sexta-feira, 30 de setembro de 2016

O medo no mundo da infância e da adolescência



Podemos dizer que crianças e adolescentes e mesmo os adultos, apresentam inúmeros medos em momentos de suas vidas. Alguns são normais, enquanto outros podem ser exagerados. Nós, pais e educadores, devemos estar atentos a essas manifestações de insegurança. Medo em excesso gera comportamento agressivo e também provoca estresse.
O medo normal é saudável e pode ser entendido como uma forma de defesa inconsciente dos perigos do cotidiano. Cabe ainda salientar que o medo é também cultural. Algumas culturas difundem o medo através de contos de fada e folclore e até mesmo pela religião, ensinando a temer as coisas do mal. Assim, convivemos com o medo. Ele faz parte de nossa formação e de nossa história. Crescemos alertados pelos pais a respeito dos perigos da vida e dos cuidados que devemos ter com as pessoas, que contribuem e muito para que o medo se instale. Há também o medo que as crianças assimilam dos próprios adultos, como por exemplo medo de injeção, dentista, polícia, barata, cobra, cão etc. Esse medo herdado vem do convívio e da insegurança dos adultos que acabam sendo assimilados pelas crianças.
Como devemos tratar o medo de nossas crianças e adolescentes, de forma a não os transformar em um grande problema psíquico? Bem segue aqui algumas dicas importantes:

1. Precisamos de levar a sério o medo revelado pela criança ou adolescente. Esse medo vem deles e, portanto, para eles, não se trata de uma bobagem. É medo e é real. A simples banalização e a não consideração do que está sendo apontado em nada ajuda;
2. O cuidado é essencial e a sensação de proteção também, principalmente se esse medo vem de algum trauma sofrido;
3. Caso o medo esteja associado a sintomas ou mesmo a comportamentos como fazer xixi na cama, sudorese etc., deve-se procurar sim a ajuda de um profissional da área da psicologia;
4. O diálogo aberto é fundamental para que a criança saiba diferenciar o que é real e o que é imaginário;
5. Respeitar o medo do escuro e deixar alguma luz acesa para dar segurança é fundamental para ajudar as crianças e adolescentes a vencerem o medo;
6. Ensine seu filho ou filha a se acalmar diante do medo e leve-os a desenvolver a percepção do real, mostrando que não existe aquilo que está gerando o medo;
7. Distrair a criança com humor e com histórias alegres e suaves é importante na hora da manifestação do medo. Isso ajudará a superação;
8. Mostre para a criança que você se preocupa com esse sentimento manifestado e que está com disposição de ajudá-la a superá-lo;
9. Nunca reprima ou censure a criança ou adolescente por estar com medo. Como disse, o medo é real para quem está com esse sentimento;
10. Dialogar sobre a vida e a morte e ir mostrando que viver e nascer são parte da vida, ajuda a entender o sentido da vida.

Com o passar do tempo, as crianças e adolescentes conseguem superar os seus medos ou passam a lidar com eles. O importante é que no processo do seu desenvolvimento, pais e educadores estejam cientes de que ajudar a superá-los também é um trabalho cuidadoso e fundamental para que todos cresçam seguros e prontos para a vida. Os medos, quando bem trabalhados não impactam negativamente, mas sim positivamente. Saber superar os medos é um aprendizado importante para que nossos filhos cresçam em condições de enfrentar os desafios da vida. Se aprendem a superar e a conviverem bem com os seus medos, certamente serão corajosos na hora de enfrentarem o chefe, a disputa natural da vida, os concorrentes, os desafios do relacionamento a dois e tudo mais. Uma criança que cresceu com medo é inibida e certamente medrosa para os desafios da vida. Ter medo é natural; não o superar e viver sob proteção excessiva dos pais, não é bom. Por isso, sejamos pedagógicos diante das situações de medo. É bom, cria segurança e autonomia.


segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Pai ou mãe de quem mesmo?



Estamos vivendo em um mundo conturbado. As exigências da época em que vivemos, a pressa, as pressões econômicas e sociais, o momento político que estamos atravessando em nosso país, tudo isso concorre para roubar de nossos filhos um pouco da infância. Se pensarmos que hoje eles vivem “apertados” em apartamentos e de certa forma presos ao mundo digital, aí é que temos mesmo uma enorme perda da qualidade da infância. A Infância tem um ritmo de sonho e uma lentidão própria que a pressa desse mundo contemporâneo acaba acelerando e muito. Sinto que as crianças estão crescendo em um grande “vácuo emocional”, provocado por perda de qualidade de vida no que tange ao relacionamento com amigos e mesmo com as famílias. Tenho percebido que o “espaço Escola” tem sido muito valorizado, pois por mais paradoxal que seja, é na Escola que as crianças estão encontrando espaço para expressarem as suas emoções e, principalmente, brincarem com os colegas.
Estamos em um mundo tão acelerado e terrivelmente pouco vivenciado que a frase mais comum que soltamos é: “Nossa, como a vida está passando tão rápido”!  Essa sensação horrível parece querer dizer, para nós que estamos com pouco tempo para viver, que está nos faltando senso de pertencimento ao tempo. Já imaginou o impacto disso na relação entre os familiares e, principalmente, em nossa relação com os filhos? Eu penso muito nisso...
Às vezes, como adultos, vemo-nos com um pesado fardo emocional às costas. Muito desse peso, às vezes nem nos pertencem, mas somos chamados a carregá-los, como: a doença de nossos pais, um problema no casamento de um irmão, a perda de alguém que amamos, as crises sistêmicas em nossa economia e política, a violência urbana etc. Mergulhados em tudo isso, sentimos uma vontade enorme de pousarmos esse fardo no chão. É preciso fazer isso para olharmos com mais atenção para os nossos familiares diretos. É preciso criar novos padrões emocionais para as nossas vidas, focando principalmente no bem-estar de nossos filhos. Nunca é tarde para se dar um basta. Também nunca é tarde para nós fazermos a seguinte pergunta: estou mesmo satisfazendo as necessidades emocionais de meus filhos? Pergunto-me muito isso e às vezes fico em dúvida com a minha resposta. No dia a dia, me provoco novamente, compartilho com a minha esposa e procuro fazer ajustes. Às vezes, erro de novo. às vezes acerto, o fato é que tentarmos acertar, é o grande desafio.
Somos pais e mães de nossos filhos e vivemos por eles. O tempo todo pensamos na vida deles, no futuro, no que mais podemos fazer para encaminhá-los no “bom caminho” da vida. Afinal, os nossos filhos sempre precisarão de nós, da compreensão e da assistência que lhes pudermos dar. Se nos desentendemos com eles por alguma razão, cabe a nós, pais e mães, o resgate da relação e da confiança. Isso, sem perdermos a paciência e sempre valorizando a condição de sermos o lado maduro dessa relação. Ganhamos muito com isso, pois toda vez que temos sucesso nessa missão, nos sentimos seguros e funcionais em nossa missão de educar e amar. Portanto, vamos valorizar esse momento de entrega e resiliência de nossa parte. Quanto a eles, saibam que estão aprendendo conosco a serem pais e mães no futuro e também a serem esposos e esposas. Ensinamos com exemplos e eles são esponjas que nos secam, hidratando-se em nossas experiências.
Somos, como pais e mães, a força que move a vida de nossos filhos e, por isso mesmo, só seremos de fato importantes na vida deles se formos o porto seguro para se apoiarem. Por isso mesmo, ressalto a importância de nosso papel. A dificuldade da paternidade e da maternidade, reside em parte, em perceber de fato a importância de ocuparmos o papel de pai e de mãe. Não podemos nos refutar e não terceirizar os compromissos vitais que pais e mães devem ter com os seus filhos. Não é bom para eles, que se sintam menos importantes do que os nossos compromissos. Da mesma forma, não é bom que tenham em outros, o espelho que gostariam de ter em casa para se mirarem. Por isso mesmo, é fundamental dar significado à relação pais e filhos e trazer para você o gostoso compromisso de oportunizar felicidade aos seus filhos. Nós, pais e mães, somos sim responsáveis pela felicidade de nossos filhos. Eu sou muito grato por ter esse compromisso.


