinho, censura, “castigo”).

Braços e mãos são elementos que se relacionam ao desenvolvimento do eu e à sua adaptação social, ou inter-relação com o ambiente. A ausência desses membros é um alerta a respeito do relacionamento entre o desenhista e a pessoa desenhada. A ausência dos pés indicam a possibilidade de insegurança da criança com o meio em que vive. Trata-se da omissão do sujeito. Não sente que participa realmente da família. Se sente rejeitado ou rejeita. Nos personagens do desenho, a utilização de “figuras palitos” ou representações abstratas são indicadores de “invasão”, insegurança.
Interessante e desafiador seria o fato do Guilherme não se colocar no desenho da família.

Casa:

Pode-se dizer que a casa desenhada assume, na maioria das vezes, duas significações:
Constitui um autorretrato, expressando as fantasias, o ego, a realidade e expressa a percepção da situação no lar-residência. Guilherme se negou a desenhar a casa. Colocou apenas o número 5.

O uso da cor

O uso da cor refere-se à vida emocional e afetiva (empatia, tensão, conflito, harmonia) do sujeito. Sujeitos psicologicamente mais equilibrados atiram-se com profundidade no emprego das cores. O uso da cor vermelha denota impulsividade e da azul racionalidade.


Fonte: análise do desenho numa perspectiva psicopedagógica.
Anabel Guillén

Psicóloga, psicopedagoga e psicanalista.

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Minha escola, meu mundo

José (nome fictício de um aluno) está empolgado. Muito empolgado... agitado. Essa é a palavra certa, afinal está muito ansioso para a semana de jogos que está tendo na escola. Torcida, competição e muita alegria. Há também momentos de frustração e até de decepção. E a vida é o que está conhecendo, engajado nos jogos internos da escola. Eu, particularmente, estou acompanhando o comportamento de José cuidadosamente. Faço isso, pois na semana passada, em um bate-papo meu com ele, escutei: “Professor, esta escola é a minha vida”. Que fantástico! É isso mesmo, a escola é dele!
O “Espaço Escolar” é o primeiro contato que a criança tem com o mundo exterior. É, na verdade, onde a criança (e depois o adolescente) vive as primeiras experiências fora do meio familiar. É onde, pela primeira vez, se relaciona socialmente sem o olhar cuidadoso (às vezes exagerado) dos pais. A escola é onde a criança é ela mesma. É a segunda família, com uma diferença... É onde terá que enfrentar os primeiros desafios da vida. Por isso mesmo, é uma descoberta nova a cada dia. Há o que se enfrentar e se reinventar. As avaliações, a rotina escolar, quem sabe a dificuldade com alguma colega ou grupo, por isso, certamente, o mundo a ser conquistado.
Os jogos internos são excelentes para que crianças e adolescentes sintam esse mundo, que é deles. Nos jogos, temos as regras, a ideia de equipe, a liderança dos mais habilidosos, a competição, a vitória e a derrota. O apoio da torcida, o sonho de vencer, a lida com a derrota, a necessidade de se superar. É no esporte que nossos alunos aprendem a respeitar, a colaborar, a aceitar a derrota e a valorizar a vitória. Portanto, é um momento excelente para que possamos ensinar, educar e realizar nossa missão. Tudo isso, tendo os alunos mais e mais agregados à comunidade escolar.
Lembra-se do José? “Esta escola é minha!”. É dele, é minha e também é de vocês, pais e responsáveis. A escola é nossa, pois somos nós que a fazemos, a sentimos e a realizamos. O pulsar do universo escolar tem que transcender os muros da escola e invadir a casa de cada família. Seja com dúvidas, polêmicas ou convivência. O que se faz necessário é que a escola ganhe a sua casa e que faça parte de sua vida.
Vivemos uma semana especial com os jogos e certamente sentirão isso em casa. Minha alegria se renova na certeza de que toda a minha equipe, todos os meus colaboradores, do porteiro à direção, a cada dia chega desta escola sentindo que ela também é dele e que todos, nela, realizam a mágica de aprender e ensinar.

