segunda-feira, 28 de outubro de 2013

A vida acontece no presente


Somos obrigados a viver a cultura do futuro. Ensinaram-nos a poupar para o futuro, a investir para o futuro, a estudarmos para o futuro e a pensarmos no futuro. Igualmente ensinamos isso aos nossos filhos, o que não há nada de anormal. Contudo, precisamos estar atentos a uma realidade: bons pais vivem o momento, até porque não sabemos como será o nosso futuro. A vida acontece no presente; isso é certo e ninguém muda. O futuro é um tempo que a Deus pertence. Por isso, devemos viver intensamente e carinhosamente o presente com os nossos filhos. Planejar o futuro é necessário, mas viver só pra ele, pode estar comprometendo o presente.
O que vejo hoje em dia é a “ditadura da neurose da segurança no futuro”. Inventei essa “síndrome” para estar na moda. As pessoas vivem o presente para que tenham um futuro seguro e estão esquecendo de viver deliciosamente o presente. Muitos estão chegando ao futuro planejado e chegando à seguinte conclusão: “sinto-me culpado por ter passado minha vida toda pensando no futuro. Se eu pudesse voltar atrás, viveria mais o presente”. Pois é isso mesmo! O melhor de nossas vidas é gasto na preparação do futuro que desejamos. Quando ele chega, olhamos para o passado e aí descobrimos que poderíamos ter vivido melhor e, principalmente, ter nos dedicado mais aos nossos filhos.
Qual é a ideia então? Não pensar no futuro? Nada disso! A ideia é viver intensamente o presente, pensando no futuro. Temos que estar presentes no tempo em que nossa vida está acontecendo. Sabe quem mais sente? Os nossos filhos. Eles precisam que nós vivamos com eles, no tempo presente em que estão. Eles não sabem: nada de futuro: eles conhecem o presente, o imediato. A vida é assim: ela acontece no tempo presente.
Escolhi esse tema para compartilharmos uma situação muito comum hoje em dia. Os pais, preocupados com o futuro, estão deixando de viver em família o presente. E os filhos, muitos estão próximos de viver uma “solidão”, mesmo tendo família completa. A Escola é onde mais observamos essa realidade. A correria para o sucesso e a estabilidade no futuro estão nos tirando do convívio com a família no presente. Eu também vivo isso e, por ver tudo isso, tomei uma decisão: todas os dias almoço com meus filhos e não abro mão do domingo em família. Ainda consigo tempo para o trabalho, para os negócios pessoais e para relaxar com os amigos. Pense nisso! Você pode organizar o seu tempo e conseguir viver cada momento presente de forma prazerosa. E ainda planejar o futuro!

Pronto... saiba se dividir, sem perder a deliciosa oportunidade de acolher gostosamente seus filhos e dar a eles a estabilidade emocional de que necessitam. Viva com intensidade os momentos no presente que pode dedicar a seus filhos. Planeje o futuro para a estabilidade de todos e a segurança da família, mas lembre-se de que nada vale tanto a pena quanto os momentos que tiver com seus filhos.

