Vivemos em um mundo cujo sistema social está
promovendo o aniquilamento da infância. Eu tenho testemunhado esse “genocídio”
ao longo de minha carreira de educador, pai e mais recentemente com um olhar
psicanalítico. Tenho observado com mais refino a alma humana e o comportamento
social de nossas famílias e crianças. Quando eu era mais jovem, o grande vilão
era a TV e os programas infantis. Lembro-me de debates acalorados na
universidade quando a questão em pauta era um programa matinal apresentado por
uma famosa modelo em uma emissora líder de audiência. Tal programa era acusado
de roubar a inocência das crianças e aniquilar a infância. Diziam que a
programação erotizava as crianças e incentivava o consumismo. Em trajes
adultos, em meio às danças sensuais e embalados em consumo rápido, as crianças
foram sendo submetidas a um enorme apelo psicológico que as tirou das
brincadeiras sadias de outros tempos.
O excesso de estímulos, atividades extras
curriculares, jogos eletrônicos e os smartphones, acabaram processando mutações
na mente infantil. A era da Internet, chegou com mais força do que a era da TV
e hoje a exposição em redes sociais e sites com diversos conteúdos impróprios
ao universo infantil contribuíram para tirar as crianças das brincadeiras de
roda, queimado, corda, pião, bola e pique-pega. As crianças tornaram-se
impulsivas, agitadas, desconcentradas e instáveis emocionalmente. Estão em
vários casos mergulhados em conflitos do mundo adulto, sem que suas imaturas
emoções sejam preservadas. Há muitas crianças no “olho do furacão”, no meio de
conflitos litigiosos entre pais separados. Estão com a agenda cheia de
compromissos: esporte, língua estrangeira, música etc. Estão se preparando para
um futuro competitivo. A escola recheada de laudos e diagnósticos como TDAH
(Transtorno do Déficit de atenção e Hiperatividade) e os pais inquietos e com
pressa, querendo resolver tudo nos grupos de WhatsAPP. A ansiedade tomando
conta de tudo.
O cientista e médico psiquiatra Augusto Cury,
escreveu em sua obra Ansiedade (como
enfrentar o mal do século), Ed. Saraiva, que crianças e adultos estão sendo
atingidas hoje pela SPA (Sindrome do Pensamento Acelerado). Esse distúrbio bem
parecido com o TDAH tem acometido cada vez mais pessoas, principalmente na
infância. Ele classifica como sendo o mal de nosso século. Dessa forma,
ansiedade, depressão e fobias diversas tomaram de assalto a vida de nossas
crianças e adolescentes. Precisamos estar atentos! Temos que ter coragem para
refletirmos sobre os nossos modelos e sobre o que de fato estamos construindo
com e para os nossos filhos. Precisamos respirar um pouco, sair da confusão,
ignorar as exigências que a nós tem sido impostas. Necessitamos olhar para o
nosso interior, acolher afetuosamente os nossos filhos e deixarmos eles
brincar. Eles precisam ser crianças. Vamos encontrar meios para devolver a eles
a infância perdida, a deliciosa meninice. Como fazer? Comece por oportunizar
grupos de amigos reais e não virtuais, garantir encontros para brincarem e
limitar o uso da Internet.
Precisamos sim ter acesso às maravilhas da
tecnologia, preparar os nossos filhos para a vida, mas se faz necessário guardarmos
um tempo para humanizar as nossas crianças e adolescentes. Vamos reintroduzi-los
ao maravilhoso mundo da imaginação e do faz de conta. Eles precisam ser
crianças, para se tornarem adultos felizes.
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