Convido você, pai, e você, mãe, a fazer como o(s) José(s) de nossa escola. Tenha esse espaço como seu e saiba que a escola de seu filho, é também sua. Por isso, estamos sempre certos de que somos parceiros no eterno sonho de fazer com que os nossos José(s) sejam felizes para sempre.

sexta-feira, 30 de agosto de 2013

A vida era simples e nós, crianças, felizes


Recentemente estava a lembrar de minha infância. Olhando meus filhos brincarem no jardim, eu me reportei aos tempos em que também brincava com meus irmãos. Como era bom! As brincadeiras pareciam intermináveis! E como éramos felizes! Na minha infância, tudo era muito bom e a vida era muito simples. Jogar bola, soltar pipa, brincar de pique, de chimbra, de cabaninha. Rodar pneus, arco etc. Como brincávamos! A rua era o nosso quintal. Hoje, não é mais assim. A violência, a insegurança, o trânsito, o crescimento desordenado de nossas cidades, tudo isso transformou as crianças de hoje em “prisioneiras” em seus apartamentos.
O que tenho observado mais são crianças com nível elevado de estresse e querendo brincar. Também, com uma agenda de adulto e compromissos de responsabilidade, o que as crianças menos fazem hoje é achar tempo para brincar. Sinceramente, a pressão é grande. Somam-se, aos compromissos da escola, o curso de inglês, o esporte especializado e de resultado e, em muitos casos, o apoio de psicopedagogos ou psicólogos. Há, ainda, o tempo de deslocamento de local para local. Quando chegam em casa, ainda têm tarefa escolar para cumprir.
Sei como é isso. Na minha casa não é diferente. Mas, onde está o tempo para a diversão e o relaxamento? Resolvi resgatar isso para os meus filhos e reorganizei a rotina deles. Dei prioridade ao que de fato é importante, deixando de lado “os modismos.” Incentivei  “o brincar” mais livre e descompromissado. Ensinei a agrupar amigos e a resgatar a infância.
Hoje, quando vejo crianças teclando um dispositivo digital sem limites, ou embebecidos na frente de um computador, imagino logo que há algo de problemático se instalando ali, no psiquê daqueles meninos. Crianças que optam por teclar e não brincar não estão dizendo para mim que estão conectados ou são contemporâneas. Estão sinalizando que querem ajuda. E sabe qual ajuda? A ajuda que lhes permita ser criança, brincar como criança e ser amada como tal.
Não se acostume à ideia de que as crianças são todas assim. Serão assim, se nós deixarmos que sejam. Saibam que estão fixadas na “altura contemporânea”, porque estão sendo engolidas pela influência midiática e pela falta de tempo que nós, pais, temos dedicados a elas. Se estivéssemos dando atenção às nossas crianças, elas estariam entediadas nas redes sociais e jogos eletrônicos? Se não quiséssemos que eles fossem fluentes em inglês ou campeões do mundo, talvez eles pudessem brincar mais e, com certeza, ser mais felizes.
Vamos nos organizar... Não quero que meus filhos não façam inglês e não pratiquem esporte, escola de música, teatro, dança etc. Quero que façam tudo! Porém, o que não quero mais é que estas escolham tirem deles a infância. A vida é longa e haverá tempo para tudo. Nós não conseguimos chegar aqui? Eles chegarão também. Deixe-os mais soltos para que possam brincar mais e serem mais felizes.
Outro dia, atendia a um aluno, cuja queixa era: “quero brincar mais!”. Nesse atendimento, levantei a rotina dele e, acredite, ele tinha mais compromissos diários do que eu tenho. Sinceramente, não vejo o bem que isso possa causar a uma criança. Portanto, vamos organizar a vida de nossas crianças de tal forma que lhes sobrem tempo para brincadeiras gostosas.

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Em casa, sou de um jeito; na rua, sou diferente