sexta-feira, 18 de outubro de 2013

Educar os filhos para a felicidade


Eu tenho recentemente pensado muito sobre a educação dos filhos. Minha motivação reside em um momento lindo que vivo: o aprofundamento no estudo da Psicanálise e na alegria de estar me preparando para a chegada do meu quarto filho. O encontro comigo mesmo e o crescimento de minha família me tornam um privilegiado. Estou muito feliz e como sempre, um pensador. Educar meus filhos para a felicidade é o meu foco hoje e quero muito compartilhar com vocês esse meu pensar.
Na difícil missão de educar para vida, o que nós, pais, desejamos é um manual de regras e estratégias a seguir. Ocorre que cada criança é um universo próprio, cheio de experiências próprias e que certamente não haveria no mundo um manual que contemplasse toda essa diversidade que é o ser humano. Assim, torna-se impossível desenvolvermos um manual, um método, ou mesmo uma regra para educarmos nossos filhos para a felicidade. O que necessitamos é de buscar em cada filho a sua essência, a sua natureza e fazermos, em cada um, a leitura de sua personalidade.
Se a criança nasceu com a alma independente, ela precisa de liberdade para ser, o que verdadeiramente ela é. Orientar sim, ensinar também, mas “doutrinar” em um padrão por nós sonhado não será o melhor caminho. Procurar criar filhos perfeitos, moldados em nossos sonhos, pode não ser exatamente o correto e, aí, podemos estar criando um filho para a nossa felicidade e não para que ele tenha a sua própria felicidade. A vontade que temos de criar filhos perfeitos pode nos levar a esquecer que o ser humano tem alma e que cada um tem a sua alma. Se a alma de seu filho não for escutada, pode ser que ele encontre muita dificuldade em ser feliz.
Para que eduquemos nossos filhos para a felicidade não é fundamental que eles façam de suas vidas a realização de nossos sonhos. Eu já coloquei isso em um outro ensaio meu. Não podemos transferir para os nossos filhos os nossos desejos ou frustrações. “A infelicidade de muitas pessoas começa exatamente quando seus pais têm um projeto de vida grandioso para elas. Ser pai, ser mãe, portanto, não pode ser enquadrar o seu filho em um projeto de vida que você criou, mas sim ajudá-lo a realizar sua própria vocação existencial” (Roberto Shinyashiki, p. 17). Essa verdade mexeu muito comigo, e eu estou convencido de que o meu papel como pai é o de descobrir com os meus filhos qual é o melhor caminho para que eles encontrem a felicidade. Descobri que se eles crescerem felizes e forem felizes como adultos, eu estarei feliz e realizado como pai. Claro! A minha felicidade reside na felicidade de meus filhos.
Educar os filhos para a felicidade é dar a cada um a oportunidade mágica de ser ele mesmo. Mas como se faz isso? Dando a eles o sentido do respeito ao jeito de ser de cada um. Nenhum dos meus três filhos é igual ao outro e, por isso mesmo, estou aprendendo que não posso tratá-los em suas demandas de uma mesma forma. Descobri também que cada filho meu é uma oportunidade maravilhosa que tenho de ter contato com a minha própria essência. Posso, então, me conhecer melhor, na medida em que procuro conhecer e aceitar a maneira de ser de cada um. Que genial! Aprendo a me conhecer melhor quando busco uma forma de conhecer melhor os meus filhos. Assim, eles também ensinam a mim o que tenho em mim. E isso é muito bom!
De tudo o que compartilhei com vocês, em momento algum eu disse: “deixe-os à vontade”. Não. Sou disciplinador e educador. O que estou dizendo é que educar os filhos para que sejam felizes passa pelo respeito a cada um e também pela ajuda que daremos (com disciplina, organização e educação) a cada um para que possam realizar o seu sonho. Portanto, convido a todos os pais que foquem em conhecer o mundo interior de seus filhos e que oportunizem a eles que encontrem, em seus sonhos, a busca para a felicidade.

Bibliografia:
Shinyashiki, Roberto. Pais e filhos (companheiros de viagem) – uma educação para a felicidade. Ed. Gente. São Paulo.

Professor, o meu filho é inteligente?


Todos nós somos inteligentes! Todos nós pensamos, e o pensamento é produto do cérebro humano, que é dotado dessa enorme capacidade inata. O que nos torna seres inteligentes é o pensar. Essa capacidade é inerente aos humanos e é o que nos diferencia das demais espécies. Nós temos um cérebro evoluído graças à energia do combustível que o alimenta e o faz evoluir ainda mais: a inteligência.
A inteligência humana não significa apenas uma representação de alguma atividade humana ou a capacidade de executá-la. Aborda toda a estrutura corporal e cognitiva do ser humano. Está diretamente relacionada à capacidade humana de aprendizagem e, consequentemente, à educação, sem desprezarmos as demais e importantes experiências decorrentes da vida em comunidade. Dessa forma, seremos mais inteligentes, quanto mais aprendizagem tivermos, seja na educação ou no aprendizado informal do dia-a-dia. Assim, pessoas mais expostas aos estímulos e ao conhecimento, certamente mais e mais desenvolverão a sua inteligência.
Para Jean Piaget, a gênese do conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo, mas é fundamentalmente construído na interação homem-objeto. Portanto, depende da ação do homem. Eu diria assim: nascendo com todas as condições biológicas e estruturais perfeitas, a inteligência é inata. Aproveitar as habilidades e desenvolver ainda mais a capacidade de aprender é mecânico e depende da vontade humana. Aí é que a escola, o meio social e a família são peças fundamentais. Disciplina no estudo, estímulo e motivação são elementos que, se não definem a capacidade de inteligência do sujeito, pelo menos garante uma enorme ajuda à busca pelo saber. Oportunizar ao indivíduo contato com o mundo do conhecimento e incentivar a descoberta do novo são também ingredientes fundamentais para despertar a inteligência.
Muito bem, mas o que me levou a esta breve introdução sobre a inteligência humana? A tentativa de responder ao questionamento inicial deste artigo que eu transformei em título: Professor, o meu filho é inteligente? Será que ele é tão inteligente quanto o fulano? São perguntas comuns em nossos atendimentos diários. Ora, eu diria que sim. Pode até ser que ele não seja tão motivado, tão incentivado e disciplinado, mas inteligente ele é sim. Motivação é disciplina! Guarde isso, pois é fundamental para que a inteligência aflore e os resultados também.

