terça-feira, 28 de outubro de 2014

O que é uma paternidade atenta?



Em setembro, quando visitei minha mãe em nossa cidade natal, aproveitei para fazer compras de livros em um sebo. Por ser uma cidade universitária, Juiz de Fora possui várias livrarias e inúmeros sebos, que eu adoro frequentar. Deparei-me em um deles lá com uma preciosidade: Nossos Filhos, nossos mestres, de Myla e Jon Kabat-Zinn. Uma obra fantástica que nos inspira a descobrir como o convívio com os nossos filhos pode nos trazer alegrias diárias. Gostei muito de um capítulo cujo título estou utilizando aqui em meu ensaio, que tem como propósito compartilhar com você o pensamento de Myla e Jon. Jon é docente em uma faculdade de Medicina em Massachuetts e Myla, uma ativista atuante em uma organização de educação. O casal tem três filhos e na relação com eles é que resolveram mergulhar nesta questão.
A paternidade atenta nos convoca a despertar com uma nova consciência e uma nova intencionalidade para as possibilidades, os benefícios e os desafios da tarefa de criar filhos, não só como se o que fizemos fosse importante, mas também como se nosso engajamento consciente na educação de nossos filhos fosse virtualmente a coisa mais importante que pudéssemos estar fazendo, tanto para nossos filhos, quanto para nós mesmos. Você deve se perguntar o porquê que tenho sido recorrente nesse tema em meus artigos. Pois é, minha insistência se dá por estar percebendo que os pais têm tido muitas dificuldades na lida com os seus filhos. Por onde ando, percebo isso. Em um domingo, passeando com a família em um espaço maravilhoso, com direito a piscinas, área de lazer, animais e muito espaço ambientado para brincadeiras e descanso, vi um garoto de aproximadamente 7 anos de idade fazendo birra. Queria o que queria. Fiquei observando os pais... Sabe o que aconteceu? A criança se impôs, e os pais nem sequer tentaram gerir o problema e reverter a situação. Então, nossos filhos são nossos mestres. Se não tivermos a dedicação para educar, “seremos educados” por nossos filhos e, pior, na experiência de vida deles que é... nenhuma! O que é importante é dar a eles aquilo de que eles mais precisam a fim de crescerem e desabrocharem.
Na vida, enquanto procuramos criar nossos filhos e entender quem eles são, eles nos oferecerão muitos momentos felizes. Procurar entendê-los e não ceder para evitar o conflito é estarmos abrindo as janelas de oportunidades para conhecermos e também para que aprendamos com eles, aprofundando a nossa relação e testando os nossos limites e nossa capacidade de tolerância. Sei que ser pai e mãe é uma atividade desgastante também. Reconheço que nossos filhos muitas vezes nos pedem coisas que ninguém mais teria a coragem de pedir. Muito se dá pelo fato de que a nossa condição de pais e filhos nos deixa numa intimidade muito grande. Nesse processo, se estivermos dispostos, teremos a chance de nos vermos mais de perto também. As nossas emoções e reações são revelações do que se passa em nosso íntimo. Ao oportunizar às nossas crianças momentos de entrega e investigação do eu delas, estamos também tendo a oportunidade de darmos um mergulho em nossa condição de ser humano. Assim, estar atento aos filhos é também estar atento a nós mesmos.
De fato, ser atento aos nossos filhos é praticar um tipo de concentração, abertura e sabedoria que não só beneficia a criançada, mas faz um bem enorme para cada um de nós. Para escutar o desejo e as necessidades de nossos filhos, exige-se um silêncio em nosso interior, e é exatamente nessa quietude que estaremos mais preparados para enxergarmos além da nebulosidade. Assim sendo, consideremos o nosso trabalho de ser pai e ser mãe uma responsabilidade sagrada, que exige de nós entrega total. Sei que às vezes somos chamados a darmos muito de nós, mas hoje acredito plenamente que só nós, pais, é que podemos dar aos nossos filhos a garantia da felicidade e a sensação de plena segurança diante dos desafios da vida. Sei que em muitos momentos na relação com os nossos filhos, seremos produtos e portanto reprodutores de modelos. Seremos chamados a superar sentimentos adquiridos em nossa própria infância, mas sei que somente nós podemos ser o porto seguro de nossos filhos.
Deixemos de lado “padrões destrutivos” e “pesadelos de nossa infância”. Busquemos o equilíbrio na razão e o nosso alimento no amor. Atentos na educação de nossos filhos, teremos um espelho do que fomos em nossa infância. Teremos que ser sábios para praticar um “valor de educação”, em que o passado esteja presente, mas que não seja ele a única referência, o único modelo para os nossos filhos. Paternidade atenta nos garante um bom relacionamento com os filhos e nos convida a um reconhecimento maior de nossas emoções. Leiam o livro de Myla e Jon e certamente terão um novo olhar sobre os seus filhos.


sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Autocontrole: As pessoas autocontroladas demais são limitadas.

Muito se tem falado sobre traços de personalidade das pessoas, principalmente das crianças e adolescentes. De certa forma, o nosso modelo de família, da religiosidade e da educação nos ensina que precisamos desenvolver o autocontrole. Isso é verdade. Não podemos extrapolar, expandir-nos, sem que tenhamos o cuidado de não nos expormos e também, é claro, não expormos o outro. Precisamos controlar os nossos impulsos, as emoções e principalmente ter autocontrole sobre o que pensamos dos outros e tudo mais. No entanto, devemos ficar alertas: “as pessoas controladas demais são excessivamente limitadas”. É verdade, pessoas com autocontrole apurado apresentam dificuldade em tomar decisões, podem adiar ou mesmo rejeitar o prazer nas coisas sem necessidade.
O pesquisador Jack Block, da Universidade da California argumenta que o autocontrole em demasia leva a pessoa a viver uma ética tão escrupulosa que se torna conservadora, compulsiva, ansiosa e reprimida. Pois é, muito autocontrole pode mesmo limitar as pessoas e tirá-las do caminho da felicidade. Devo ressaltar também que pesquisadores concluíram em um estudo na Nova Zelândia, que crianças com autocontrole na infância, apresentaram resultados positivos na fase adulta. Refiro-me aqui a um quadro de boa saúde, sucesso nas relações interpessoais e na vida amorosa. Então ter autocontrole não é ruim.
A ideia desse ensaio é o mesmo que debater a questão: devemos ensinar nossos filhos a ter u autocontrole? A resposta é sim! Devemos sim ensinar às nossas crianças o autocontrole. O cuidado que devemos ter é na dimensão deste autocontrole. Se for demais, torna-se um problema e se for de menos, outro problema, talvez pior. Autocontrole tem seus limites. Ele pode ser muito útil, mas não é relevante quando se trata de identificar quem pode vir a ser um grande inventor. Pode ser que o autocontrole não seja o “motivador ideal de sucesso”, mas apenas o que provoca um sucesso calculado, sem novidades ou surpresas. Autocontrole pode não ser surpreendente, apenas disciplinador. Determinação pode surpreender mais as pessoas do que o autocontrole. Que tal ensinarmos às nossas crianças a ter um autocontrole moderado e uma determinação severa?
A minha motivação em escrever este ensaio e compartilhar com você, leitor, esse meu aprendizado, vem da surpreendente leitura da obra “Uma questão de caráter” de Paul Tough. Essa obra publicada em 2012 pela Editora Intrísica do Rio de Janeiro, tem por objetivo fazer com que pais e educadores repensem o modelo tradicional de educação que impera em nosso padrão mental.  Paul Tough demonstra que não são as notas boas a melhor garantia de sucesso, mas sim a determinação, a curiosidade e a persistência e que essas qualidades podem ser ensinadas. Por isso, atente para o seguinte: nossas crianças necessitam sim de autocontrole. Contudo, não pode ser algo tão severo que as limite a sufoque, as deixe sem ação. Ao mesmo tempo, temos que ensiná-las a ter determinação. Não deixe que elas desanimem. Sejamos motivadores e não desanimadores. Ensine-as a enfrentar os problemas, a enxergar soluções e a planejar estratégias de vitória. Nossos filhos precisam saber enfrentar os desafios postos para que cresçam com autosuficiência e coragem. A escola é um grande centro de aprendizagem e o que ela nos ensina, não é apenas o currículo oficial. A escola vai além, pois ela ensina em todo o seu universo, aos nossos filhos a crescerem com autocontrole, determinação, caráter, curiosidade e persistência.


