Nós que somos pais, muitas vezes, acreditamos que
damos tudo aos nossos filhos. Cobrimos de presentes, orientamos sobre as suas
obrigações, organizamos a rotina deles e os provemos com uma boa educação e
alimentação farta. Muitas vezes damos aos nossos filhos até muito amor, mas nos
descuidamos de dar a eles alguns afetos que são muito importantes para a
felicidade deles. Há situações no campo emocional de nossos filhos que podem
estar em nossa frente, mas não conseguimos enxergar o apelo que estão fazendo.
Certa vez, em
um atendimento meu a uma menina que se sentia infeliz e ninguém entendia a
razão, ela me externou: “Gostaria que meu pai dissesse que gostava de mim por
eu ser uma menina”. Pareceu-me estranho, mas em atendimento, pude constatar que
ela era filha menina em uma família que tinha três garotos. Mesmo com a atenção
dos pais e carinho especial do pai, ela achava que por ser diferente, não era
tão amada. Nos parece estranho, mas era
o que ela sentia. Simples assim. Em outro atendimento, em um caso similar, o
garoto gostaria de ter escutado do pai: “ Tenho orgulho de ter você como
filho”. A carência vinha do fato de os pais estarem mais focados no filho mais
velho que prestava vestibular. Todo o reforço da família estava em motivar o
mais velho e o menor sentiu-se excluído. Pois é, a gente nem imagina isso...
Muitos adultos pensam que lutam na vida para
conquistar os seus objetivos, mas o que mais desejam mesmo é o reconhecimento
dos pais. Eu confesso que embora tenha nutrido um grande amor pelo meu pai e
reconhecer o amor dele para comigo, eu nunca tive o seu reconhecimento. Ficou
na memória apenas as cobranças para que eu melhorasse. Precisamos de estar
atentos a isso, para que nossos filhos não cresçam com a insegurança emocional
de não serem reconhecidos pelos pais. Eles precisam sentir que são importantes
na vida dos pais e que o pouco que fazem tem valor sim. Quando os pais elogiam
os seus filhos, eles transbordam de felicidade e de segurança. Desfazem as suas
resistências e os ressentimentos e se renovam para continuar a deliciosa
jornada da vida.
Em uma outra oportunidade em minha vida, e de
maneira direta relacionada com as minhas experiências e estudos psicanalíticos,
conheci uma profissional liberal muito bem-sucedida. Crítica afinada com o
mundo contemporâneo, exigente com as filhas e extremamente dedicada ao
trabalho. Jurava ter plena segurança em seu relacionamento com o marido e
filhas. Vaidosa, estava sempre muito bem apresentada e gostava de exibir o seu
conhecimento, citando uma farta bibliografia que já havia lido. Certo dia, ela
chega no grupo de estudo desiludida e acabada. As filhas já crescidas
resolveram se mudar e viver com a avó paterna em outro estado. Não queriam mais
a mãe por achar que a mãe nunca havia demonstrado amor e por isso se achavam um
estorvo. Colocando o seu problema, ela mesmo concluiu: “dei tudo às minhas
filhas e sempre quis o melhor para elas. O que de fato nunca soube foi demonstrar
o meu amor. Achava que cobrando, disciplinando e planejando a vida delas, eu
estava demonstrando esse amor”. Pois é, precisamos estar muito atentos a
situações similares. Não se esqueçam que nós também somos filhos e, por isso,
também carregamos conosco algum peso dessa relação. Portanto, vamos estar
atentos! Os nossos filhos são pessoas diferentes de nós, criados em uma cultura
de mundo diferente e que se realizam naquilo que gostam e que desejam fazer.
Por isso e, só por isso, já merecem um elogio e um reconhecimento.
Ajudem os seus filhos, desde pequenos, a se sentirem
valorizados. Declare a sua admiração por eles, façam com que se sintam amados e
respeitados. Quando um filho descobre o quanto é importante para os pais, sua
autoestima se fortalece e ele ganha segurança para enfrentar os desafios da
vida. Pode ter certeza que seu filho espera a sua aprovação. Que tal fazer um
elogio e demonstrar amor aos seus filhos no próximo almoço em família?
Certamente, isso irá trazer para eles uma felicidade enorme.
Sou sua fã. Leio todos os seus artigos semanais. Seus textos são incríveis!!!!
ResponderExcluirMuito obrigado pelo carinho do comentário e a segurança em nosso trabalho. Esse incentivo nos motiva a continuar em nossas ações e pensamentos.
ExcluirMuito bom artigo, mas há contrapontos. Ás vezes o tiro sai pela culatra. E o elogio pode causar um mal. o elogio em si não tem nada de errado. A gente é que não aprendeu a usá-lo do jeito certo. Uma pesquisa da psicóloga americana Carol Dweck, da Universidade Stanford, fez uma série de estudos com 400 alunos de uma escola de Nova York. Um deles era composto de 4 provas. Na 1ª, alunos da 5ª série fizeram um teste de QI, simples para estudantes da sua idade. Terminado o teste, os pesquisadores davam as notas aos estudantes, e encerravam a conversa com um elogio. Metade deles ouvia "Você deve ser muito inteligente". Para a outra metade, o texto era diferente - não parabenizava o aluno diretamente, e sim sua atitude: "Você deve ter se esforçado muito para conseguir esse resultado." Carol e sua equipe queriam dividir os alunos em dois grupos -"os inteligentes" e "os esforçados" - para ver o impacto da diferenciação no comportamento das crianças. O impacto apareceu já na 2ª tarefa. Nela, os estudantes tiveram a chance de fazer sua escolha: um teste simples, tão fácil quanto o 1º, ou um mais complicado, que "faria com que eles aprendessem muitas coisas novas". O grupo dos inteligentes escolheu o teste fácil. O dos esforçados foi mais corajoso - optou pela prova difícil. Aí veio o 3º teste, bem mais complexo que os anteriores. Os dois grupos se deram mal. Só que os esforçados - justificando o apelido - se dedicaram muito mais à resolução da prova. Os inteligentes? Esses aí ficaram extremamente nervosos. Mal conseguiram terminar o teste. A grande surpresa, no entanto, veio na 4ª prova. Essa era barbada, tão fácil quanto a primeira. O resultado: os elogiados pelo esforço melhoraram em 30% a nota que haviam tirado na 1ª prova. Já os inteligentes foram mal - o desempenho deles despencou 20%. Desse modo, 0 elogio deve ser dirigido para o processo, e não para o resultado, sempre para as ações, nunca para a pessoa.
ResponderExcluirHaverá sempre contrapontos. Não buscamos a exatidão, compartilhamos experiências, sem ciência. Interessante a sua colocação e certamente contribui e muito para o enriquecimento de todos. Muito obrigado pela participação.
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