segunda-feira, 7 de outubro de 2013

“A princípio estranha-se. Depois, entranha-se”


Foi lendo o livro Educação dos Sentidos, do grande educador Rubem Alves, que me deparei com uma história muito interessante. Conta Rubem Alves que a frase que tomo para o título deste ensaio é do poeta português Fernando Pessoa. O que mais me chamou a atenção é que o poeta cunhou essa frase nos anos de 1920, quando trabalhou em uma empresa de publicidade, para lançar a Coca-Cola em Portugal. É isso mesmo. Fernando Pessoa lançando o “marketing poético” para que o refrigerante tivesse aceitação em Portugal.
Mas, o que isso tem a ver? A mim, ficou a ideia da síntese dialética do choque entre o novo e o velho. A novidade tendo que vencer a antiguidade. Tomar a Coca-Cola primeiro provoca estranheza, mas logo a gente se acostuma e aí, então, entranha-se, “entra na gente”. Educação é assim também. Tudo que é novo, que foi aprendido, que nos surpreendeu e que, por isso, foi estranho, será absorvido e entranhará em nossas vidas. Quando refiro-me à educação, refiro-me às mudanças que ela traz (o novo constante) e as transformações que ela provoca em nossas mentes. Meu Deus! Como evoluímos, como mudamos, como um mundo novo se entranha em nós!
Por tudo isso é que nós, educadores, nos sentimos felizes. Nós sabemos, ou pelo menos buscamos saber, transformar o “estranha-se” em “entranha-se”. Fazemos isso sempre. A Escola, em sua essência, tem essa enorme faculdade. Sinto isso acontecer com toda a comunidade, inclusive com os familiares que nos acompanham e acompanham suas crianças e adolescentes. Vocês, pais e responsáveis, também são maravilhosamente atingidos pela força das mudanças. Diria até ”contaminados” pela pulsão das mudanças, só por acompanhar os filhos.
Outro dia, uma mãe me expressou isso com clareza. Ela disse: “Professor, estou aprendendo de novo e também muitas coisas novas, somente acompanhando meus dois filhos”. Que mágico! Absolutamente genial! O poder transformador da educação provocando mudanças e ampliando as nossas mentes. Essa metamorfose, o “estranhamento” se transformando em “entranhamento”, abre para todos nós possibilidades de conhecer e assimilar ideias novas, o que certamente provoca mudanças em nossa própria maneira de ver e perceber o mundo. E precisamos muito disso! Não podemos mais nos estranhar com o “novo”, pois, se assim fizermos sempre, estaremos criando os nossos filhos para um mundo irreal ou, quem sabe, afastando-nos de nossos filhos de tal maneira que chegará um dia em que não mais os teremos como amigos, companheiros e confidentes. Corremos o risco de perdermos os nossos filhos. Já pensou nisso?
Por isso tenho sido recorrente na ideia de que vocês, pais e responsáveis, têm um papel enorme na formação e também na felicidade de seus filhos. É minha tarefa como educador despertar em minha comunidade educacional o verdadeiro sentido da educação. Lançando-me novamente em Rubem Alves, eu digo que o verdadeiro sentido da educação é levar-nos a aprender a amar, a sonhar, a fazer nossos próprios caminhos, a descobrir novas formas de ver, de ouvir, de sentir, de perceber, a ousar, pensar diferente... e sermos cada vez mais nós mesmos, aceitando o desafio do novo. Entendendo como é extraordinário tudo isso, busco estar próximo de vocês com meus artigos de opinião na esperança de que aproveitem a reflexão e tenham certeza de que a educação que transforma, forma e transforma de novo seus filhos tem, também, ao mesmo tempo a força de transformar a vocês mesmos.
Nosso ano letivo caminha no seu 4º bimestre. Estamos dando início ao processo de encerramento, que sinaliza a passagem para uma nova etapa. Os alunos “passarão de ano” e certamente mais e mais novidades acontecerão. Estou para apostar que a dinâmica da educação é tão transformadora que ainda teremos muito o que ensinar e muito o que aprender nesse final de ano letivo. Nesse momento que estamos, sugiro que procurem estar mais presentes na vida de seus filhos. Procurem ouvi-los, orientá-los, motivá-los e depositem muita confiança neles. Eles estão em plena “metamorfose ambulante”, sem a velha opinião formada sobre tudo, como dizia Raul Seixas. Estão em “construção”, e nós, escola e família, somos os arquitetos responsáveis por toda essa obra. Por isso, tenho dito e jamais cansarei de dizer, que estamos juntos nessa missão maravilhosa que é educar.


3 comentários:

  1. Belíssimo texto! Parabéns! Se todos fossem iguais a você, se as famílias fossem como a sua... que maravilha viver!!!

    Amélia Araújo - Floresta, PE

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