terça-feira, 21 de janeiro de 2014

O Complexo de Édipo: a fábrica de Subjetivação Sexuada



O Complexo de Édipo: a fábrica de Subjetivação Sexuada.




  
Trabalho de conclusão do módulo 7 (Teoria Psicanalítica III)

Tutor: Rubem Wener Filho
Aluno: José Romero Nobre de Carvalho

“É o Homem! (É o ser humano!)”
Édipo Pai – Sófocles




“ Todo ser humano é imposta a tarefa de dominar o complexo de Édipo...” S. Freud






RESUMO

O objetivo deste artigo, não é o de resgatar o “Mito do Édipo - rei” e nem fazer um levantamento histórico-cultural do mesmo. Não pretendo aqui levantar questões a cerca da tragédia grega escrita por Sófocles por volta de 427 a.c. o que pretendo é trazer ao momento a discussão psicanalítica, a luz do pensamento Freudiano do complexo de Édipo como sendo resultado de um conflito sexual (instalado no consciente) entre pai, mãe e o sujeito. A idéia é exatamente estabelecer uma possível relação entre uma passagem desastrosa por essa fase e as conseqüências que o sujeito carregará em sua sexualidade.
Debruçarei-me no propósito de levantar (e não esgotar) a seguinte questão: relação entre sexualidade e “Édipo disfuncional”.
Palavras chaves: complexo de Édipo, sexualidade e homossexualidade .