Não é incomum que crianças e adolescentes sejam diferentes em casa e fora de casa. O comportamento pode mudar sim. Geralmente, na escola, eles agem diferente do que agem em casa, mesmo postos diante de um mesmo problema. Alguns, na escola, são introvertidos, enquanto em casa são extrovertidos. Há situações em que na escola são levados, e, em casa, quietos.  Às vezes, acontece o contrário de tudo isso. E quando pais e escola sentam para conversar sobre a criança, parece-nos que falamos sobre duas pessoas diferentes.
Uma outra situação muito observada em nossos lares é a agressividade de um irmão com outro, enquanto na escola ele é uma “graça de pessoa”. Por que acontece isso? A agressividade em casa, justamente onde as crianças são tão carinhosamente acolhidas, significa um grande problema? Na verdade, não! À luz dos conhecimentos psicanalíticos, a agressividade, contraditoriamente ao que parece, não manifesta um distanciamento afetivo, mas o contrário. Ela denuncia que existe um vínculo e que ele é importante bastante para despertar a raiva. Acredite! Só sentimos raiva daquilo ou daquele que é importante para nós. Situação igual pode acontecer entre pais e filhos, principalmente quando estão entrando na adolescência. Momentos de muita agressão e raiva podem permear uma discussão entre pais e filhos. Mas, por que isso acontece? Acontece, pois os filhos sabem inconscientemente que precisam crescer, ganhar autonomia, ir para o mundo. E, ao  fazerem isso, quando encontram resistência dos pais... aí está o problema!
Muitas vezes, na escola, onde o espaço é apenas da criança, sem uma intervenção direta dos pais, ela manifesta ali o seu “eu” de forma muito natural. A escola geralmente é um ambiente seguro, onde os educadores permitem a manifestação da expressividade de cada um. O esporte, os eventos, os projetos transversais, a sala de aula, tudo é planejado e preparado para que a criança se manifeste, logo, não é para se estranhar que a criança se realize de forma diferente do que se realiza em casa: “A casa é o útero, a escola é o mundo”. É isso! A superproteção em casa, o zelo exclusivo, o afeto dos familiares oportunizam um ambiente diferente do escolar. Assim, a manifestação da criança se fará de forma diferente. Por isso mesmo, posso ter em casa uma criança ou um adolescente diferente daquele que tenho na escola. Muito natural. O que necessitamos é de sintonizar as práticas educativas do ambiente familiar com as práticas educativas do ambiente escolar. Se conseguirmos essa sintonia, teremos crianças mais consolidadas em seu “eu”, em sua personalidade. Como estamos lidando com formação de pessoas, a coerência escola-família e família-escola é essencial.
As crianças e os adolescentes possuem códigos e linguagens que necessitam ser compreendidos. Uma criança ou adolescente com comportamento na escola muito diferente do comportamento no lar, ou vice-versa, pode estar querendo dizer algo. Como eu disse, é natural que haja diferenças, mas é preocupante se essa diferença for muito acentuada a ponto de termos duas personalidades em questão. Sabe como se resolve tudo isso? Inicialmente, conversando e alinhando procedimentos comportamentais com a escola, e, ao mesmo tempo, dando espaço em sua casa para que seu filho também se manifeste. Que seja lido e ouvido. Entendido e amado. É essa a fórmula.
Estamos juntos na missão de educar nossas crianças e adolescentes para a vida. Conte conosco!

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

O sapo Leleca e a princesa Lili

Queridos leitores, tenho o prazer de disponibilizar esse livro infantil que escrevi e que foi lançado em 2012.
Para os que não tiveram a oportunidade de ler, espero que gostem!!!


Click no link abaixo:






terça-feira, 20 de agosto de 2013

Os filhos devem ser (in) dependentes?



Nos dias atuais, o que mais vemos são os filhos desejando independência. Os adolescentes, então, só falam em direitos e exigem independência. Contudo o que se observa? Os filhos estão ficando mais tempo em casa, prolongando a adolescência. Estão mais tempo vinculados e dependentes das famílias. Eu acredito que as crianças e os jovens de hoje estão mais exigentes em seus direitos na família e na escola, mas, ao mesmo tempo, muito dependentes das famílias. Devemos considerar dois aspectos importantes: o mercado de trabalho exigindo mais e mais preparo, prolongando os estudos e a dependência econômica dos pais e também a “imaturidade tardia”, advinda da insegurança existente nas cidades. Seus filhos já andaram de coletivo urbano? Os meus ainda não! Eles vão sozinho para escola? Os meus não! Tá vendo... Quando eu era adolescente, andava sozinho por todo canto.
Bem, um cuidado é necessário e não podemos negligenciar. Socorridos sempre por nós, crianças e adolescentes não irão desenvolver o senso criativo e, claro, a sua autonomia. Não podemos, então, confundir preocupação com a segurança dos filhos, com adotar as tarefas que são pertinentes a eles: fazer as lições diárias, escolher a roupa que irá vestir, levar ou trazer objetos da escola e ter responsabilidade com a organização de seu quarto, por exemplo. Essas são responsabilidades saudáveis e lhes proporcionarão independência.
A conquista da autonomia é progressiva, necessária e começa desde a infância. Saiba que a partir dos 12 anos, essa autonomia torna-se necessidade psíquica do indivíduo. É necessário crescer! Nós temos que deixar que isso aconteça e, para tanto, é preciso ajudar as crianças a crescerem. Para isso, há pequenas estratégias como principalmente atribuir aos filhos responsabilidades. Elas devem ser atribuídas de acordo com os desafios de cada faixa etária. É certo oportunizar maturidade aos nossos filhos e, como pais educadores, temos que encorajá-los, afinal não iremos gostar de ter um adulto totalmente dependente do nosso lado.
Como é sempre bom poder contar com algumas dicas, seguem sugestões que poderão ajudar:
  • pouco a pouco, delegue tarefas domésticas: arrumar o próprio quarto, fazer a cama e colocar as roupas sujas na lavanderia, é um bom começo;
  • deixe que seu filho(a) fique um pouco só. Saídas rápidas podem acontecer, enquanto seu garoto ou sua garota já crescidos fazem a tarefa diária;
  • deixe que aprendam com os próprios erros. Ficar orientando o tempo todo não gera sensação da experiência;
  • sempre fale com eles sobre o preço das coisas e o quanto custa adquirir.
Muito bem, sei que não é lá muito fácil essa tarefa. Eu mesmo me acho muito protetor, mas é necessário dar aos filhos a possibilidade de crescimento. Deixe-o ir à casa de amigos e conviver em ambientes diferentes de sua casa. Acredite, serve como uma viagem, sendo um belo aprendizado.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Crianças espertas perguntam de tudo