Bibliografia:

Myla E Jon Kabat – Zinn. Nossos Filhos, Nossos Mestres. Ed. Objetiva. Rio de Janeiro, 1998.


sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Aprendendo a negociar com as crianças


Você já percebeu o quanto as crianças são mestras na arte de negociar? Alguma vez você já parou para pensar no poder que as crianças têm de conseguirem tudo o que elas querem? Não podemos negar que elas costumam ser surpreendentemente eficazes. Na verdade, conhecem artimanhas de negociação que deixa, nós, adultos sem alternativas. Algumas vezes até precisamos, para ter o controle da situação, adotar uma postura de imposição e autoridade, para não sermos “vencidos” pelos argumentos dos pequenos.
Existem coisas que a criança nos ensina de imediato, basta observarmos: ser feliz com qualquer coisa, encontrar-se sempre ocupada com brincadeiras e entretenimento e exigir o que deseja. Portanto, as crianças agem com o emocional do adulto e são formidáveis articuladoras. Dissimulam até conseguir o que querem. Na verdade, é um pouco do instinto primitivo do humano que ainda não foi “educado” em nossos valores e regras sociais.
Aproveitando o conhecimento e habilidades das crianças, temos no mínimo quatro ensinamentos para utilizarmos em nossa rotina diária. Vamos conhecê-los! A primeira habilidade é fazer perguntas. As crianças perguntam muito e não fazem suposições. Querem saber a razão de tudo e são questionadoras, mesmo após já ter passado a fase dos “porquês”. Questionam se não estão convencidas com a resposta, questionam de novo o desconhecido. Diferente disso, os adultos fingem que sabem. Para não ficarem expostos, partem do princípio que já sabem e por isso não devem ficar perguntando. Quando a criança vai crescendo, é fácil observar nas salas de aulas que elas vão perdendo essa habilidade. Parece ser coisa de criança, de imaturidade ficar questionando.  Outra habilidade importante, é saber o valor da insistência. As crianças são insistentes mesmo. Às vezes tornam-se chatas de tanto que insistem. Elas sabem que quanto mais pedirem algo, maior é a chance de se conseguir o que deseja. Os adultos desistem muito fácil. Acham humilhante insistir, pensam que estão “apelando” e por isso não insistem. Obviamente, conseguem menos que as crianças em uma negociação. Outra habilidade é a persistência. Provocadas pelo desejo de aprender algo, elas têm essa habilidade bem desenvolvida. Enquanto não conseguem algo, continuam tentando. Buscam formas diversas de conseguir, focam no desejo. Apelam, choram, fazem birra e muitas vezes o resultado é muito bom. Elas nunca desistem ou entregam os pontos. Elas negociam, trocam o que buscam por promessa de bom comportamento, mas não renunciam.
Claro que aqui, não estamos defendendo a teimosia ou a birra. O que levantamos são habilidades que muitas vezes nós, adultos, não utilizamos. A Psicanálise me ensina muito a pensar. Quando vejo o quanto que cedo a pressão de meus filhos, percebo claramente que são bons nos argumentos. Observando o meu “ceder”, é que comecei a atentar-me para essa reflexão. Precisamos aprender com as nossas crianças. Devemos estar abertos, sim, para a possibilidade de negociar. Se a argumentação for melhor do que a nossa decisão, certamente há possibilidade de estarmos equivocados em nossa decisão. Já pensaram nisso? Se sufocamos e não permitamos que a argumentação delas tenha alguma validade, não estaremos equivocados? Foi assim, que comecei a pensar no tema e observar mais os meus filhos.
É assim. Precisamos aproveitar as habilidades infantis e utilizá-las em nossa maturidade. Imaginem se conseguirmos ser como as crianças na habilidade de convívio social. Brincar, brigar e superar, aceitando o perdão do outro. Não discriminar ou excluir, mas aceitar o outro e suas diferenças. Isso eu aprendi com as crianças. Muitas vezes nós denominamos essa habilidade de “pureza” infantil. “Eles são puros”, costumamos falar. Pois é, devemos pensar mais nisso e voltarmos a ser crianças outra vez.