O Complexo de Édipo

Édipo - rei é a primeira obra de um conjunto que inclui também Antígona e Édipo em colono. É um mito da Paidéia Grega, cujo enredo centra-se na família de Édipo que vive uma profecia que Édipo iria matar o pai e casar-se com sua mãe. Isso acontece em um contexto em que o filho sente-se atraído pela mãe (Jocasta) sem ter a consciência real de que ela era a sua mãe biológica.
Freud, elevou o mito de Édipo a um dos pilares da psicanálise. Assim, a definição do “complexo de Édipo”, embora ancorado no mito do Édipo - rei, ganha um sentido novo, na interpretação dos problemas do aparelho psíquico. Freud utiliza-se do mito para revelar a existência inconsciente de um desejo objetal do filho pela mãe e que mesmo sem ter a consciência disto, o filho na fase sexual fálica, na segunda infância, passa a disputar com o pai a sua atenção libidinosa na mãe (pessoa do sexo oposto) no ambiente familiar. Seria por tanto, como na tragédia grega, uma preferência velada do filho pela mãe acompanhada de uma aversão clara pelo pai. Na peça, Édipo matou seu pai caio e desposou a própria mãe, Jocasta. Após descobrir que Jocasta era sua progenitora, Édipo fura seus próprios olhos e Jocasta comete suicídio. Daí está posto, na apresentação de Sófocles e na analogia de Freud, uma reflexão muito significativa sobre a questão da culpa e da responsabilidade perante as normas sociais e culturais regidas por tabus e éticas que acabam regendo os comportamentos e ditando modelos.
O complexo de Édipo é um conceito fundamental para a psicanálise, entendido com sendo universal e portanto, características de todos os seres humanos. Caracteriza-se por sentimentos contraditórios de amor e hostilidade. Seria assim, na interpretação freudiana, visto como o amor a mãe e o ódio ao pai. A relação que existe nesta tríade é, na visão psicanalítica, a essência dos conflitos do ser humano.
É vivendo o complexo de Édipo, no furacão do conflito que a criança aprende a diferenciar o sujeito em relação aos pais. Aprendem a perceber que os pais pertencem a outra realidade e que  os mesmos não podem “gravitar” em seu entorno. Em torno dos três anos de idade, a criança já começa a perceber que já não pode fazer certas coisas como passar a noite no quarto dos pais. Ela começa a sentir-se inserida em seu mundo real e passar a ter normas que fogem a “liberdade” que possuía. Já não pode mais ficar nua pela casa ou na praia por exemplo. É incentivada a sentar-se direito e até controlar os esfíncteres. Começa a perceber que não é mais o centro do mundo organizado e a ilusão da proteção do amor materno exclusivo. A criança do sexo masculino (estou aqui focado exclusivamente no Édipo) começa a perceber que o pai (figura masculina) é quem está tirando dele a exclusividade da mãe. Daí o desejo de ser forte como o pai e o desejo até de competir. “ódio”, ciúme  também amor pelo pai, provoca um mergulho nesse conflito contraditório. A menina torna-se hostil à mãe para ter o pai e o menino torna-se hostil ao pai para ter a mãe. Contudo é nesse momento conflituoso que começa a surgir a identificação dos objetos e principalmente da força do sexo oponente (pai-figura masculina e mãe = figura feminina). A escolha da identidade objetal do menino e da menina surge ai nesse momento conflituoso e certamente impactará as suas escolhas referenciais por toda a vida. A criança faz sua escolha e claro que ela e fará a partir da referência positiva dos pais. Para o menino, a “força” do pai que o afastou da mãe passa a referendar a o poder do falo e a menina, “castrada” pelo pai que notavelmente lhe colocou no papel de filha, faz opção pelo modelo da mãe (identificação positiva). Na inversão dessa escola, por uma “disfunção” dos pais no exercício de seus papeis, poderemos ter a menina se identificando com o pai e o menino com a mãe (identificação negativa) temos ai o “Édipo disfuncional”, o que pode nos ajudar a entender a questão da homossexualidade.
A expressão “Complexo de Édipo” só aparece nos escritos de Freud em 1910. A descoberta do complexo de Édipo, prepara a muito pela análise de seus pacientes, concretiza-se para Freud no decorrer de sua auto-análise que  o leva a reconhecer em si o amor pela mãe e em relação ao pai um ciúme em conflito com a afeição que lhe dedica, escrevendo para Fliees:  “... o poder de dominação do Édipo – Rei torna-se inelegível [...]. O mito grego salienta uma compulsão que todos reconhecem por terem percebido em si mesmos marcas de sua existência”. Nota-se que ele afirma que a universalidade do Édipo.
O complexo de Édipo foi descoberto sob uma forma chamada simples e positiva, mas como Freud notou, trata-se de uma esquematização relativamente a complexidade da experiência. Dessa forma, o menino não tem apenas uma atitude ambivalente e uma escola objetal terna e dirigida a mãe; ao mesmo tempo de também se confrontar como uma menina, mostrando uma atitude feminina terna em relação ao pai e a atitude feminina terna em relação ao pai e a atitude correspondente de hostilidade ciumenta em relação a mãe. Temos então uma realidade mista entre em que se manifesta as duas formas do complexo: a forma positiva e a forma negativa. Elas coexistem de forma dialética. Assim, para Freud, o complexo de Édipo  permite sobre forma completa explicar a ambivalência para com o pai (no menino) através do funcionamento dos componentes heterossexuais e homossexuais, e não como simples resultado de uma situação de rivalidade. Cabe salientar aqui que as primeiras elaborações foram feitas a partir do modelo do menino.
Em sua interpretação, Freud salienta que a escolha do objeto do amor, na medida em que este, depois da puberdade, permanece marcado pelos investimentos de objeto do amor e identificações inerentes ao complexo de Édipo. Desta forma, vale dizer que no período da latência da sexualidade do menino, permanece adormecida, manifestando-se após a maturação biológica, é nesse momento que sua orientação sexual, seu modelo objetal será aquele não resolvido ou disfuncionalmente resolvido na infância diante do complexo de Édipo.
Para Freud, a perfeita solução para o impasse sexual imposto pelo complexo de Édipo e também para a perfeita estruturação da personalidade, está no declínio do complexo que só acaba no menino com a “ameaça da castração” pelo pai que é determinante nesta renúncia ao objeto incestuoso acabando assim com o complexo de forma abrupta. Já na menina e o “complexo da castração” que a torna edípitica. A renúncia ao pênis a leva a uma compensação. Ela necessita de uma equivalência simbólica do falo e de sua força, não é encontrado em sua mãe, mas em seu pai, onde torna-se o seu objeto. Assim sendo, Freud entendeu que o complexo de Édipo na menina é um processo mais complexo e demorado, que não é cessado pelo medo da castração, mas sim criado pela própria idéia de já ser castrada. A fantasia de que a mãe possui um pênis e não lhe deu representa o principal motivo do afastamento da menina em relação à mãe como objeto de desejo. Mesmo assim, Freud continua acreditando que outros fatores influenciam a passagem da menina, como por exemplo, a fantasia de que a mãe não a alimentou suficientemente, levando a atitudes hostis levando-a em direção ao masculino como objeto sexual. A menina então procura o pai, de início, por seu desejo de receber um pênis e posteriormente, por receber um filho dele (Freud, 1932). Claro que tudo isso no sentido simbólico da leitura Freudiana.



Conclusão

Estudando o complexo de Édipo pude observar que o mesmo não se atem exclusivamente ao famoso triângulo: pai-mãe-bebê. Isso é somente uma primeira aproximação que faz parte do contexto de construção inicial do conceito. Minha intenção foi o tempo todo chamar a atenção sobre o interesse que poderia especificar a relação que as novas patologias tem com a problemática edipiana, sobre tudo as que manifestam na sexualidade do sujeito. Também devemos atribuir ao complexo de Édipo as diversas doenças psicossomáticas, dando ao mesmo uma super importância quanto as questões humanas e as neuroses que todos carregamos. Enfim, o Édipo trás a questão psicanalítica todo um material capaz de nos permitir compreender as afeições do sujeito.



Referências

1.    FREUD, S. Origens Del Psicoanálisis, canta 64, V.I in: Obras Completas. Buenos Aires. Amorrorta 1979.
2.    Marchiolli, P.T.O. Análise do conceito de complexo de Édipo em Melanine Kleine D.W. Winnicott. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de Campinas, Campinas – SP.
3.    Laplanche e Pontalis. Vocabulário da Psicanálise. Martins Fontes. São Paulo, 2008.


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