O
Complexo de Édipo: a fábrica de Subjetivação Sexuada.
Trabalho
de conclusão do módulo 7 (Teoria Psicanalítica III)
Tutor:
Rubem Wener Filho
Aluno:
José Romero Nobre de Carvalho
“É o
Homem! (É o ser humano!)”
Édipo
Pai – Sófocles
“
Todo ser humano é imposta a tarefa de dominar o complexo de Édipo...” S. Freud
RESUMO
O
objetivo deste artigo, não é o de resgatar o “Mito do Édipo - rei” e nem fazer
um levantamento histórico-cultural do mesmo. Não pretendo aqui levantar
questões a cerca da tragédia grega escrita por Sófocles por volta de 427 a.c. o
que pretendo é trazer ao momento a discussão psicanalítica, a luz do pensamento
Freudiano do complexo de Édipo como sendo resultado de um conflito sexual
(instalado no consciente) entre pai, mãe e o sujeito. A idéia é exatamente
estabelecer uma possível relação entre uma passagem desastrosa por essa fase e
as conseqüências que o sujeito carregará em sua sexualidade.
Debruçarei-me
no propósito de levantar (e não esgotar) a seguinte questão: relação entre
sexualidade e “Édipo disfuncional”.
Palavras
chaves: complexo de Édipo, sexualidade e homossexualidade .
O
Complexo de Édipo
Édipo
- rei é a primeira obra de um conjunto que inclui também Antígona e Édipo em
colono. É um mito da Paidéia Grega, cujo enredo centra-se na família de Édipo
que vive uma profecia que Édipo iria matar o pai e casar-se com sua mãe. Isso
acontece em um contexto em que o filho sente-se atraído pela mãe (Jocasta) sem
ter a consciência real de que ela era a sua mãe biológica.
Freud,
elevou o mito de Édipo a um dos pilares da psicanálise. Assim, a definição do
“complexo de Édipo”, embora ancorado no mito do Édipo - rei, ganha um sentido
novo, na interpretação dos problemas do aparelho psíquico. Freud utiliza-se do
mito para revelar a existência inconsciente de um desejo objetal do filho pela
mãe e que mesmo sem ter a consciência disto, o filho na fase sexual fálica, na
segunda infância, passa a disputar com o pai a sua atenção libidinosa na mãe
(pessoa do sexo oposto) no ambiente familiar. Seria por tanto, como na tragédia
grega, uma preferência velada do filho pela mãe acompanhada de uma aversão
clara pelo pai. Na peça, Édipo matou seu pai caio e desposou a própria mãe,
Jocasta. Após descobrir que Jocasta era sua progenitora, Édipo fura seus
próprios olhos e Jocasta comete suicídio. Daí está posto, na apresentação de
Sófocles e na analogia de Freud, uma reflexão muito significativa sobre a
questão da culpa e da responsabilidade perante as normas sociais e culturais
regidas por tabus e éticas que acabam regendo os comportamentos e ditando
modelos.
O
complexo de Édipo é um conceito fundamental para a psicanálise, entendido com
sendo universal e portanto, características de todos os seres humanos.
Caracteriza-se por sentimentos contraditórios de amor e hostilidade. Seria
assim, na interpretação freudiana, visto como o amor a mãe e o ódio ao pai. A
relação que existe nesta tríade é, na visão psicanalítica, a essência dos
conflitos do ser humano.
É
vivendo o complexo de Édipo, no furacão do conflito que a criança aprende a
diferenciar o sujeito em relação aos pais. Aprendem a perceber que os pais
pertencem a outra realidade e que os
mesmos não podem “gravitar” em seu entorno. Em torno dos três anos de idade, a
criança já começa a perceber que já não pode fazer certas coisas como passar a
noite no quarto dos pais. Ela começa a sentir-se inserida em seu mundo real e
passar a ter normas que fogem a “liberdade” que possuía. Já não pode mais ficar
nua pela casa ou na praia por exemplo. É incentivada a sentar-se direito e até
controlar os esfíncteres. Começa a perceber que não é mais o centro do mundo
organizado e a ilusão da proteção do amor materno exclusivo. A criança do sexo
masculino (estou aqui focado exclusivamente no Édipo) começa a perceber que o
pai (figura masculina) é quem está tirando dele a exclusividade da mãe. Daí o
desejo de ser forte como o pai e o desejo até de competir. “ódio”, ciúme também amor pelo pai, provoca um mergulho
nesse conflito contraditório. A menina torna-se hostil à mãe para ter o pai e o
menino torna-se hostil ao pai para ter a mãe. Contudo é nesse momento
conflituoso que começa a surgir a identificação dos objetos e principalmente da
força do sexo oponente (pai-figura masculina e mãe = figura feminina). A
escolha da identidade objetal do menino e da menina surge ai nesse momento
conflituoso e certamente impactará as suas escolhas referenciais por toda a
vida. A criança faz sua escolha e claro que ela e fará a partir da referência
positiva dos pais. Para o menino, a “força” do pai que o afastou da mãe passa a
referendar a o poder do falo e a menina, “castrada” pelo pai que notavelmente
lhe colocou no papel de filha, faz opção pelo modelo da mãe (identificação
positiva). Na inversão dessa escola, por uma “disfunção” dos pais no exercício
de seus papeis, poderemos ter a menina se identificando com o pai e o menino
com a mãe (identificação negativa) temos ai o “Édipo disfuncional”, o que pode
nos ajudar a entender a questão da homossexualidade.