terça-feira, 7 de junho de 2016

Poema: O tempo




Eduque para a sustentabilidade



Na semana passada, o mundo todo esteve focado no meio ambiente. Foi a Semana Mundial do Meio Ambiente. O dia 05 de junho foi escolhido como o Dia Mundial do Meio Ambiente. Claro que a nossa Escola não poderia deixar de trazer para a sala de aula essa discussão, através de um belo projeto transversal, cuja intenção maior é a conscientização de nossos alunos a respeito do resíduo que produzimos em nosso dia a dia.  Nós precisamos com urgência tomarmos consciência de que aprender a lidar corretamente com o lixo que produzimos, é preparar o nosso ambiente para um mundo mais saudável e sustentável.
Questões decisivas para o futuro do planeta estão entrando de modo cada vez mais forte na agenda dos países, das empresas e também da educação. As pessoas começam a entender que só podemos viver bem se as nossas relações forem baseadas em valores sustentáveis. O planeta está sendo consumido e não para o benefício de todos. A riqueza ficou nas mãos de poucos e a miséria tomou proporções enormes em todo o mundo, principalmente nos países que vivem em “vias de desenvolvimento”. Nós conhecemos bem esse quadro social e as consequências em nossa sociedade.
A sustentabilidade é mais do que garantir oxigênio e aproveitamento adequado do solo para a produção de alimentos. Supõe um modo de viver, produzir e trabalhar de forma a atender as demandas das gerações atuais sem comprometer a capacidade de sobrevivência das gerações futuras. Para tanto, necessitamos de ações dos governos, mas também de muita consciência da sociedade. O sistema de vida social precisa unir sustentabilidade e equidade. Para tanto, precisamos de pessoas com conhecimento técnico, mas com capacidade de reduzir os resíduos tóxicos, utilizar energia limpa e reciclar materiais. Esse é o mundo que precisamos conquistar.
Para que estou dizendo isso para você? Estou pedindo a sua ajuda enquanto Escola. Estamos trabalhando com os nossos alunos essa consciência sustentável, mas nada conseguiremos se não multiplicarmos esse comportamento sustentável. Precisamos reforçar em casa, nas praias, no campo, nos passeios etc, o quanto é importante cuidarmos bem de nossos resíduos. Produzimos com o nosso consumo uma enorme quantidade de lixo e não sabemos ainda lidar com isso. Nossas ruas e praias têm sido depósito de lixo doméstico e descarte de embalagens por nós mesmos. Se não orientarmos as nossas crianças, continuarão a fazer esse descarte sem se preocupar em destinar o lixo de forma correta. Escola, família e sociedade em geral têm que estar comprometidos com esse desafio. Precisamos de ter a certeza que deixaremos um ambiente melhor para as gerações futuras.
A onda de consumo de nosso sistema capitalista, que nos faz achar que a felicidade está no consumo de bens, gera uma montanha enorme de descartados. Os brinquedos, as roupas, as embalagens, os utensílios em geral, tudo produzido para durar pouco, provocando a necessidade de substituição rápida do que compramos, provoca uma avalanche de lixo. O mundo de facilidade nos transformaram em consumidores compulsivos e consequentemente produtores de resíduos em tonelada. Mas, o que nos cabe então? Somos responsáveis por tudo isso? Não! Somos responsáveis por educar nossas crianças tanto no consumo como no descarte dos resíduos que produzimos. Vamos entrar nessa “onda verde” e gerar em nosso ambiente familiar uma consciência ecológica e sustentável? Tal comportamento ajuda o planeta e é a parcela que nos cabe nessa missão de fazer a nossa parte para salvarmos o nosso planeta.
Educação é assim, se faz em parceria. Escola e família em ações conjuntas e coordenadas, acreditando que formar bons cidadãos é também formar pessoas capazes de enxergarem na sustentabilidade a sobrevivência da vida e a felicidade de todos. Vamos juntos, construir um mundo melhor, mais humano, menos consumista e mais sustentável.

Muito obrigado gente. Estamos juntos! 


