Estou no meio educacional há 30 anos e continuo
empenhado em entender mais profundamente a educação no Brasil. Militei na
educação como professor, coordenador e hoje sou diretor em uma escola com mais
de dois mil alunos que faz parte de uma grande rede de escolas privadas. Em
toda minha existência só conheci escola em minha vida produtiva. Como aluno,
como educador e como gestor.
Durante esse trajeto, eu me preparei, qualifiquei
meu currículo e passei a estudar outros modelos educacionais para entender o
“mundo da educação”. Mergulhei no modelo francês e fui lá conhecer escolas. Fiz
o mesmo com o modelo português, britânico e chileno. Precisava conhecer um
modelo latino-americano para que minhas referências se apoiassem em realidades
próxima da nossa.
Por onde ando, gosto de conhecer escolas, conversar
sobre educação e opinar a respeito. Em minha caminhada, tornei-me também
articulista de uma revista especializada em educação, construí um blog, que
alimento com artigos de opinião, e também escrevi e lancei um livro de
Literatura Infanto-Juvenil. Quero, com esse histórico, certificar minha
vivência na educação.
Recentemente, em minha imersão na educação
brasileira, deixei de lado o corporativismo e o “olhar unilateral” do senso–comum, para reafirmar o que tenho observado em nosso falido modelo educacional:
o problema não é mais verbas. A questão está na qualificação do educador em sua
formação e na gestão escolar. A qualidade do capital humano é essencial para
revertermos o quadro atual. Professores qualificados, melhor remunerados e
gestores competentes é o que necessitamos para que nosso modelo possa nos dar
resultados reais. A educação brasileira necessita de uma revolução gerencial
para que os recursos disponíveis sejam devidamente aplicados.
Hoje, temos disponíveis 5,8% do PIB. Se compararmos
com os demais países, veremos que temos feito alto investimento. Os EUA, por
exemplo, aplicam 5,5%, enquanto a China gasta em média 1,9%, o Chile 3,5%,
Irlanda 3,8%, Inglaterra 5,2% e Uruguai 2,5%. A meta brasileira é de aplicar
10% do PIB. Ora, para onde irá esse recurso? Segundo levantamento da Education at a Glace de 2013, investimos
em educação básica 4,3% do PIB contra 3,9% dos países desenvolvidos. Se
observarmos com atenção, até gastamos muito, pois devemos considerar que nosso
ensino superior público é pequeno e os salários dos 5 milhões de profissionais
envolvidos na atividade educativa são vergonhosos.
Quando falamos, então, que o problema está na
gestão, não me refiro aqui ao trabalho dos diretores nas escolas municipais,
estaduais e federais de nosso país. A questão é mais profunda, e não podemos
reduzir a isso. A gestão das verbas é de competência das prefeituras e dos Estados,
que, através de suas secretarias de educação, têm a missão de aplicar os
recursos disponíveis. Pois bem, aqui encontramos secretários da Educação, cujo
cargo é sempre motivado por indicação política e pouco se considera a
capacidade técnica do indicado.
Mais verbas resolve mesmo? E as universidades e
faculdades que formam educadores a partir de um currículo teórico e ideológico
que não prepara os pedagogos e licenciados para a docência? Como farão a gestão
na sala de aula? É sim! Sala de aula exige gestão de pessoas, de projetos, de
conteúdos e demais demandas. Está vendo? Pois é, mais verbas não resolve mesmo!
Pior, a questão não passa também somente por salários mais dignos. Em Juazeiro
do Norte (CE), os professores da rede municipal com mais de 15 anos de
experiência com 47% da equipe com curso superior e 84% com Pós-Graduação e
salário com piso de R$ 2. 193,00 contra R$ 1. 567, 00 que é o piso nacional,
não são responsáveis por bom desempenho dos alunos. Na Prova Brasil, os alunos
de Juazeiro do Norte tiveram 10 pontos percentuais a menos que a média
brasileira.
Outra questão a ser gerida nas secretarias de
educação, é o modelo didático-pedagógico tradicional que está combalido.
Observamos ao longo dos anos que há, sobretudo na rede pública de ensino, um
divórcio entre o professor e a sala de aula. Este fato não é um fenômeno só
brasileiro. Na França, encontramos essa realidade principalmente nas escolas
das periferias das grandes cidades. Há dois anos, o ex-inspetor-geral da
Educação Nacional George Fotinos e o psiquiatra José Mario Horenstein estudaram
o comportamento de 2,1 mil funcionários de 400 unidades escolares e concluíram
que 17% do corpo docente no Ensino Fundamental e no Médio na França sofrem de
esgotamento físico e mental. Descobriram também que 30% dos educadores pensam
em abandonar a carreira. No Brasil, esse quadro é assustador.
O “choque de realidade” do professor recém-ingresso
na carreira do magistério público é um dos principais motivadores para a
evasão. O perfil do alienado e as condições de trabalho levam à escolha pela
evasão. É a mesma situação observada na França. A questão passa sim pelos
baixos salários, mas ainda há o que se considerar. O reconhecimento social do
educador, a falta de um plano de carreira atraente e as más condições de
trabalho devem ser considerados como elementos de evasão e da baixa expectativa
entre educadores quanto ao seu futuro profissional.
Estamos, então, vivenciando uma época em que os
gestores educacionais da “coisa pública” estão sendo chamados a uma reflexão acerca
da questão educacional que seja capaz de operar mudanças significativas no
modelo educacional vigente. Pode-se fazer e muito para atenuar o problema. Uma
reforma curricular nacional, um plano de cargos e carreira atraente, salários
mais justos, envolvimento das comunidades ao entorno da escola e dos familiares
dos alunos em uma dinâmica de cogestão na administração do patrimônio material
e imaterial da comunidade escolar são apenas alguns aspectos que devem ser
considerados.
Mesmo
no modelo atual há o que se fazer, havendo vontade política e tendo a gestão a
capacidade de aglutinar forças transformadoras. Professores motivados,
desafiados em suas competências, comprometidos com seu ideal são condições
essenciais para um bom resultado na educação.
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