segunda-feira, 26 de maio de 2014

Sempre Educação


Este ano completo orgulhosamente 53 anos de vida, com 32 dedicados à educação. Fui professor de História, minha primeira formação, coordenador escolar, coordenador de editorial e, por fim, diretor de escola. A vida toda passei dentro de uma escola. Nunca fiz outra coisa que não tenha sido educação. Nos 21 anos restantes de minha vida, estive assentado em bancos de escolas e universidades. Vivo educação, respiro e me realizo na escola. Trabalhei muitos anos em escolas de Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, com diversas faixas etárias. Durante todos esses anos, uma coisa sempre me chamou atenção: estudantes da mesma série, de famílias com poder econômico muito parecido, podiam apresentar diferenças na bagagem cultural, na postura e principalmente nos valores. Em comum, todos constituíam um grupo de meninos e meninas adoráveis. Espertos, brincalhões e travessos, certamente levaram algo de mim, mas também muito deixaram de si. Essa troca maravilhosa fez de meu mundo um mundo gostoso de se viver.
Durante esses anos de experiência, eu conheci o papel fundamental da escola. Na verdade, sempre desejei que a escola pudesse oferecer mais do que ela oferece aos seus alunos. Sonhei com diversos modelos e pude conhecer modelos diferentes de educação. Conheci o modelo francês, o britânico, o chileno e o português. Inevitáveis comparações borbulharam em minha cabeça. Diversos questionamentos me atormentaram e por muito me levaram à reflexão sobre educação. Muito aprendi e confesso que um pouco também levei de experiências positivas de nosso sistema. As trocas com colegas educadores de “outros mundos” e o desejo de perseguir alternativas interessantes embalaram meus sonhos. Contudo, uma coisa sempre me chamou a atenção desde o início de minha caminhada: a família tem na vida educacional dos alunos uma importância muito maior do que a da escola. Por onde andei, pude ver, com clareza, que a participação da família como âncora afetiva e vela impulsionadora para o sucesso dos alunos é chave fundamental. Portanto lhe digo: Não deixe tudo para a escola! Não deixe que seus filhos se limitem ao que a escola oferece. Crie oportunidades para que eles possam viver novas experiências. Não se faz uma grande pessoa apenas com os conteúdos do quadro curricular de qualquer escola.
Seja o melhor pai ou a melhor mãe que conseguir ser. Pergunta-se a cada dia se você está sendo um bom pai ou uma boa mãe. Saiba que a resposta está na quantidade de vezes que você se esforçou para entender, aconselhar e acolher os seus filhos. Saiba que você pode contratar a melhor escola, enviar seu filho para estudar fora do país e comprar os melhores livros, mas a educação de seu filho só será completa se você participar, de fato, deste processo. Sua casa é o laboratório do mundo. O modo como as coisas acontecem em família ensina mais do que muitas aulas da escola. Certo disso, há algum tempo estou mais empenhado em entender cada filho meu, do que cobrar resultados de ponta na escola. Eu mesmo, nunca fui aluno nota 10. Fui não! Aprendi com o tempo e tenho comprovado que as aprendizagens que tive nos bancos de escola e livros foram menos importantes do que os ensinamentos que recebi de meus pais. Reconheci a importância do estudo, não na escola, mas nos exemplos de vida que meus pais me passaram. Foi nas limitações intelectuais de meus pais e na vontade que tinham em ter tido mais oportunidades, que eu aprendi a me agarrar em qualquer chance que bateu em minha porta. Aprendi com a escola a ler e a escrever, mas foi com a minha família, no convívio de meu lar, que eu aprendi a usar a escrita para expressar minhas ideias e emoções. Foi com a dedicação de minha mãe que me motivava, que eu tive a coragem de escrever a minha primeira poesia...
Somos resultados de nossas experiências em casa e não apenas produto do que uma boa escola pode nos oferecer. Ela oportuniza, nos dá ferramentas, mas o combustível dos sonhos, aprendemos (ou não) em casa. Aí está o “ventre” gerador das diferenças em estudantes de mesma faixa etária e do mesmo poder econômico. O que vi em minha vida foi o fato de que estudantes bem assistidos em casa, com pais dedicados e compreensivos, mostram-se diferentes na escola. Aprendem mais e com mais qualidade. É fato! Se o estudante é bem motivado e acompanhado pelos pais, se desenvolve mais. Regra geral? Não, mas a experiência aponta tais fatores como bem determinantes para o equilíbrio e boa aprendizagem. Não se esqueçam disso.
Nessa época, tão moderna e evoluída, o que tenho visto são os compromissos e a correria do dia a dia, tirando os pais da vida em família. O que tenho visto, e cada vez mais, são famílias querendo que a escola assuma papéis que sempre foram dos pais. Vamos reciclar o nosso compromisso e retomar o nosso caminho. Professores não podem amar os alunos no sentido do amor paterno e materno. Também não podem educar, no sentido de nortear na moral e na ética. Também não podem cuidar como pai e mãe. Professores ensinam, ajudam as crianças a se ajustarem ao mundo das regras e contribuem para que as crianças se aproximem. Mas quem educa, ama, cuida, ajeita etc, é o pai e a mãe. Esse amor não cabe mais a ninguém.
O meu objetivo neste ensaio é mais uma vez compartilhar experiências e contribuir para que você, meu(minha) parceiro(a) na formação de seu filho, reflita sobre o quanto é importante a sua dedicação e o quanto que seu filho precisa de você. A minha alegria é o fato de que minha maturidade profissional e pessoal me dá “licença” para chegar até você e dizer que estamos juntos na missão de educar sua criança para a vida. Minha vivência, meu acúmulo de erros e acertos me autorizam a dizer a você que somente juntos, com confiança e compromisso, poderemos cumprir essa nossa missão. Tenho sido recorrente, não por falta de temas, mas pelo foco no compromisso de alertar a você que eu, escola, não posso tudo, mesmo que de coração esse fosse o meu desejo.