segunda-feira, 23 de maio de 2016

O poder da atenção dispensada aos nossos filhos



Não existe nada nesse mundo, absolutamente nada que seja mais importante para uma criança que, a atenção dos pais. Esse comportamento direcionado tem força curativa, agindo como um remédio eficaz. Mas por que essa atenção é tão poderosa assim? É muito simples: nas crianças, todo o comportamento está ligado à proximidade com aquele que a cuida. Assim como conseguimos interpretar as necessidades de nossos animais de estimação sem que falem uma única palavra, somos também capazes de observar as necessidades de nossos filhos, apenas interpretando as suas expressões. Contudo, para que tenhamos sucesso, toda atenção é necessária. Estou retomando esse tema, pois para mim, é de grande relevância. Minha experiência na Educação, me leva a ser recorrente no assunto, pois a cada dia, por conta de nossa imensa agenda, estamos deixando de dar aos nossos filhos a atenção que eles tanto necessitam.
De certa maneira, até somos bem treinados em prestar atenção aos maus comportamento de nossos filhos. Eles nos saltam aos olhos. Eles são difíceis de ignorarmos, pois de certa forma eles nos irritam. Há momentos que acreditamos até que estão fazendo aquilo de propósito, apenas para nos irritarmos. Mas, não é bem assim não. O que temos aí, ainda é uma observação fragilizada do que realmente pode estar escondido naquele mau comportamento. Na verdade, os pequenos não querem mesmo nos irritar. O que desejam de fato é provocar uma reação em nós e, com isso, mudar o estado em que a coisa se encontra. É assim... As crianças irritam os adultos, principalmente os pais, quando querem chamar à atenção deles para a solução de algum conflito que elas estão vivenciando. Não é exatamente uma pirraça ou manha, mas uma estratégia até inconsciente de dizer aos pais: “preste atenção em mim”.
A orientação, já escrevi a vocês a respeito – desprezem a manha e a criança irá se recompor. Contudo, quero aqui aprofundar um pouco. Vocês já aprenderam a dominar a manha, mas descobriram a origem dela? Sabe o que está desencadeando esse comportamento inadequado? Tem dispensado a atenção necessária para entender o que acontece? Muitas vezes achamos que sabemos, que já fizemos de tudo e que nada tem jeito. É fácil ouvir de pais a seguinte frase: “Nós tentamos fazer isso, mas não funcionou” ou “ ele faz isso só para nos irritar”. Essa conclusão não ajuda nem à você e nem à sua criança. Sinceramente, acho que a criança quer ver você feliz. Primeiro porque tem um amor incondicional por você e, depois, por ser inteligente o suficiente para saber que tendo com você uma relação amistosa e saudável, as suas oportunidades são maiores em ser agradada pelos pais. Então, precisam estar atentos para entender melhor o seu filho para agir assertivamente.
Tenho um irmão que ilustra bem essa situação. Ele tem uma filha de 8 anos de idade, que ficou aos seus cuidados após a separação. Sozinho, assumiu a educação da filha. É ele quem leva ao médico, ao dentista, à escola, ao psicólogo, ao balé. É também quem orienta nas atividades da escola, no banho diário e na alimentação. A criança dando aquele trabalhão e ele sem saber mais o que fazer. Ontem passei horas com ele ao telefone, procurando ajudá-lo a organizar a “rotina emocional” da filha e sua relação pessoal com ela. Ela está assim, precisando de atenção e o tempo todo. Conversamos muito e traçamos estratégias. Contudo, deixei para ele a ideia que somente uma observação diária de seu comportamento pode mesmo nos dar informações de suas demandas emocionais. Mas, saibam o seguinte: mesmo as crianças que aparentemente vivem em um ambiente emocionalmente estável, podem estar denunciando algo com o seu comportamento saliente. Por isso mesmo, devemos estar atentos.
Sei que já tratei de comportamento infantil com vocês e dei algumas dicas para as birras e manhas. O que procuro agora, é levar vocês para a seguinte reflexão: o que está provocando em meu filho esse comportamento inadequado? É isso mesmo, estou provocando um desdobramento de nosso olhar sobre as nossas crianças. Chamando para nós a responsabilidade de estarmos atentos aos sinais que denunciam as necessidades emocionais que não estão evidentes. Vamos lembrar o que tenho dito a vocês. As crianças precisam de um reforço positivo para que reajam bem. No caso, refiro-me a força do elogio. Elogios, são o combustível das crianças. Quando você compreender isso, poderá resolver praticamente qualquer problema que encontrar. Não pense que é tão simples assim. Sabe por que não é? Porque as pessoas não sabem elogiar e quando fazem, não dão sentido real. Parece um ato protocolar do tipo: “Parabéns, estou orgulhoso de você! ” Grande coisa, a professora na escola faz melhor! Algumas pessoas se sentem constrangidas, pois elas mesmas nunca teriam recebido um elogio de seus pais. É difícil reproduzir algo que não tivemos. É mais fácil corrigir, exigir mudança de postura e resultados positivos na escola. Isso fazemos sempre e com muita habilidade. Vale pontuar então que um elogio eficaz, carinhoso, verdadeiro e sonoro, incentiva o bom comportamento e eleva a autoestima de nossos filhos.
Assim, vamos lá! “O elogio de resultados” deve ser específico e não genérico. Precisa ser personalizado. Esse negócio de elogiar os filhos em comum não funciona. Tem que ser dirigido ao filho que está merecendo. Um bom elogio requer concentração total, valorizando o momento e o ato de elogiar. Ao elogiar, demonstrem animação, deixem de lado o protocolo. Devemos ter afeto, pois as crianças são afetividade sempre. Elogie imediatamente e com frequência. Eles não podem ter hora marcada. Tem que pegá-los de surpresa. Essas dicas, eu tirei do livro de Nigel Latta, intitulado “Por dentro da cabeça do Seu Filho”, páginas 144/145. Foi editado pela Editora Fundamento, em 2009. Vale a pena ler toda a obra.      


sexta-feira, 13 de maio de 2016

Como influenciar aquele que você ama



No final de abril e início de maio de 2016, participei junto aos diretores da rede SEB, da 3ª edição do MEM (Motivação, Estratégia e Mudança). Trata-se de um grande encontro corporativo no qual discutimos os rumos da educação mundial e as novas tendências em tecnologias educacionais e aperfeiçoamento de gestão educacional. Nesse encontro anual, temos a oportunidade de compartilhar com colegas de todo Brasil as nossas experiências, socializar ideias e, acima de tudo, conhecer as últimas tendências na educação mundial. É, portanto, uma ótima oportunidade para nos atualizarmos, como também contribuirmos no aperfeiçoamento do nosso modelo educacional de forma a colocarmos em sintonia o que está sendo feito em todo o mundo globalizado. Para tanto, ficamos imersos em um resort, com o objetivo de, através de palestras, oficinas e debates, quebrarmos paradigmas e colocar o olhar em cima de um mundo contemporâneo e as suas múltiplas linguagens. Refiro-me aqui às linguagens das crianças e adolescentes do século XXI.
Após uma semana de muito trabalho e novidades, já no aeroporto, o diretor de nossas escolas em Salvador me perguntou se eu já havia lido o livro “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”. Diante de minha negativa, o colega me intimou a ler o livro, que segundo ele, o teria impactado positivamente. Não esperei mais. Dirigi-me à uma livraria e pronto, para adquirir o precioso livro. Fazer amigos é muito importante e influenciar positivamente também. Fiquei curioso e durante todo o voo segui lendo atenciosamente o livro. O autor é o escritor Dale Carnegie e a editora é a Companhia Editora Nacional. Vale muito a pena vocês lerem, tenho certeza que irão adorar!
 O livro é uma rica mensagem que nos orienta como devemos tratar o outro e também de como devemos nos reposicionarmos quanto à forma na qual nos colocamos diante do outro. Sinceramente, o máximo!  A ideia é mesmo ajudar a gente a resolver um problema grande: o de se relacionar bem com as pessoas e influenciá-las na vida cotidiana, no trabalho e nos contatos sociais. Mas não é só isso, ajuda a gente a lidar com o outro, cativando-o e ganhando a confiança do outro. Já imaginou o quanto isso pode nos ajudar na relação dos pais com os filhos?
Como sempre trago o que aprendo, compartilhando com vocês, me deu uma vontade enorme de partilhar esse aprendizado que pode nos ser útil em nossa rotina com os nossos filhos. Quando me refiro ao outro, não me refiro ao estranho, ao colega de trabalho, mas o ser que existe na outra pessoa. Pode ser ele o seu filho, esposa ou marido. Já imaginou que o outro, é todo aquele ser, indivíduo que não é você? O outro é aquele que mora em outra pessoa. Os filhos são os outros também. De imediato na leitura do livro, aprendi que fazer o outro feliz, demonstrando confiança ou dando importância ao que ele faz, é fundamental para que esse outro nos receba bem. Esse receber bem, não é exatamente a acolhida afetuosa, quando chegamos em um lugar. Esse receber é no sentido de aceitação de ti. É quando você é aceito de forma natural e tranquila, sem precisar se impor ou sem precisar de utilizar de artifícios para ser reconhecido e aceito. Na relação com as pessoas que amamos, é essencial que essa aceitação aconteça suavemente, sem rejeição ou defesa do outro. Já ouvi de crianças, que não contaram uma situação aos pais, por temer aspereza deles ao conhecer o fato. Essa falta de confiança na relação é uma defesa do outro, tentando se proteger de alguma forma de agressão.
Embora não seja lá muito fácil, nós, para fazermos amigos (no caso, o outro que amamos), necessitamos de ser um bom ouvinte e um incentivador capaz de fazer com que as pessoas falem de si. Ouvir o outro, é vencer o nosso próprio egoísmo. Somos craques em achar que já sabemos o que o outro tem a dizer. Ouvir o outro, é fazer com que essa pessoa se sinta importante. Essa é a lei da conduta humana de máxima importância, fazer o outro feliz, sem cobrar nada em troca, sem negociar. Ouvir, entender e fazer sempre a outra pessoa importante. Se conseguir vencer essa etapa, será capaz de conquistar as pessoas a pensarem de seu modo. Convencer o outro é parte desse processo de dar importância ao outro. Uma pessoa convencida contra a sua vontade, conserva sempre a sua opinião original, o que claramente significa que não houve o convencimento e por isso os erros continuarão a acontecer. Vocês não podem vencer uma discussão, se não existir o convencimento do outro. Esse convencimento vem da conquista, que vem da escuta. Portanto, vamos aprender a ouvir!
Como estamos falando em conquistar, seguem algumas dicas sensacionais: Acolham a divergência, pois toda unanimidade é equivocada. O contraditório enriquece os saberes da vida. Desconfiem sempre de sua intuição instintiva, pois a nossa tendência é sempre nos colocarmos na defensiva. Controlem os seus impulsos, tudo que excede, derrama. Ouçam em primeiro lugar, isso faz toda a diferença, pois vocês demonstrarão o respeito ao outro. Procurem áreas de concordância. Saibam que a verdade não tem dono. Sejam honestos sempre com o outro. A transparência gera confiança que gera demandas positivas e iniciativas grandes. Agradeçam sinceramente a possibilidade que estão tendo de crescer na relação com o outro. Pensando sempre que esse outro, é alguém que você ama.