sexta-feira, 10 de outubro de 2014

Educar tornou-se uma tarefa para poucos heróis!



Heróis, aqui, não são apenas os educadores, mas os pais também. É a verdade! Tem sido uma tarefa difícil convencer as nossas crianças e adolescentes que estudar é fundamental para a vida deles. Na minha época de criança, eu já sabia: ou estudava, ou não obteria qualquer êxito. O meu modelo de sucesso eram pessoas estudadas, bem preparadas. A escola era um desejo. Ela tinha um valor imensurável na vida das pessoas, pois ela representava a ponte, a possibilidade de aquisição da informação. Não tínhamos Internet, os jogadores de futebol não ganhavam fortunas. Meu referencial era o médico, o engenheiro, o advogado. Fui ser educador por escolha, poderia ter sido outra coisa. Hoje, o cenário é outro. É essa revolução que vivemos em nossa sociedade que colocou a educação como tarefa de heróis!
Vivemos a revolução digital. A velha e boa enciclopédia, adquirida geralmente na porta de casa, cedeu lugar a uma gama de dispositivos tecnológicos. O Google tornou-se a maior rede de informação e consulta. Muitas vezes, em sala de aula, alunos acessam o assunto que o professor está explorando, já com a informação posta, antes mesmo de ele terminar a aula. As notícias circulam nas redes sociais, em uma velocidade inacreditável. Os paradigmas mundiais e educacionais mudaram. Os valores estão mudando na mesma velocidade. Quase impossível querer que meus filhos vejam o mundo com os meus olhos. Eles exergam muito longe mesmo! Preconceitos estão sendo substituídos por entendimento; no lugar de visões racionárias povoam a mente de crianças e jovens adolescentes a aceitação e princípios que em minha época de adolescente eram considerados um pecado. Há, sim, uma revolução acontecendo. Entramos na era da informação, da globalização total e da tribalização. Vivemos a revolução digital, na era da informação, mas também, eu sei, na era da falta de reflexão.
Vivemos uma enorme revolução nos hábitos, nos costumes e na maneira de pensar, sentir e agir. O que sinto nesse momento é que a família, a escola e nós, educadores, ainda não percebemos o tamanho dessa revolução. Há impacto que ainda não medimos com precisão. A teoria das inteligências múltiplas de Haward Gardner e as descobertas da neurociência nos ensinam que o ser humano evolui e muito. Estamos em uma outra era e precisamos acompanhar. Será que poderemos mesmo continuar fugindo dos computadores e dos dispositivos? Nossas crianças navegam no mundo digital e mergulham em um mundo virtual. Nós temos que acompanhar. Estamos saudosistas e acreditamos que em uma hora qualquer tudo voltará a ser como antes, como teria sido em nossa época. Nada disso! Temos que acompanhar o mundo que aí está.
Precisamos rever o nosso papel como pais e educadores, para bem ensinar e educar os nossos filhos. Para tanto, temos que fazer parte dessa revolução e acreditar que nossos filhos, mesmo estando do nosso lado, vivem um outro mundo. A Escola está consciente de que é preciso “falar a linguagem” dessa tribo e aderir a revolução. É um movimento dinâmico, um processo que busca, enquanto caminho, ir ao encontro das crianças e dos adolescentes. Se resistirmos, se mantivermos o conservadorismo, iremos “de encontro a” e não “ao encontro de”. A família já começa a perceber isso e tenta se modernizar, se organizar, inovar e a buscar o convívio nos ambientes sociais onde se ventila o novo, a transformação. Acreditem: Nós somos heróis. Família e educadores, juntos, encontraremos o caminho e caminharemos de mãos dadas para que a nossa juventude seja acolhida, amada e compreendida nas suas múltiplas manifestações de existência e desejo. Devemos fazer isso, pois temos que participar dessa revolução para estarmos juntos com os nossos filhos. Vamos nos fortalecer, nos preparar, orientar nossas crianças e adolescentes, mas aceitar as mudanças do mundo. Somos heróis e estaremos juntos para que nossos filhos possam ser felizes.
Para isso, precisamos rever nossas crenças, nossas atitudes e, principalmente, o modo como educamos nossas crianças e jovens. É necessário encararmos a escola como uma instituição educativa que precisa de apoio, de respeito e da parceria das famílias. Nós, pais e educadores, devemos nos colocar de fato como heróis e fazer com que nossos filhos nos vejam assim. Estamos juntos, pois somos sim os poucos heróis que aceitam a tarefa de educar seres humanos.



segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Educação dos filhos: missão difícil, mas possível.



Sou de uma família de quatro filhos e cresci escutando minha mãe dizer: “cada um é um”. Dizia muito também: “Filhos já nascem prontos, a gente só dá o acabamento”. É bem por aí. Educar é mesmo “polir”, “aparar” e dar o verniz que destacará a beleza que cada um traz em si. É por acreditar nisso que defendo que educar os filhos é um trabalho singular e pessoal. É um conjunto de atitudes que vem de nosso íntimo, por isso o modelo de outra pessoa de nada serve, nem mesmo quando ainda somos inexperientes. É preciso que cada um de nós encontre o seu estilo próprio de educar. E como se faz isso? Aprendendo com todas as fontes úteis que encontramos em nossa busca. É bom lembrar sempre que as atitudes educativas que tivemos ontem podem não surtir efeito hoje.
Quem opta por ter filhos está escolhendo uma ocupação que exige, e muito, atitude, compromisso e paciência. Educar crianças é uma vocação, não uma contingência. Aprende-se a educar educando; não há outra maneira. Nós, pais e educadores, somos chamados à reinvenção sempre, a toda hora. Cada filho é um, e o que cabe a um não necessariamente serve ao outro. Temos que estar atentos a cada um. É preciso conhecermos  nossos filhos e dar a cada um a dose certa de “remédios”. E isso não pode nem deve ser igual. Afinal, eles são diferentes! 
Somos de uma cultura recente de valores novos que não dão muito valor à arte de educar. Muitos de nós consideram aceitável que a Escola ou a Igreja se ocupem de educar os nossos filhos. Impossível! A busca do ideal de realização do que há de mais significativo em nossas vidas não pode depender de outros. A educação de nossos filhos é um trabalho pessoal e intransferível. Felizmente, a grande maioria dos pais assumem essa tarefa com alegria e compromisso. Inúmeros pais veem sua missão como sagrada e a abraçam com amor. Sei que há esforço de pessoas imaginativas que de tudo fazem para acompanharem os seus filhos. Que ótimo! Há muitos pais comprometidos e engajados na missão pessoal de tudo fazerem para que os seus filhos tenham a paz e a tranquilidade necessárias para que o processo de educação e amadurecimento das crianças aconteça naturalmente na família.
Com certeza somos sujeitos a grandes forças sociais e midiáticas que moldam as nossas vidas e as vidas de nossos filhos. Contudo, sei que temos o potencial para traçarmos os nossos caminhos. Precisamos de mais atenção e intencionalidade no cuidado da educação de nossas crianças. Para tanto, precisamos deixar que novas janelas se  abram  em nossas mentes para que tenhamos novos olhares sobre os nossos filhos. Lembre-se de que o mundo muda a toda hora e que nós também mudamos, ou deveríamos mudar! Pensar e agir sempre da mesma forma, mesmo que não mais seja conveniente o que estamos fazendo, é permanecer em um engano. É como deixar a vida no “piloto automático”. Serve para voo de cruzeiro, mas não para pouso e decolagens. E se, na vida, temos que pousar e decolar várias vezes, certamente teremos que estar aptos para os tantos malabarismos que fazemos para que os nossos filhos tenham aquilo de que mais necessitam: a segurança da família.
Myla e Jon Kabat – zinn escreveram a bela obra Nossos Filhos, Nossos Mestres. Eu li a 4ª edição desse livro, pela Editora Objetiva. Um dos capítulos que mais me chamou a atenção foi o intitulado O que é uma paternidade atenta?. Nele, a reflexão em foco foi: atender às necessidades dos filhos da maneira mais completa e menos egoísta se faz possível quando nós adotamos uma “atenção consciente” às verdadeiras necessidades deles. Portanto, estejamos atentos e assumamos a responsabilidade que é nossa de pai e de mãe. Quem educa o filho é a família. Escola garante escolarização e oferece oportunidades para que as habilidades e competências das crianças sejam trabalhadas, formando cidadãos conscientes e críticos. Educar de acordo com os preceitos éticos, valores morais e comportamentais cabe aos pais. É preciso que saibamos que não é verdade que deixar passar o tempo faz tudo se ajeitar. Também precisamos saber que transferir papeis não irá transformar nossos filhos em seres humanos melhores. 


