quinta-feira, 9 de novembro de 2017

A identificação: O Eu influenciando outro (filhos e filhas)


 Buscando o conceito psicanalítico de “identificação”, encontro a ideia de que o termo designa o processo pelo qual um sujeito se apropria dos traços ou atributos de outros seres humanos, com os quais convive. É, na verdade, o processo fundamental para a construção do outro enquanto sujeito. Assim, a identificação opera como uma carga de influência essencial à construção do “eu” no outro. Quero dizer que a construção do outro como sujeito se dá, sim, a partir da identificação que se estabelece na relação parental. Já deu para perceber a importância enorme do pai e da mãe nesse processo. Sim, os filhos, de certa maneira são constituídos de nosso material genético e também de elementos de identificação que formarão a sua personalidade. As crianças desde a primeira infância vão desenvolvendo e assimilando valores, traços e características do outro, cuja relação de identificação se estabeleceu.
O que busco dizer é que o enlaçamento dos pais com os filhos molda, sim, as personalidades. Dessa forma, quando falamos aos nossos filhos, ainda no berço, ressaltando as características atribuídas, vamos moldando essa personalidade. Por exemplo:  quando falamos “ que criança risonha e alegre”, “tem o jeito do papai”, “nossa, como ela é tímida” etc., estamos moldando de maneira volumosa a carga de personalidade que irá suportar a formação dessa criança. Isso me leva a dizer que, de certa forma, o que dizemos aos filhos é o que de certa maneira estarão moldados a serem. Sinceramente, se eu tivesse esse conhecimento, quando os meus filhos ainda eram bebês, certamente, eu teria tido um outro modelo de direcionamento a eles. Digo isso por entender, hoje, a luz do conhecimento psicanalítico que a identificação é a marca do outro em nós. Isso aconteceu conosco também na relação parental com os nossos pais.
Bem, mas se é assim tão natural, qual é o significado desse breve ensaio? Seria apenas levantar a questão? Não, dar luz a um fato real: esse processo de identificação faz com que o “eu” desenvolvido no outro (nossas crianças, no caso), não seja exatamente o que esse outro é em sua essência. Descomplicando... quero dizer que essa carga de identificação, embora tenha contribuído para a formação da personalidade de nossos filhos, eles não são o que nós transferimos a eles e, por isso, chegará o momento em que a personalidade de cada um irá, sim, ter que lidar com toda essa identificação. Ocorrerá em cada um a necessidade natural de encontrarem a sua própria identidade, rompendo, portanto, com esse espelhamento. É nessa busca que certamente haverá alguns choques e conflitos, bem típicos da fase da adolescência. Sendo assim, é aí que o sujeito estará construindo a sua personalidade, o seu “eu”. Se não conseguir quebrar esse espelhamento e se construir uma nova existência, poderemos estar diante de uma situação que leve à clínica psicanalítica em decorrência de uma desestruturação do aparelho psíquico. O sujeito necessita ser dono de si mesmo.

Dessa forma, podemos dizer que há o momento no desenvolvimento da criança ou do adolescente, que ela(e) necessita deslocar-se do outro e tornar-se um sujeito real. A psicanálise freudiana nos ensina que o descolamento, ou seja, a separação daquele que se configura como o outro de sua existência, é necessária para que a criança se situe no mundo em relação não mais a uma criança idealizada, mas a uma pessoa constituída como sujeito real, dotado de autonomia enquanto ser. 


sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Desenhos animados com cenas de violência



Hoje, uma das cenas mais comuns que encontramos são as crianças expostas há vários canais de TV por assinatura ou mesmo diante de jogos de videogames, deliciando- se com desenhos ou jogos agressivos. Muitas vezes, desconhecendo o perigo de tal exposição, os pais se sentem aliviados com o sossego e podem seguir com a rotina doméstica. Contudo, há um enorme perigo nessa conduta e precisamos estar atentos para evitar problemas maiores, pois esse alívio, dá lugar a uma situação de risco, quando assistimos a alguns programas das TVs ditas infantis. Não faltam cenas de violência e mensagens muitas vezes duvidosas. Acompanhe e verás que os personagens, considerados verdadeiros heróis por nossas crianças, além de violentos, possuem valores que muitas vezes se chocam com os valores que ensinamos em casa e na escola, o que leva as crianças a conviverem com uma ambiguidade, que não estão preparados para compreenderem.
Os super-heróis dos jogos e dos seriados infantis na TV são geralmente seres com superpoderes, capazes de enfrentar tudo e todos os perigos. Esse repertório transfere às crianças a sensação de que, como os personagens da TV e dos jogos, são investidas de poderes que dão a elas uma força tremenda, capaz de levá-las a resolver tudo. O imaginário se confunde com o mundo real e aí, na escola e mesmo no condomínio, querem, ao brincar com os colegas, vivenciar essa transferência e exercer os seus superpoderes. Muitas vezes, essas brincadeiras acabam machucando alguém. Com o senso de realidade contaminado pelo imaginário, a criança é em si um ser de superpoderes que, assim como os personagens que ela se identificou, resolverá os problemas com a força e com as armas poderosas. Estamos aí diante de um problema sério.
Essa onipotência se faz presente no mundo das crianças, quando se sentem contrariadas ou mesmo frustradas em seus desejos. Quando são contrariadas pelos pais ou pelos colegas de escola, por exemplo. Diante de uma negativa dos pais que leva à frustração de seus desejos, tornam-se violentas, ameaçando a bater nos pais e utilizando de palavras agressivas e de comando como acontece nos filmes e nos jogos. Na relação com os colegas, a postura é a mesma. A intolerância e contradição de seus desejos, geralmente, desencadeiam atos de agressão. Se não for por isso, mesmo brincando naturalmente com o colega, a criança faz uso dos superpoderes do personagem travestido. Dessa forma, mais uma vez, a violência toma espaço, e o conflito torna-se inevitável.
Diante desse quadro, o que os pais devem fazer? Simples! Limitar a exposição aos filmes e aos jogos, bem como determinar o programa e o tempo. Selecionar os jogos de maneira a evitar o contato com os filmes violentos. Mais do que isso, substituir o lazer da criança. Elas estão tendo uma devida ocupação com o tempo? Estão praticando esporte, fazendo leituras regulares e brincando com brinquedos reais e não somente virtuais?  É isso mesmo. As crianças estão precisando de mergulhar nos livros, no mundo da imaginação saudável e em brincadeiras físicas gostosas com as outras crianças. Sei que andamos sem tempo para tanta dedicação, que as ruas estão violentas e que estamos nos isolando socialmente cada vez mais. Contudo, precisamos resgatar para os nossos filhos as brincadeiras saudáveis e a imaginação inocente. Fiquem atentos ao trabalho das babás e acompanhantes. Essas cuidadoras muitas vezes, para não terem trabalho, deixam as crianças à vontade, tendo acesso a tudo, enquanto elas teclam tranquilamente nas redes sociais.
Aproveito a oportunidade para convidar você a curtir a minha página Pedagogia e Psicanálise no Facebook. Estarei nesse espaço virtual postando artigos e reflexões acerca da Educação de crianças e adolescentes. A ideia aqui é criar uma grande corrente, em que, através dessa rede social, possamos compartilhar com todos as experiências acumuladas ao longo dos meus 35 anos dedicados à educação.
É isso aí. Estamos juntos!



Imagem de: http://s4.static.brasilescola.uol.com.br/img/2014/11/figura_animadojapones.jpg


Bater na criança é uma forma de educá-la?



