terça-feira, 22 de novembro de 2011

Continuem sonhando



Sempre me dirijo a vocês para compartilhar com todos a minha experiência de pai e educador. Hoje, gostaria de dirigir-me a vocês não para falar de nossas crianças, mas de como somos importantes para elas. Somos importantes não só porque somos heróis de nossos filhos e alunos, mas, acima de tudo, porque sonhamos. 
São os sonhos que nos movem; dão ousadia aos líderes, inteligência ao poeta e desejo de lutar por dias melhores. Os sonhos são como combustível humano e transformam o mundo. Inspiram-nos a criar, nos levam a superar e nos encorajam a conquistar. São esses sonhos que nos transformam e nos fazem as pessoas que nossos filhos enxergam. Por isso, temos que sonhar. São os sonhos que mantêm em nós a chama viva e, por isso, nos fazem levantar da cama para lutar.
          Os sonhos de cada um de nós nos projetam no mundo em que vivemos. Se os nossos sonhos são pequenos, também serão pequenas as nossas conquistas. Será também pequena a condição de suportar a pressão da vida. Os sonhos dão ao nosso canteiro da vida  o adubo necessário para a nossa existência com sentido. Temos que sonhar e ensinar aos nossos filhos a sonharem. Deixem que eles participem de nossos sonhos, pois são projetos de nossa vida. Sonhando com o futuro, nossas crianças e jovens certamente estarão se equipando para a construção de oportunidades.
           Os sonhos nos enchem de saúde e de desejo e nos levam à construção que nos projetará no futuro. Por isso, peço-lhes que conversem com seus filhos sobre os sonhos. O seu e o deles. Mostrem a eles a dimensão da existência deles em seus sonhos. Incentivem-nos a construir sonhos e permitam que eles conheçam o seu sonho. Ou os seus muitos sonhos!
Somos produtos de um sonho ou um sonho que ainda irá se concretizar por completo. Lembrem-se de que não há idade para sonhar, para recomeçar, reconstruir e viver! E saibam que vocês, mesmo adultos, estão, como as nossas crianças, em plena construção.
Eu sonho sempre e ainda tenho muitos sonhos. Falo deles aos meus filhos e ensino-os a sonhar. Acredito que cabe a nós, pais e educadores, ser uma usina de sonhos e que devemos continuar sonhando, pois eles irrigam a vida de prazer e sentido. Continuem sonhando sempre! Os sonhos são transpiração de nossos desejos e a vontade natural de sermos fortes, saudáveis, bonitos e ricos. Isso é humano; isso é de Deus.

Como eu tenho dito, o problema da educação não passa por mais verbas.


