quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A identificação: O Eu influenciando outro (filhos e filhas)


 Buscando o conceito psicanalítico de “identificação”, encontro a ideia de que o termo designa o processo pelo qual um sujeito se apropria dos traços ou atributos de outros seres humanos, com os quais convive. É, na verdade, o processo fundamental para a construção do outro enquanto sujeito. Assim, a identificação opera como uma carga de influência essencial à construção do “eu” no outro. Quero dizer que a construção do outro como sujeito se dá, sim, a partir da identificação que se estabelece na relação parental. Já deu para perceber a importância enorme do pai e da mãe nesse processo. Sim, os filhos, de certa maneira são constituídos de nosso material genético e também de elementos de identificação que formarão a sua personalidade. As crianças desde a primeira infância vão desenvolvendo e assimilando valores, traços e características do outro, cuja relação de identificação se estabeleceu.
O que busco dizer é que o enlaçamento dos pais com os filhos molda, sim, as personalidades. Dessa forma, quando falamos aos nossos filhos, ainda no berço, ressaltando as características atribuídas, vamos moldando essa personalidade. Por exemplo:  quando falamos “ que criança risonha e alegre”, “tem o jeito do papai”, “nossa, como ela é tímida” etc., estamos moldando de maneira volumosa a carga de personalidade que irá suportar a formação dessa criança. Isso me leva a dizer que, de certa forma, o que dizemos aos filhos é o que de certa maneira estarão moldados a serem. Sinceramente, se eu tivesse esse conhecimento, quando os meus filhos ainda eram bebês, certamente, eu teria tido um outro modelo de direcionamento a eles. Digo isso por entender, hoje, a luz do conhecimento psicanalítico que a identificação é a marca do outro em nós. Isso aconteceu conosco também na relação parental com os nossos pais.
Bem, mas se é assim tão natural, qual é o significado desse breve ensaio? Seria apenas levantar a questão? Não, dar luz a um fato real: esse processo de identificação faz com que o “eu” desenvolvido no outro (nossas crianças, no caso), não seja exatamente o que esse outro é em sua essência. Descomplicando... quero dizer que essa carga de identificação, embora tenha contribuído para a formação da personalidade de nossos filhos, eles não são o que nós transferimos a eles e, por isso, chegará o momento em que a personalidade de cada um irá, sim, ter que lidar com toda essa identificação. Ocorrerá em cada um a necessidade natural de encontrarem a sua própria identidade, rompendo, portanto, com esse espelhamento. É nessa busca que certamente haverá alguns choques e conflitos, bem típicos da fase da adolescência. Sendo assim, é aí que o sujeito estará construindo a sua personalidade, o seu “eu”. Se não conseguir quebrar esse espelhamento e se construir uma nova existência, poderemos estar diante de uma situação que leve à clínica psicanalítica em decorrência de uma desestruturação do aparelho psíquico. O sujeito necessita ser dono de si mesmo.

Dessa forma, podemos dizer que há o momento no desenvolvimento da criança ou do adolescente, que ela(e) necessita deslocar-se do outro e tornar-se um sujeito real. A psicanálise freudiana nos ensina que o descolamento, ou seja, a separação daquele que se configura como o outro de sua existência, é necessária para que a criança se situe no mundo em relação não mais a uma criança idealizada, mas a uma pessoa constituída como sujeito real, dotado de autonomia enquanto ser.