Quando o assunto é a educação dos filhos, certamente as opiniões são diferentes. Cada um acredita que o seu jeito de educar é mais eficiente e, geralmente, agem sem refletir muito sobre o assunto. Quando o assunto é bater ou não nos filhos, aí sim é que as opiniões se multiplicam. Parece não existir mesmo um consenso a respeito do tema. Alguns acham que uma criança que não apanha diante da indisciplina, não será um adulto de caráter. Há os que acham que bater, pode causar reflexos danosos na fase adulta. O que pensar a respeito?
A punição corporal foi usada há muitos séculos como forma de correção dos desvios de conduta. Era normal bater nas crianças até mesmo nas escolas. Ainda recentemente, tínhamos as famosas palmatórias, que eram o terror das crianças e jovens. Em casa, os pais, principalmente o pai, batia de cinta e de chinelo e de certa forma havia uma normalidade nessa conduta educativa. Mais recentemente, nas últimas décadas, essa conduta não tem mais apoio na pedagogia e na psicologia. Até mesmo a legislação proíbe a prática de castigo corporal na educação de crianças e jovens. Essa prática é considerada hoje prejudicial e inadequada.
Mas, diante disso, o que fazer? Como impor limites aos filhos que estão necessitando de correção? Saber impor limites, sem dúvida, é importante para a educação dos filhos. Contudo, os limites só fazem sentido para as crianças se postos em um contexto no qual ela se sinta acolhida e amada. Na verdade, pais que batem em crianças rebeldes, fazem isso porque perderam o controle da situação. Se sentiram ameaçados em sua autoridade, sendo, portanto, uma reação violenta. Acaba em brutalidade, o que certamente não é um gesto educativo. Confesso que já bati em meus filhos e sempre me veio o remoço, após eu ter-me acalmado. Essa reação raivosa, não constrói nada de educativo, é apenas uma ação repressiva. Não ensina, mas somente privilegia a punição. Mas, observe bem... uma tapinha no bumbum, devidamente dosado, em uma situação de absoluto controle dos pais, aí pode sim ter um sentido educativo. O tapa, nesse caso, não visa machucar ou humilhar. Tem na verdade uma função simbólica, significando um não mais enérgico, depois que o pai ou a mãe já cansou de explicar que a conduta da criança não está correta. Aí sim, entra essa ação medida, como uma prática salutar para o limite desejado.
Por mais estranho que lhe possa parecer, a autoridade dos pais depende do afeto e dos laços de confiança com os filhos. Por isso, muitas vezes, um olhar severo funciona mais do que um tapa, pois sugere a perda de confiança. Também, não é para guardar essa raiva demostrada. As crianças são rápidas em se reposicionarem quando percebem de fato que foram além. Dessa forma, os adultos necessitam também de reestabelecer-se rapidamente, deixando de lado a expressão de raiva e voltando a ter com a criança uma relação afetuosa e saudável. Quando a criança acolhe o limite e se adapta as exigências, é a hora dos pais deixarem de lado a cara amarrada e voltarem a sorrir.
Eu gostaria de aproveitar esse contato para compartilhar um livro muito interessante que eu tenho comigo e me ajuda a cuidar dos meus filhos e alunos, uma conduta positiva e mais assertiva. Trata-se do livro Perguntas a um Psicanalista de Roberto Girola, editado pela editora Ideias Letras. Há ali um ensinamento às diversas situações de nosso cotidiano no trato com as pessoas que convivemos e amamos.



Imagem de: http://baebii.com/physical-discipline-reasons-shouldnt-hit-child-part-1/

terça-feira, 3 de outubro de 2017

Como ajudar os filhos a conviver bem com os meios-irmãos



A convivência entre filhos de uma união atual, com os gerados em uma união anterior, tem sido um desafio interessante para muitas famílias que convivem hoje com associações afetivas multifacetadas. Nesse avançar do nosso século XXI, é claro que vivenciamos um modelo novo de família que certamente exige dos membros desse núcleo a acomodação sentimental às maneiras diferentes de relações. Hoje, mais de 2/3 das uniões acabam se desfazendo. Muitas vezes, os ex-cônjuges buscam refazer as suas relações e daí nascem filhos que terão que se relacionar com irmãos vindos da outra relação do pai ou da mãe, ou mesmo dos dois. Essa realidade existe e não é novidade para nós. O que surpreende, aqui, é termos registros de muitos casamentos que estão acontecendo entre esses casais, sem que antes tenham consolidado uma relação, o que leva a novas rupturas e a novas buscas, multifacetando ainda mais o conceito de família.
O sociólogo Zygmunt Bauman, falecido recentemente, deixou-nos uma vasta obra sobre a liquidez do amor em nosso século. Ele, autor de Amor Líquido, aprofundou o entendimento acerca da fragilidade dos lações humanos. Em tempo de internet e de redes sociais como esse que vivemos, parece mesmo estar influenciando as emoções humanas que estão na mesma velocidade da internet banda larga. Tudo bem, mas estamos sentindo em nossa sociedade, na escola, nos clubes sociais e demais espaços de convívio, uma mudança grande de comportamento social de nossas crianças. Elas estão cada vez mais com dificuldade de estabelecerem laços afetivos e de expressarem segurança emocional. Dessa forma, precisamos estar atentos a essa realidade, visto que, seja qual for a situação na qual os filhos foram concebidos, é comum, hoje, nos grandes centros, o casal ter que conviver com filhos gerados em outras relações, o que não é tarefa tão simples assim.
O que temos não poderemos mudar. O mundo muda e o comportamento humano muda com uma rapidez enorme. O que precisamos é estarmos preparados para conviver com essa situação, o que nem é sempre assim. O convívio entre meios-irmãos pode, sim, ser comprometido pelo posicionamento de pais que não são pais comuns, provocando conflitos, ciúmes e brigas entre os casais e os membros dessa nova família formada. Veja, é preciso muita maturidade para se lidar com os enteados e com os filhos da relação. A não atenção a esse convívio anda comprometendo e muito essa nova união, provocando novas separações. Sabe o que ainda é mais complicado? Essa experiência tem sido vivenciada principalmente por moças jovens que se relacionam e casam pela primeira vez, com homens mais maduros e já com filhos do casamento anterior. O que fazer então? Acreditem, a solução para os problemas está sempre no diálogo, no entendimento e na aceitação das partes.
Em sua insegurança e ingenuidade, as crianças não têm clareza nem maturidade suficientes para entender as relações e os vínculos novos a que estão sendo levadas. Nunca escolhem, pois no caso o amor envolvido é dos adultos. Por isso, temos que estar atentos às crianças. Elas são o lado frágil de tudo isso. Pode ser um sucesso a nova família? Com certeza, mas a construção dela deve ser perfeita nas bases do respeito e do entendimento. Muitas crianças se fecham e sofrem com essa nova situação de família, pois não sabem exatamente o que as espera nessa nova construção de família. Por isso, é preciso muita calma para que o sucesso desse novo casamento venha desaguar no sucesso da nova família. Por sinal, cabe ressaltar, que esse sucesso irá depender da maturidade emocional do casal que se forma para a família. Portanto, de novo, eu oriento o diálogo. Mas não se esqueça: a relação de família deve ser construída, antes que se materialize a relação cotidiana. Só deve haver o casamento depois que tudo estiver acertado e, novos filhos, somente depois que o casamento e a nova família estejam mesmo consolidados. Aí as chances de sucesso são elevadas e as crianças que surgirem nessa nova família serão esperadas e celebradas. Imagine só: para quem enxerga os pais como figuras de equilíbrio e segurança, brigas e indiferenças, geram a não aceitação no convívio familiar. Por isso, vamos lembrar sempre o que digo: o adulto é sempre você!


segunda-feira, 18 de setembro de 2017

Filhos consumistas: o que os pais estão fazendo para mudar isso?