Graças à “explosão da informação”, as nossas crianças estão expostas a fatos e experiências para os quais obviamente não estão preparados. O cognitivo e o afetivo (capacidade intelectual e emocional) não estão devidamente amadurecidos para absorção e compreensão do que estão recebendo de informação. Eles necessitam de dar sentido e organização às suas experiências, e o que vemos é que isso não tem acontecido. Estão sendo expostas às informações midiáticas, sem antes ter o grau necessário de amadurecimento para entendimento do assunto. Estão sem filtro! Nós, adultos, acreditamos que as crianças, assim como nós, fazem distinção do que parece ser evidente. Não funciona assim.
As primeiras perguntas das crianças começam por volta dos três anos de idade, quando começam a utilizar a linguagem para se expressar. Na teoria de Piaget, é na fase pré-operatório (3 a 7 anos) que as crianças começam a querer descobrir o mundo a sua volta. Passam a perguntar sobre objetos, depois nomes. Por volta dos quatro anos, já estamos na idade da indagação. Nessa fase elas descobrem que podem saber de tudo e ficam deslumbradas com a possibilidade da descoberta. Há uma perplexidade descoberta de que existe muitas coisas a saber. As perguntas são disparadas em série e às vezes até de forma desordenada. “As nuvens são feitas de quê”? “O que faz a gente crescer”? “Por que você passa essa coisa no cabelo”? Que maravilha! O mais interessante é que elas acreditam que os pais sabem tudo e têm todas as respostas. É nessa fase que querem saber de suas origens, das coisas vivas, dos irmãos etc. Querem saber da origem do bebê, das diferenças morfológicas entre os sexos e por aí adiante. O que temos que saber aqui, é que as respostas a essas perguntas não necessitam de muitos detalhes, pois é certo que não compreenderão. O que cabe aqui é a explicação básica, respostas objetivas. Geralmente a criança se satisfaz. Outro dia eu ri muito com um amigo que me contou que a filha havia perguntado de onde ela tinha vindo. Ele cuidadosamente e, segundo ele, didaticamente contou a concepção a ela. Já distraída pela demora da exposição, interrompeu o pai no final e disse:
̶ “Ah tá! Eu pensei que era de São Paulo. Você não falou outro dia que eu nasci em São Paulo”? Pois é, na verdade a pergunta era outra. Faltou a investigação do pai. Viu? Crianças... mundo fantástico!
Com seis ou sete anos de idade, as perguntas infantis vão diminuindo. Na verdade, depende muito da criança. Tenho uma menina de sete anos e outra de dez que perguntam e muito. Muda o conteúdo, querem saber de coisas variadas que ouviram falar ou viram em um filme por exemplo. Perguntam a respeito do que as amigas comentaram. Querem entender melhor o que se passa. O importante é darmos importância às perguntas e não achar que elas nos aborrecem. Responder aos filhos é, nessa fase, um diálogo completo para eles. Não mostramos indiferença e sim interesse. Lembrem-se de que estamos treinando para que na fase jovem dessas crianças, elas possam confiar em nossa sabedoria e principalmente na disposição que temos em dialogar. Essa relação gera confiança, dá segurança às crianças e nos aproxima de nossos filhos.