Evocando novamente Piaget, vale ressaltar o conceito de “sujeito epistêmico”. Para ele, esse “sujeito” expressa aspectos presentes em todas as pessoas. Suas características conferem a todos nós a possibilidade de construir conhecimento. Como explica a psicóloga Zélia Remozzi – Chiarottino da USP – SP (Universidade de São Paulo), o “sujeito epistêmico” de Piaget é o que permite o ser humano a desenvolver uma gama de operações essenciais para a aquisição do saber: observar, classificar, organizar, explicar, provar, abstrair, reconstruir, fazer conexões, antecipar e concluir. Está vendo? Todos nós podemos ser inteligentes. Motivemos nossos filhos em casa e na escola e teremos crianças inteligentes e felizes.


Fonte Bibliográfica
Piaget, J. Seis estudos de Psicologia. Ed. Forense.
Revista Nova Escola-Edição 238. Dezembro de 2010.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

“A princípio estranha-se. Depois, entranha-se”


Foi lendo o livro Educação dos Sentidos, do grande educador Rubem Alves, que me deparei com uma história muito interessante. Conta Rubem Alves que a frase que tomo para o título deste ensaio é do poeta português Fernando Pessoa. O que mais me chamou a atenção é que o poeta cunhou essa frase nos anos de 1920, quando trabalhou em uma empresa de publicidade, para lançar a Coca-Cola em Portugal. É isso mesmo. Fernando Pessoa lançando o “marketing poético” para que o refrigerante tivesse aceitação em Portugal.
Mas, o que isso tem a ver? A mim, ficou a ideia da síntese dialética do choque entre o novo e o velho. A novidade tendo que vencer a antiguidade. Tomar a Coca-Cola primeiro provoca estranheza, mas logo a gente se acostuma e aí, então, entranha-se, “entra na gente”. Educação é assim também. Tudo que é novo, que foi aprendido, que nos surpreendeu e que, por isso, foi estranho, será absorvido e entranhará em nossas vidas. Quando refiro-me à educação, refiro-me às mudanças que ela traz (o novo constante) e as transformações que ela provoca em nossas mentes. Meu Deus! Como evoluímos, como mudamos, como um mundo novo se entranha em nós!
Por tudo isso é que nós, educadores, nos sentimos felizes. Nós sabemos, ou pelo menos buscamos saber, transformar o “estranha-se” em “entranha-se”. Fazemos isso sempre. A Escola, em sua essência, tem essa enorme faculdade. Sinto isso acontecer com toda a comunidade, inclusive com os familiares que nos acompanham e acompanham suas crianças e adolescentes. Vocês, pais e responsáveis, também são maravilhosamente atingidos pela força das mudanças. Diria até ”contaminados” pela pulsão das mudanças, só por acompanhar os filhos.
Outro dia, uma mãe me expressou isso com clareza. Ela disse: “Professor, estou aprendendo de novo e também muitas coisas novas, somente acompanhando meus dois filhos”. Que mágico! Absolutamente genial! O poder transformador da educação provocando mudanças e ampliando as nossas mentes. Essa metamorfose, o “estranhamento” se transformando em “entranhamento”, abre para todos nós possibilidades de conhecer e assimilar ideias novas, o que certamente provoca mudanças em nossa própria maneira de ver e perceber o mundo. E precisamos muito disso! Não podemos mais nos estranhar com o “novo”, pois, se assim fizermos sempre, estaremos criando os nossos filhos para um mundo irreal ou, quem sabe, afastando-nos de nossos filhos de tal maneira que chegará um dia em que não mais os teremos como amigos, companheiros e confidentes. Corremos o risco de perdermos os nossos filhos. Já pensou nisso?
Por isso tenho sido recorrente na ideia de que vocês, pais e responsáveis, têm um papel enorme na formação e também na felicidade de seus filhos. É minha tarefa como educador despertar em minha comunidade educacional o verdadeiro sentido da educação. Lançando-me novamente em Rubem Alves, eu digo que o verdadeiro sentido da educação é levar-nos a aprender a amar, a sonhar, a fazer nossos próprios caminhos, a descobrir novas formas de ver, de ouvir, de sentir, de perceber, a ousar, pensar diferente... e sermos cada vez mais nós mesmos, aceitando o desafio do novo. Entendendo como é extraordinário tudo isso, busco estar próximo de vocês com meus artigos de opinião na esperança de que aproveitem a reflexão e tenham certeza de que a educação que transforma, forma e transforma de novo seus filhos tem, também, ao mesmo tempo a força de transformar a vocês mesmos.
Nosso ano letivo caminha no seu 4º bimestre. Estamos dando início ao processo de encerramento, que sinaliza a passagem para uma nova etapa. Os alunos “passarão de ano” e certamente mais e mais novidades acontecerão. Estou para apostar que a dinâmica da educação é tão transformadora que ainda teremos muito o que ensinar e muito o que aprender nesse final de ano letivo. Nesse momento que estamos, sugiro que procurem estar mais presentes na vida de seus filhos. Procurem ouvi-los, orientá-los, motivá-los e depositem muita confiança neles. Eles estão em plena “metamorfose ambulante”, sem a velha opinião formada sobre tudo, como dizia Raul Seixas. Estão em “construção”, e nós, escola e família, somos os arquitetos responsáveis por toda essa obra. Por isso, tenho dito e jamais cansarei de dizer, que estamos juntos nessa missão maravilhosa que é educar.


