sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

O Mundo líquido das mídias



Vivemos em um tempo em que as coisas mudam com uma velocidade impressionante, principalmente no mundo da informação. Jamais tivemos tanto acesso às informações. A internet nos disponibiliza instantaneamente, principalmente através das redes sociais, uma montanha de informação. Os nossos filhos estão também expostos a elas, embora a maioria dessas informações veiculadas não seja exatamente aquilo de que precisamos em nossas vidas. O Facebook e o WhatsApp, só para falarmos nas mídias mais conhecidas, nos alimentam de informações, na maioria das vezes, com muitas distorções. São valores emitidos que nem sempre (quase sempre) não representam qualidade ou mesmo veracidade.  Assim, estamos de forma irreversível numa era de computadores, da World Wide Web, dos videogames, dos milhares de canais de TV a cabo. Um mundo de tecnologias e de informações relâmpagos.
Nós, seres humanos, não podemos nos nutrir de tecnologia. Ainda precisamos do alimento e, no campo emocional, do saudável convívio humano. Precisamos da acolhida da família, da vida em comunidade, da fé que nos suporta e do amor do outro. Nada disso está em uma tela de um dispositivo digital qualquer.  Não está nas “babás eletrônicas”, que ocupam as nossas crianças com jogos e navegação em sites ou mesmo em sites de bate-papo pela rede afora. Essa “amizade virtual” que tomou o lugar das brincadeiras de rua, podem ser uma grande ameaça à nossa cultura e ao modelo de humanidade que conhecemos. O diálogo cedeu lugar ao silêncio das crianças que não mais correm ou brincam, mas se relacionam na Web. Já não bastam as milhares de horas que passam à frente da televisão. O tempo todo, estão recebendo informações. Estamos mesmo certos da qualidade dessas informações?
Todos nós estamos aparelhados com Iphones, Tablets, Notebooks e tudo o mais que existe no mercado, para disfarçar o medo da solidão. Tudo isso, nos coloca em uma condição de um “ser líquido”, fragilizado em suas relações humanas condensadas com laços momentâneos e volúveis, na concepção de Bauman. Já falei dele para vocês. Diante de tudo isso, o que nos resta? Precisamos estar atentos aos efeitos dessa exposição em nossos filhos e observar cuidadosamente a relação que a nossa família tem com essa força midiática. Precisamos nos perguntar frequentemente o que está acontecendo no corpo e na mente de nossas crianças e, na busca dessa resposta, termos desnudada a realidade com a qual de fato lidamos. Precisamos estar atentos ao comportamento de nossos filhos e do nosso também. Não estaríamos também “perdidos” neste mundo ralo das redes sociais? Estamos dando aos nossos filhos a atenção necessária e estamos incentivando-os a brincar?  Pois é, essa é a grande questão. Não podemos deixar que a liquidez desse mundo fútil nos engula. Temos sim que estarmos abertos às ferramentas do mundo tecnológico e aproveitar as vantagens da utilização da internet. Precisamos sim ter acesso a informação rápida e nos comunicarmos em rede sociais. O que não podemos permitir é que a liquidez nos lave também. Precisamos de defesa contra tudo isso de ruim que existe nesse “mundo liquefeito”.
É possível promover experiências que não sejam limitadas por esse mundo midiático e bidimensional. Nossas crianças se sentirão maravilhadas quando as convidarem para um dia de praia, de jogos e brincadeiras que utilizem do corpo. De um dia com o amigo, correndo em um lugar amplo e gostoso. Proponha aos filhos desenharem, escreverem pequenas histórias, pintar ou cantar. Garantam que haverá um momento no dia em que você vai compartilhar a alegria de viver em família, de forma criativa e participativa. Permitam que seus filhos participem da cozinha com você, ajudando nos afazeres domésticos e na rotina do lar. Acompanhe-os por algum momento do dia nas lições de casa e verás que há sim muito tempo para que a sua criança fique longe de uma tela de TV ou de computador. Saberá que nas pequenas tarefas diárias, a participação de seus filhos dará a eles uma ocupação sadia e um relacionamento maravilhoso. Vamos começar?
         

FONTE: Myla e Jon Kabat-Zinn. Nossos Filhos, Nossos Mestres. Ed. Objetiva. RJ.


Um comentário:

  1. Como sempre belos textos, parabéns!
    Essa é minha grande preocupação atual, na condição de futuro pai.
    O que será que realmente importa na nossa vida?
    Forte abraço.

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