quarta-feira, 29 de agosto de 2012

As relações dinâmicas inconscientes entre pais e filhos


 

Recentemente, li um livro do psicanalista Maud Mannoni e muito me interessaram as considerações feitas acerca da importância fundamental do bom relacionamento entre pais e filhos para o bom desenvolvimento das crianças e, também, para a sua vida de adulto. É interessante e muito importante termos a consciência de que os filhos refletem a insatisfação e a infelicidade dos pais. É a criança e o adolescente que suportam inconscientemente o peso das tensões e interferência da dinâmica emocional dos pais. Assim, seria como dizer que crianças e adolescentes são porta-vozes de seus pais.

As crianças e os adolescentes são as respostas às inquietações dos pais, podendo até, em situações de ambiente conflituoso no lar, desenvolverem problemas psicossomáticos e, claro, baixo rendimento escolar. Tudo isso é sim produto do emocional da criança e que, não cuidado, é carregado até á vida adulta, mergulhando o sujeito em um mundo interior conflituoso, com reflexos na vida sentimental, profissional e tudo o mais. Como o que desejamos é a felicidade de todos, bem como um desenvolvimento sadio para as nossas crianças, quais são, portanto, as condições necessárias e suficientes no meio em que vivem as nossas crianças?

Para que elas vivam em um ambiente emocionalmente seguro, é necessário que tenhamos assumido com fé o nosso papel emocional e educativo. Os pais têm que mostrar afeição aos filhos, transferir a eles confiança e educá-los para a vida. As crianças necessitam de apoio de adultos resolvidos e conscientes, para que possam crescer felizes e seguras. Importante colocar aqui que o papel de pai, desempenhado por um pai, e o de mãe, desempenhado pela mãe é fundamental. Mães que fazem o papel de pai e pais que assumem o de mãe devem ficar atentos para ter certeza de que  não estão se omitindo de cumprir todas as responsabilidades  que cabem a cada um.  A presença efetiva de adultos bem resolvidos, atuando como pai e mãe da criança, gera a segurança necessária para que ela se torne um adulto autônomo, seguro, responsável, assertivo. E isso independe de ele ser ou não pai e mãe biológico.

Um dia desses, em uma postagem no Facebook, um amigo que é especialista na área postou esta mensagem, que mexeu muito comigo, o que me levou a querer  compartilhá-la com vocês: “Crianças difíceis, crianças alienadas, crianças em perigo moral, crianças rebeldes a qualquer tratamento médico, quem são vocês, quem são seus pais?” (Maud Mannoni)

Deixo, aqui, esse questionamento para que possamos avaliar o impacto de nossa existência na vida de nossas crianças. Temos que estar atentos e é por isso que eu como pai, amigo e educador me dirijo a vocês. Vamos olhar com muito cuidado para as nossas crianças e procurar sempre em nossa relação com elas passar sempre a certeza de que a amamos, conscientes de que somos referência positiva para elas. 

 

Continuamos juntos nesta caminhada em busca da educação plena.

 

Bibliografia: Mannoni, Maud. A primeira entrevista em psicanálise, 2ª edição. Ed campus, RJ. 2004.

AGRESSÃO: BRIGAS E MORDIDAS, o que os pais devem fazer?



Aproximadamente aos 3 anos de idade, as crianças são surpreendidas por sentimentos agressivos. Tal comportamento irá se instalar nelas, de acordo com a história de vida e também da dinâmica familiar. O grau de agressividade das crianças nessa faixa etária será diretamente proporcional ao grau de atenção e cuidado que ela está recebendo em casa. Esse comportamento agressivo pode ser, para nós, bastante perturbador, pois carrega um pesado preço que está na angústia que a própria agressividade da criança provoca em todos.

O objetivo maior de nossa reflexão é o seguinte: como os pais podem ajudar o filho a enfrentar seus próprios sentimentos agressivos com menos medo, em preparação para a eventual tarefa de aprender a lidar com eles? A resposta está em uma só atitude: acolher a criança agressiva com afeto e fazê-la refletir sobre o seu ato, conduzindo-a a pedir desculpas. No entanto, mais do que isso, ela precisa reconhecer que errou com segurança. Isto quer  dizer que a criança agressora deve ser orientada a se desculpar e a reconhecer que errou, sem que isso gere medo ou insegurança.