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Timidez na infância e na pré-adolescência


Até por volta dos 5 e 6 anos de idade, a criança está totalmente voltada para a família. O seu mundo é do tamanho da dimensão do lar e seus pais e irmãos, quando os têm, são à base de sua relação interpessoal. É no seio da família que ela se realiza como pessoa. A partir da ida da criança para a escola (algo que tem acontecido cada vez mais cedo), a criança é chamada a ampliar o seu meio social. Ela começa a conviver com os colegas, com a professora e com o “mundo novo” que se vislumbra diante dela. É o mundo externo, fora de casa, que ela começa conhecer.
Em contato com esse “mundo novo” a criança, e da mesma forma, guardando as devidas proporções, o adolescente, irá ter a percepção deste mundo e se relacionar com ele, a partir da experiência que teve no seu “mundo lar”. É aí que entra a questão da timidez. A timidez denuncia que a criança e o adolescente estão vendo o “mundo novo” como uma forma de ameaça. Algo que provoca insegurança. Seria uma forma de defesa, um recalque à necessidade de ter que se posicionar diante de um mundo muito diferente daquele em que vivia. Explico um mundo com pais ansiosos, excessivamente protetores e por demais cuidadores de seus filhos na infância podem gerar nos filhos dificuldades com o “mundo novo”. Pode acontecer também com as crianças, cujos pais fazem tudo por ela. A criança se sente insegura e não consegue ser original.
Pais muito rígidos, exigentes e excessivamente disciplinadores também podem levar ao mundo da criança e do adolescente a timidez. É preciso estar atento a isso. As crianças quando se relacionam no “mundo novo”, fora da família, podem achar que todos ali são tão severos como os pais e, diante dessa intimidação, fecham-se como defesa. Eu particularmente tenho pensado muito nisso. Muito mesmo!
Em um mundo cada vez mais competitivo, as crianças e os adolescentes tímidos necessitam de resgatar o seu valor. Eles devem ser estimulados a agirem por si mesmos e aprenderem a lidar com os desafios. Para tanto, cabe aos pais uma relação mais aberta com os filhos a ponto de transmitir a eles segurança o suficiente para que se sintam capazes de olhar no olho do outro. Agora, se a timidez for tão severa a ponto de a criança ou de o adolescente não conseguir se expressar em nenhum grupo, nem com os colegas da escola, aí, então, estamos diante de um caso que exigirá acompanhamento, ajuda profissional.
O que tenho a dizer a vocês é o seguinte: deem autonomia a seus filhos, mantenham um diálogo aberto e elevem a autoestima deles a ponto de fazê-los confiantes. Acompanhem a sua rotina, mas não interfiram a ponto de se tornarem pais superprotetores e dominadores. Não sejam severos. Organização e disciplina não se conquistam com severidade. Mostrem a seus filhos que vocês são amigos deles. Transbordem amor e confiança. Com tudo isso, eles serão “donos de si”. Eu aprendi isso mais recentemente e estou vendo que, de fato, é assim que funciona.