terça-feira, 3 de maio de 2016

Mostre a seu filho como ele é importante para você



Nós que somos pais, muitas vezes, acreditamos que damos tudo aos nossos filhos. Cobrimos de presentes, orientamos sobre as suas obrigações, organizamos a rotina deles e os provemos com uma boa educação e alimentação farta. Muitas vezes damos aos nossos filhos até muito amor, mas nos descuidamos de dar a eles alguns afetos que são muito importantes para a felicidade deles. Há situações no campo emocional de nossos filhos que podem estar em nossa frente, mas não conseguimos enxergar o apelo que estão fazendo.
 Certa vez, em um atendimento meu a uma menina que se sentia infeliz e ninguém entendia a razão, ela me externou: “Gostaria que meu pai dissesse que gostava de mim por eu ser uma menina”. Pareceu-me estranho, mas em atendimento, pude constatar que ela era filha menina em uma família que tinha três garotos. Mesmo com a atenção dos pais e carinho especial do pai, ela achava que por ser diferente, não era tão amada.  Nos parece estranho, mas era o que ela sentia. Simples assim. Em outro atendimento, em um caso similar, o garoto gostaria de ter escutado do pai: “ Tenho orgulho de ter você como filho”. A carência vinha do fato de os pais estarem mais focados no filho mais velho que prestava vestibular. Todo o reforço da família estava em motivar o mais velho e o menor sentiu-se excluído. Pois é, a gente nem imagina isso...
Muitos adultos pensam que lutam na vida para conquistar os seus objetivos, mas o que mais desejam mesmo é o reconhecimento dos pais. Eu confesso que embora tenha nutrido um grande amor pelo meu pai e reconhecer o amor dele para comigo, eu nunca tive o seu reconhecimento. Ficou na memória apenas as cobranças para que eu melhorasse. Precisamos de estar atentos a isso, para que nossos filhos não cresçam com a insegurança emocional de não serem reconhecidos pelos pais. Eles precisam sentir que são importantes na vida dos pais e que o pouco que fazem tem valor sim. Quando os pais elogiam os seus filhos, eles transbordam de felicidade e de segurança. Desfazem as suas resistências e os ressentimentos e se renovam para continuar a deliciosa jornada da vida.
Em uma outra oportunidade em minha vida, e de maneira direta relacionada com as minhas experiências e estudos psicanalíticos, conheci uma profissional liberal muito bem-sucedida. Crítica afinada com o mundo contemporâneo, exigente com as filhas e extremamente dedicada ao trabalho. Jurava ter plena segurança em seu relacionamento com o marido e filhas. Vaidosa, estava sempre muito bem apresentada e gostava de exibir o seu conhecimento, citando uma farta bibliografia que já havia lido. Certo dia, ela chega no grupo de estudo desiludida e acabada. As filhas já crescidas resolveram se mudar e viver com a avó paterna em outro estado. Não queriam mais a mãe por achar que a mãe nunca havia demonstrado amor e por isso se achavam um estorvo. Colocando o seu problema, ela mesmo concluiu: “dei tudo às minhas filhas e sempre quis o melhor para elas. O que de fato nunca soube foi demonstrar o meu amor. Achava que cobrando, disciplinando e planejando a vida delas, eu estava demonstrando esse amor”. Pois é, precisamos estar muito atentos a situações similares. Não se esqueçam que nós também somos filhos e, por isso, também carregamos conosco algum peso dessa relação. Portanto, vamos estar atentos! Os nossos filhos são pessoas diferentes de nós, criados em uma cultura de mundo diferente e que se realizam naquilo que gostam e que desejam fazer. Por isso e, só por isso, já merecem um elogio e um reconhecimento.
Ajudem os seus filhos, desde pequenos, a se sentirem valorizados. Declare a sua admiração por eles, façam com que se sintam amados e respeitados. Quando um filho descobre o quanto é importante para os pais, sua autoestima se fortalece e ele ganha segurança para enfrentar os desafios da vida. Pode ter certeza que seu filho espera a sua aprovação. Que tal fazer um elogio e demonstrar amor aos seus filhos no próximo almoço em família? Certamente, isso irá trazer para eles uma felicidade enorme.


sexta-feira, 15 de abril de 2016

Chiliques, como acabar com eles?



