“Ninguém faz isso.” “O que os outros
irão pensar?” “Por que você não é igual a todo mundo?”. Quando, em casa, ao
corrigirmos os filhos, usamos desses clichês, não estamos educando, mas
“uniformizando” uma personalidade. Você já pensou que, às vezes, a educação que
oferecemos aos nossos filhos pode funcionar como um mecanismo para igualar
condutas e até mesmo o jeito de ser? Observe bem o modelo educacional que você
está adotando em casa para a formação de suas crianças. Ele sufoca as
diferenças e apaga o brilho das crianças? Pois é... Precisamos estar atentos
para não contribuirmos para a construção de um mundo marcado por determinismos
que “uniformizam” as condutas das pessoas.
O mais interessante é que, ao
educarmos assim, estamos nos baseando num padrão pré-estabelecido que pode até
ser preconceituoso. Corremos o risco de estabelecer na mente de nossos filhos
padrões pessoais e padrões de valores que poderão levar a uma visão
preconceituosa do mundo, o que certamente não é bom. Podemos estar criando
crianças que se tornarão adultos intolerantes e convenientemente robotizados no
que tange às suas manifestações de personalidade. Alguém consegue mesmo ser
feliz tendo que ser como o outro é? Alguém pode ser feliz tendo que se anular
como pessoa e se projetar no eu do outro?
Em um sentido mais amplo, precisamos
estar atentos ao modelo de educação que estamos adotando. É preciso oportunizar
aos nossos filhos a segurança no sentido de garantir-lhes crescerem sendo eles,
mas também crescendo respeitando o eu dos outros, as diferenças e a
diversidade. Deverão crescer, sabendo que as pessoas são diferentes sim, pois
são resultados de etnias e culturas diversas ou mesmo de outro meio cultural e
sócio-econômico que determinam as diferenças. Mas não significa, por isso,
serem superiores ou inferiores.
Para que nossos filhos cresçam
conhecendo a si e respeitando os outros, é preciso que em casa eles aprendam o
que é preconceito, a ver o mundo como ele é: plural, diverso e múltiplo. Mostre
como é bom viver em uma sociedade que inclui e que respeita. Da mesma forma,
permita a seus filhos afirmarem a sua personalidade a partir da essência de
cada um e façam que, em família, os irmãos passem a respeitar cada um, a partir
do jeito de ser de cada um. Nunca esqueça que as crianças têm direito a se
desenvolver num ambiente de alegria, diálogo e respeito às características que
são próprias de cada um. Se seu filho viver a experiência de ser acolhido,
aprenderá a valorizar o diferente, respeitando a todos e a si mesmo.
JUNQUEIRA FILHO, Gabriel de A.
Conversando, lendo e escrevendo com crianças na Educação Infantil. Porto
Alegre. UFRS.
Temas em Educação 11 – Livro das
Jornadas 2003.
Gráfica PubliCOC, 2003.
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