“Não se pode ser sem rebeldia” é o que o grande educador Paulo Freire
nos ensinou. A rebeldia em crianças e adolescentes é natural. Nós, pais e
educadores temos a missão de transformar essa rebeldia em algo útil e
interessante.
Ao longo de minha carreira como educador e principalmente nos últimos 4
anos, tenho ouvido muitos pais de alunos, notadamente aqueles cujos filhos estão
entrando na adolescência, insatisfações com o comportamento dos filhos. Tenho
constatado que a preocupação dos familiares está exatamente na adequação
escolar. É muito comum a queixa envolvendo dificuldade na aprendizagem e também
indisciplina. Na verdade, tudo faz parte do ambiente escolar, pois é nesse
ambiente que as crianças e os adolescentes são colocados diante de novos
desafios. Aprender, ser avaliado em sua aprendizagem e conviver o tempo todo
com um enorme contingente de pessoas, é de fato um desafio grande. Como as
crianças e adolescentes ainda não estão prontos em sua maturidade é claro
também que a escola torna-se um lugar onde os conflitos acontecem.
É muito comum no ambiente educativo, crianças e adolescentes se
“comunicar” com os adultos através de comportamentos “adequados” ou “inadequados”.
O comportamento é uma forma que encontram para se expressar, tornando visível
algo invisível. Muitas vezes possuem comportamento social diferente em casa. É
muito comum ouvir dos pais: “em casa ele não é assim”. É verdade, podem mesmo
ter comportamento diferente. Como eu disse, é na escola que são desafiados o
tempo todo e são obrigados a conviver sob regras específicas e também com
pessoas diferentes. Em casa, tudo é mais tranquilo no que tange as relações
humanas. É na escola que muitas vezes as pessoas exteriorizam as vivências
emocionais internalizadas durante o processo de desenvolvimento da
personalidade, e as heranças culturais e éticas recebidas através de gerações.
Como as crianças e os adolescentes comunicam-se com os adultos através
de manifestações comportamentais é fácil de se entender que tanto o aluno
“certinho” ou “não certinho”, estão sim dando sinais que necessitam ser “lidos”.
Como eu sempre digo, o aluno chega na escola não como um livro em branco. Ele
não vem só. Traz consigo uma história de vida, vivências emocionais e culturais
que certamente aqui na escola se revelam. Lidar com todo esse universo, exige
de nós educadores mais do que experiência. Exige habilidades e competências no
campo da psicopedagogia e capacidade de lidar com conflitos diversos. Mas, a
família tem um importante papel na “leitura” dessa forma de comunicação de
crianças e adolescentes, pois é o espaço das primeiras vivências afetivas responsáveis
pela formação de modelos identificatórios e da personalidade de cada um.
Ser “certinho” é sempre um bom sinal? Depende. Precisamos estar atentos
ao comportamento super adequado de alguns. Muitas vezes a obsessão pela
perfeição, pelo excelente resultado na escola e para os cuidados exagerados com
os pertences pode ser também sinais de uma inadequação. Pode ser defesa ou
mesmo uma “autopunição”, produto de uma necessidade enorme de compensar algo ou
mesmo de ser aceito por um determinado grupo. Claro que desejamos ter filhos “certinhos”
mas, não neuróticos e angustiados. Num referencial psicanalítico, a angustia
pode se transformar num sintoma, que por sua vez, contém um significado. Ela
pode ser canalizada e expressada de maneira construtiva ou destrutiva para o
próprio sujeito. Pode gerar um comportamento considerado adequado ou
inadequado, para um determinado contexto.
O meu objetivo nessa breve reflexão é deixar claro a você pai e mãe,
que mesmo sendo a criança ou o adolescente “certinho”, pode haver algo que
denuncia um estado emocional. Por isso, não devemos nos prender a modelos de
pessoas, mas sim a cada pessoa no sentido de estarmos atentos aos sinais que elas
enviam, quando se comunicam conosco através das múltiplas linguagens que
utilizam para nos dizer o que estão sentindo.
Bibliografia:
Blay Levisky.
R. (2000) Possíveis relações entre a psicodinâmica familiar e o processo de
aprendizagem. V congresso Bras. De Psicopedagogia. Livro do congresso. São
Paulo. Brasil.
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