Não existe nada mais desgastante e desagradável do que um filho, por nada, começar a se jogar no chão, fazer birra ou atirar objetos a esmo. Presenciei uma cena dessas em um shopping da cidade, quando fazia compras. Uma criança já grandinha, quase adolescente, diante da negativa da mãe em comprar o que desejava, aprontou um escândalo. O pior de tudo, foi que diante da cena, a mãe não sabia o que fazer. Dava vontade de querer opinar, mas resolvi sair de perto. Diante de um quadro desses, o que fazer? Vi que a mãe queria sair correndo, mas não podia. Fazer o que também? Gritar? Bater? Claro que não. Ali no momento parecia que nada funcionaria.
Eu conheço, sim, algumas técnicas que funcionam bem. Na verdade, evitam que se instale o problema, pois ali na hora, só fugindo mesmo. Leia e releia cuidadosamente as sugestões que darei. Lembre-se que na educação de filhos, nós temos que estar dispostos aos enfrentamentos necessários para levá-los a compreender e avaliar o que fazem de errado. Vamos lá...
A criança que é atendida em tudo quando chora, grita e insiste está testando a capacidade dos pais em lidar com isso. Se você entrar no esquema dela e atendê-la para acabar com o escândalo, saiba que ela repetirá essa estratégia e cada vez com mais artimanha. O que se acha engraçado e se aceita em uma criança birrenta, certamente reforça essa conduta dela. É preciso se opor, com segurança e sem agressividade. Sei que não é fácil, mas temos que deixar a criança se desgastar, literalmente cansar de tanto lamuriar. Conquistar respeito é difícil, mas perdê-lo é fácil e demais. Portanto, pense bem nisso. Mantenha a calma e a frieza nesses momentos. Sua força interior será necessária e seu comportamento positivo irá impactar a criança e fazê-la perceber que não adianta fazer escândalo.
Ser maneiro na lida com os filhos é uma maravilha. Eles adoram e a gente fica com o conforto de não ter que corrigir, mas entenda que dar muita facilidade à criança vicia, desequilibra e faz com que ela perca o contato com a realidade. Torna-se “mandona” e começa a enfrentar dificuldades de relacionamento na escola, no condomínio onde mora e mesmo em casa com os pais e irmãos. O que precisamos entender, é que a criança irá conviver mais longe da gente do que se pensa. Será que as outras pessoas serão tolerantes com ela quando se tornar inconveniente? Tenha certeza que não! Ela vai um dia se jogar no chão e espernear, quando o seu professor dizer não e, seu resultado na avaliação, não for o esperado?
Mas o que é o chilique? É um ataque de raiva, pois as crianças não sabem dominar os seus sentimentos. Essa é a questão. Precisam aprender a lidar com a frustração e com o não. Não podem ter tudo fácil em suas mãos. Aprender a lidar com os sentimentos é gradual, mas precisamos ajudá-las nisso. Claro que com cada filho, o que vai funcionar melhor pode ser diferente. Com algumas crianças, só de você se afastar delas quando começa a crise, elas se acalentam e pronto. Outras, exigem um diálogo, mostrando onde elas estão errando. Algumas aceitam um carinho e um abraço. Mas cuidado para você não se derreter e voltar atrás na decisão.  A coisa certa é agir com segurança e afeto, mas sem ceder à gritaria ou escândalo. Há situações, cujo o controle pode ser mais difícil. Nesse caso, sugiro que afastem mesas, cadeiras e objetos com os quais as crianças possam se machucar. Fale em um tom de voz normal, calma e pausadamente, mas firme. Não precisa ficar berrando junto, pois em nada irá ajudar. Seu filho vai responder de forma positiva aos poucos e na mesma proporção que percebe que você não é atingido pela conduta dele e que você está no comando. Outra coisa importante é não valorizar a ação da criança. Não demonstre raiva ou sentimento de pena, proceda naturalmente e não fique em cima tentando resolver. Se dirija à ela apenas uma vez e espere o resultado. Se for em um shopping, apenas espere o ataque de fúria. Não faça nada. Não compartilhe com terceiros, espere que passe.
Depois que o ataque de chilique passar, como se deve proceder? É comum a criança procurar o carinho do pai ou da mãe. Pronto. Não demostre pena ou sentimento de culpa. Se o fizer, irá perder da próxima vez. Aja com naturalidade, limpe as lágrimas e desvie-a para algo produtivo. Se manter essa postura sempre, logo a criança saberá que o chilique não garante resultado. Esse será o momento em que ela abandonará essa prática. Saiba que você pode até ter recaídas em sua conduta, mas não desista de seu filho. Corrigi-lo é na verdade uma ação positiva para ele. Terá sempre muitos ganhos na relação pais e filhos. Para terminar, eu deixo a seguinte mensagem: os nossos filhos são o que fazemos deles. (Tania Zagury)  