Fonte: PROEPRE: Fundamentos teóricos da educação infantil. Mocio Camargo de Assis e Orly Zucatto de Assis. Ed. Unicamp. 4ª Ed. 2003

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Meu filho me desafia... Devo bater para disciplinar?



Está em pauta uma questão polêmica. Opiniões divergem, a legislação regulamenta, educadores e psicanalistas condenam a atitude de pais baterem nos filhos. O que fazer? Seus pais batiam em você? Eu me lembro, e sem traumas, que meus pais, principalmente o meu pai, batiam, quando entendiam que eu havia ultrapassado o limite. Aliás, a frase sempre dita por ele era: “José, você passou do limite!”.

Hoje, em nosso tempo, a psicologia infantil e a pedagogia consideram inadequada essa prática educativa. Saber impor “limites”, sem dúvida, é importante para a boa educação dos filhos. Contudo, para que o “limite” tenha de fato um objetivo educativo, ele tem que estar acompanhado de um significado a ser percebido pela criança ou adolescente. Sem isso, a ideia de colocar limites acaba perdendo a razão e, logicamente, o sentido. Os pais costumam bater quando estão tendo um acesso de ira. “Batem” como defesa, por sentirem-se ameaçados em seu poder ou desafiados em sua responsabilidade. Neste caso, o bater deixa de ser uma ação educativa e passa a ser uma cena de agressão.

É claro que não é bom!

Diferentemente disso é um tapinha no bumbum em um momento em que os pais estão sob controle emocional. No caso, o tapa não tem por objetivo machucar a criança. É apenas uma ação simbólica. Seria um “NÃO” mais enérgico. A criança sabe fazer essa leitura. No caso do adolescente, isso não funciona. Para eles, só o diálogo mesmo. Castigos, se não bem administrados, podem até parecer prêmios. Algo do tipo: “passe a tarde em seu quarto!” se lá tem TV, computador e jogos, fará a tarde ser maravilhosa. Por isso, o diálogo, a responsabilidade posta, acabam gerando bons resultados, mesmo que não de imediato.

A autoridade dos pais não depende só de energia, mas, paradoxalmente, de bastante confiança e afetividade. Aí é que mora o perigo! Muitas vezes um olhar duro ou palavras pesadas doem mais que um tapa no bumbum. A criança pode acreditar que perdeu a confiança ou o afeto dos pais. Por isso mesmo, é necessário muito cuidado com essa ação educativa. Educar dispensa rancor e ódio. Educar rima com amor, dedicação e confiança. É assim em casa e na escola. Temos que disciplinar, mas não podemos “castigar” e “maltratar” as crianças. Insisto: um tapa que não dói pode educar, mas é só isso. Não cabe uma surra e não cabem palavras que humilhem as crianças ou os adolescentes. Definitivamente não há educação aí.


Mas o que fazer em situações mais complexas, em que a criança está em crise, mostrando-se agressiva com birra e batendo no pai ou na mãe? Nada de querer convencê-lo, em um momento em que ele está necessitando de obedecer. É preciso se impor, então, através da impostação da voz. Não é gritando, mas falando com autoridade. Se não funcionar, aí então é hora de pegá-la pelos braços e, sem machucar é claro, dizer com firmeza que ela tem que obedecer. Vá tentando, e a criança certamente vai cedendo e reconhecendo a autoridade dos pais. Não esqueçam nunca que pais e educação perfeitos não existem. Somos seres humanos e, claro, passíveis de erros. Não se sintam culpados se não conseguirem ter a melhor atitude com os filhos. Tenham certeza de que todos acertamos e erramos.

Tenham paciência e respeito. Não gritem e deixem a criança e o adolescente falar. A escuta é importante. Construam uma relação de amizade e confiança, isso é fundamental. Violência gera violência e gentileza gera gentileza. É assim mesmo. Vamos criar sem culpa!

sexta-feira, 26 de julho de 2013

Nem tudo no mundo acontece de acordo com a nossa vontade.


