Jean-Pierre Lebrun, psicanalista reconhecido em toda a Europa nos
ensina: “...o processo de humanização começa pelo entendimento de que jamais
haverá a satisfação completa. É esse o curso, saudável das coisas. Se os pais
boicotam esse processo, podem estar cometendo um erro”. O psicanalista belga
concedeu uma entrevista à revista veja, quando esteve no Brasil para o 3º
encontro Franco-brasileiro de Psicanálise e Direito. Quebrando paradigmas e
evidenciando mudanças acentuada na relação pais e filhos em todo mundo, Lebrun
foi enfático: “...até pouco tempo atrás, a sociedade era hierarquizada, de
forma que havia sempre um lugar de destaque. Ele podia ser ocupado por Deus, ou
pelo Papa, ou pelo pai, ou pelo chefe. Isso foi se desfazendo progressivamente
e o processo se acentuou nos últimos 30 anos”.
O que se nota hoje em todo o mundo civilizado, é que a organização
social não se faz mais de forma hierarquizada e verticalizada. A pirâmide deu
lugar a uma rede e as relações com as “figuras de poder” foram e estão sendo
desfeitas. Daí a dificuldade óbvia de conseguir se colocar limites nas crianças
e jovens. Os pais, sem observar essa mudança, ainda esperam de seus filhos um
tratamento idêntico ao que ele dispensava aos seus pais. Impossível! Se assim
se dá, pode ser que haja angústia molestando o coração dessas crianças e
jovens. Muitas crianças vivem a réplica do modelo de educação que os pais receberam
de seus pais, o que em algumas situações provoca queda na autonomia dos filhos
e estes exemplos vistos como positivo na geração de seus pais, passam a ser
indicativos de sucesso deste modelo educacional reproduzido. Complicado... o
mundo é outro, as relações sociais acontecem em plataformas sociais diferentes
e a escola não é mais aquela o que acaba levando à situações conflituosas em
sala de aula. Os novos tempos, as novas estruturas, demoram a se acomodar,
devido mesmo ao choque de gerações e de culturas de organização de redes
sociais. Pais e filhos, professores e alunos, são de tempos diferentes,
convivendo no mesmo espaço. “Cabeças” diferentes compartilhando os espaços onde
as mudanças são lentas: família e escola são instituições conservadoras em sua
essência, mesmo que tenham sofrido mudanças.
Nesse cenário, os atores em seus papéis muitas vezes confundem os
personagens. Pais não aceitam notas baixas e querem o sucesso absoluto dos
filhos, crendo eles que o sucesso está na realização de um sonho por eles
sonhado. Como assim? Querer de meus filhos que nunca falhem para que possam chegar
onde eu idealizo para eles é mesmo o caminho certo? Tenhamos tranquilidade...
vamos sim orientar as nossas crianças, mostrar-lhes as diversas variantes,
discutir o futuro, planejar as metas. Mas, não vamos exagerar nas cobranças.
Crianças necessitam falhar. Lidar com as falhas sem a odiosa dor de quem erra,
mas com a virtude de quem deva aprender com as falhas. A imperfeição humana
está em todos nós. Vamos entender os dilemas dessa nova época e compreender
nossos filhos com o olhar desta época e não com o olhar de nossa época. Faça
esse exercício hoje. Olhe para o seu filho com o olhar deste tempo e enxergará
que não há tantos distúrbios na conduta deles. No tempo deles, no mundo deles é
que iremos encontrar as respostas para os questionamentos deles e nas falhas de
cada um, é que encontraremos os ensinamentos para que sejam eles mesmos,
agentes de suas vidas e condutores de seus sonhos. Dos sonhos deles!
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