Recentemente
estava a lembrar de minha infância. Olhando meus filhos brincarem no jardim, eu
me reportei aos tempos em que também brincava com meus irmãos. Como era bom! As
brincadeiras pareciam intermináveis! E como éramos felizes! Na minha infância,
tudo era muito bom e a vida era muito simples. Jogar bola, soltar pipa, brincar
de pique, de chimbra, de cabaninha. Rodar pneus, arco etc. Como brincávamos! A
rua era o nosso quintal. Hoje, não é mais assim. A violência, a insegurança, o
trânsito, o crescimento desordenado de nossas cidades, tudo isso transformou as
crianças de hoje em “prisioneiras” em seus apartamentos.
O que tenho
observado mais são crianças com nível elevado de estresse e querendo brincar.
Também, com uma agenda de adulto e compromissos de responsabilidade, o que as
crianças menos fazem hoje é achar tempo para brincar. Sinceramente, a pressão é
grande. Somam-se, aos compromissos da escola, o curso de inglês, o esporte
especializado e de resultado e, em muitos casos, o apoio de psicopedagogos ou
psicólogos. Há, ainda, o tempo de deslocamento de local para local. Quando
chegam em casa, ainda têm tarefa escolar para cumprir.
Sei como é isso. Na
minha casa não é diferente. Mas, onde está o tempo para a diversão e o
relaxamento? Resolvi resgatar isso para os meus filhos e reorganizei a rotina
deles. Dei prioridade ao que de fato é importante, deixando de lado “os
modismos.” Incentivei “o brincar” mais
livre e descompromissado. Ensinei a agrupar amigos e a resgatar a infância.
Hoje, quando vejo
crianças teclando um dispositivo digital sem limites, ou embebecidos na frente
de um computador, imagino logo que há algo de problemático se instalando ali,
no psiquê daqueles meninos. Crianças que optam por teclar e não brincar não
estão dizendo para mim que estão conectados ou são contemporâneas. Estão
sinalizando que querem ajuda. E sabe qual ajuda? A ajuda que lhes permita ser
criança, brincar como criança e ser amada como tal.
Não se acostume à
ideia de que as crianças são todas assim. Serão assim, se nós deixarmos que
sejam. Saibam que estão fixadas na “altura contemporânea”, porque estão sendo
engolidas pela influência midiática e pela falta de tempo que nós, pais, temos dedicados
a elas. Se estivéssemos dando atenção às nossas crianças, elas estariam
entediadas nas redes sociais e jogos eletrônicos? Se não quiséssemos que eles
fossem fluentes em inglês ou campeões do mundo, talvez eles pudessem brincar
mais e, com certeza, ser mais felizes.
Vamos nos
organizar... Não quero que meus filhos não façam inglês e não pratiquem
esporte, escola de música, teatro, dança etc. Quero que façam tudo! Porém, o
que não quero mais é que estas escolham tirem deles a infância. A vida é longa
e haverá tempo para tudo. Nós não conseguimos chegar aqui? Eles chegarão
também. Deixe-os mais soltos para que possam brincar mais e serem mais felizes.
Outro
dia, atendia a um aluno, cuja queixa era: “quero brincar mais!”. Nesse
atendimento, levantei a rotina dele e, acredite, ele tinha mais compromissos
diários do que eu tenho. Sinceramente, não vejo o bem que isso possa causar a
uma criança. Portanto, vamos organizar a vida de nossas crianças de tal forma
que lhes sobrem tempo para brincadeiras gostosas.