É na escola que a criança começa a estabelecer
com a vida um pacto de verdade. Isso ocorre, pois é no convívio do mundo
escolar, através das relações sociais e longe da proteção do lar, que a criança
começa a tomar consciência real de sua existência como ser individual, bem como
conhecer os diversos “jogos” que permeiam as relações humanas. Eu diria que a
criança, nesse ambiente, no convívio com muitas pessoas, começa a tomar posse
de sua verdade.
Na convivência no “espaço escolar”, a
criança aprende mais do que o conhecimento que permeia um projeto pedagógico.
Aprende também que o respeito a si e ao outro irá garantir que disponha de si
mesmo, o que certamente permitirá a ela a descoberta de seu eu. Refiro-me aqui
ao conhecimento de si nas múltiplas dimensões de nossa existência, seja ela
material ou afetiva, física ou intelectual. É na escola que, em primeiro plano,
descobrimos o que de fato nós somos. Assim, vejo a escola como o templo
privilegiado para nos ensinar as coisas da vida.
O convívio com o “mundo-escola” ensina
às nossas crianças o que será decisivo
para toda a sua vida: ser pessoa é acima de tudo saber lidar com você mesmo e
com as outras pessoas. Também ensina as crianças a conhecer as diversidades. É
nela que as crianças começam a perceber quem são. É o momento em que se
estabelece a diferenciação. Por isso, é muito importante que a família
acompanhe a vida de seus filhos nesse mundo fantástico e desafiador.
Certa vez, em um atendimento a um
casal que buscava a escola ideal para o seu filho, colocaram como obstáculo o
tamanho de minha escola, que lhe parecia muito grande. Em minhas considerações,
apenas fiz uma pergunta: em que tamanho de mundo o filho deles deveria ser
criado? O pai me respondeu: — Do tamanho desse mundo em que vivemos. Então eu
disse a ele: — Venha para a minha escola, pois ela é grande e oferece a seu
filho retratos da realidade do mundo lá fora. Ele não só matriculou o filho,
mas trouxe mais alunos. Escola tem que ter esse papel. Tem que oportunizar o
conhecimento formal, mas precisa oferecer aos educandos a chance de conviver e,
principalmente, enfrentar a mesma realidade que encontrarão no mundo.
Pais superprotetores dificultam o
ganho de autonomia de seus filhos, fazendo intervenções inadequadas nas
questões deparadas por seus filhos na escola. Assim, eles não ajudam as
crianças a encontrarem o seu eu e, principalmente, a tomarem posse do seu eu.
Na verdade, o risco de nós pais projetarmos nos filhos os nossos medos e as
nossas inseguranças é grande, quando não damos às nossas crianças a chance de elas
mesmas resolverem as suas pendências. Necessita-se de orientação? No “Mundo da
Escola” existem profissionais preparados e que não estão emocionalmente tão
envolvidos nas situações para ajudá-los na construção de caminhos para a
solução de seus problemas.
Em um sentido mais filosófico, digo a
você que a escola é um teatro, na mais pura concepção grega onde as pessoas
(Persona = Máscara) representam papéis. O que a escola, enquanto instituição
formadora, se propõe é garantir que os atores desse espetáculo tomem posse do
seu eu, firmando-se como pessoas portadoras de habilidades e competências que a
tornem capazes de conhecer e solucionar os problemas que o mundo lhe
apresentará em sua dimensão verdadeira.