Basta passearmos nos Shoppings para nos depararmos com crianças e adolescentes consumindo mais do que gente grande. Os lojistas e o mercado em geral sabem disso, e o apelo através das mídias contribuem para acelerar o hábito de consumo dos menores. Nos supermercados, a situação é similar. Carrinhos lotados de produtos supérfluos, escolhidos pelos filhos e filhas que acompanham os seus pais. Se prestarmos atenção mais detalhada, observaremos crianças autoritárias, determinando a marca do produto e a quantidade que se deve levar para a casa. Contrariados, provocam cenas que os pais preferem evitar.  Estamos assim diante de uma geração de consumidores vorazes. Dessa forma, uma pergunta se faz necessário: quem são os responsáveis pelas crianças e adolescentes? Eles não consomem sozinhos, não possuem renda e por isso não podem comprar o que desejam.
As crianças pedem o que querem aos pais, porque é natural pedir. O custo é então repassado aos pais que assumem o ônus desses pedidos sem educar devidamente os filhos e filhas na prática do consumismo. Essa prática acaba se tornando um vício e como tal vai crescendo de maneira descontrolada. Na realidade, os pais, de maneira geral, têm um outro vício: o de não educar os desejos dos filhos, separando-os das necessidades reais. Um “agora não” ou “você não está precisando disso agora”, não educa. Dizer: “depois eu compro”, não estará educando também, mas postergando, empurrando para depois. O que se deve dizer então? Diga não! Se insistir, complete a frase: se continuar pedindo, você irá me esperar lá fora da loja! ” Outra coisa importante: pais precisam combinar entre si as premissas da educação e não postergar situações. O pai agir de um jeito e a mãe de outro, piora tudo e a criança ou mesmo o adolescente encontra aí uma fragilidade que o torna um manipulador.
Sendo assim, se os pais irão atender aos filhos porque não suportam insistência, ou para resolver rapidinho um conflito estabelecido pela negativa dada, aí eles estão deixando de ser educadores. Qual a consequência? Seus filhos estarão deixando de valorizar o que tem e passando a ser consumidores compulsivos e infelizes. Há, sim, a possibilidade de não sermos felizes, mesmo tendo tudo o que desejamos. Esse é o grande desafio nosso como pais e mães educadores. Comprar para satisfazer não as necessidades. O exagero pode, sim, provocar a ideia de que é fácil ter as coisas e por isso sempre vão querer mais. Vários pares de tênis de marca, calças etc, sem que usem de fato, acabam sendo doados, o que pode criar ainda mais a sensação de supérfluo e desnecessário, mas importante pela única razão de querer ter algo que o tenha oportunizado momentos de satisfação na hora da compra. É aí que está o perigo.   Não há nenhum absurdo em comprarmos para os nossos filhos, vê-los contentes e juntos compartilharmos alegria. Apenas precisamos fazer isso com regras bem estabelecidas e fazendo-os entender o valor daquele presente. Também cabe a disciplina, o “não” dito de maneira definitiva e a reflexão sobre a real necessidade daquela compra. Eu consegui milagre com os meus filhos. Confesso que andei meio negligente, certo de que “se posso dar, então darei”. No entanto, foram eles mesmos que me mostraram que o caminho não estava legal. Eles confessaram a mim que uma vida sem gastos absurdos com futilidades, poderia ser mais interessante. Imagine! Eu que pensava que dando a eles tudo o que não tive, estaria dando a felicidade que cheguei a pensar que na vida eu um dia não tivesse conhecido. Eles me educaram e me levaram a uma reflexão tão significativa sobre consumismo que resolvi partilhar com vocês essa experiência educativa. O que eu tinha como base sempre foi o amor e o “não”, sempre posto quando não podia ter dado algo que achavam necessitar. Foi essa base que permitiu a eles dizer para mim que desejavam uma vida “gostosa”, mas sem consumismos exagerados. Estamos vivendo, assim, em um clima de “minimizar” o consumo, sem que haja perda na qualidade cultural, gastronômica e de lazer. O que dimensionamos foi o exagero, aquele que enche os armários de coisas que nem se quer utilizamos.


A interação com crianças: como conhecê-las melhor?



Recentemente, aproveitei uma folga para colocar a minha leitura em dia. Tenho procurado aprender mais sobre as pessoas e como posso entende-las para melhor poder atuar na Educação. Terminei um livro que havia começado a algum tempo. Retomei alguns capítulos e finalmente terminei de ler a obra. Trata-se do livro Decifrar Pessoas – Como entender e prever o comportamento humano, de Jo-Ellan Dimitrius e Mark Mazzarella, editora Alegro. O livro todo é muito interessante e bastante útil, mas, me chamou muito a atenção o capítulo onde os autores trataram das crianças. Tão interessante foi, que tomei a liberdade de compartilhar um pouco do que aprendi com você. A ideia aqui, é ajuda-lo no sentido de conhecer um pouco mais as suas crianças, a partir de uma interação mais refinada e assim ser mais fácil a compreensão do mundo deles.
Todos sabemos que as crianças chamam a atenção a seu próprio modo. Algumas pessoas têm muita facilidade com elas, enquanto outras, mesmo que sejam pais ou parentes mais próximos, encontram muitas dificuldades em se comunicar com elas. A interação com as crianças, a forma adequada de fazer essa interação, é o que pode definir o comportamento das mesmas, bem como ser a ferramenta que nos dará uma maior compreensão do mundo de nossos filhos. Na maioria das vezes, saber lidar com as crianças, é um traço não genético, mas uma habilidade adquirida. Portanto, precisamos conhecer melhor os nossos filhos, para que possamos então garantirmos uma interação saudável. O primeiro erro nosso, é acreditar que o comportamento de nossos filhos, é inerente a um traço de personalidade imutável. Não é verdade. Podemos sim mudar o outro. A educação é isso: moldar, acomodar, inserir e tornar o outro socialmente aceito. Se acharmos que está tudo bem com o comportamento de nossos filhos porque herdaram isso de alguém da família, é admitir que não há o que se fazer. Aí sim, é que a situação foge ao nosso controle. Por isso, tenho dito que somente conhecendo mesmo as nossas crianças em casa e na escola, é que poderemos ter o controle de situações e o domínio saudável de uma relação, onde a criança busca segurança e confiança.
Crianças manhosas, dramáticas e manipuladoras em casa, serão assim também na escola, no condomínio em um encontro de família, igreja e onde mais ela conviver. Se deixarmos ela fazer tudo em casa, estamos também dando a ela um salvo conduto para que façam em outros ambientes o que acham que podem fazer. Olhe o problema... em outros ambientes, as regras sociais e de convívio obviamente são outras e, claro, estamos sujeitos a respeitá-las. A perfeita interação de nossos filhos no mundo em que vivem, depende da forma como, em casa, nós colocamos as regras. Afinal, a família é uma instituição educadora e, é sim a primeira escola de nossos filhos fundamental para a formação de cada um! Como se diz: “ educamos para o mundo” e o mundo não é nosso lar. Por isso vai a regra: disciplinar em casa, é ensinar para o mundo. Nós, pais, precisamos dessa sensibilidade. Precisamos de inserir os nossos filhos em nossos jantares, de forma a aprenderem a se comportar diante dos convidados, respeitando as regras sociais e comportamentais. Precisamos de levar os nossos filhos em nossas viagens e festas, ensinando-os a terem uma conduta de acordo com o que cada ambiente e evento exige de cada um de nós. Precisamos inserir os nossos filhos em uma reunião de família, onde se está discutindo o orçamento doméstico, pois precisam saber como deverão conter os desejos de consumo para não ficarem exigindo o que não estamos podendo dar. Tudo isso é uma maneira de conhecermos mais os nossos filhos e também deixá-los com parcelas de responsabilidade. Essa ação educativa, não só nos ajuda a decifrar os nossos filhos, mas de maneira positiva, inseri-los na realidade em que vivem. Cientes e convencidos, passam a fazer uma leitura diferente da vida, de seus desejos e de suas responsabilidades. Que maravilha! Fácil? Não, nada fácil. Formar pessoas é sem dúvidas o maior desafio da família e da escola. Tentamos acertar sempre, aprendendo com os erros e equilibrando as ações. O que não podemos fazer, é deixar para lá, esperando que o tempo dê jeito. Não resolve e pode até piorar. O que resolve é o cuidado, a atenção e os esforços conjuntos da família e da escola. Estamos juntos!


