A escola, como instituição de ensino, enxerga o aluno como aquele
que está nela para aprender. Não só para aprender, mas também para conviver com
as regras e a dinâmica educadora da instituição. Tudo isso é verdade, mas não
podemos esquecer que o aluno é um ser humano, “um livro escrito” que chega à
escola. Mais do que isso, muitas vezes esse aluno vem de uma família que, por
um motivo ou outro, transfere para a escola mais do que realmente a escola tem
por objetivo fazer.
O que sabemos é que a escola representa as primeiras experiências
de socialização da criança. É nesse universo que ela se manifesta, expressa-se
e realiza-se. Acredito que é no mundo escolar que ela se revela. Certamente por
isso, muitas vezes, os familiares são chamados a confrontar comportamentos
diferentes de seus filhos em casa e na escola. “Em casa ele é diferente daqui”,
me disse certa vez uma mãe em um atendimento. De fato, é na escola que a
criança se manifesta, pois, além de ter espaço para as suas linguagens, ela
está desprovida da segurança do lar e da afetividade dos familiares. Na escola,
mesmo que cuidada e protegida, ela se sente fora de casa e, portanto, responsável
por si. Chamamos isso de autonomia. Na escola, ela vive a sua autonomia, o que
lhe oportunizará crescimento. É na escola que encontrará o limite e será
colocada diante de regras, normas de condutas, convívio interpessoal e
autoridade dos educadores.
A escola, então, não pode somente ser vista como um centro de
aprendizagem de conteúdos, mas um espaço também dedicado à formação do caráter
do indivíduo. É papel da escola como instituição educativa adequar as pessoas
ao convívio social e também despertar no educando o sentido de disciplina e
organização tão necessário ao bom relacionamento social. O psicanalista inglês
Winnicott nos ensina que onde existir uma criança ou um adolescente é
necessário que haja um adulto para confrontá-lo. O confronto aqui é no sentido
disciplinador. Trata-se de contrariar as
escolhas inadequadas que aqueles que não têm maturidade fazem. Assim, o papel
da escola no que tange ao comportamento dos alunos é ensinar e desenvolver no
aluno a percepção de respeito a si mesmo e ao outro, a noção de
responsabilidade social e cidadania. Cabe à Escola também ensinar a hierarquia
e o respeito às regras. É papel da escola desenvolver este sentimento entre
todos da comunidade estudantil.
É papel da escola ainda criar este espaço de acolhimento e
reflexão, que promova o desenvolvimento da capacidade de aprender. No caso, não
só aprender conteúdos do quadro curricular, mas aprender as regras da vida, o
jogo da convivência e o desenvolvimento da inteligência emocional.
Nessa breve reflexão que faço, reservo-me o direito de lembrar a
todos que a boa escola não se permite deixar se perder quanto ao respeito à
hierarquia. O sistema de igualdade de direitos não é incompatível com o
respeito às hierarquias. Este estado de confusão abre espaço para a
desorganização e falta de limites. É importante sim a hierarquia, a organização
e a disciplina. A criança necessita de adultos que acolham as suas
ambivalências e lhe deem algo diferente para ela confrontar e fazer a leitura do
que é certo e do que é errado. Nós aceitamos esse desafio, respeitando as
individualidades e as múltiplas maneiras das crianças se manifestarem.
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