sexta-feira, 1 de julho de 2011

A “Desconstrução” do Professor e a Construção do Educador

“Educação é, sobretudo, formar a autonomia crítica e criativa do sujeito histórico competente”. (Pedro Demo)


      Muitos educadores iniciam sua carreira sem conhecer exatamente a dimensão de seu papel, a importância política de seu trabalho e os desafios que o aguardam. Muitos, principalmente na Educação Infantil e nas séries inicias, começam o trabalho de educador como Assistentes de Ensino, ganhando assim alguma experiência. Mas a maioria assume uma classe ou uma disciplina sem experiência concreta em relação à ação, para ensinar e educar. O resultado disso é que o professor iniciante na carreira acaba revelando uma fragilidade que na maioria dos casos se dá em plena formação. Aquele que cursa uma Faculdade que o licenciará para a prática do magistério tem, na estrutura do curso, uma preocupação maior com a formação de um Literato, um Historiador, um Geógrafo, etc, do que um educador. Necessitamos de Educadores com conhecimentos específicos e universais e não um Professor capaz apenas de prover o aluno de um conhecimento acadêmico e técnico.
     “Desconstruir” o professor é, na essência, tirar do educador o foco exclusivo da informação (teoria e academicismo). Construir o educador é dotar o professor do compromisso político de formador e transformador. É fazê-lo ator principal, estrelando no papel de ensinar e formar o ser humano. Para tanto, faz-se necessário que o educador desenvolva uma visão ética e política de sua ação, tomando consciência de que o educador educa não só com palavras dirigidas, mas com exemplos, posturas, gestos e ações de cidadania.
    A revisão de nossos papéis como educadores semeia em nós a inquietação. De imediato nos armamos de defesa e apontamos todas as deficiências do Sistema Educacional e o pouco envolvimento de nossos alunos. Criticamos a instituição de que fazemos parte e quase nunca nos colocamos em situação de auto-crítica. A verdade é que o professor está tão comprometido com o ato de “dar aulas” que não consegue imaginar que o papel de educador transcende a essa condição. É preciso que o professor assuma o papel de educador e rompa o lugar comum de quem dá aulas. Ele tem é que Ensinar, na amplitude do significado do termo. O diálogo interior é, com certeza, o principal elemento para que o educador se construa, a partir da ”desconstrução” do “dadador de aulas”.
      Após essa caminhada interior e essa reflexão sobre o verdadeiro papel do professor, é que teremos a construção do educador. O professor irá então transformar-se em formador, absorvendo a idéia de que necessita se reformular como  educador, compreendendo que ao ensinar, também aprende e, ao aprender, consegue ensinar ainda melhor. Assim a base do compromisso do educador é o “objetivo” e não somente a “matéria”. “Dar o programa”, “cumprir a matéria” deve ser apenas parte do compromisso do educador e não o todo. Cumprir o conteúdo é importante, na mesma proporção que importante é a ação do “formador de gente”. Dessa forma, o professor deixa de ter somente a “função técnica instrucional” e passa a ter a função política de formar pessoas como ser integral, total. Assim o docente se refaz enquanto educador. É na reconstrução de seu verdadeiro papel que o professor deixará de lado sua versão coisificada de instrutor e passará a assumir o novo papel de conscientizador, do formador de opinião, do orientador de alunos capazes de enfrentar a realidade da vida.
      Neste momento de nossa reflexão, é preciso reconhecer que a escola, enquanto instituição de ensino, está moldada no Sistema Educacional criado no País e  que o mesmo não permitiu a construção de uma proposta que levasse os educadores  a atuarem de forma diferente, mas apenas como treinadores de habilidades e avaliadores de competências. Foi o “Pecado dos vestibulares” que acabou engessando o educador que, focado somente no resultado quantitativo, esqueceu ou deixou de lado a necessidade de uma ação mais formadora. Acredito ser possível dentro do modelo, digamos tradicional, achar brechas e atuar a partir dessas brechas que o próprio Sistema Educacional deixa.
       O professor, na prática do magistério, necessita mudar. Porém, antes que a mudança opere em sua prática, deve perguntar o porquê da necessidade de mudanças. A resposta, com certeza, será ponto de partida para novas reflexões que levarão a outros porquês, que certamente nos colocarão diante de questionamentos que cumprirão, por si, o papel da necessária “desconstrução” do “Professor aulista”.
     O educador é aquele que constrói, que vê o mundo com olhos de esperança e de paixão. É aquele que crê na sua capacidade transformadora, que fascina os alunos e dá bons exemplos. É o mestre que provoca reflexões e abala com suas opiniões. O professor, ao contrário, é aquele que habita o mundo funcional do aprendizado. É o que está preenchendo relatórios, cadernos de chamada, adquire respeito por ser legal e somente por isso. É aquele que cumpre o programa e que avalia os alunos. Funciona, ensina, mas não fascina, não transforma e não desperta reflexões interiores. É aquele que pensa educação como sendo um manual técnico de estratégias e métodos. Não há mais lugar para esse docente, visto que as propostas e projetos escolares, principalmente na Educação Básica, apontam para a necessidade de uma visão educacional diferente da existente hoje. Estamos no caminho da interdisciplinaridade, da justaposição dos temas, da formação cidadã, da visão ecológica e do politicamente correto. Assim, o professor tem a tarefa de se colocar a serviço desta visão, assumindo o papel definitivo do educador que acredita que o pensar abre o fazer (Heidegger – 1981), fazendo da escola um ambiente vivo e dialético, a serviço da missão de educar.

  
Referências Bibliográficas:

- Heidegger, Martin. Avaliação: mito e desafio.
  Porto Alegre. Ed. Educação e Realidade, 1993.

- Freire, Paulo. A Pedagogia da Esperança.
  Rio de Janeiro. Ed. Paz e Terra, 1992.

- Antunes, Celso. Como transformar informações em conhecimento.
  Petrópolis. Ed. Vozes, 2001.

- Demo, Pedro. Participação é conquista – Noções de política social do   
  Professor. São Paulo. Ed. Paz e Terra, 1987.

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