Nessa faixa etária, se a criança se sentir insegura e temer um castigo, por exemplo, ela poderá não querer refletir ou assumir o próprio erro. Portanto, fazem-se necessários pedagogia e carinho. Uma criança agressiva que se sente rejeitada pelo fato de ter mordido, empurrado ou batido no irmão ou no amigo certamente corre o risco de sentir-se realmente má. A criança está pronta para conviver bem com o sentimento de culpa? Essa é a questão!A criança deve ser conscientizada de suas ações e das consequências, mas se for arrasada, não aprenderá. Ao contrário, ela será forçada a proteger-se contra a dor de se sentir culpada e, para isso, eternizará a ideia de que é má mesmo. Pronto, instalou-se aí o “Mau Comportamento”.

Morder e bater pode ser um comportamento criado de propósito no inconsciente. A criança agressiva pode ficar fascinada pelo fato de que todos estão nervosos e ocupados em resolver o problema com a  ofendida. Assim, ações violentas dos pais ou cuidadores podem apenas reforçar na criança a necessidade de repetir esse comportamento.

O melhor é usar uma técnica muito boa: oferecer à criança uma boneca ou carrinho para ela morder quando “sentir vontade”. Agora o ideal será oferecer o brinquedo que a criança mais ama. Aí é que eu quero ver... Será que não irá se controlar, até mudar esse comportamento? Tenha certeza que sim. Falar com energia e disciplinar está correto, mas deixá-la isolada no castigo não resolve. É preciso ajudá-la, pegá-la no colo e confortá-la, para, então, orientá-la com firmeza, sem agressividade.

Disciplina significa ensinar. Não é a mesma coisa de punição e não podemos confundir. A disciplina visa a um objetivo importante que é a autodisciplina. A criança só atingirá a autodisciplina se ela aprender a se controlar. Aprende-se com carinho, com orientação e com exemplos. Como eu disse no início deste ensaio, pais agressivos ensinam com exemplo. O ambiente familiar tem que ser tranquilo para que as crianças sintam-se seguras e acolhidas. Mais do que isso, a criança necessita de afeto, de ser ouvida e integrada à família. Os pais têm que dar atenção, pois o contrário leva as crianças a buscarem formas de serem notadas. Chamarão a atenção dos pais, mesmo que, para isso, tenham que morder, chutar, empurrar e bater em alguém.

Lembrem-se sempre de que estamos juntos. A Escola é a extensão de seu lar. Procurem orientação de nossas educadoras. Estamos preparados para orientá-los e ajudá-los com muita dedicação e competência.



Bibliografica:

Brazelton, T. BERRY. 3 a 6 anos – Momentos decisivos do desenvolvimento infantil. Ed. Arimed, Porto Alegre. 2003.


A escolarização do brasileiro vai muito mal.


O Instituto Paulo Montenegro e a Organização Não Governamental (ONG) Ação Educativa divulgaram os dados obtidos em uma pesquisa nacional INAF (Indicador do Analfabetismo Funcional), realizado em 2011 – 2012. Esse  trabalho teve por objetivo avaliar o real nível de escolarização do povo brasileiro e, principalmente, analisar se há correspondência entre o nível de escolaridade do cidadão e a série final que teria ele cursado e completado na escola.
Segundo revelaram os dados dessa pesquisa, pasmem, apenas 26% da população pode ser considerada plenamente alfabetizada. Isto é, só esse pequeno percentual consegue fazer a leitura compreensiva de um texto, entendendo  a mensagem ali contida. Só 26% dos brasileiros conseguem analisar o que está lendo. Esse estudo também revelou que apenas 35% das pessoas com Ensino Médio completo podem ser consideradas plenamente alfabetizadas. Pior, constatou-se que 38% dos brasileiros com formação superior tem nível insuficiente de leitura e de escrita. É o caos.
Com a avaliação aplicada, a pesquisa classificou o nível dos pesquisados da seguinte forma: analfabetos, alfabetizados em nível rudimentar, alfabetizados em nível básico e plenamente alfabetizados. Em pleno século XXI, inacreditavelmente o Brasil ainda tem 27% de analfabetos funcionais, que são aqueles que escrevem, mas pouco entendem e erram muito, muito mesmo. E  47% de nossa  população apresenta um nível de alfabetização básico.
Embora esses  índices sejam assustadores, analisando-se os resultados obtidos, constata-se que os números melhoraram desde 2001, quando se iniciou o trabalho de aferir esses dados. A pesquisa também revelou um dado bastante interessante: existe  uma estreita ligação entre a renda do indivíduo e sua escolarização. Outro dado significativo revelado nesse estudo é o fato de os brasileiros de baixa renda terem tido mais acesso à escola. Isso, no entanto,  não significou ganho real na qualidade de sua escolarização, o que comprova que estamos oferecendo escola pública de baixa escolaridade. 