O mundo não gira em nosso entorno! Essa é a descoberta fundamental para o amadurecimento do homem em sua formação. Já na infância, e principalmente na pré-adolescência, nossos filhos têm que aprender que eles não são o centro do mundo. Sei que sob ponto de vista emocional, às vezes não é tão simples tomar consciência disso, mas é fundamental, no processo de sua formação, a criança entender que, embora tenha uma personalidade, uma história, sonhos e desejos, ela vive em sociedade, que possui instituições, regras, e que o relacionamento humano e as trocas exigem de cada um adaptação para que possa viver bem e com tranquilidade.
Se não somos o centro do mundo e nem sempre as coisas acontecem de acordo com a nossa vontade, o que nos resta é compreender o mundo em que vivemos. A criança e o pré-adolescente têm que aprender que, se “forçarmos a barra”, a situação pode piorar para o nosso lado. Claro que isso gera em todos uma frustração, mas, como lidar com essa frustração? Certamente dependerá de equilíbrio. Difícil, né? Eu sei! Estou há trinta anos na educação, tenho  três filhos em formação e ainda pessoalmente tenho que lidar com as minhas frustrações também. O nosso lado narcísico tende a nos levar a querer que tudo gire em nosso entorno e em nosso favor. Mas... não é assim mesmo e, por isso, temos que encontrar o equilíbrio. Fundamental aqui, é que tenhamos esse equilíbrio para ajudarmos os nossos filhos e alunos a se equilibrarem. O que eles esperam de nós é isso.  O que a sociedade exige da família e da Escola é isto: dar, aos nossos garotos e garotas, o equilíbrio essencial para que eles possam encontrar o amadurecimento emocional para crescer. Escola não é só o ensino de conteúdos, mas educação para a vida.
Outro dia, em casa, eu olhava para meus filhos que ainda são crianças e lembrei-me de meu compromisso como pai. Eles precisam muito de mim, da mãe e da família. Querem tudo e acham que tudo está em sua volta para assisti-los. Imaturidade natural da faixa etária. Coisa de filhos, de crianças. Contudo, esperar o tempo deles sem orientá-los não funciona. Achar que um dia crescerão e tudo passará não está correto. Sem a nossa intervenção, no caso, família e escola, eles crescerão sim, mas sem o norte, sem o amadurecimento necessário para que enfrentem as dificuldades da vida. Por isso, convido todos a uma reflexão: vamos ensinar às nossas crianças que existe um mundo além do mundo de suas vontades? Se fizermos isso, estamos ensinando-lhes a lidar com regras, autoridades, ética, compromisso e solidariedade. O que é o mundo se não tudo isso?
Pelo menos, esses valores é o que certamente queremos para os nossos filhos. Pois bem, sejamos vigilantes neste propósito: Escola e família se completando. A família fazendo o seu papel, e a Escola, o seu. O resultado desse esforço são jovens felizes e comprometidos, organizados e solidários. Seres humanos prontos para um mundo melhor que tanto desejamos e pelo qual tanto sonhamos. 

Como eu tenho dito... o problema na educação brasileira é gestão.