O mercado editorial mundial e seus paradigmas diante do dilema: livros impressos X livros digitais



No mercado brasileiro de impressão de livros, já não existe mais um temor em relação à produção de livros digitais. Dessa forma, há hoje o entendimento de que a leitura digital não leva grande parte dos leitores de livros impressos, como aconteceu com o mercado da música. O que evidencia esse fato são os sinais de estagnação que a venda de livros digitais já nos mostra nos EUA e na Europa.
Nos primeiros nove meses de 2015 e início de 2016, as vendas de e-book (livros eletrônicos que podem ser lidos em e-readers, tablets, PCs ou Smartphones) caíram cerca de 11%. No Brasil, embora o SNEL (Sindicato Nacional dos Editores de Livros), não apresente dados oficiais sobre a venda de livros digitais, temos registro que, de fato, nunca houve um crescimento exponencial dessa modalidade. A Amazon, site de multimídias, que domina esse mercado, não revela números, mas se pode dizer que vivemos uma estagnação aqui também mesmo diante desse cenário, os livros impressos estão mostrando uma resiliência e sobrevivendo a onda de digitalização de textos.
Concomitante a isso, a gigante editorial Hachette registra que a queda de consumo de e-books caiu na mesma proporção que aumentou a produção de livros impressos nos últimos 2 anos nos EUA. Hoje estima-se que, nos EUA, o patamar do livro digital seja entre 20% a 25% DO MERCADO EDITORIAL e, no Brasil, seja na ordem de 3% a 5% e já consolidado, ou seja, é basicamente a fatia de mercado com atração para essa plataforma de leitura. Todavia, vale destacar aqui, que esse mercado editorial digital tem atraído muito os livros digitais de autopublicação já que o próprio autor publica o seu livro sem passar por um conselho editorial ou editora. Hoje, na AMAZON Brasil, de cada 100 livros vendidos semanalmente, cerca de 30 livros são autopublicações.
Com todo esse “bum”, cabe ressaltar que o período de maior expansão dessa modalidade digital, no Brasil, foi mesmo nos anos de 2014 e 2015, quando a AMAZON se posicionou no mercado editorial brasileiro. Contudo, o livro impresso sobreviveu, mesmo em um país onde a maioria das pessoas não têm o hábito de ler. Além disso, os leitores não migraram totalmente para a plataforma digital, mas passaram a consumir os dois modelos de editoração. Há casos em que se recorre aos títulos digitais quando no mercado de impressos, o título procurado esteja esgotado.
Quando se fala em mercado editorial mundial, o Brasil ocupa o 9º lugar. Isso ocorre não exatamente porque lemos, mas pelo fato de o governo, através do PNBE (Programa Nacional Biblioteca da Escola), distribuir milhares de obras de literatura, de pesquisa e de referência para promover o acesso à cultura e o incentivo à leitura nas escolas públicas. Desconsiderando a participação do governo nesse mercado, a situação é outra. Em nosso país, apenas 15% da população compra livros, ou seja, 85% da população não compra nenhum livro. Portanto, precisamos, sim; mudar urgentemente esse cenário, uma vez que os maiores leitores brasileiros estão na faixa etária de 5 a 17 anos. Alguns leem devido ao incentivo da escola e outros, porque se sentem “obrigados” a ler.


sexta-feira, 21 de julho de 2017

Forme o seu filho para o mundo do século XXI



Vivemos em um mundo em que necessitamos de acompanhar as mudanças e nos adequarmos aos novos tempos. Nos prender as tradições, a uma cultura conservadora na educação de nossos filhos, pode ser um grande problema para eles no futuro. Não estou sugerindo o “vale tudo” e muito menos a libertinagem que se vê por aí. O que eu proponho é uma educação sintonizada com as novas perspectivas e realidade do mundo contemporâneo.
O mundo exige hoje pessoas resilientes, capazes de superarem pré-conceitos e trabalharem de maneira cooperativa.  É preciso, hoje, que as pessoas mobilizem um conjunto de competências que estão fora do antigo modelo de educação e que, por isso, nem todos possuem. Esse modelo individualista ainda existente na educação escolar e familiar, dos tempos mais antigos, não existe mais. Ter bons conhecimentos técnicos, já não é o que define um emprego. É preciso desenvolver a inteligência emocional e social, ou seja, saber lidar com as emoções: alegrias, frustrações, motivação, aborrecimento, prazer, entre outros sentimentos que afloram ao longo do dia. Essa competência de saber lhe dar com as emoções tem sido o que garante um bom desempenho profissional, com as pessoas e nos relacionamentos pessoais e íntimos de cada um de nós.
No mundo atual, e com certeza mais ainda no mundo que se desenha para os nossos filhos, as pessoas de sucesso serão aquelas que souberem entender os sentimentos, as expectativas e as dificuldades dos outros. Aceitar as diferenças, interagir de modo respeitoso e adequado, negociando pontos de vista e promovendo harmonia. Esses serão os vitoriosos. Esse aprendizado, a aquisição dessas habilidades e competências não depende só da escola. É na família que começamos a ensinar aos nossos filhos a lidar com as emoções e a respeitar o outro. A ser colaborativo e sensível ao ambiente em que vive e com quem convive. A escola complementa. Por exemplo, estaremos desenvolvendo, a partir do retorno de nosso recesso, com todos os alunos de nossa Escola um projeto de valores que tem por objetivo despertar em todos essa sensibilidade. O Respeito ao outro, a si, às diferenças etc., mas é preciso que em casa, as crianças e os adolescentes sintam também essa acolhida.
Muitos diretores de empresas importantes contam que, na maior parte das vezes, contratam as pessoas pelo currículo e acabam demitindo pelo comportamento inadequado na relação com os outros. Assim, trabalhar e viver bem exige mesmo mobilizar valores que não são só as competências técnicas, adquiridas na formação em universidades e cursos de pós-graduação. Está além disso... por isso, o ambiente mais favorável para o desenvolvimento de seu filho ou filha é: o amoroso, o respeitoso e o democrático. Mostre aos seus filhos, a partir de palavras e atitudes, que eles são queridos e que a relação em família é afetuosa. Permita que todos possam se expressar, mesmo quando as opiniões forem divergentes. Garanta que cada um seja respeitado em família e ouça sempre o que os filhos têm a dizer, nas decisões em família. Dessa forma, os seus filhos aprenderão a lidar com as próprias emoções e a conviver com os outros de maneira respeitosa. Para que tudo possa dar certo, nessa ação de construção de pessoas inteligentes emocionalmente, não é necessário bater nos filhos. Castigos físicos não resolvem. Vale mesmo é estimular as atividades cooperativas, inclusive nas tarefas domésticas. Deixar de lado essa vivência colonial, em que a secretária é quem cuida de tudo em casa, ajudará os seus filhos em sua formação colaborativa. Arrumar o próprio quarto é um princípio importante. Respeitar o espaço do irmão e as diferenças em relação aos trabalhadores da casa também é importante.  Algo que jamais devemos fazer, é estressar em casa com os filhos e ceder para os filhos na hora da pirraça. Tudo isso acontece e a nossa tranquilidade será o elemento necessário para que tudo acabe bem.
Para você conhecer mais sobre esse tema, sugiro a leitura do livro de Andrea Ramal, Filhos Bem-Sucedidos – Sete maneiras de ajudar seu filho a se realizar na Escola e na vida, Editora Sextante. Acho que você irá adorar essa leitura.
Aproveito para desejar a todos um ótimo final de semestre.
Após o breve recesso, estaremos de volta em nossa nobre missão de formar seres humanos para a vida.