segunda-feira, 29 de setembro de 2014

O que é importante para você?



Olhe adiante! Pense o que você quer para seus filhos daqui a 10, 15 anos. Qual você quer que seja a visão de mundo deles? Com que tipo de pessoa você quer que eles estejam se relacionando? Já imaginou também como estará a sua relação com eles? Se você deseja alguma coisa de boa para a vida deles e certamente deseja, comece agora projetando como será esse futuro deles. Ensine-lhes hoje o que quer que eles sejam no futuro. Se pensa que deverão ser gentis, então ensine hoje o que é gentileza. Se deseja que sejam adultos responsáveis, dê a eles hoje responsabilidade. Se os imagina felizes no casamento, ensine-os desde já a saber lidar com outras pessoas. Nossos filhos serão no futuro o que certamente ensinamos a eles no presente.
Ter visão a longo prazo para os filhos é muito importante. Com certeza queremos o melhor para cada um de nossos filhos. E isso nos faz perguntar: estamos planejando isso? Estamos deixando que as coisas aconteçam ou estamos educando para que no futuro eles sejam o que de fato desejamos?
Para ter certeza destas respostas, proponho um exercício. Cite três qualidades que você deseja que seus filhos tenham na fase adulta. Feito isso, imagine agora o que faria para que essas qualidades fossem desenvolvidas em seus filhos? Planejar exige traçar metas e controlar para que essas metas sejam atingidas. Esperar que as crianças cresçam naturalmente sem intervenções em suas práticas, no sentido de torná-las melhores socialmente e cumpridoras de obrigações em casa e na escola, não dá certo. Em toda minha experiência eu, como educador, tenho visto o que acontece com crianças que “se criaram por si” ou que não receberam orientações adequadas. Seus filhos precisam não só de uma atenção mas também de um relacionamento com você para que se tornem adultos felizes.
Frequentemente ouço as pessoas dizerem que não querem reproduzir o modelo “durão” de educação que receberam de seus pais. E por não quererem reproduzir um modelo, muitos pais não desenvolvem outro. Como ficamos? Crianças sem modelo de educação a seguir. Sem um norteador para o futuro e consequentemente sem a formação necessária. Precisamos de agir como pais que desejam para os seus filhos a segurança e a tranquilidade na fase adulta. Kevin Leman, autor do livro Transforme seu filho até sexta, editora Mundo Cristão, nos ensina em sua obra que bons pais não podem ser escravos das crianças e muito menos ser permissíveis quanto a condutas indelicadas e às exigências mimadas. Ele nos ensina também que temos que educar os nossos filhos para que eles desenvolvam disciplina, confiança e responsabilidade. Para que aprendam com a realidade e que tenham objetivos e metas na vida.
Você não precisa de ser tudo, ter tudo e oferecer tudo aos seus filhos. Você tem tudo o que é necessário para eles. Já percebeu o tanto que os seus filhos estão se esforçando para agradá-lo? Fazem isso por uma razão única: eles não suportam a ideia de que você não é feliz com eles. Por isso, demonstre essa felicidade, mostrando a eles o quanto os ama. Deixe escapar elogios e invista em dar segurança a eles. Nós, pais, temos todas as cartas do jogo nas mãos. As crianças não têm nada, exceto o que recebem de nós. Veja o quanto somos importantes! O que é importante para você? Educar vai se tornar mais fácil quando conseguirmos inserir nossos filhos na resposta a esta pergunta.


quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O sistema imunológico é o “cérebro do corpo”



A frase que dá título a este ensaio é do cientista Francisco Varela, da Escola Politécnica de Paris. Segundo ele, o corpo percebe a si mesmo reconhecendo o que faz parte dele e o que não faz. Por isso, possuímos células em nosso sistema imunológico que, reconhecendo a presença de células estranhas em nosso organismo, promovem um ataque para nos proteger do “invasor”, seja vírus, bactéria etc. Se não há esse reconhecimento e ataque, instala-se a doença.
Em 1974, uma descoberta na universidade de Rochester redesenhou o mapa fisiológico do corpo. O Psicólogo Robert Ader descobriu que o sistema imunológico, tal como o cérebro, era capaz de aprender. Com essa descoberta, cientistas puderam entender que emoção e corpo não eram entidades separadas, mas interligadas. Portanto, o nosso corpo sente quando as nossas emoções não estão organizadas. As emoções podem ser tóxicas para o nosso organismo, pois o sistema imunológico não reconhece, nessa desorganização, a ação de corpos estranhos e, consequentemente, não consegue combater essa autoagressão do próprio organismo. Mas, por que estou falando nisso? O que isso tem a ver com a vida educacional de meu filho? Pois é, tem a ver sim.
Têm sido crescentes entre crianças e adolescentes queixas de dores e quadro de sintomas, sem que, de fato, esteja instalada uma doença. É somatização. E isso, com certeza, pode estar sendo, uma denúncia inconsciente de que algo não está bem com o emocional dessa criança. Se não está bem emocionalmente, certamente teremos desencadeado problemas na aprendizagem e na relação interpessoal com professores e colegas.
O objetivo aqui não é de “terapeutizar” a questão posta, mas alertar aos familiares que vivemos em todo o mundo um momento em que os afazeres da vida nos têm tirado de casa e nos levado, em muitos casos, a afrouxarmos no cuidado emocional de nossos filhos. A busca por tudo que a mídia nos diz de ter e ser nos leva a focarmos em metas e objetivos que nos tiram a atenção àqueles que nos cercam. Por isso, torna-se necessária, e muito, essa reflexão: estou mesmo(a) atento(a) ao emocional de meus filhos? Como tenho agido com o afetivo de cada um? Eu tenho dado atenção necessária e carinho de qualidade a eles? Tenho sido recorrente nessa questão, pois tenho observado que muito tem crescido o número de alunos necessitando de mais carinho e mais cuidado dos pais.
Antoine de Saint-Exupéry, em seu magnífico livro O Pequeno Príncipe, nos ensina que é com o coração que se vê corretamente; o essencial é invisível aos olhos. Nós conhecemos a nós mesmos e ao outro através das emoções. Por isso mesmo é que me dirijo a você no sentido de compartilhar esta questão: somos sujeitos a todo tipo de dor se não estamos sendo ouvidos, compreendidos e seguros. Assim, o que temos que nos preocupar em garantir aos nossos filhos é a “segurança emocional”, que lhe dará a força para desenvolver uma autoestima elevada e, claro, todos os benefícios emocionais que ela garante.


