Foi
lendo o livro Educação dos Sentidos,
do grande educador Rubem Alves, que me deparei com uma história muito
interessante. Conta Rubem Alves que a frase que tomo para o título deste ensaio
é do poeta português Fernando Pessoa. O que mais me chamou a atenção é que o
poeta cunhou essa frase nos anos de 1920, quando trabalhou em uma empresa de
publicidade, para lançar a Coca-Cola em Portugal. É isso mesmo. Fernando Pessoa
lançando o “marketing poético” para que o refrigerante tivesse aceitação em
Portugal.
Mas,
o que isso tem a ver? A mim, ficou a ideia da síntese dialética do choque entre
o novo e o velho. A novidade tendo que vencer a antiguidade. Tomar a Coca-Cola
primeiro provoca estranheza, mas logo a gente se acostuma e aí, então,
entranha-se, “entra na gente”. Educação é assim também. Tudo que é novo, que
foi aprendido, que nos surpreendeu e que, por isso, foi estranho, será
absorvido e entranhará em nossas vidas. Quando refiro-me à educação, refiro-me
às mudanças que ela traz (o novo constante) e as transformações que ela provoca
em nossas mentes. Meu Deus! Como evoluímos, como mudamos, como um mundo novo se
entranha em nós!
Por
tudo isso é que nós, educadores, nos sentimos felizes. Nós sabemos, ou pelo
menos buscamos saber, transformar o “estranha-se” em “entranha-se”. Fazemos
isso sempre. A Escola, em sua essência, tem essa enorme faculdade. Sinto isso
acontecer com toda a comunidade, inclusive com os familiares que nos acompanham
e acompanham suas crianças e adolescentes. Vocês, pais e responsáveis, também
são maravilhosamente atingidos pela força das mudanças. Diria até ”contaminados”
pela pulsão das mudanças, só por acompanhar os filhos.
Outro
dia, uma mãe me expressou isso com clareza. Ela disse: “Professor, estou
aprendendo de novo e também muitas coisas novas, somente acompanhando meus dois
filhos”. Que mágico! Absolutamente genial! O poder transformador da educação
provocando mudanças e ampliando as nossas mentes. Essa metamorfose, o “estranhamento”
se transformando em “entranhamento”, abre para todos nós possibilidades de
conhecer e assimilar ideias novas, o que certamente provoca mudanças em nossa
própria maneira de ver e perceber o mundo. E precisamos muito disso! Não
podemos mais nos estranhar com o “novo”, pois, se assim fizermos sempre,
estaremos criando os nossos filhos para um mundo irreal ou, quem sabe,
afastando-nos de nossos filhos de tal maneira que chegará um dia em que não
mais os teremos como amigos, companheiros e confidentes. Corremos o risco de
perdermos os nossos filhos. Já pensou nisso?
Por
isso tenho sido recorrente na ideia de que vocês, pais e responsáveis, têm um
papel enorme na formação e também na felicidade de seus filhos. É minha tarefa
como educador despertar em minha comunidade educacional o verdadeiro sentido da
educação. Lançando-me novamente em Rubem Alves, eu digo que o verdadeiro
sentido da educação é levar-nos a aprender a amar, a sonhar, a fazer nossos
próprios caminhos, a descobrir novas formas de ver, de ouvir, de sentir, de
perceber, a ousar, pensar diferente... e sermos cada vez mais nós mesmos,
aceitando o desafio do novo. Entendendo como é extraordinário tudo isso, busco
estar próximo de vocês com meus artigos de opinião na esperança de que aproveitem
a reflexão e tenham certeza de que a educação que transforma, forma e
transforma de novo seus filhos tem, também, ao mesmo tempo a força de
transformar a vocês mesmos.
Nosso
ano letivo caminha no seu 4º bimestre. Estamos dando início ao processo de
encerramento, que sinaliza a passagem para uma nova etapa. Os alunos “passarão
de ano” e certamente mais e mais novidades acontecerão. Estou para apostar que
a dinâmica da educação é tão transformadora que ainda teremos muito o que ensinar
e muito o que aprender nesse final de ano letivo. Nesse momento que estamos, sugiro
que procurem estar mais presentes na vida de seus filhos. Procurem ouvi-los,
orientá-los, motivá-los e depositem muita confiança neles. Eles estão em plena
“metamorfose ambulante”, sem a velha opinião formada sobre tudo, como dizia
Raul Seixas. Estão em “construção”, e nós, escola e família, somos os
arquitetos responsáveis por toda essa obra. Por isso, tenho dito e jamais
cansarei de dizer, que estamos juntos nessa missão maravilhosa que é educar.
Belíssimo texto! Parabéns! Se todos fossem iguais a você, se as famílias fossem como a sua... que maravilha viver!!!
ResponderExcluirAmélia Araújo - Floresta, PE
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirMuito obrigado pelas suas lindas palavras.
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