terça-feira, 1 de março de 2016

A análise do desenho infantil sob a perspectiva Psicanalítica


“O desenho fala do sujeito, da sua objetividade, da sua posição frente ao mundo”.
                  
               
Em psicanálise, o desenho infantil ou mesmo do adolescente está relacionado ao conceito de projeção. Se eu tomo como análise o adulto infantilizado em suas neuroses do passado (infância), também é possível ler nos seus desenhos uma projeção. Aqui, o conceito psicanalítico trata a projeção como sendo uma operação pela qual o sujeito expulsa de si e localiza no outro (pessoa ou coisa) qualidades, sentimentos, desejos e mesmo objetos, que ele desdenha ou recusa em si. Esse mesmo processo é o que rege os sonhos, o animismo, o pensamento mágico, bem como a produção artística através do mecanismo de deslocamento.
O desenho torna-se propício à projeção, pois o sujeito é livre para dizer ou fazer o que quiser, o que o “condena” a revelar o seu desejo. Aquilo que desconhece em si. Projeta as suas próprias falhas, como o racismo, o isolamento, o ódio, o Édipo não castrado etc. De outra forma, a projeção sempre aparece como “obscuro conhecimento” que o indivíduo tem de si. No desenho, na arte, o indivíduo consegue apresentar suas angustias sem que tenha que verbalizá-las. Na verdade, temos nos desenhos a percepção consciente e inconsciente do sujeito em relação a si mesmo e as pessoas significativas do seu ambiente. Denuncia a sua forma de agir, atuar e se posicionar frente ao mundo. Também é nos desenhos que o indivíduo (sujeito na visão psicanalítica) expõe os seus conflitos e sentimentos inconscientes. Certamente refiro-me, como já acentuei, que o sujeito expressa em desenhos, o que não consegue expressar em palavras, mesmo que conscientes. Cabe ressaltar que também através do desenho, o sujeito expressa a sua auto-imagem idealizada ou realista de si mesmo, assim como a sexualidade e o “stress situacional”.
Claro que há limite na análise do desenho. Os aspectos a serem analisados não devem ser vistos isoladamente, e sim em conjunto, e não devem seguir “receita”, para não existir o equívoco. Temos que considerar a história do sujeito e, principalmente, o que ele fala de si mesmo. Por isso, uma boa entrevista é fundamental. Claro que as interpretações são hipóteses e devem ser constatadas com o máximo de informações acerca da rotina e vida do analisado. Outro cuidado importante é evitar que o analisando confunda-se com o analisado, respeitar o contexto cultural do mesmo e evitar generalizações, pois cada produção é única.
Os desenhos realizados nos permitem conhecer as fases do desenvolvimento das crianças. Nos traz informações sobre o seu cognitivo, o seu desenvolvimento psicomotor e sócio-afetivo. Nos apresenta o nível de percepção visual do analisando, a sua criatividade e suas possíveis psicopatologias. Tudo deve ser analisado como tamanho do desenho, a pressão nos traços do desenho, os detalhes e os movimentos. É importante observar a preocupação com a correção e o retoque, o sombreamento e as estereotipias. Tudo tem um significado real. A localização do desenho na folha que está sendo utilizada, o eixo da página e as cores. O colorido a opção pelas cores já tem em si um forte significado e uma denúncia silenciosa do sujeito. No caso da figura humana, a oportunidade de analisarmos a percepção que o sujeito tem dele é muito grande, principalmente quando o sujeito desenha a auto-imagem. Ele se coloca diante do papel, da mesma forma que se coloca diante a vida. Há emoções variadas e associadas ao processo de subjetivação.
Como acentuei acima, o uso da cor refere-se à vida emocional e afetiva do sujeito (empatia, tensão, conflito, harmonia etc) do sujeito. Pessoas psicologicamente mais equilibradas atiram-se com menos resistência e mais profundidade no emprego das cores. As cores tem um significado especial e o emprego de cada uma das cores básicas tem a sua própria interpretação. Quando solicitamos o desenho da família do sujeito estamos oportunizando o conhecimento do meio familiar. O que vê nesse meio, como se sente e como é acolhido. Nos permite analisar a relação do indivíduo com as figuras parentais.
Ao desenhar, a criança elabora o seu pensamento, faz a leitura de seu mundo e ainda se denuncia ao mundo. Precisamos deixar que o desenho fale pela criança, que seja a sua denúncia. Nós educadores temos que ver no desenho a necessidade de cada criança. Para o Psicanalista, o desenho é a forma inconsciente que o analisando tem de falar ao mundo de suas alegrias, frustrações, angústias, desejos e necessidades emocionais. O desenho deve ser então visto como a possibilidade de falar, de registrar o desenvolvimento da infância e suas demandas psíquicas. Deve ser encarada também como sendo uma fonte de análise do momento da criança.
Durante a produção do desenho, a criança deve estar recolhida a um ambiente tranqüilo, onde a mesma se sinta à vontade. Não deverá ser interrompida e não sofrer qualquer interferência externa. É o momento de absoluta introspecção e reflexão do eu.


Bibliografia:
  1. Di Leo. A interpretação do desenho infantil. Porto Alegre. Ed. Artes Médicas, 1985.
  2. Campos, Dinah Martins de Souza. O Teste do Desenho como Instrumento de Diagnóstico da Personalidade. Petrópolis – Ed. Vozes, 2000.
Imagem de:  https://www.historiadasartes.com/sala-dos-professores/entendendo-o-desenho-infantil/

Um comentário:

  1. Oi! Pelo menos coloca os créditos na imagem! No caso, o desenho é meu, né!

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