sexta-feira, 12 de setembro de 2014

A desconstrução da criança: o mito da maturidade precoce


Estamos em um tempo histórico, em que a criança está tendo muita visibilidade. Especialistas de diversas áreas do conhecimento teorizam a respeito da criança e da infância. Ora superprotegida, ora com imensos poderes, a criança tem sido também alvo de consumo, acesso a tecnologia, legislação e tudo o mais que faça com ela seja quase comparada a um adulto. Estamos assim, imersos em uma cultura que coloca a criança como um sujeito universal, embora convivamos com a separação entre o mundo infantil do mundo adulto. Paradoxalmente, mesmo sabendo da coexistência desses dois mundos, vivemos em um que exige da criança uma maturidade, que ela não pode apresentar.
Reconhecer e dar às crianças visibilidade não significa fazê-las virar heróis e muito menos levá-las ao mesmo tratamento que dispensamos aos adultos. A infância, primeiro estágio de evolução na vida humana, deve ser cuidada com atenção, mas não como sendo um “momento privilegiado” dessa evolução humana. O desenvolvimento humano é um processo que vai do nascimento à morte, e em cada momento desse desenvolvimento há necessidade de cuidados especiais às pessoas. Em todo esse processo, o ser humano está sujeito a conflitos, a necessidades biológicas e sociais. Portanto, cada período do desenvolvimento humano é essencial. Sendo a criança um ser de grande potencial de aprendizagem, cabe a nós, adultos, pais e educadores, oportunizar a ela condições sociais, culturais, ambientais e biológicas para que o seu desenvolvimento aconteça de forma natural e até mesmo prazerosa. Em condições de segurança emocional e conforto psíquico, o que as crianças necessitam é de tranquilidade para viverem o seu desenvolvimento.
A ansiedade do mundo adulto não pode contribuir para a desconstrução da infância. Os adultos interpretam que a potencialidade da criança e o seu futuro como adulto dependem do desenvolvimento de habilidades ainda na infância. Por isso mesmo, crianças da Educação Infantil têm sido “atropeladas” em seu desenvolvimento com uma enorme carga de responsabilidade que não condiz com a maturidade humana nessa etapa da evolução. Eu tenho visto crianças com agenda de adulto. Será que isso contribui mesmo para que a criança chegue com sucesso na fase adulta? Tenho visto tamanha exigência de performance às crianças muitas vezes estressante e exagerada. O sujeito infantil tem necessidade de aprendizagem e de relação sociocultural típico de uma fase e de sua maneira de se relacionar com o mundo a sua volta.
Nós, adultos, não podemos nos colocar como os intérpretes do mundo infantil. Na verdade, ele fala por ele mesmo. Ao interferirmos nesse mundo, a partir da visão e interlocução que temos dele, como adultos que somos, estaremos sim encurtando o tempo da infância. O que a criança necessita é de ter a oportunidade de exercer o seu pensamento sincrético que traduz e interpreta o mundo de seu jeito. Quando queremos que a nossa criança esteja cada vez mais construindo habilidades, estamos, na verdade, desconstruindo o mundo infantil. Ao desejarmos que crianças vivam como os adultos, estamos dificultando a vida da criança. Precisamos estar atentos a isso. É preciso reconhecer a criança como ser de alto potencial de aprendizagem e com capacidade de se relacionar com o meio, pois é isso que a torna tão especial. Mas não podemos privá-la da infância!

Referência: Dorneles, Leni Vieira. Infância que nos escapam. Petrópolis, Ed. Vozes, 2005.