Atualmente, considera-se a educação um dos setores mais importantes para o desenvolvimento de um país, pois o povo escolarizado constitui mão-de-obra especializada, eleitor consciente, consumidor exigente e cidadão completo Nações como Espanha, Coreia e até o Chile retomaram a linha de desenvolvimento econômico após investirem em educação..
Pesquisas na área educacional sinalizam que um terço dos brasileiros frequentam atualmente a escola. Temos 57 milhões de estudantes em todos os níveis de ensino, além de registro na queda de analfabetismo. Em 1992, tínhamos 16,4% de analfabetos no país; em 2002, os índices apresentam uma queda para 10,9%, o que reflete políticas educacionais melhores direcionadas nos últimos anos.
É importante registrar também que tivemos avanços significantes na queda dos indicativos de repetência escolar, devido a mudanças na orientação das políticas educacionais na rede pública que vêm ampliando a possibilidade de recuperação do aluno, além das “classes de aceleração”, que estão apresentando resultados positivos. Devemos considerar também a LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), que desde 1996, quando da sua aprovação, oportuniza a maior democratização da escola pública, valorizando o respeito à pluralidade cultural e trazendo as famílias próximas à gestão das escolas nos bairros. Mas nem tudo são flores...
Recentemente, o Banco Mundial apresentou alguns resultados de uma conta diferente no campo da educação e que partia da seguinte questão: Quanto o país perde em dinheiro quando uma criança abandona a escola? O banco concluiu que o Brasil deixa de gerar R$ 755 milhões. Ao longo da vida de toda geração que deixou, a escola esta conta significa R$ 300 bilhões de reais. (Banco Mundial, “Jovens em situação de risco no Brasil”, vol. 1, Brasília, 2007). Parece assustador e é mesmo. O nível educacional do Brasil é o mais baixo se comparado com os países mais populosos da América Latina. Passamos menos tempo na escola, lemos menos e por isso mesmo temos uma capacidade produtiva engessada. Estamos perdendo em relação aos países vizinhos e apresentamos índices menos animadores quando falamos em capacidade de retomada de crescimento econômico e investimentos em tecnologia.
Em Ribeirão Preto, cidade universitária e detentora de uma das rendas per capta mais altas do país, apenas 3 escolas municipais das 26 avaliadas pelo IDEB (Índice de Educação Básica) alcançaram nota 5,5 (padrão para países desenvolvidos). As demais escolas estiveram bem abaixo desse índice, revelando a baixa qualidade do ensino público municipal na cidade. Para piorar o quadro, de quase 300 creches e escolas de Educação Infantil na cidade, muitas não têm alvará de funcionamento. De cada 5 creches e escolas de Educação Infantil no município, apenas uma tem alvará de funcionamento. Assim, 220 não têm alvará nem programa pedagógico aprovado pela Secretaria Municipal de Educação.
Em Maceió, os dados são ainda mais comprometedores e a violência toma conta das salas de aulas das escolas da rede municipal e estadual. Professores são ameaçados por alunos que encontram no tráfico de drogas alguma oportunidade, face a falência do poder público no que tange a adoção de políticas sociais capazes de gerar sinergias positivas para as crianças e jovens da periferia da cidade.
Diante dos desafios que temos pela frente no Brasil, que objetivos educacionais a escola pública de qualidade deve abraçar? Que pressupostos e diretrizes devem guiar a prática política pedagógica dessas escolas? Que cidadão queremos formar para o país? Essas são perguntas clássicas que exigem respostas nada fáceis. As transformações pelas quais a sociedade brasileira passa e as exigências do mundo globalizado nos obriga a buscar uma educação que vise não só ao “alfabetismo” das letras, ao domínio dos números, mas também à aquisição do domínio tecnológico. Trata-se de disputar concretamente o progresso técnico e a qualificação do educando da escola pública, para que ele possa ser competitivo no mercado de trabalho. É promover a sua inclusão, através de uma política educacional que o capacite. Dessa forma, a educação escolar precisa oferecer respostas concretas à sociedade.
Devemos entender, então, que o país necessita de uma educação pública de qualidade, onde a escola deve promover para todos os estudantes o domínio dos conhecimentos e o desenvolvimento de capacidades cognitivas e afetivas indispensáveis ao atendimento de necessidades individuais e sociais (Libâneo, 2007). Isso significa inseri-lo no mundo real, preparando-o para os desafios da vida. É na verdade preparar o estudante para ir se colocar no processo produtivo de uma sociedade técnica e capitalista. A escola privada não tem poupado esforços nesse sentido e, mais recentemente, principalmente no interior do estado de São Paulo, muitos municípios também têm buscado na parceria com sistemas de ensino, as ferramentas necessárias para o cumprimento dessa missão. O que se percebe claramente é uma corrida para a instrumentalização de crianças e jovens que deverão dar ao mercado, no futuro, respostas às demandas.
Bibliografia
LIBÂNEO, José Carlos. Educação escolar: políticas, estruturas e organização /
José Carlos Libâneo, João Ferreira de Oliveira, Minza Seabra Toschi. 4ª ed. São Paulo. Cortez, 2007.