quarta-feira, 7 de junho de 2017

Estou decepcionado com você



Certamente essa frase, quando dita aos nossos filhos, reflete apenas o momento de ira e de raiva do adulto. Contudo, se falada com frequência, levará a criança acreditar que ela é o que os pais não desejaram, provocando um sentimento de rejeição. Uma sensação de inadequação e com certeza de incompetência como pessoa. Não podemos deixar de lembrar, que as crianças, de maneira geral, passam grande parte dos seus dias tentando mostrar aos pais as suas habilidades e adequações. O tempo todo, as crianças querem a aprovação dos pais, seja no esporte, na escola ou mesmo nos desafios das brincadeiras. Se ela tem a sensação de que está provocando decepção nos pais, certamente o que as tomam é um forte sentimento de incapacidade. Isso a perseguirá o resto de suas vidas e, com absoluta certeza, gerará frustações enormes. Eu, particularmente, levei muito tempo para ter de parte de meu pai um reconhecimento por minhas conquistas, o que certamente impactou em minha vida.
Dizer a um filho ou filha que está muito decepcionado com ele ou com ela, passa a ideia de uma quebra de confiança no relacionamento. A criança terá a sensação da existência de um enorme abismo na relação amorosa com os pais. Complicado, né? É sim! Imagine você dizendo a seu filho que está decepcionado com as notas ruins na escola, que irá tirá-lo da escola. Dá para imaginar a terrível sensação de incapacidade? Não se motiva dessa forma, mas penaliza. Pior, destruindo e não ajudando a reconstrução de segurança. Como essa criança encontrará forças para não mais lhe decepcionar?  
Um sentimento de rejeição se instalará na mente dessa criança e ela irá acreditar que estragou o bom relacionamento com os pais e, claro, sentirá culpa por não ter correspondido às expectativas dos mesmos.
Você já disse essa frase ao seu filho ou filha? Foi repetidamente? Ora, uma vez ou outra, não é tão grave. Mas, o que devo dizer? Com absoluta convicção, diga sempre que não concorda com o que ele ou ela está fazendo.  Peça que avalie o que está fazendo e mostre as possíveis consequências. Afirme o seu compromisso de estar junto nos momentos de erro. Procure resgatar em seu filho, o senso de responsabilidade e o sentimento de que o que está sendo feito não é aceitável. A criança saberá que errou e que está sendo chamada a uma reflexão e, acima de tudo, não está sendo rejeitada, mas amada. Esse é o melhor sentimento, a sensação mais agradável possível e que com absoluta certeza irá gerar um sentimento de segurança no sentido de ser amada e conduzida. Criança precisa sentir-se conduzida e amada.
Certa vez, em um momento de atendimento, na anamnese, de maneira surpreendente o analisando me disse: “Estou aqui porque o meu pai está decepcionado comigo, senão eu estaria brincando com os meus primos”. De imediato percebi que estar ali comigo representava um castigo, punição pelo fato de ele ter decepcionado o pai. Nesse momento, pude perceber a sua maior angústia: a rejeição. Por isso, todo cuidado com o que dizemos aos filhos é essencial, principalmente nessa frase tão utilizada e tão pesada. Falamos por pensarmos que há nela uma força de resolver o problema, no sentido de revelar que o que está sendo feito não condiz com o que planejamos ou esperamos. Contudo para o outro, sendo ele uma criança, aí é que o peso ainda é muito mais significativo. Pense nisso!