segunda-feira, 4 de abril de 2016

A Inteligência Emocional e o destino de cada um: precisamos aprofundar o tema



Tenho focado muito no conceito de inteligência emocional. Na verdade, esse é o tema mais atual no mundo da educação e, principalmente, na psicologia educacional. Há hoje um entendimento mais apurado sobre a relação entre sucesso/inteligência acadêmica/inteligência emocional. Mas o que vem a ser a inteligência emocional? De maneira menos acadêmica, digo que a inteligência emocional é a capacidade que desenvolvemos de lidar com as nossas emoções e também com as emoções dos outros. Trata-se de estar preparado para saber dar soluções às situações de conflito e desafios que a vida nos coloca. Muitas vezes, o QI alto e a portabilidade de uma invejável inteligência acadêmica não são garantias para o sucesso profissional e pessoal. Nem sempre pessoas que se destacaram na escola com notas altas foram na vida profissional os que se destacaram em suas carreiras, chegando ao topo. Esse sucesso não está diretamente vinculado ao sucesso na escola. Por isso mesmo, uma coisa necessária, é buscarmos oferecer aos nossos filhos uma boa formação intelectual, mas também um perfeito domínio de suas emoções para que as duas inteligências possam operar para o seu sucesso.
O QI não explica bem os diferentes destinos seguidos por pessoas em igualdade de condições intelectuais, de escolaridade e de oportunidade. Pesquisas realizadas em estudantes de Harvard, selecionaram alunos com QIs potencialmente elevados e com grande desempenho acadêmico e intelectual. Foram igualmente selecionados estudantes de outras instituições de estudo com QIs variados, mas com as mesmas oportunidades sociais dos alunos de Harvard. Foi realizado um “comparativo de sucesso” e a conclusão foi surpreendente. O nível de QI apresentou pouca relação com o nível de sucesso que essas pessoas alcançaram na vida. Mas o que fez a diferença? A capacidade adquirida na infância de lidar com as frustrações, controlar as emoções e de relacionar-se com as outras pessoas.
Vencer no sistema não tem uma ligação direta em ser o melhor da turma. Claro que o conhecimento acadêmico é um peso fundamental. Ninguém sobe no topo da carreira sem ter conhecimento de sua área. Claro que quem não se prepara intelectualmente está fadado a não ter o sucesso. Contudo, não é somente o estudo, mas o autocontrole, a capacidade de relacionamento interpessoal e o conhecimento das emoções também são aspectos que definem as linhas do sucesso. Claro que há muitos caminhos para o sucesso na vida e muitos campos em que outras aptidões são recompensadas. Numa sociedade cada vez mais baseada no conhecimento, a aptidão técnica é, sem dúvida, uma delas, mas é preciso considerar que o domínio das emoções é elemento fundamental para que os nossos filhos venham atingir o sucesso. No caso aqui, refiro-me não somente ao sucesso profissional, mas também ao sucesso nas relações sociais e amorosas. Pessoas com práticas emocionais bem desenvolvidas têm muita probabilidade de se sentirem satisfeitas e de serem eficientes em suas vidas. As que não conseguem exercer nenhum controle sobre sua vida emocional travam batalhas internas que sabotam a capacidade de sucesso na vida.
Qual é então o objetivo final dessa nossa reflexão? A ideia aqui é mostrar a vocês, pais amigos, que nossos filhos, para atingirem o sucesso na vida, precisam mais do que uma boa escolarização e uma boa universidade. Precisam mais do que um bom desempenho acadêmico. Precisam de um bom equilíbrio emocional e desenvolverem a habilidade de domínio dessas emoções. O brilho social e pessoal de nossos filhos dependerá do quanto nós seremos capazes de ampliarmos a nossa noção sobre o espectro de talentos. A maior contribuição que a educação pode dar ao desenvolvimento de uma criança é ajudá-la a escolher um caminho na vida, onde ela possa utilizar melhor seus talentos, onde ela será feliz e competente. Por isso mesmo, convido vocês a oportunizarem o desenvolvimento das múltiplas inteligências de seus filhos, para que aproveitando do que a escola oferece, as múltiplas linguagens do mundo de cada um, possam ser exploradas. Vamos abrir as “janelas” de nossos entendimentos e dar aos nossos filhos a oportunidade de se realizarem a partir de suas potencialidades. Lembrem-se sempre que todos nós somos educadores!


Fonte: Goleman, Daniel (PHD). Inteligência Emocional – a teoria Revolucionária que redefine o que é ser inteligente. Ed objetiva. Rio de Janeiro. 2007


terça-feira, 29 de março de 2016

INFÂNCIA E PSICANÁLISE



INFÂNCIA E PSICANÁLISE: 
um passeio no pensamento de Dolto, Mannoni e Volnovich

 Desde os primórdios da psicanálise, Freud tinha como foco de atenção o infantil existente no adulto, e que podia ser encontrado nas raízes da neurose. Levou pouco tempo para Freud perceber a possibilidade e a importância do trabalho com crianças.
A teoria freudiana estruturou toda ideia existente sobre a infância: havia uma concepção de infância antes de Freud e outra após os estudos de Freud. A visão da inncia sofreu uma abertura de sentidos sobre quem somos, como nos tornamos adultos, a importância dos primeiros anos da vida para a estruturação subjetiva. Sabemos que a vivência da criança nesse processo de estruturação do ser, será determinante para as projeções na vida adulta. Seria dizer que somos como adultos aquilo que nos foi dado na vida infantil, durante o nosso processo de formação. O adulto de hoje, é reflexo da criança de ontem. Há sim essa relação direta entre a infância e a fase adulta do sujeito. Dessa forma é que Freud de pronto entendeu que a análise da criança não só é possível, mas acima de tudo permite já na infância a buscarmos soluções para as aflições do aparelho psíquico.
A herança teórica de Freud é o que abre caminho para a ptica psicanalítica com crianças, que hoje encontra-se completamente estabelecida e aceita. Há no mundo, clínica e profissionais focados inteiramente em buscar ajudar crianças que se encontram em estágios diversos de sofrimento. Maud Mannoni (MANNONI, 1985) chega a afirmar que a psicanálise de crianças é a psicanálise, sua afirmação aponta para a importância do trabalho realizado com crianças para até mesmo compreendermos a estruturação subjetiva e as psicopatologias, sua origem e seus desdobramentos. Assim, na sua visão a psicanálise com crianças torna-se na essência a melhor forma de se fazer psicanálise. Não há, portanto, qualquer prematuridade em demandarmos seções terapêuticas em crianças que precisam de ajuda.
Nãodúvidas de que a cnica com crianças exige mais do profissional. Em termos pticos diria mais flexibilidade, habilidade, paciência, maior conhecimento do desenvolvimento e do mundo simlico das crianças, cujo universo fantasioso está tragado por esse elemento simbólico.
Françoise Dolto (DOLTO, 1985) afirmava que para um psicanalista de crianças se faz necessário uma grande familiariedade com o inconsciente, com isso compreendo uma análise pessoal profícua e profunda, onde o profissional deverá estar atento às múltiplas linguagens através das quais as crianças irão se manifestar. Ler essas linguagens e entender o mundo simbólico da infância é essencial.
Dolto em seus seminários costumava fazer esse alerta: aqueles que postulam tornarem-se psicanalistas de crianças muitas vezes acreditam que é mais fácil do que atender adultos. Na realidade, é muito mais difícil. O trabalho com crianças guarda especificidades que torna complexa a questão da análise.
A especificidade da psicanálise com crianças consiste essencialmente na presençasica dos pais na vida do analisando. É com o olhar do adulto que a criança se depara ao sair de nossos consultórios.
Numa análise de um adulto sem grandes comprometimentos – sabemos que existe uma distância destes com seus pais, que podem até mesmo ocupar um lugar de destaque em suas fantasias, mas o recalcamento já agiu e o sujeito reconstrói suas lembranças da infância com sua parcela de idealização, tristezas, alegrias ou ódio. E nessa reconstrução o sujeito vai buscar sua história e acertar suas contas. Na cnica com crianças, os pais estão presentes e suas transferências também. Daí a necessidade da inserção dos pais no processo analítico. Sabemos que a criança é espelho dos pais e certamente a transferência é tão forte que a vinculação dos pais no processo de análise, garante mais qualidade assertiva ao processo.
Segundo  Volnovich:
o sintoma é suporte e mensagem na criança da conflitiva individual, familiar e sócio-política-institucional, e constitui a essência de uma possível psicopatologia infantil.” Continua ele a cura psicanalítica consiste em articular o sintoma com o desejo reprimido, o que é denominado desvendar o sentido, articulação atras da qual é possível assumir a própria história. (VOLNOVICH, 1991, p.76)

