Estamos
vivendo em um mundo conturbado. As exigências da época em que vivemos, a
pressa, as pressões econômicas e sociais, o momento político que estamos
atravessando em nosso país, tudo isso concorre para roubar de nossos filhos um
pouco da infância. Se pensarmos que hoje eles vivem “apertados” em apartamentos
e de certa forma presos ao mundo digital, aí é que temos mesmo uma enorme perda
da qualidade da infância. A Infância tem um ritmo de sonho e uma lentidão
própria que a pressa desse mundo contemporâneo acaba acelerando e muito. Sinto
que as crianças estão crescendo em um grande “vácuo emocional”, provocado por
perda de qualidade de vida no que tange ao relacionamento com amigos e mesmo
com as famílias. Tenho percebido que o “espaço Escola” tem sido muito
valorizado, pois por mais paradoxal que seja, é na Escola que as crianças estão
encontrando espaço para expressarem as suas emoções e, principalmente,
brincarem com os colegas.
Estamos
em um mundo tão acelerado e terrivelmente pouco vivenciado que a frase mais
comum que soltamos é: “Nossa, como a vida está passando tão rápido”! Essa sensação horrível parece querer dizer,
para nós que estamos com pouco tempo para viver, que está nos faltando senso de
pertencimento ao tempo. Já imaginou o impacto disso na relação entre os
familiares e, principalmente, em nossa relação com os filhos? Eu penso muito
nisso...
Às
vezes, como adultos, vemo-nos com um pesado fardo emocional às costas. Muito
desse peso, às vezes nem nos pertencem, mas somos chamados a carregá-los, como:
a doença de nossos pais, um problema no casamento de um irmão, a perda de
alguém que amamos, as crises sistêmicas em nossa economia e política, a
violência urbana etc. Mergulhados em tudo isso, sentimos uma vontade enorme de
pousarmos esse fardo no chão. É preciso fazer isso para olharmos com mais
atenção para os nossos familiares diretos. É preciso criar novos padrões
emocionais para as nossas vidas, focando principalmente no bem-estar de nossos
filhos. Nunca é tarde para se dar um basta. Também nunca é tarde para nós
fazermos a seguinte pergunta: estou mesmo satisfazendo as necessidades
emocionais de meus filhos? Pergunto-me muito isso e às vezes fico em dúvida com
a minha resposta. No dia a dia, me provoco novamente, compartilho com a minha
esposa e procuro fazer ajustes. Às vezes, erro de novo. às vezes acerto, o fato
é que tentarmos acertar, é o grande desafio.
Somos
pais e mães de nossos filhos e vivemos por eles. O tempo todo pensamos na vida
deles, no futuro, no que mais podemos fazer para encaminhá-los no “bom caminho”
da vida. Afinal, os nossos filhos sempre precisarão de nós, da compreensão e da
assistência que lhes pudermos dar. Se nos desentendemos com eles por alguma
razão, cabe a nós, pais e mães, o resgate da relação e da confiança. Isso, sem
perdermos a paciência e sempre valorizando a condição de sermos o lado maduro
dessa relação. Ganhamos muito com isso, pois toda vez que temos sucesso nessa
missão, nos sentimos seguros e funcionais em nossa missão de educar e amar.
Portanto, vamos valorizar esse momento de entrega e resiliência de nossa parte.
Quanto a eles, saibam que estão aprendendo conosco a serem pais e mães no
futuro e também a serem esposos e esposas. Ensinamos com exemplos e eles são
esponjas que nos secam, hidratando-se em nossas experiências.
Somos,
como pais e mães, a força que move a vida de nossos filhos e, por isso mesmo,
só seremos de fato importantes na vida deles se formos o porto seguro para se
apoiarem. Por isso mesmo, ressalto a importância de nosso papel. A dificuldade
da paternidade e da maternidade, reside em parte, em perceber de fato a
importância de ocuparmos o papel de pai e de mãe. Não podemos nos refutar e não
terceirizar os compromissos vitais que pais e mães devem ter com os seus
filhos. Não é bom para eles, que se sintam menos importantes do que os nossos
compromissos. Da mesma forma, não é bom que tenham em outros, o espelho que
gostariam de ter em casa para se mirarem. Por isso mesmo, é fundamental dar
significado à relação pais e filhos e trazer para você o gostoso compromisso de
oportunizar felicidade aos seus filhos. Nós, pais e mães, somos sim
responsáveis pela felicidade de nossos filhos. Eu sou muito grato por ter esse
compromisso.
Bibliografia:
Myla E Jon Kabat – Zinn.
Nossos Filhos, Nossos Mestres. Ed. Objetiva. Rio de Janeiro, 1998.
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