Encontrar a criança, o seu lugar no
discurso psicanalítico é para mim algo muito estimulante, já que vivo o mundo
escolar diariamente, durante grande parte de meu dia e de minha vida. Estou
lendo o livro Psicanálise com crianças, de Teresinha Costa, da
Zahar Editora. A motivação para essa leitura vem de meu curso de formação em
psicanálise. Atualmente, estudo o módulo denominado Psicanálise infantil. Estou
muito envolvido, pois, como pai e educador, tenho aprendido muito, questionado bastante
e, na verdade, venho refazendo alguns pensamentos em relação ao universo
infantil.
Há correntes da Pedagogia e da Psicologia
que defendem a crença de que uma criança é um ser feliz e sem conflitos. Esses
estudiosos tinham suposto que os sofrimentos dos adultos resultam em encargos
para as crianças. Mas acontece também o oposto disto. O que a psicanálise nos
ensina é que muito do sofrimento humano na fase adulta e até na maturidade são
repetições dos sofrimentos infantis. Portanto, o acompanhamento de nossas
crianças é um compromisso sério que a Família e a Escola precisam firmar. Nós,
educadores, cuidadores e pais, temos confiado a nós a missão de termos as
nossas crianças, considerando-as como seres humanos, cuja felicidade futura
depende muito de suas experiências na infância. É no mundo infantil que a
criança se manifesta e se denuncia para os adultos. Assim, as crianças precisam
de um mundo infantil seguro e íntegro. Um mundo cheio de afetividade e de
brincadeiras saudáveis. Viver a infância plenamente oportuniza leveza e
equilíbrio às crianças e as prepara para um mundo feliz.
Segundo Roselake, psicanalista infantil
e especialista em comportamento humano, os pais devem fazer com que os filhos
se interessem pelo universo infantil. É preciso fazer com que as crianças
tenham a percepção de que os adultos também gostam do mundo infantil. Para
tanto, os pais devem brincar com as crianças. É preciso também que sejam
limitados aos pequenos os assuntos dos adultos. Não se trata de impedir a
interação com o mundo adulto, mas de ensinar às crianças que existe idade para
a compreensão das coisas do mundo. Crianças não necessitam de estarem expostas
aos problemas do mundo adulto, por isso, procure se relacionar com a criança,
incentivando-a a falar de si, da escola, dos amigos etc. Direcione a fala dela!
Pais e adultos que vivem com crianças precisam fazê-las entender que há alguém
na liderança. É preciso orientá-las e torná-las confiantes quanto ao rumo
tomado.
Crianças inteligentes, espertas e
independentes são motivos de muita alegria para os pais. Mas não se pode
confundir essas virtudes com maturidade emocional. Acelerar o processo que faz
com que os pequenos se tornem adultos mais precocemente é um equívoco. E isso
vem ocorrendo principalmente com as crianças que vivem em um mundo mais adulto.
Desenvolvimento precoce traz problemas futuros! Não viver a infância plenamente
afasta a criança de sua essência e a torna um adulto sem inocência. Portanto,
deixemos as nossas crianças viverem o mundo infantil. Não queiramos que cresçam
fora de seu tempo. Não podemos esquecer que o ser criança é um ser singular com
particularidades que a diferenciam de um adulto. Por isso mesmo, ela se expressa
e se manifesta em um mundo que é seu e não dos adultos. Mergulhemos no mundo
infantil e sejamos com as nossas crianças, criança também!
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