Estamos juntos!!!


sexta-feira, 16 de maio de 2014

O outro é a possibilidade de você ser


Nascemos seres humanos, mas a nossa humanidade vai se revelando no relacionamento diário que temos com outras pessoas. Assim, se é nos relacionamentos que moldamos a nossa condição humana de ser, o outro, nessa relação, é certamente a possibilidade que se abre para que seja possível sermos, nos realizarmos, nos firmarmos, nos fazermos. Dessa forma, a minha realização como ser humano depende do outro, que está em minha frente. Reconhecer o ser humano que está diante de mim, respeitá-lo e ser gentil, isso é essencial, pois me possibilitará reconhecer o que de humano há em mim. Devemos compartilhar essa reflexão com os nossos filhos. Escola nenhuma no mundo conseguirá desempenhar esse papel.
Ora, se eu vejo a importância do ser humano com quem me relaciono, apenas porque esse alguém só serve para cumprir uma função, o meu valor como humano será também funcional. Significa dizer que só me verei como alguém capaz de exercer uma funcionalidade. E isso me faria parecer uma máquina, desprovida de emoção. Mas somos muito mais do que isso, não é verdade? E, por isso, ensinamos aos nossos filhos que somos mais do que isso, não é mesmo?
Todo esse pensamento me faz convidá-los a dar um mergulho na seguinte reflexão: é preciso, já, revermos nossa forma de lidar com o outro, pois o que fazemos a ele é reflexo do que somos de humano. Pare e pense: Como você age com as diferentes pessoas com quem convive nas lojas, na Escola, nos restaurantes, em casa, no trânsito etc? Como está ensinando seus filhos a se relacionar  com essas diferentes pessoas?
Se não ensinamos as nossas crianças a ver no outro o mesmo sentido de vida que sopra em nós, certamente não estamos valorizando o sopro da humanidade que todos nós temos em nós, em nossa existência. Quero dizer a você que o eu do outro, por mais distante que lhe possa parecer, tem reflexos em seu eu e, certamente, reflete o seu eu também. Na sociedade, a condição humana de ser é única. Não vale aqui pensar em classe social, status e nível cultural. Vale a pena pensar no outro como porção humana, ser na essência do existir com o sopro de seus desejos e frustrações. Falamos de um outro ser humano e, por isso, estamos falando do outro que reflete a essência que você, que nós temos. Por isso mesmo, nunca esqueci a lição de um “poeta andarilho” do Rio de Janeiro: “Gentileza, gera gentileza”.
Se o bem gera o bem, o mal gera o mal, o desprezo gera também o desprezo e assim por diante, então, se ensinarmos nossos filhos a respeitarem  e serem gentis com os outros, estamos oferecendo a eles o “espelho”, o reflexo deste comportamento. Isso começa na Escola, no condomínio e nos ambientes onde convive.
Então, conserve bons valores, ensine os seus filhos a respeitarem os outros. O mundo necessita de pessoas mais humanas. Não tenha medo de expor as suas sutilezas e lembremos sempre que o mundo gira em torno de todos. Caso você venha achar que seu filho precisa mudar muito em relação ao que estou pontuando, lembre-se de que a chave para mudar a atitude de seu filho é mudar a sua própria atitude. Vamos, então, praticar cortesia, pois com o exemplo ensinamos os nossos filhos. Boas maneiras levarão nossos filhos mais longe na vida.
Nosso desafio é criar filhos com perspectivas positivas, transformá-los não só em “agentes do bem”, mas também em pessoas que irão colher o bem. Caso aconteça algo, que frustre essa lógica, devemos pensar que a caminhada é longa, e não  é por termos tropeçado  em uma pedra que devemos buscar outro caminho. Simples? Não! Mas quando foi que eu disse que formar pessoas era tarefa fácil?

