Basta
passearmos nos Shoppings para nos depararmos com crianças e adolescentes consumindo
mais do que gente grande. Os lojistas e o mercado em geral sabem disso, e o
apelo através das mídias contribuem para acelerar o hábito de consumo dos
menores. Nos supermercados, a situação é similar. Carrinhos lotados de produtos
supérfluos, escolhidos pelos filhos e filhas que acompanham os seus pais. Se
prestarmos atenção mais detalhada, observaremos crianças autoritárias,
determinando a marca do produto e a quantidade que se deve levar para a casa.
Contrariados, provocam cenas que os pais preferem evitar. Estamos assim diante de uma geração de
consumidores vorazes. Dessa forma, uma pergunta se faz necessário: quem são os
responsáveis pelas crianças e adolescentes? Eles não consomem sozinhos, não
possuem renda e por isso não podem comprar o que desejam.
As
crianças pedem o que querem aos pais, porque é natural pedir. O custo é então
repassado aos pais que assumem o ônus desses pedidos sem educar devidamente os
filhos e filhas na prática do consumismo. Essa prática acaba se tornando um
vício e como tal vai crescendo de maneira descontrolada. Na realidade, os pais,
de maneira geral, têm um outro vício: o de não educar os desejos dos filhos,
separando-os das necessidades reais. Um “agora não” ou “você não está
precisando disso agora”, não educa. Dizer: “depois eu compro”, não estará
educando também, mas postergando, empurrando para depois. O que se deve dizer
então? Diga não! Se insistir, complete a frase: se continuar pedindo, você irá
me esperar lá fora da loja! ” Outra coisa importante: pais precisam combinar
entre si as premissas da educação e não postergar situações. O pai agir de um
jeito e a mãe de outro, piora tudo e a criança ou mesmo o adolescente encontra
aí uma fragilidade que o torna um manipulador.
Sendo
assim, se os pais irão atender aos filhos porque não suportam insistência, ou
para resolver rapidinho um conflito estabelecido pela negativa dada, aí eles
estão deixando de ser educadores. Qual a consequência? Seus filhos estarão
deixando de valorizar o que tem e passando a ser consumidores compulsivos e
infelizes. Há, sim, a possibilidade de não sermos felizes, mesmo tendo tudo o
que desejamos. Esse é o grande desafio nosso como pais e mães educadores.
Comprar para satisfazer não as necessidades. O exagero pode, sim, provocar a
ideia de que é fácil ter as coisas e por isso sempre vão querer mais. Vários
pares de tênis de marca, calças etc, sem que usem de fato, acabam sendo doados,
o que pode criar ainda mais a sensação de supérfluo e desnecessário, mas
importante pela única razão de querer ter algo que o tenha oportunizado
momentos de satisfação na hora da compra. É aí que está o perigo. Não há nenhum absurdo em comprarmos para os
nossos filhos, vê-los contentes e juntos compartilharmos alegria. Apenas
precisamos fazer isso com regras bem estabelecidas e fazendo-os entender o
valor daquele presente. Também cabe a disciplina, o “não” dito de maneira
definitiva e a reflexão sobre a real necessidade daquela compra. Eu consegui
milagre com os meus filhos. Confesso que andei meio negligente, certo de que
“se posso dar, então darei”. No entanto, foram eles mesmos que me mostraram que
o caminho não estava legal. Eles confessaram a mim que uma vida sem gastos
absurdos com futilidades, poderia ser mais interessante. Imagine! Eu que
pensava que dando a eles tudo o que não tive, estaria dando a felicidade que
cheguei a pensar que na vida eu um dia não tivesse conhecido. Eles me educaram
e me levaram a uma reflexão tão significativa sobre consumismo que resolvi
partilhar com vocês essa experiência educativa. O que eu tinha como base sempre
foi o amor e o “não”, sempre posto quando não podia ter dado algo que achavam
necessitar. Foi essa base que permitiu a eles dizer para mim que desejavam uma
vida “gostosa”, mas sem consumismos exagerados. Estamos vivendo, assim, em um
clima de “minimizar” o consumo, sem que haja perda na qualidade cultural,
gastronômica e de lazer. O que dimensionamos foi o exagero, aquele que enche os
armários de coisas que nem se quer utilizamos.