Vamos atentar a isto! Não podemos nos deixar enganar. Precisamos, e muito, de mudar a nossa visão sobre a escola e o modelo educacional brasileiro. Acredito que as políticas educacionais públicas estão equivocadas e se faz necessário revisão imediata de nossas práticas pedagógicas. Para tanto, exige-se de todos comprometimento político.
Não podemos mais suportar tantos índices ruins. Precisamos de resultados de qualidade que coloquem o país em destaque mundial e deem sustentação ao impulso econômico que estamos tendo. Sem uma população educada, preparada, certamente não teremos bons resultados econômicos. O capital internacional exige um mercado capaz de oferecer mão-de-obra capacitada para produzir e consumidores com poder de compra assegurada. E como poderemos  consolidar isso, sem educação? Temos que mudar, e já!
 
 

Os impactos das mídias sociais na educação



As redes sociais vieram para ficar. O Facebook,  por exemplo, conta com mais de 800 milhões de usuários em todo o mundo, sem contarmos as demais redes como Twitter, Youtube, Orkut, Myspace e milhões de blogs espalhados pela internet. Toda essa movimentação arrasta todos nós que desejamos estar conectados com o mundo e certamente envolve também os nossos alunos.
Não é surpresa mais vermos crianças com 6 anos tendo acesso a essas redes e se relacionando no mundo virtual da internet. Claro que toda essa novidade traz pontos negativos e pontos positivos. Neste ensaio, buscaremos destacar alguns desses aspectos, para que nós, pais e educadores,  possamos estar atentos aos impactos desses ambientes virtuais na vida de nossas crianças.
Observemos alguns pontos negativos para quem não sabe usar devidamente essas ferramentas:
  1. Tomar como verdade absoluta o que está postado na web pode atrapalhar o aprendizado das crianças. Há sites e postagens que não são de confiança. O veículo aceita tudo e não filtra as informações que divulga; 
  2. O acesso às redes sociais durante o estudo, por exemplo, pode causar distração e prejudicar o desempenho acadêmico dos alunos; 
  3. Não podemos deixar crianças e jovens ficarem muito tempo conectados na rede. Eles precisam de interação social real: brincar, conversar, praticar esporte etc.  Somos seres sociais e, por isso, devemos manter um  bom relacionamento social com as outras pessoas. E isso não é possível se utilizamos todo o nosso tempo disponível nessas redes sociais; 
  4. A velocidade do mundo on-line criou novas maneiras de escrever e falar. Por isso, nesses ambientes, utiliza-se comumente uma outra linguagem. É preciso ter cuidado para não  nos prendermos apenas a essa forma de se comunicar. A  norma culta da Língua Portuguesa precisa ser respeitada!  E é ela que deve ser usada nos textos escolares e em outras situações formais; 
  5. Nas redes, há uma exposição pública. Muitos estudantes não pensam antes de postar alguns conteúdos não devidos. Resultado: um novo conflito, um novo problema para as famílias e para a escola.

Mas  há, também, muitos aspectos  positivos  que precisam ser considerados... 

  1. As mídias sociais aumentam a interatividade e desenvolvem o pensamento rápido;
  2. Estimulam crianças e jovens a conviverem com situações do mundo real. Tomemos como exemplo a situação de “rede-de-contato”, que ajuda a projeção e possibilita negócios;
  3. Crianças e jovens convivem com tecnologia, que é a linguagem do mundo contemporâneo. Estão mais rápidos e ativos do que crianças e jovens de ontem;
  4. A construção e a desconstrução do perfil tornaram-se especialidades dos jovens. Essa flexibilidade é uma adaptação ao mundo de hoje. Eles controlam o que querem ou não. Deixam de ser passivos e adaptam-se aos diferentes cenários com mais facilidade;
  5. A internet é a porta da criatividade, permitindo a todos expressão e visibilidade.