        O MEC, Ministério da Educação, sob o comando do Ministro Fernando Haddad, praticamente triplicou a oferta de verbas. Hoje, o montante investido em educação é a fábula de 69 bilhões de reais, contra os 19 bilhões investidos há 10 anos. Ou seja, muito dinheiro público está sendo aplicado na educação. E, por incrível que pareça, a qualidade do ensino na rede púbica não apresentou resultados que justifiquem tantos investimentos. A qualidade não acompanhou a cifra e, pior, na verdade, ela vem caindo.
         Para atrair a criança, evitar evasão e melhorar os índices educacionais, o Ministério incrementou o programa de merenda escolar em todo o país. Em 2006, aplicava-se 1,5 bilhão de reais no programa de merenda; hoje, aplicam-se 3,2 bilhões, o que nos impele a afirmar que dinheiro parece não ser o problema.
         Estamos assistindo, enquanto sociedade, a um descrédito na educação brasileira. E isso, lamentavelmente, não se restringe apenas à educação básica. Pesquisas recentes têm mostrado que estamos com um enorme gargalo também no ensino superior. O ensino público de qualidade vem gradativamente perdendo espaço para faculdades e universidades privadas. Segundo últimos dados do ENADE (Exame Nacional de Desempenho de Estudantes), que avalia as instituições do Ensino Superior, dentre as 100 melhores universidades do país, 65 delas são particulares. 77% das matriculas no Ensino Superior no Brasil se concentram no setor privado.
        Há, sem dúvida, um processo silencioso de privatização do Ensino Superior no Brasil. E isso seria até suportável, se a educação básica, o ensino técnico profissionalizante, por exemplo, tivessem investimentos capazes de atender à enorme demanda por mão-de-obra especializada que vem ocorrendo nos últimos anos devido ao aquecimento da economia.
 Como se percebe, não se trata apenas de discutir ou reivindicar liberação de mais verbas ou, quem sabe, questionar se essas verbas estão sendo bem geridas. A questão passa, também, por políticas públicas mal direcionadas e por utilização de verbas que, embora aplicadas, não estão se concretizando em mais qualidade de ensino nem em benefícios outros para o cidadão brasileiro.
Confirma-se essa triste constatação quando avaliamos os resultados do IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) em todo o Brasil. Alagoas por exemplo, apresenta os seguintes resultados: em 2005, a média  foi de 2,4; em 2009, de 3,4; a projeção para 2011 é de 3,2 em uma escala que varia de zero a dez. A média nacional em 2009 foi de 4,6. São Paulo apresentou nota 4,5 em 2005 e 4,9 em 2009. A meta para 2011 é de 5,3 de nota. Parece pouco, mas há um abismo entre as realidades dos dois estados. As metas são diferenciadas para cada rede e escola, e projetadas bienalmente de 2007 a 2021.
Estados, municípios e escolas deverão melhorar seus índices e contribuir, em conjunto, para que o Brasil chegue a meta 6,0 em 2022. Há muito o que se fazer e, por isso, eu insisto. A questão passa pela vontade política de fazer educação. E isso não depende só de verbas. Depende de Gestão Educacional e de vontade política de fazer educação de qualidade.


Referência: INEP – Portal inep.gov.br

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

É preciso educar a emoção das crianças e adolescentes.



O psicólogo norte-americano Daniel Goleman, Ph.D. pela universidade de Havard, autor do famoso livro intitulado de Inteligência Emocional, lançou um olhar diferente e revolucionário sobre o que é ser inteligente. Será que o ser inteligente é aquele que sobrepõe a razão à emoção?
Trabalhando com o conceito de inteligências múltiplas (já falei sobre isso a vocês em mais outro ensaio!), Goleman tem enfatizado a importância das emoções para o bom desempenho profissional das pessoas e como um elemento fundamental para o sucesso em um bom relacionamento interpessoal e no grupo social de que a pessoa faz parte.
Em suas obras, ele nos ensina que é necessário, sim, nos preocuparmos com educação emocional de nossas crianças, entendendo que tal educação deve acontecer tanto no âmbito da família como no âmbito da escola. Precisamos ensinar as nossas crianças a controlar suas emoções para que consigam sucesso diante das várias situações-problemas que são postas a cada um de nós no mundo em que vivemos. É importante entendermos que o bom desenvolvimento só do Q.I (Quociente de Inteligência) não basta; é preciso, também, um bom domínio do Q.E (Quociente Emocional). É fundamental que as famílias e a escola estejam atentas a isso!
Para o cientista, o ser humano necessita muito mais do que um elevado Q.I para atingir sucesso na vida. É isso mesmo! Se a pessoa for muito inteligente e habilidosa com o conhecimento, mas destemperada emocionalmente, certamente encontrará dificuldades em se colocar como líder ou mesmo amigo, companheiro etc. É preciso saber controlar os impulsos e isso se aprende em casa e também na escola. Na escola, é o SOE (Serviço de Orientação Educacional), quem, através de profissionais devidamente qualificados, faz o trabalho junto aos alunos; em casa, certamente são os pais e os responsáveis que ajudam nessa educação.
Não há duvidas, hoje, de que nós podemos aprender a lidar com as emoções, assim como aprendemos a lidar com as exigências das disciplinas escolares. Crianças e adolescentes com o emocional desequilibrando certamente terão problemas na escola, quer seja no aproveitamento quer seja na relação interpessoal com colegas e com professores. Precisamos, então, estar atentos. Não cabe mais acharmos que o emocional está relacionado à questão de gênio ou mesmo de ter “puxado” um parente. Crianças e adolescentes terão que aprender a lidar com o seu emocional e, principalmente, a dominar a situação.
É preciso que nossas crianças aprendam a se controlar, a dominar os impulsos, desenvolvendo a sua “inteligência emocional”. Um dos aspectos fundamentais para que iniciemos uma educação emocional com as nossas crianças é elevarmos a sua autoestima, para que o seu “eu” possa dar a ela uma autoimagem positiva, permitida a partir da apreciação de pais e educadores.
E isso reforça meu discurso: a família tem que estar caminhando junto com os educadores. Vamos educar o emocional de nossas crianças dando-lhes condições de um autocontrole emocional. Estamos, com isso, dando a elas a oportunidade de crescer se preparando para a vida.