Estamos juntos!


quarta-feira, 7 de junho de 2017

Estou decepcionado com você



Certamente essa frase, quando dita aos nossos filhos, reflete apenas o momento de ira e de raiva do adulto. Contudo, se falada com frequência, levará a criança acreditar que ela é o que os pais não desejaram, provocando um sentimento de rejeição. Uma sensação de inadequação e com certeza de incompetência como pessoa. Não podemos deixar de lembrar, que as crianças, de maneira geral, passam grande parte dos seus dias tentando mostrar aos pais as suas habilidades e adequações. O tempo todo, as crianças querem a aprovação dos pais, seja no esporte, na escola ou mesmo nos desafios das brincadeiras. Se ela tem a sensação de que está provocando decepção nos pais, certamente o que as tomam é um forte sentimento de incapacidade. Isso a perseguirá o resto de suas vidas e, com absoluta certeza, gerará frustações enormes. Eu, particularmente, levei muito tempo para ter de parte de meu pai um reconhecimento por minhas conquistas, o que certamente impactou em minha vida.
Dizer a um filho ou filha que está muito decepcionado com ele ou com ela, passa a ideia de uma quebra de confiança no relacionamento. A criança terá a sensação da existência de um enorme abismo na relação amorosa com os pais. Complicado, né? É sim! Imagine você dizendo a seu filho que está decepcionado com as notas ruins na escola, que irá tirá-lo da escola. Dá para imaginar a terrível sensação de incapacidade? Não se motiva dessa forma, mas penaliza. Pior, destruindo e não ajudando a reconstrução de segurança. Como essa criança encontrará forças para não mais lhe decepcionar?  
Um sentimento de rejeição se instalará na mente dessa criança e ela irá acreditar que estragou o bom relacionamento com os pais e, claro, sentirá culpa por não ter correspondido às expectativas dos mesmos.
Você já disse essa frase ao seu filho ou filha? Foi repetidamente? Ora, uma vez ou outra, não é tão grave. Mas, o que devo dizer? Com absoluta convicção, diga sempre que não concorda com o que ele ou ela está fazendo.  Peça que avalie o que está fazendo e mostre as possíveis consequências. Afirme o seu compromisso de estar junto nos momentos de erro. Procure resgatar em seu filho, o senso de responsabilidade e o sentimento de que o que está sendo feito não é aceitável. A criança saberá que errou e que está sendo chamada a uma reflexão e, acima de tudo, não está sendo rejeitada, mas amada. Esse é o melhor sentimento, a sensação mais agradável possível e que com absoluta certeza irá gerar um sentimento de segurança no sentido de ser amada e conduzida. Criança precisa sentir-se conduzida e amada.
Certa vez, em um momento de atendimento, na anamnese, de maneira surpreendente o analisando me disse: “Estou aqui porque o meu pai está decepcionado comigo, senão eu estaria brincando com os meus primos”. De imediato percebi que estar ali comigo representava um castigo, punição pelo fato de ele ter decepcionado o pai. Nesse momento, pude perceber a sua maior angústia: a rejeição. Por isso, todo cuidado com o que dizemos aos filhos é essencial, principalmente nessa frase tão utilizada e tão pesada. Falamos por pensarmos que há nela uma força de resolver o problema, no sentido de revelar que o que está sendo feito não condiz com o que planejamos ou esperamos. Contudo para o outro, sendo ele uma criança, aí é que o peso ainda é muito mais significativo. Pense nisso!


segunda-feira, 22 de maio de 2017

A Educação e a contemporaneidade




A Educação contemporânea tem sido marcada por profundas modificações ocorridas nos campos econômico, científico e cultural. Se considerarmos os avanços tecnológicos e a forma de interação e comunicação entre crianças e jovens, aí diria até que as mudanças são significativas em todo mundo.
Na semana passada, em São Paulo, participei da Bett Educar Brasil, uma enorme feira de educação. Participei de várias palestras com educadores da Finlândia e Cingapura, que nos revelaram o quanto de mudanças significativas acontecem na educação mundial.
Há um novo conceito de educação que certamente choca-se com o modelo tradicional que nós conhecemos aqui. Não me refiro apenas a introdução de recursos tecnológicos na sala de aula, mas principalmente na mudança significativa de valores e paradigmas educacionais. Isso no sentido metodológico, mas também na organização espacial da escola e das salas de aula. Esse formato conhecido por nós, do professor que ensina e o aluno aprende, está sendo substituído pelo modelo em que o professor instiga e os alunos aprendem e ensinam. O professor vem deixando de ser um palestrante e passando a ser um orientador, um mediador. Os alunos estão sendo provocados no sentido de serem mais ativos e menos passivos nesse processo.
Se pensarmos que as crianças e jovens de hoje não conseguem mais ficar sentados e ouvindo por muito tempo, faz sentido repensarmos as estratégias de ensinar. Precisamos de mais movimento e provocações, além é claro de utilização de recursos tecnológicos de acordo com a linguagem desse mundo contemporâneo, conectando os nossos alunos no universo global em que vivem. Estamos certos disso e evoluindo gradativamente para isso. A escola, enquanto instituição transformadora, necessita de fazer esse papel inovador e está fazendo. Talvez por isso, vivemos uma certa onda de inconformismo de algumas famílias que atreladas a conceitos antigos, acham que a escola tem perdido a mão. Reclamam sempre dos passos dados no sentido das mudanças necessárias e se apegam ao apelo: “ Na minha época, a gente...” Pois é, essa época foi sua, foi minha, mas não é a época das gerações contemporâneas. A escola de hoje é certamente para a geração de hoje. Por isso mesmo, ela tem que se adequar aos apelos do presente e continuar de olho no futuro, caso contrário, não consegue cumprir o papel de instituição transformadora. Essa entrega de contemporaneidade é o que determina a sua sobrevivência enquanto instituição para o futuro.
Como sabemos que essa “Geração Z” já nasceu segurando um smartphone, a escola de hoje precisa entender melhor as demandas dessa nova gente. A pergunta simples, mas de solução complexa é: Como ajudá-los a aprender mais?  Certamente não com os métodos e estratégias do passado. Precisamos de aulas voltadas para o protagonismo dos alunos e precisamos de inovar na metodologia e na didática também. Estamos certos disso.
A Profª Marjo Kyllömen, Secretária de Educação de Helsingue, Finlândia, em sua palestra para os diretores do grupo SEB, foi enfática ao afirmar que a única saída para a qualidade educacional dos alunos é a inovação na metodologia e na prática relacional dos educadores com seus alunos. Não se trata aqui de relação social amistosa, mas sim de mudança de comportamento em relação aos atores do teatro da educação. Os professores precisam garantir aos alunos um ambiente de aprendizagem, onde a colaboração, o movimento e o interesse dos alunos seja o foco. O protagonismo dos alunos garantirá a aprendizagem de qualidade. No passado, o professor era o colecionador de informações. Hoje, a conexão do mundo contemporâneo abre perspectivas ilimitadas no que tange fonte de conhecimento. Os saberes estão nas nuvens. O professor tem que orientar e despertar, mas o aluno é quem deve buscar o conhecimento.
Aquela escola pautada em pilares da disciplina rígida e da rotina pedagógica engessada, não atende às demandas educativas das gerações contemporâneas. O próprio conceito de disciplina e valores também se modernizam. As roupas, o corte de cabelo, os adereços, as múltiplas expressões de linguagem devem também fazer parte desse ambiente educativo. Tudo com racionalidade e dentro de normas de convivências, mas ainda assim sem a rigidez de um quartel. A escola é o espaço das manifestações humanas. Não é na escola que as crianças e jovens vivem grande parte de suas vidas? É por isso mesmo que a escola precisa buscar uma identidade com os alunos de seu tempo. Muito interessante é ver que, no segmento de educação infantil, toda essa leveza e movimento que se busca sempre existiram. O que sentimos na escola, é que na proporção que as crianças vão crescendo, mudando de segmento, ela vai perdendo a identidade com o espaço escolar. A escola vai se distanciando, tornando-se não mais estimulante. Torna-se chata na verdade. Aí, instala-se um clima de pouca identidade e interesse. Precisamos mudar isso ou teremos sempre uma escola distante de seus alunos. Esse desafio é mundial e o mundo está discutindo a necessidade do reposicionamento da escola como instituição de ensino e transformação. Saliento que estamos atentos e comprometidos com uma educação inovadora, responsável e criativa.