Estou no meio educacional há 30 anos e continuo empenhado em entender mais profundamente a educação no Brasil. Militei na educação como professor, coordenador e hoje sou diretor em uma escola com mais de dois mil alunos que faz parte de uma grande rede de escolas privadas. Em toda minha existência só conheci escola em minha vida produtiva. Como aluno, como educador e como gestor.
Durante esse trajeto, eu me preparei, qualifiquei meu currículo e passei a estudar outros modelos educacionais para entender o “mundo da educação”. Mergulhei no modelo francês e fui lá conhecer escolas. Fiz o mesmo com o modelo português, britânico e chileno. Precisava conhecer um modelo latino-americano para que minhas referências se apoiassem em realidades próxima da nossa.
Por onde ando, gosto de conhecer escolas, conversar sobre educação e opinar a respeito. Em minha caminhada, tornei-me também articulista de uma revista especializada em educação, construí um blog, que alimento com artigos de opinião, e também escrevi e lancei um livro de Literatura Infanto-Juvenil. Quero, com esse histórico, certificar minha vivência na educação.
Recentemente, em minha imersão na educação brasileira, deixei de lado o corporativismo e o “olhar unilateral” do senso–comum, para reafirmar o que tenho observado em nosso falido modelo educacional: o problema não é mais verbas. A questão está na qualificação do educador em sua formação e na gestão escolar. A qualidade do capital humano é essencial para revertermos o quadro atual. Professores qualificados, melhor remunerados e gestores competentes é o que necessitamos para que nosso modelo possa nos dar resultados reais. A educação brasileira necessita de uma revolução gerencial para que os recursos disponíveis sejam devidamente aplicados.
Hoje, temos disponíveis 5,8% do PIB. Se compararmos com os demais países, veremos que temos feito alto investimento. Os EUA, por exemplo, aplicam 5,5%, enquanto a China gasta em média 1,9%, o Chile 3,5%, Irlanda 3,8%, Inglaterra 5,2% e Uruguai 2,5%. A meta brasileira é de aplicar 10% do PIB. Ora, para onde irá esse recurso? Segundo levantamento da Education at a Glace de 2013, investimos em educação básica 4,3% do PIB contra 3,9% dos países desenvolvidos. Se observarmos com atenção, até gastamos muito, pois devemos considerar que nosso ensino superior público é pequeno e os salários dos 5 milhões de profissionais envolvidos na atividade educativa são vergonhosos.
Quando falamos, então, que o problema está na gestão, não me refiro aqui ao trabalho dos diretores nas escolas municipais, estaduais e federais de nosso país. A questão é mais profunda, e não podemos reduzir a isso. A gestão das verbas é de competência das prefeituras e dos Estados, que, através de suas secretarias de educação, têm a missão de aplicar os recursos disponíveis. Pois bem, aqui encontramos secretários da Educação, cujo cargo é sempre motivado por indicação política e pouco se considera a capacidade técnica do indicado.
Mais verbas resolve mesmo? E as universidades e faculdades que formam educadores a partir de um currículo teórico e ideológico que não prepara os pedagogos e licenciados para a docência? Como farão a gestão na sala de aula? É sim! Sala de aula exige gestão de pessoas, de projetos, de conteúdos e demais demandas. Está vendo? Pois é, mais verbas não resolve mesmo! Pior, a questão não passa também somente por salários mais dignos. Em Juazeiro do Norte (CE), os professores da rede municipal com mais de 15 anos de experiência com 47% da equipe com curso superior e 84% com Pós-Graduação e salário com piso de R$ 2. 193,00 contra R$ 1. 567, 00 que é o piso nacional, não são responsáveis por bom desempenho dos alunos. Na Prova Brasil, os alunos de Juazeiro do Norte tiveram 10 pontos percentuais a menos que a média brasileira.
Outra questão a ser gerida nas secretarias de educação, é o modelo didático-pedagógico tradicional que está combalido. Observamos ao longo dos anos que há, sobretudo na rede pública de ensino, um divórcio entre o professor e a sala de aula. Este fato não é um fenômeno só brasileiro. Na França, encontramos essa realidade principalmente nas escolas das periferias das grandes cidades. Há dois anos, o ex-inspetor-geral da Educação Nacional George Fotinos e o psiquiatra José Mario Horenstein estudaram o comportamento de 2,1 mil funcionários de 400 unidades escolares e concluíram que 17% do corpo docente no Ensino Fundamental e no Médio na França sofrem de esgotamento físico e mental. Descobriram também que 30% dos educadores pensam em abandonar a carreira. No Brasil, esse quadro é assustador.
O “choque de realidade” do professor recém-ingresso na carreira do magistério público é um dos principais motivadores para a evasão. O perfil do alienado e as condições de trabalho levam à escolha pela evasão. É a mesma situação observada na França. A questão passa sim pelos baixos salários, mas ainda há o que se considerar. O reconhecimento social do educador, a falta de um plano de carreira atraente e as más condições de trabalho devem ser considerados como elementos de evasão e da baixa expectativa entre educadores quanto ao seu futuro profissional.
Estamos, então, vivenciando uma época em que os gestores educacionais da “coisa pública” estão sendo chamados a uma reflexão acerca da questão educacional que seja capaz de operar mudanças significativas no modelo educacional vigente. Pode-se fazer e muito para atenuar o problema. Uma reforma curricular nacional, um plano de cargos e carreira atraente, salários mais justos, envolvimento das comunidades ao entorno da escola e dos familiares dos alunos em uma dinâmica de cogestão na administração do patrimônio material e imaterial da comunidade escolar são apenas alguns aspectos que devem ser considerados.
Mesmo no modelo atual há o que se fazer, havendo vontade política e tendo a gestão a capacidade de aglutinar forças transformadoras. Professores motivados, desafiados em suas competências, comprometidos com seu ideal são condições essenciais para um bom resultado na educação.