Como coloca o autor, um sintoma é um conflito referido a um outro, e assim sendo, no tratamento psicanalítico seremos testemunhas do deslocamento do sintoma (na transferência) de um significante a um outro. Isto ajuda a compreender melhor um fato bastante visível na cnica com crianças, quanto ao pido desaparecimento dos sintomas iniciais, o que Volnovich chama de “curas defensivas” – o que não seria outra coisa senão a constatação da virada dentro do campo transferencial.
Quando os pais chegam para pedir ajuda, percebemos um sentimento de impotência, de culpa ou fracasso, geralmente essas frustrões aparecem em seus comentários ou ações. Um pai que se encontra culpado seja pela doença do filho, seja pela sua própria doença. De certa forma, muitas vezes a doença do filho apenas reside em seu inconsciente, não sendo ele o doente de fato. Apenas vítima de uma transferência. Precisamos então de delimitar o paciente, ou seja, aquele que de fato será o nosso objeto de análise.
Depois de delimitado o paciente, sendo mesmo a criança, devemos conversar com os pais sempre que existir uma demanda expcita ou impcita ou seja, aquela que aparece através de certos “atos” tais como: a falta de pagamento, o esquecimento do horário, deixar a criança esperando na saída, ligar para o analista para contar fatos da rotina, etc. Esta entrevista feita no decurso do tratamento deve ter a presença, ou pelo menos o consentimento da criança. Conforme a idade e a situação, há crianças que preferem não estarem presentes, nestes casos considero necessário um relato desta entrevista para o paciente. Mas, as entrevistas familiares no decurso do tratamento são feitas em geral pela demanda e com a criança.
Numa análise o psicanalista está ali para servir à transferência das  pules  do passado, ou seja, para fazer ressurgir aquilo que permaneceu enterrado e que ainda causa problemas atualmente, e para advir aquilo que nunca teve lugar no curso do desenvolvimento, por não ter sido falado, colocado em palavras. Portanto, seu trabalho concerne ao imaginário, aos fantasmas, e não à realidade.
 Quanto às peculiaridades da transfencia na psicanálise de crianças, percebo que esta constitui um campo múltiplo onde estão envolvidas não as crianças, mas também os pais ou responsáveis da criaa. A transferência pode ser escutada nas queixas, nos lamentos e reivindicações destes, assim como quando estes somem e fica a impressão de que a criança está no tratamento.
A transferência é múltipla, mas nunca tem um caráter de unidade; é comum divies, enquanto um pai pode se encontrar em transferência positiva o outro pode estar em transferência negativa. Lidar com essa falta de unidade é um trabalho que exige muito do analista, mas acredito na impossibilidade de realizar um tratamento de criança desconhecendo a palavra dos pais ou de um de seus representantes, incluídos no nível transferencial em jogo.
Neste sentido se faz necessário na psicanálise de crianças a interpretação na transferência – e muitas vezes  da  transferência  na  medida  em  que,  estando  constituída  por  um  elemento imaginário,  constitui  um  empecilho  ao  avanço  do  discurso,  e  é  através  da  interpretão precisamente que se torna possível aproveitar o elemento simlico presente em toda transferência.
Isto constitui o trabalho do analista.
Entendo a enorme pressão por parte dos familiares (pais) no sentido da brevidade da terapia, de forma a ser  eficaz e de preferência que se mantenham  apenas observadores e não atores; e se possível, com uso de medicamentos para acelerar o processo.
Pressa, resultados pidos, diagnósticos e prognósticos definidos... isto tudo me faz pensar nas diferenças entre uma psicanálise e outras psicoterapias.
A maioria das psicoterapias se apoia numa concepção da pessoa baseada em conceitos da psicologia. A ênfase é colocada nas funções do ego e o trabalho é realizado essencialmente sobre os comportamentos.   Neste tratamentos    sintom é   colocado   e primeir luga  seu desaparecimento é o principal objetivo; a transferência neste caso acaba funcionando como uma possante alavanca para o desaparecimento do sintoma.
O trabalho terapêutico do psicanalista passa por essa esfera. Mas, o que mesmo fará um Psicanalista no tratamento de neuroses na fase da infância?
 Com o tempo e a experiência, sua ptica produz efeitos no grupo, atras de intervenções, publicações, supervisões, ou seja,  os  femenos de transferência ligados a  relação analisando analista deslocam-se progressivamente para o grupo de trabalho: da transferência para o analista passa-se para a transferência para a análise, o efeito de seus avanços teóricos práticos surgem no coletivo, participando, assim, da transmissão em psicanálise.
Em síntese, a qualidade do psicanalista depende de vários fatores: do ponto em que se o sujeito se encontra no seu trabalho pessoal (psicanálise ou psicoterapia), de seu percurso teórico, e enfim, da qualidade de sua inserção no grupo que frequenta. São esses ts pontos que diferenciam um profissional qualificado de um adulto de boa-vontade”.


Referências.
DOLTO, F. Seminário de psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1985.
                . Seminário de psicanálise de crianças 2. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1990. MANNONI,  M.  A  criança,  sua  doença”  e  os  outros.  3ª.ed,  Rio  de  Janeiro:  Zahar
Editores. 1985.
VOLNOVICH, J. Lições introdutórias à psicanálise de crianças. Rio de Janeiro: Relume- Dumará, 1991.