segunda-feira, 8 de maio de 2017

A adolescência tardia



Um final de semana desses, encontrei, quando passeava na orla da Ponta verde, um amigo que também é pai de um aluno de nossa Escola. Conversamos demoradamente sobre o momento atual do país, a situação política e econômica em que vivemos e o reflexo disso no humor das pessoas.
Sem compromisso, observamos que o grau de descontentamento das pessoas é tão grande, que todos estamos muito irritados. Perdemos a paciência com muita facilidade e toda essa irritação tem provocado um enorme estresse até mesmo nas relações interpessoais.
Mas, por que estou lhe participando isso?  Ocorre que a nossa conversa foi para a experiência dos filhos, alunos, escola, crise da adolescência...
O referido amigo mostrou-se preocupado com os sinais da adolescência no filho. O pior, foi que se assustou quando eu disse que há hoje, entre os educadores e especialistas, a constatação de que a adolescência é um comportamento que está se prolongando e muito. Não é um período entre a puberdade e a idade de 18 anos como se classificou um dia. A adolescência está mais demorada, os filhos estão cada vez mais imaturos e permanecendo por mais tempo em casa. Surpreso, ele me pediu para escrever algo sobre o tema. Assim, aqui eu faço um breve ensaio a respeito.
A psicanálise tem nos ensinado que uma das tendências mais marcantes da pós-modernidade é a efemeridade, a fragmentação, a descartabilidade e a inexistência de padrão dominante. Essa pós-modernidade é, aos olhos dos especialistas, uma sociedade centrada no lazer, na aparência, na imagem, no consumo, além do desinvestimento nas relações vinculares. (Vaitsman – 1194).
Há em nossa sociedade pós-moderna a vivência de um sentimento de descontinuidade do ser na medida em que se busca essencialmente valores externos e não o viver criativo. Certamente, nesse contexto, o “amadurecimento” afetivo e social dos jovens em formação, torna-se perene, atrasado, de forma que ainda é comum encontrarmos muitos jovens aos 20 e 30 anos, com precária subjetividade. Quer dizer, ainda “imaturos”, sem a construção de um eu e sem as respostas que são essenciais para o entendimento do mundo. Na verdade, é comum ainda a pergunta: “quem eu sou?”
O que temos hoje é o surgimento de uma nova geração entre as tantas que já foram denominadas. Especialistas a classificam como a “Geração Canguru”. Ela se caracteriza pela experiência de demora dos filhos em sair de casa. Há jovens, com idade entre 25 anos e 34 anos, que preferem ficar na casa dos pais, mesmo já estando no mercado de trabalho. O que eles não querem, é perder a segurança da casa dos pais, enquanto ainda estão se preparando mais para o exigente mercado de trabalho. Fazer mestrado, doutorado, MBA, cursos de especialização e conquistar a desejada segurança externa tem segurado os filhos em casa. Também a dificuldade de se colocarem no mercado de trabalho, os altos custos da independência e o conforto que encontram são fatores de fixação por mais tempo na casa dos pais. Esse comportamento torna-os mais “garotões” e, por isso, aparentemente menos responsáveis. Se pensarmos que outro dia, os jovens (já com 18 anos) estavam prontos para iniciar a vida independente. Aí é que ficamos preocupados com o comportamento de nossos filhos. Eu mesmo, sou de uma geração que o aniversário de 14 anos era um marco de maturidade, que nos colocava em um patamar de “homenzinhos”, até nas roupas mesmo. Hoje, os jovens da “Geração Canguru” até têm preparo intelectual, mas são carentes de preparo emocional para saírem de casa.
Mas de onde vem isso? Ora, vem do modelo de sociedade que temos aí construído nessa dita pós-modernidade. Jovens que cresceram sob a proteção exagerada dos pais, com medo da violência das cidades grandes, compensando-os com presentes devido à ausência deles, que se separam a toda hora ou que tem que trabalhar e muito para garantir o sustento dos filhos. São resultado da superproteção de pais na escola, no condomínio, nos ambientes sociais. Ficam em casa, presos aos jogos eletrônicos que desenvolvem os neurônios, mas dificultam o desenvolvimento da inteligência emocional e a capacidade de relacionamento, resolução de conflitos, de desafios que vencidos geram confiança, como ganhar uma corrida, um jogo de futebol ou um queimado. Falta-lhes ter vencido o medo de subir em uma árvore, correr, cair e se curar com a própria saliva as escoriações expostas. Esse modelo atual de sociedade está transformando os nossos jovens em pessoas que encontram dificuldades em enfrentar o mundo. Sabemos que ele não anda fácil. Tenho os meus filhos na adolescência e sei o quanto tem sido difícil dar a eles essas oportunidades. Contudo eu me esforço. Os problemas deles com os colegas, com as dificuldades na escola, precisam ser resolvidos por eles. Não interfiro. Questões de relacionamentos etc, são por eles resolvidas. Posso e devo orientá-los, mas não interferir. A escolha profissional que estão fazendo partiu de cada um e eu apoio e incentivo. Se estão com dificuldades em algo, oriento-os no sentido de enfrentarem, mas não os protejo. Jamais! Não serei eterno e eles crescerão.
O que precisamos é de encontrarmos um meio termo nessa questão. Deixar de lado a superproteção já pode ser um bom caminho. Despertar neles o desejo do desafio também, mas acima de tudo, levá-los a entender que precisam crescer para o mundo. Tem sido muito confortável ficar na casa dos pais, mas eles precisam entender a necessidade da construção de seus próprios mundos. Caso contrário, serão eternos adolescentes, dependentes de nosso conforto e sem a independência necessária para a realização na vida.
Precisamos estar atentos à atualidade, que é marcada por mudanças subjetivas que acabam por influenciar as relações entre os sujeitos, nas quais os ideais presentes, que serviam de balizadores, já não existem mais. Os limites não estão muito claros, ou talvez, já não existam mais. É o tempo da flexibilidade e da fluidez das relações, lugar de vínculos enfraquecidos, como nos ensina Bauman (2004). O sujeito enfraquecido, o “eu” não formatado, acaba desaguando crianças que foram superprotegidas e por isso não conseguiram se encontrar, para fazer a passagem para a maturidade. Esbarraram na adolescência e inconscientemente prolongaram essa experiência pelo conforto de não ter tido forças para enfrentar a vida. Não podemos aceitar isso para os nossos filhos e filhas.


