quinta-feira, 16 de abril de 2015

A infância está morrendo



Vivemos em um mundo cujo sistema social está promovendo o aniquilamento da infância. Eu tenho testemunhado esse “genocídio” ao longo de minha carreira de educador, pai e mais recentemente com um olhar psicanalítico. Tenho observado com mais refino a alma humana e o comportamento social de nossas famílias e crianças. Quando eu era mais jovem, o grande vilão era a TV e os programas infantis. Lembro-me de debates acalorados na universidade quando a questão em pauta era um programa matinal apresentado por uma famosa modelo em uma emissora líder de audiência. Tal programa era acusado de roubar a inocência das crianças e aniquilar a infância. Diziam que a programação erotizava as crianças e incentivava o consumismo. Em trajes adultos, em meio às danças sensuais e embalados em consumo rápido, as crianças foram sendo submetidas a um enorme apelo psicológico que as tirou das brincadeiras sadias de outros tempos.
O excesso de estímulos, atividades extras curriculares, jogos eletrônicos e os smartphones, acabaram processando mutações na mente infantil. A era da Internet, chegou com mais força do que a era da TV e hoje a exposição em redes sociais e sites com diversos conteúdos impróprios ao universo infantil contribuíram para tirar as crianças das brincadeiras de roda, queimado, corda, pião, bola e pique-pega. As crianças tornaram-se impulsivas, agitadas, desconcentradas e instáveis emocionalmente. Estão em vários casos mergulhados em conflitos do mundo adulto, sem que suas imaturas emoções sejam preservadas. Há muitas crianças no “olho do furacão”, no meio de conflitos litigiosos entre pais separados. Estão com a agenda cheia de compromissos: esporte, língua estrangeira, música etc. Estão se preparando para um futuro competitivo. A escola recheada de laudos e diagnósticos como TDAH (Transtorno do Déficit de atenção e Hiperatividade) e os pais inquietos e com pressa, querendo resolver tudo nos grupos de WhatsAPP. A ansiedade tomando conta de tudo.
O cientista e médico psiquiatra Augusto Cury, escreveu em sua obra Ansiedade (como enfrentar o mal do século), Ed. Saraiva, que crianças e adultos estão sendo atingidas hoje pela SPA (Sindrome do Pensamento Acelerado). Esse distúrbio bem parecido com o TDAH tem acometido cada vez mais pessoas, principalmente na infância. Ele classifica como sendo o mal de nosso século. Dessa forma, ansiedade, depressão e fobias diversas tomaram de assalto a vida de nossas crianças e adolescentes. Precisamos estar atentos! Temos que ter coragem para refletirmos sobre os nossos modelos e sobre o que de fato estamos construindo com e para os nossos filhos. Precisamos respirar um pouco, sair da confusão, ignorar as exigências que a nós tem sido impostas. Necessitamos olhar para o nosso interior, acolher afetuosamente os nossos filhos e deixarmos eles brincar. Eles precisam ser crianças. Vamos encontrar meios para devolver a eles a infância perdida, a deliciosa meninice. Como fazer? Comece por oportunizar grupos de amigos reais e não virtuais, garantir encontros para brincarem e limitar o uso da Internet.
Precisamos sim ter acesso às maravilhas da tecnologia, preparar os nossos filhos para a vida, mas se faz necessário guardarmos um tempo para humanizar as nossas crianças e adolescentes. Vamos reintroduzi-los ao maravilhoso mundo da imaginação e do faz de conta. Eles precisam ser crianças, para se tornarem adultos felizes.


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