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Hum, Hum... É o que eles respondem aos meus questionamentos


Cheguei a um assunto ótimo: a greve de silêncio de nossos filhos maiores, os adolescentes. Muitas vezes perguntamos: “Como foi hoje na escola?” e a resposta sempre é: “Tudo bem!”.  “Como você foi na prova”? Tem como resposta um resmungo, ou pior... um dar de ombros. Já vivenciaram isto, não é verdade? Todo pai e toda mãe já foi vítima desse comportamento em filhos a partir dos 10 anos de idade. Não há nada mais exasperador que tentar se comunicar e ver que seu interlocutor não quer colaborar, principalmente sendo ele seu filho e você está querendo entrar no mundo dele. O “resmungo”, o “nada”, o “dar de ombros” nos parece um desprezo.
Durante anos, como educador e pai, me deparei com essa situação. Nunca parei para pensar, de fato, o que leva o pré-adolescente a adotar esse comportamento. Parece que estão nos enfrentando, ou mesmo não dando importância alguma aos nossos questionamentos. Mas, veja, pode ser que não esteja acontecendo nada disso. A maioria das perguntas que fazemos aos nossos filhos são realmente improdutivas. Sabe por quê? Porque nossos filhos e alunos sabem exatamente o que estamos esperando como resposta. Assim, não há nessa comunicação qualquer motivação. Parece desinteressante, sem graça ou algo assim. Sabe o que é melhor fazer? Envolver seu filho em uma conversa ampla e interessante e no contexto dessa conversa dar o devido espaço para que a criança ou adolescente se coloque. Pergunta e resposta é jogo de interrogatório e não diálogo. Experimente passar por uma sabatina de seu chefe e um bate-papo de pergunta e resposta. É desanimador. É, na verdade, ameaçador. Por isso não funciona. Aí sabe o que você acaba pensando? Seu filho não quer saber de nada e não se interessa por nada. Você está errado!
Por que não mudar o paradigma? Se você quer manter um diálogo gostoso com o seu(ua) filho(a), mergulhe com ele(a) em um assunto que seja do interesse dele(a). Jogos eletrônicos, skate, esporte e etc. Se você se encontrar com o seu filho naquilo que ele tem interesse, a chance de conseguir um diálogo com ele será enorme. E se ele disser algo que não lhe pareceu aceitável, convide-o a se explicar melhor. Mostre interesse pelas coisas do mundo dele. Conte a ele como era o mundo, quando você era criança. Mostre qual era o seu foco, o seu interesse e certamente estará trazendo-o para uma convivência gostosa. Mostre-se cúmplice dele e deixe-o à vontade no sentido de ter segurança em você. Deixe de cobranças repetitivas e grosseiras, deposite confiança. Passe a sensação de compreensão e ganhará o respeito e a confiança dele. Dessa forma, você aprenderá mais sobre o seu filho e o seu mundo.
Lembro-me muito de meu pai. As vezes na vida em que mais me senti confortável com ele, foi quando (raramente) se aproximou de meu mundo e me introduziu no mundo dele. Quando a relação se pautava apenas na cobrança e no diálogo de perguntas e respostas, o que era normal, eu me sentia distante dele. Precisamos estar atentos com os modelos que cristalizamos em nossa mente. Precisamos entender que no universo de nossos filhos existe uma maneira de ser e de encarar o mundo que é dele. No mundo das crianças, na dimensão da existência de cada um, existe alguém que precisa de nosso carinho e de nossa compreensão.
Estudando a minha psicanálise, deparei-me com as ideias do Dr. Kevin Leman, que é psicólogo e doutorado em psicologia clínica no Arizona, USA. Em seu livro, Transforme o seu filho até sexta, da Editora Mundo Cristão, ele muito nos ensina sobre atitude, comportamento e caráter. Nessa deliciosa leitura, deparei-me com informações que muito me ajudaram na elaboração deste ensaio.