Referência: Goleman, Daniel. Inteligência Emocional – A teoria revolucionaria que redefine o que é ser inteligente. Ed. Objetiva. 10ª edição. 1996. RJ.

Um retrato da educação brasileira



       A educação, expressa na escolarização como sua forma mais importante de atuação na formação e no desenvolvimento pessoal e no preparo para o exercício critico da cidadania e capacitação para postos de trabalho, é motivo para muita preocupação de nossos governantes. É ela também fator de promoção social e fundamental para o desenvolvimento tecnológico e econômico de um povo. Sem educação, não há desenvolvimento, oportunidade e segurança social. 
      Em nosso país, a educação é parte integrante das políticas sociais, regulamentada pela Constituição Federal de 1988 e, por isso, absorve grande quantidade de verbas públicas em todas as esferas. Investimentos mais  específicos e políticas educacionais direcionadas têm surtido melhores resultados, notadamente oportunizando o acesso ao ensino superior a retratos sociais até então marginalizados e até mesmo excluídos. Esses acessos são possibilitados por programas de financiamento do ensino superior em faculdades e universidades privadas. Mas, ainda há muito o que se fazer e os números mostram isso. 
       O IPEAL (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) realizou em 2009 uma pesquisa nacional através do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) evidenciando indicadores em nossa educação, que realmente nos obrigam a focar a educação brasileira, como uma questão de grande importância para o nosso país. Eu diria até a de maior!
    Os números levantados nos revelam que há no Brasil uma baixa escolaridade: o brasileiro em média estuda pouco e temos ainda o analfabetismo. A população de brasileiros de 15 anos ou mais idade atingiu, em 2009, cerca de 7,5 anos de estudo. No Sudeste, temos uma média de 8,2 anos; no Nordeste de 6,3 anos, índice abaixo do nacional. A escolarização mínima estabelecida pela Constituição Federal é de 08 anos de estudos. 
       Nessa pesquisa, observou-se também que a população brasileira com mais de 40 anos tem em média 6,2 anos de estudos, contra 9,4 anos de estudos entre os brasileiros de 25 a 29 anos. Os mais pobres têm, em média, 5,5 anos de estudo, contra 10,7 anos dos mais ricos. A renda torna-se aqui determinante para uma boa escolarização. Não será por isso que o governo atua mais com políticas de acesso ao ensino superior para os mais pobres? Não seria por isso que se discute a possibilidade do Ensino superior público ser apenas de alunos que estudaram a vida toda em escolas da rede pública?
        O hiato educacional para que a população brasileira atinja a meta de 08 anos de escolaridade prevista na Constituição Federal é ainda muito grande, principalmente nas faixas  etárias mais elevadas. Por isso, a necessidade de investimentos nos programas de escolarização de jovens e adultos, como o EJA (Programa de Educação de Jovens e Adultos). É preciso acelerar o crescimento da escolaridade média dos brasileiros para encurtar esse hiato educacional.
        Outro problema enorme apresentado na pesquisa é a elevada taxa de analfabetismo, embora desde o começo dos anos de 1990 ela venha caindo. Ainda assim, temos 14 milhões de analfabetos, sendo o Nordeste a região que apresenta maior queda: de 32,7% de analfabetos em 1992, para 18,7% em 2009, quando foi realizada a pesquisa. Mesmo assim, a região Nordeste ainda concentra 53% do total de analfabetos no Brasil, sendo 90% deles na faixa etária de 25 anos ou mais. Por isso ratifico minha fala: temos que melhorar e muito a educação em nosso país. É preciso investimentos e políticas sérias, com gestão competente, para fazermos cumprir a meta da Constituição Federal.