terça-feira, 4 de abril de 2017

Minha criança não sai da frente do computador



É constante a preocupação de pais e educadores com a permanência das crianças na frente de um computador ou dispositivo qualquer. Fala-se nisso demais e eu mesmo já tratei esse tema em um artigo encaminhado aos pais. Contudo, proponho aqui um aprofundamento na discussão. Esse comportamento é mesmo prejudicial para as crianças e adolescentes? Em que sentido? Qual deve ser a atitude dos pais? Vamos construir um raciocínio capaz de elucidar esses questionamentos. Para tanto, estarei me baseando em “olhares” psicanalíticos a respeito do tema.
Eu faço uso constante dessa tecnologia em minha vida. Utilizo o computador para trabalhar, escrever e mesmo para me comunicar com a família que hoje está fora. Utilizando-se de meu smartfone, acesso as redes sociais, consigo a transmissão de imagens e conversas com todos em tempo real. É uma maravilha. De certa forma, eu assumo que estou exposto a um tempo enorme à frente das tecnologias e nas redes sociais, me beneficiando de tudo de bom que posso usufruir. Em meu caso particular, utilizo toda essa ferramenta em benefício do meu trabalho e minha comunicação. Portanto, para mim, o computador em si é apenas um instrumento que pode ser usado de maneira saudável. Então a pergunta é: o que torna o uso do computador prejudicial? A resposta depende do número de horas em que a criança ou adolescente passa na frente de uma tela, roubando o tempo das atividades que são necessárias ao bom desenvolvimento físico e social, bem como ao bom desempenho escolar. Se a criança ou jovem deixa de brincar, praticar esportes, ir ao cinema, ler um livro, estudar etc, por estar exageradamente “enfiado” em uma tela de computador ou qualquer dispositivo, aí sim temos um grande problema. Se ele ou ela está demasiadamente se relacionando com pessoas no mundo virtual, criando fantasias com a imaginação ou mesmo deixando de lado o mundo real para viver o mundo virtual, aí temos um enorme problema instalado.
Um perigo muito grande é a criança e o jovem começarem a viver um descompasso entre o mundo real e o virtual. As fronteiras entre as duas realidades podem se tornar confusas e aleatórias. Isso é um problema, pois quanto menor for a maturidade do usuário, mais real ele achará o mundo virtual. Tudo em suas mãos, via internet. Isso quer dizer que, para alguns, viver o mundo virtual pode então ser mais interessante do que viver o mundo real. Mais rápido, mais sofisticado e mais interessante. Os encantos das redes sociais faz de qualquer um, uma pessoa popular, cheia de amigos envolvidos em momentos deliciosos com postagens que só mostram lugares lindos e festas. Reparem o perigo... O mundo virtual nos leva a um mundo de felicidade. Não há cobranças ou limites, como no mundo real. Tudo é extraordinário. Pode se comprar, assistir a um show, baixar músicas, jogar, conhecer parceiros e parceiras, postar ideias... tudo é possível. Esse mundo é mais sedutor e gostoso de se viver. Para as crianças e jovens a sensação de estarem em um mundo real quando acessam a internet é muito grande. Aos poucos, ele vai se alienando do mundo real e se isolando dele.
A expressão extremada da existência virtual é o site Second Life, em que os usuários podem mesmo construir uma nova vida, uma nova identidade (nickname), com perfil de personalidade nova. Pense no tamanho do problema... aqui eu tenho a desconstrução de uma personalidade real e a construção de uma personalidade virtual desejada. No campo psíquico, o descompasso do que é vivido na realidade e o que é criado no virtual, cria desvios que levam a mente humana a trabalhar mais próxima do funcionamento psicótico, com uma possível sensação de onipotência e uma tendência ao isolamento narcísico. Claro que tudo isso nos leva a entender que precisamos, sim, limitar aos filhos a utilização excessiva dessa maravilha. Fala-se hoje no surgimento de novas doenças, as ligadas às tecnoneuroses. Então, há perigo e nós devemos estar atentos. Devemos estar atentos ao isolamento deles, a falta de vontade de brincar e se relacionar socialmente. Precisamos dialogar para vermos se estão vivendo em um mundo paralelo ou estão conosco no mundo real. Precisamos estar atentos para não perdermos os nossos filhos para essa virtualidade, pois há perigos ocultos que envolvem sedução e mentiras nas redes sociais. O mundo virtual possui encantos que podem levar os perigos a todos, inclusive os que nem ainda ouvimos falar, perigos silenciosos que operam em nossa mente.
Para você conhecer mais o que tem sido discutido sobre a vida de nossos filhos e tudo o que envolve o seu psíquico, eu sugiro a leitura do livro “Perguntas a um Psicanalista”. Ele foi escrito por Roberto Girola e editado pela editora Ideias Letras.


terça-feira, 28 de março de 2017

E a tal motivação...



Ouço e leio muito sobre a importância da motivação. No mundo corporativo, na escola, nas possibilidades de sucesso, em todos os aspectos. De certa forma, reproduzo o que leio e tento buscar sempre a motivação. Procuro motivar os professores, os colaboradores e os alunos e alunas, acreditando na força dessa motivação. Contudo, os anos de experiência e a constante autocrítica que não me deixam relaxar, me levaram recentemente a uma reflexão que desejo compartilhar. Sabemos mesmo motivar as pessoas? Estamos atentos a cada um, quando buscamos motivá-los? Estamos buscando corretamente a nossa motivação? Ora, saber motivar é fundamental para quem está educando, seja os pais em casa ou os educadores na escola.
O problema ao se tentar motivar as pessoas é: ninguém sabe motivar de fato. É exatamente por essa razão que a indústria de livros de autoajuda, de palestras fabulosas com conselhos mágicos e receita de sucesso estão na moda. É muito difícil de explicar e mesmo medir o que nos incentiva. Na verdade, tipos diferentes de personalidade reagem a motivações diferentes. Além disso, devemos considerar também que a motivação é mais interna do que externa. Dessa forma, encontra-se em nós e não no outro. Mas como descobrirmos isso? Vou insistir na tese do diálogo, da escuta e da aproximação. Ajudar alguém a se encontrar e se motivar depende e muito do conhecimento que temos desse alguém. Às vezes, nós pais e educadores, encontramos dificuldades em conhecer as nossas crianças e adolescentes. Até porque buscamos motivá-los, a partir de valores e desejos que são nossos e não deles. É comum, buscarmos a nossa realização no sucesso de nossos filhos ou o que nós atribuirmos ser o sucesso. Já procurou se permitir a escutar seus filhos para ajudá-los em suas buscas?
Muito bem... se a motivação depende também de fatores internos, inerentes a cada um de nós, ela está em nós. Para conhecê-la e tê-la como fator de impulso positivo na vida, precisamos tomá-la como de fato nossa. É aí que entra a questão do autocontrole, a força de vontade e a busca por metas que nos trarão a felicidade que buscamos.  Mas, isso não quer dizer que não podemos mudar a motivação de uma pessoa. Podemos sim e pode ser surpreendentemente fácil! Não pense que está na recompensa ou na bonificação. Pesquisas revelam que a premiação não é o fator decisivo para a motivação. O bom resultado está mesmo relacionado com determinação, autocontrole, entusiasmo, inteligência social, gratidão, otimismo e curiosidade. São sentimentos ligados ao caráter de cada um de nós. Assim, se educarmos pensando nessa base de sustentação, estaremos motivando os nossos filhos e alunos e também oportunizando a eles a busca pelos desejos internos de sua realização. O segredo está no caráter. Respeito à diversidade, tolerância, capacidade solidária de ajudar os outros são valores que acionam o “botão da motivação”, pois garantem autoconfiança. Pessoas seguras são motivadas e motivadoras. Ensinar a elas que a possibilidade real de fracasso, no que tentamos, é real na vida de cada um. Precisamos que saibam que em uma empreitada de alto risco, seja no mundo dos negócios, nas artes, nos esportes, as chances de derrota são grandes e que o sucesso vem com os erros e com as novas tentativas. Isso é motivação e também caráter! Dessa forma, motivação tem, sim, um forte relacionamento com caráter.
No que se diz respeito à motivação, caráter é tão importante quanto a disciplina. Somente uma pessoa disciplinada e de caráter encontrará forças para tentar de novo e se superar. Essa força é o que se denomina motivação. Portanto, não precisamos de palestras fantásticas e livros de autoajuda com receitas de motivação. Precisamos dar aos nossos filhos valores para eles encontrarem força e vencerem os desafios. Isso é motivação.
Se você se interessou pelo tema e deseja saber mais, aconselho a leitura do livro “Uma questão de Caráter”, de Paul Tough. Ele fala o que devemos buscar para proporcionarmos uma educação de futuro para os nossos filhos. A Editora Intrínseca foi quem editou o livro, com a tradução de Clóvis Marques. Tenho certeza que você irá adorar!         


sexta-feira, 10 de março de 2017

As crianças de hoje têm um cérebro igual ao cérebro das gerações passadas?