     Viram só? O mundo virtual está aí e não iremos parar isso. O que precisamos é conhecer esse mundo, interagir com nossos filhos na mesma rede, compartilhar das mesmas amizades e acompanhar o mundo web. Ficar de fora não ajuda. Temos que evoluir. Bloquear os filhos não é educativo, pois não conseguiremos bloquear o mundo. Você tem que se atualizar.
     Por falar nisso, já tem seu perfil no facebook? Conhece as mídias que seu filho(a) utiliza? Tem o seu notebook ou tablet? Precisamos de acompanhar. Pense nisso!

Fonte: “The 10 best and worst ways social media impacts education”.

Seu filho não é obediente?



Tem sido cada vez mais comum escutarmos pais reclamando que os filhos não obedecem a eles. A reclamação é sempre a mesma: eles não escutam quando peço algo; não fazem o que pedimos;  não querem se deitar na hora que determinamos; brigam constantemente com os irmãos;  não estão  estudando...
As queixas são várias, mas retomam sempre a um mesmo ponto: crianças e adolescentes não estão reconhecendo a  autoridade dos pais ou responsáveis. Infelizmente, na  tentativa de evitar conflito, os adultos  muitas vezes cedem,  e  os filhos dominam o cenário familiar. Sem nenhum constrangimento, os pais tornam-se reféns da desobediência dos filhos.
Recentemente, em um atendimento, um pai me fez uma pergunta que despertou minha atenção: A criança desobediente nasce assim ou aprende a ser assim? Acho engraçado o fato de muitos pais acharem que a desobediência é uma característica que a criança teria herdado de alguém da família. Alguns pensam que é questão de sorte e invejam os filhos do vizinho.
Seu filho não nasce obediente ou desobediente. Aprende a sê-lo em função dos estímulos que você lhe dá e de como reage diante o seu comportamento. Ainda que por temperamento haja crianças mais inquietas do que outras, hoje está claro que a influência de fatos genéticos é pouco relevante no caso das virtudes humanas. A desobediência é um aspecto comportamental e,  por isso mesmo,  se aprende.
Achar “engraçadinho” a desobediência da criança apenas reforça nela a ideia de  que quanto mais  ela desobedecer, melhor será para ela. Assim, não sejamos brandos. A escassa exigência e a falta de disciplina é que tem levado as crianças à não obedecerem.
Não estou aqui colocando em dúvida a boa vontade dos pais em educar os filhos. O problema está na estratégia adotada. Educar não é ciência infusa que não requer aprendizagem. A disciplina e a autoridade são necessárias para o equilíbrio psicológico da criança, pois ajudam na aquisição da confiança, na segurança e na estabilidade.
Às vezes, temos incentivado nosso filho a continuar desobediente. Quando erram, não aplicamos o castigo devido ou nos esquecemos  de cumprir o que lhes prometemos; esquecemos que as pequenas responsabilidades ajudam na formação do caráter e  não damos  a eles o compromisso de manter o quarto organizado;  não somos exigentes nos estudos e aceitamos as desculpas quando os resultados deveriam ser mais positivos.
Como educador, já vi muitos  pais irem às escolas  para questionar as medidas disciplinares a que o filho foi submetido por ter desrespeitado as regras da instituição. Em nossos atendimentos, já nos deparamos com muitas famílias que, mesmo sabendo que  a punição adotada pela escola  estava sendo coerente com  a infração cometida,  alegavam que não sabiam   como iriam dizer ao filho que ele não poderia participar mais dessa ou daquela atividade. 
Como educador e psicanalista em formação,  identifiquei-me muito com as ideias da Drª. Teresa Gonzáles, autora do livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos”.    Como muitos psicólogos do mundo e do Brasil, ela também não defende o “modelo libertino” de criar os filhos e reforça que temos sim que ensiná-los a obedecer. Dessa forma,  no futuro, eles nos agradecerão  e os problemas familiares serão muito mais amenos.
Assim, não vamos ser econômicos no amor e na disciplina. E  não tenhamos  medo de exercer nossa autoridade de pais.  Isso é tudo de que nossos filhos  necessitam para crescerem seguros e felizes. Sejamos pais amorosos, mas firmes e seguros a ponto de servirmos  como modelos, com a certeza de que, em um ambiente de carinho e exigência na medida certa, as crianças crescem mais seguras e felizes.
Se quiserem conhecer mais sobre o assunto, sugiro a leitura do livro “Como resolver situações cotidianas de seus filhos de 6 a 12 anos”, escrito por Teresa Artola Gonzáles. Ela é doutora em Psicologia pela Universidade Complutense de Madri e  mestre  em Educação Familiar pelo E.I.E.S (Educational Institute of Educational Sciences).