A
expressão “Complexo de Édipo” só aparece nos escritos de Freud em 1910. A
descoberta do complexo de Édipo, prepara a muito pela análise de seus
pacientes, concretiza-se para Freud no decorrer de sua auto-análise que o leva a reconhecer em si o amor pela mãe e
em relação ao pai um ciúme em conflito com a afeição que lhe dedica, escrevendo
para Fliees: “... o poder de dominação
do Édipo – Rei torna-se inelegível [...]. O mito grego salienta uma compulsão
que todos reconhecem por terem percebido em si mesmos marcas de sua
existência”. Nota-se que ele afirma que a universalidade do Édipo.
O
complexo de Édipo foi descoberto sob uma forma chamada simples e positiva, mas
como Freud notou, trata-se de uma esquematização relativamente a complexidade
da experiência. Dessa forma, o menino não tem apenas uma atitude ambivalente e
uma escola objetal terna e dirigida a mãe; ao mesmo tempo de também se
confrontar como uma menina, mostrando uma atitude feminina terna em relação ao
pai e a atitude feminina terna em relação ao pai e a atitude correspondente de hostilidade
ciumenta em relação a mãe. Temos então uma realidade mista entre em que se
manifesta as duas formas do complexo: a forma positiva e a forma negativa. Elas
coexistem de forma dialética. Assim, para Freud, o complexo de Édipo permite sobre forma completa explicar a
ambivalência para com o pai (no menino) através do funcionamento dos
componentes heterossexuais e homossexuais, e não como simples resultado de uma
situação de rivalidade. Cabe salientar aqui que as primeiras elaborações foram
feitas a partir do modelo do menino.
Em
sua interpretação, Freud salienta que a escolha do objeto do amor, na medida em
que este, depois da puberdade, permanece marcado pelos investimentos de objeto
do amor e identificações inerentes ao complexo de Édipo. Desta forma, vale
dizer que no período da latência da sexualidade do menino, permanece
adormecida, manifestando-se após a maturação biológica, é nesse momento que sua
orientação sexual, seu modelo objetal será aquele não resolvido ou
disfuncionalmente resolvido na infância diante do complexo de Édipo.
Para
Freud, a perfeita solução para o impasse sexual imposto pelo complexo de Édipo
e também para a perfeita estruturação da personalidade, está no declínio do
complexo que só acaba no menino com a “ameaça da castração” pelo pai que é
determinante nesta renúncia ao objeto incestuoso acabando assim com o complexo
de forma abrupta. Já na menina e o “complexo da castração” que a torna edípitica.
A renúncia ao pênis a leva a uma compensação. Ela necessita de uma equivalência
simbólica do falo e de sua força, não é encontrado em sua mãe, mas em seu pai,
onde torna-se o seu objeto. Assim sendo, Freud entendeu que o complexo de Édipo
na menina é um processo mais complexo e demorado, que não é cessado pelo medo
da castração, mas sim criado pela própria idéia de já ser castrada. A fantasia
de que a mãe possui um pênis e não lhe deu representa o principal motivo do
afastamento da menina em relação à mãe como objeto de desejo. Mesmo assim,
Freud continua acreditando que outros fatores influenciam a passagem da menina,
como por exemplo, a fantasia de que a mãe não a alimentou suficientemente,
levando a atitudes hostis levando-a em direção ao masculino como objeto sexual.
A menina então procura o pai, de início, por seu desejo de receber um pênis e
posteriormente, por receber um filho dele (Freud, 1932). Claro que tudo isso no
sentido simbólico da leitura Freudiana.
Conclusão
Estudando
o complexo de Édipo pude observar que o mesmo não se atem exclusivamente ao famoso
triângulo: pai-mãe-bebê. Isso é somente uma primeira aproximação que faz parte
do contexto de construção inicial do conceito. Minha intenção foi o tempo todo
chamar a atenção sobre o interesse que poderia especificar a relação que as
novas patologias tem com a problemática edipiana, sobre tudo as que manifestam
na sexualidade do sujeito. Também devemos atribuir ao complexo de Édipo as
diversas doenças psicossomáticas, dando ao mesmo uma super importância quanto
as questões humanas e as neuroses que todos carregamos. Enfim, o Édipo trás a
questão psicanalítica todo um material capaz de nos permitir compreender as
afeições do sujeito.
Referências
1. FREUD,
S. Origens Del Psicoanálisis, canta 64, V.I in: Obras Completas. Buenos Aires. Amorrorta
1979.
2. Marchiolli,
P.T.O. Análise do conceito de complexo de Édipo em Melanine Kleine D.W.
Winnicott. Dissertação de Mestrado. Pontifícia Universidade Católica de
Campinas, Campinas – SP.
3. Laplanche
e Pontalis. Vocabulário da Psicanálise. Martins Fontes. São Paulo, 2008.
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