Referência:
Comunicado do IPEA (Instituto de pesquisa econômica aplicada) nº 66, de 18 de novembro de 2010. Gov. Federal.

Você tem um filho ou filha favorito?



A maioria dos pais já respondeu à seguinte pergunta: “Qual é o seu filho favorito?” Já ou não? A maioria afirma que todos os filhos são iguais e que não existe distinção no tratamento. Será que não há mesmo predileção por alguém? Veja bem, isso acontece e temos que cuidar para que a predileção por algum não signifique a rejeição de outros, pelo menos na forma como os outros podem encarar essa preferência do pai ou da mãe por um de seus irmãos.
Digo isso, pois, como sabem, tenho vários filhos e sou um dos quatro filhos de um casal que formou uma família. A mim, sempre pareceu muito claro que meu pai preferia minha irmã mais velha e minha mãe, meu irmão mais novo. Em casa, com meus filhos, tento não demonstrar preferência, mas tenho consciência de que ela se dá até mesmo por afinidade de gênio.
       A psicóloga norte-americana Ellen Libby, que lançou o livro “The favorite Child” (A Criança Favorita), defende em sua obra que, se não aceitamos a predileção por algum filho e não lidamos bem com isso, podemos, sim, criar recalque nos outros. “Ter um filho favorito não é violação de um código moral. Um pai não é igual a uma mãe, assim um filho não é igual a outro” (Libby). Não se trata de amor. Não deixaremos de amar alguns filhos por termos predileção por um. Agora, é preciso muito cuidado na relação que os pais estabelecem com os filhos prediletos. Há risco de impactos negativos na criação do “filhos preferidos”. Filhos preferidos costumam achar que tudo podem e que estão acima das regras.
       A psicóloga brasileira Ida Bechelli, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), afirma: “Os filhos não favoritos ou se intimidam ou passam a tentar imitar o outro, ou seja, eles acabam deixando de ser eles mesmos”. Por isso escrevo esse ensaio. A ideia é provocar uma saudável discussão. Ao não protegermos os filhos do natural favoritismo por um, não estamos instalando um problema em casa? Pois é... tenho pensado e estudado tudo isso. Como pai, para proteger os demais filhos que tanto amo; como educador, para entender melhor as consequências da relação pais e filhos e seus reflexos na escola.
        O assunto é tão atual e importante que a revista Época, na edição de 03 de outubro de 2011, trouxe a matéria intitulada: “Quem é o queridinho do papai?” em que outros estudiosos no assunto foram citados, como o norte-americano Jeffrey Klugger e Laurice Kramer da universidade de Illinois. É isso, o assunto é tema de estudo em todo o mundo e a matéria discorre sobre o assunto, suscitando nos leitores boas reflexões sobre a questão. Para a socióloga Ioga Ingrid Connidis, na vida real é preciso aceitar as diferenças e entendê-las. “Não se ama menos, ama-se diferente”.
Assim, não vamos nos permitir sentir dor na consciência por termos afinidade maior com um filho ou filha. Mas precisamos garantir a nós mesmos e a eles que não vamos, por isso, preterir os demais na entrega e no carinho, pois eles podem se ressentir, sem conseguir identificar (e verbalizar!) o motivo de sua dor. No mundo do emocional devemos estar atentos a todos os sinais que vêm de nossas crianças e também, e principalmente, devemos nos manter atentos aos nossos atos diários na relação pais e filhos. Que Deus nos ilumine!


Referência:
 LIBBY, Ellen Weber – The Favorite Child – Título original. Kindle Editora – EUA. 
 BECHELI, Ida. Psicóloga. Departamento de Pediatria, UNIFESP – São Paulo. 
 Revista Época. Edição de 3 de outubro de 2011, p. 96 a 99.