Muito se
tem falado sobre traços de personalidade das pessoas, principalmente das
crianças e adolescentes. De certa forma, o nosso modelo de família, da
religiosidade e da educação nos ensina que precisamos desenvolver o
autocontrole. Isso é verdade. Não podemos extrapolar, expandir-nos, sem que
tenhamos o cuidado de não nos expormos e também, é claro, não expormos o outro.
Precisamos controlar os nossos impulsos, as emoções e principalmente ter
autocontrole sobre o que pensamos dos outros e tudo mais. No entanto, devemos
ficar alertas: “as pessoas controladas demais são excessivamente limitadas”. É
verdade, pessoas com autocontrole apurado apresentam dificuldade em tomar decisões,
podem adiar ou mesmo rejeitar o prazer nas coisas sem necessidade.
O
pesquisador Jack Block, da Universidade da California argumenta que o
autocontrole em demasia leva a pessoa a viver uma ética tão escrupulosa que se
torna conservadora, compulsiva, ansiosa e reprimida. Pois é, muito autocontrole
pode mesmo limitar as pessoas e tirá-las do caminho da felicidade. Devo
ressaltar também que pesquisadores concluíram em um estudo na Nova Zelândia,
que crianças com autocontrole na infância, apresentaram resultados positivos na
fase adulta. Refiro-me aqui a um quadro de boa saúde, sucesso nas relações
interpessoais e na vida amorosa. Então ter autocontrole não é ruim.
A ideia
desse ensaio é o mesmo que debater a questão: devemos ensinar nossos filhos a
ter u autocontrole? A resposta é sim! Devemos sim ensinar às nossas crianças o
autocontrole. O cuidado que devemos ter é na dimensão deste autocontrole. Se
for demais, torna-se um problema e se for de menos, outro problema, talvez
pior. Autocontrole tem seus limites. Ele pode ser muito útil, mas não é relevante
quando se trata de identificar quem pode vir a ser um grande inventor. Pode ser
que o autocontrole não seja o “motivador ideal de sucesso”, mas apenas o que
provoca um sucesso calculado, sem novidades ou surpresas. Autocontrole pode não
ser surpreendente, apenas disciplinador. Determinação pode surpreender mais as
pessoas do que o autocontrole. Que tal ensinarmos às nossas crianças a ter um
autocontrole moderado e uma determinação severa?
A minha
motivação em escrever este ensaio e compartilhar com você, leitor, esse meu
aprendizado, vem da surpreendente leitura da obra “Uma questão de caráter” de
Paul Tough. Essa obra publicada em 2012 pela Editora Intrísica do Rio de Janeiro, tem por objetivo fazer com que pais e
educadores repensem o modelo tradicional de educação que impera em nosso padrão
mental. Paul Tough demonstra que não são
as notas boas a melhor garantia de sucesso, mas sim a determinação, a curiosidade
e a persistência e que essas qualidades podem ser ensinadas. Por isso, atente
para o seguinte: nossas crianças necessitam sim de autocontrole. Contudo, não
pode ser algo tão severo que as limite a sufoque, as deixe sem ação. Ao mesmo
tempo, temos que ensiná-las a ter determinação. Não deixe que elas desanimem.
Sejamos motivadores e não desanimadores. Ensine-as a enfrentar os problemas, a
enxergar soluções e a planejar estratégias de vitória. Nossos filhos precisam
saber enfrentar os desafios postos para que cresçam com autosuficiência e
coragem. A escola é um grande centro de aprendizagem e o que ela nos ensina,
não é apenas o currículo oficial. A escola vai além, pois ela ensina em todo o
seu universo, aos nossos filhos a crescerem com autocontrole, determinação,
caráter, curiosidade e persistência.
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