Segundo alguns especialistas contemporâneos, os cérebros das crianças e adolescentes de hoje em dia, estimulados que são por toda “tecnologia internética”, são mais rápidos do que os cérebros das crianças e dos adolescentes do passado. Os estímulos provocados pelos jogos eletrônicos, a exposição midiática e toda evolução tecnológica dos dispositivos disponíveis no mercado provocaram uma aceleração das atividades cerebrais. Neste mundo tecnológico, crianças e adolescentes convivem com personagens maravilhosos, belos, fortes, corajosos e sensacionais que são capazes de ofuscar a imagem de pais e educadores. A exposição midiática e os jogos eletrônicos têm sido tão grande, que é comum crianças e adolescentes apresentarem algum tipo de distúrbio emocional ou comportamental. A neurociência chega a afirmar que a ansiedade gerada, provoca uma certa dependência, levando a necessidade de buscar novos estímulos.
Assim, como a escola e mesmo a família vai perdendo espaço para o mundo dos jogos e da mídia, fica claro entendermos o tamanho do abismo que vai se formado e claro o desinteresse por esses ambientes. Essa tem sido uma realidade, principalmente em crianças e adolescentes, que não são disciplinados no uso de seus dispositivos. Famílias, com dificuldades de dizer não aos filhos, têm deixado eles horas e horas expostos aos encantos dessa tecnologia. Qual o problema disso? Sequelas enormes, principalmente nas relações interpessoais e na valorização dos pais e professores. Para eles, nós nos tornamos desestimulantes, cansativos e repetitivos. Ultrapassados e lentos. Estamos assim sem cor, sem termos a linguagem deles. Isso é um enorme problema.
Claro que o contexto é complexo e polêmico, mas nem tudo está perdido. Precisamos tomar a frente, conhecer as linguagens modernas, melhorar a comunicação e o relacionamento com as nossas crianças e adolescentes e valorizar os momentos com eles. Precisamos tomar consciência de que os avanços são importantes para nós e que não dá para fugir da evolução. A própria escola tem ido ao encontro de novas linguagens de comunicação com os alunos. Temos procurado estar mais próximos das novas tecnologias, incorporando-as ao nosso projeto pedagógico. Mas, mais do que isso, estamos atentos às múltiplas linguagens de expressão de cada um, visto que elas estão conectadas com o mundo contemporâneo em que vivem as nossas crianças. Por isso, convido-os à quebra de paradigmas. Precisamos estar conectados ao novo tempo. Tudo muda e vem mudando. Precisamos estar abertos a isso ou perdermo-nos com a ilusão de que os valores do passado eram melhores. Cada tempo tem os seus valores e os nossos valores serviram para a nossa geração.
Precisamos nos atualizar como pais e educadores. O abismo não pode ser tão grande. Estamos certos da necessidade de um novo modelo de educação que já vem nascendo com força. Precisamos saber que os nossos filhos necessitam de ambientes que garantam o desenvolvimento de suas múltiplas inteligências e para tanto se faz necessário uma nova forma de comunicação. Isso, em casa e na escola. Esses cérebros agitados necessitam de novos modelos e, até para receber o nosso não, precisamos ter maneiras contemporâneas de comunicação. Os estímulos, o diálogo franco e a proximidade que garantem um conforto emocional, são fundamentais para o nosso sucesso. Embora modernos e ágeis, são crianças e jovens que necessitam estar acolhidos emocionalmente e seguros em sua caminhada. Essa segurança e essa acolhida encontramos no seio da família e nas trocas que acontecem na escola. Contudo, é na família que o amor irá ser a ferramenta mais importante na formação de nossas crianças e jovens. Portanto, temos aí os papéis da Escola e também da Família. Absolutamente em momento algum podemos inverter esses papéis. Igualmente é necessário supervisionar os filhos, exigindo que cumprem as suas obrigações escolares. É importante que saibam sempre que estudar é fundamental para as suas vidas e que o conhecimento transforma as pessoas. Muito importante essa consciência. Vale também ressaltar que, se faz importante dar autonomia aos filhos para que possam se expressar, lerem o mundo e por ele serem lidos. Superproteção não tem sido hoje o melhor caminho para que as nossas crianças possam se desenvolver de maneira saudável e confiante.


segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Vivemos em um mundo sem limites?


“Somente alguém que possa sondar as mentes das crianças será capaz de educá-las e, nós, pessoas adultas, não podemos entender as crianças porque não mais entendemos a nossa própria infância”. (Freud, 1913b:224)


Vivemos em um mundo cuja educação tem sido marcada por profundas modificações ocorridas em todos os campos. A política educacional tem sido gravemente afetada pelas acomodações do sistema capitalista, afetando a dinâmica nas escolas, nas relações entre os familiares e a escola, e mesmo entre os professores e os alunos. De maneira mais específica, tem acontecido em nossa cultura mudanças comportamentais que têm impactado na escola e também nas famílias.  Assim como a família, a escola vem perdendo autoridade, pois os valores vêm sofrendo mutações e os professores têm sido colocados no mesmo patamar que as crianças. Em família, a situação é similar. Crianças se colocam no mesmo patamar dos pais e, a título de uma “educação contemporânea e liberal”, o que temos é geralmente a perda de autoridade dos pais. As crianças, sem a referência da autoridade, crescem acreditando que podem tudo, que não precisam de limites e que sabem o que desejam na vida. Resultado disso? Indisciplina, desrespeito e desorganização social. O que existe para orientar essas crianças? Qual o modelo que seguirão? Será que vivemos em um mundo sem limites?
Vivemos em um mundo do consumo e os excessos se tornam preponderantes. Aí temos um cenário assustador. Crescem os laudos de hiperatividade, angústias, depressão etc. A ciência tenta encontrar medicação para solucionar as patologias, as famílias ficam assustadas e a escola acaba recebendo uma carga maior do que originalmente seria a sua missão. Crescem as diferenças e os educadores necessitam se adequar, e a escola a se reinventar. Muitos pais, simplesmente, preferem não tomar ciência do problema e culpam a escola que, por sua vez, atribui a responsabilidade às famílias. A criança fica no meio dessa situação.... Isso acontece em todo o mundo, pois é um fenômeno desse mundo líquido que estamos vivendo. Os pais estão cedendo aos desejos de consumo dos filhos e não estão conseguindo colocar limites. Como encontrarmos o equilíbrio em um sistema globalizado que apregoa um mundo sem fronteiras, exigindo qualidade total, eficácia e sucesso a qualquer preço?
Sempre no início do ano letivo, me dirijo a minha comunidade escolar para buscarmos um entendimento acerca das práticas necessárias para que, juntos, possamos construir um caminho que nos oportunize a construção de pontes que unam escola e famílias, para que possamos nos encontrar em um único ponto: a formação de nossas crianças. Para que isso aconteça, se faz necessário um quesito essencial: a confiança! Sem isso, não teremos um diálogo franco e saudável. A escola e a família somente conseguirão o sucesso junto às nossas crianças se fizermos juntos. Estabelecer laços de confiança e seguir as orientações da escola, é a certeza de que acertaremos. Claro que o tempo todo, nós e a família, teremos que buscar uma afinação única. É essa sintonia que garante a base da formação de nossas crianças. Jamais poderemos estar nos opondo e nos desacreditando. Esse embate gera desconforto e incertezas. Por isso, sempre convido os familiares que se aproximem das educadoras e educadores, coordenadoras e coordenadores e das nossas orientadoras. São eles os condutores da vida escolar de seus filhos. São eles os parceiros para a educação de nossas crianças. Por isso, são amigos e profissionais habilitados e competentes para resolverem tudo o que pode parecer ou mesmo ser uma lacuna entre nós escola e você família. Queremos o diálogo, a escuta, apostando um a um, na singularidade de cada sujeito que é aluno de nossa Escola. Queremos você conosco, para juntos oferecermos o melhor para as nossas crianças.
Nossa experiência na Escola é dessa ordem. Estamos interessados em cada um, em cada aluno e em sua história em particular, promovendo laços e garantindo um funcionamento de rotina e aprendizagem dos conteúdos. Somos assim, humanos, pais e mães, profissionais, educadores e carregamos também a nossa história de vida. Somos Escola e Família, Mestres e Aprendizes. O que precisamos é de você conosco para que possamos completar a nossa essência.