sábado, 28 de maio de 2011

Conheça seu filho!


Aceitar a pessoa do filho e nutrir por ele o respeito deve ser um exercício constante desde a primeira infância. Mesmo que, se por um acaso, essa criança não tenha sido planejada ou sua vinda ao mundo tenha levado a grandes mudanças em sua vida, saiba que o amor por ela tem que ser incondicional.
A primeira aceitação, a aceitação no seio da família, marca a aceitação dessa criança como ser que merece a felicidade. Outra coisa importante é também a aceitação dos filhos como sendo um ser único e, portanto, diferente dos outros irmãos ou primos. Ela será um ser em sua complexidade e pluralidade. Jamais igual a alguém, mesmo que tenha semelhanças físicas ou comportamentais. Assim, convido-os a assumirem como pais a “pedagogia familiar da aceitação”. Passar o tempo todo comparando os filhos ou o tempo todo tentando corrigir traços da personalidade de alguns, certamente vai trazer ao lar um estresse desnecessário.
Educar os filhos, orientá-los, ensinar-lhes a lição, encaminhar na vida, dar-lhes os princípios e os valores de “Boa Sorte” é nossa obrigação como pais, mas é muito importante que saibamos respeitar o eu de cada um, seus limites e suas demandas como pessoa.
Então, como fazer? São muitas as esperadas dicas para um bom relacionamento com os filhos e um maior bem estar no lar, mas estas me parecem ser essenciais...
1.    Respeite os filhos: devemos evitar o excessivo perfeccionismo de pais que chegam ao exagero de não aceitar que os filhos se sujem ao brincar, que molhem o piso da casa quando saem da piscina, que desorganizem a casa nos momentos das brincadeiras. Isso é impossível. Crianças brincam, desarrumam o ambiente e costumam molhar e até quebrar os móveis. O que temos que fazer é colocar regras e exigir que eles ajudem na arrumação da casa após as brincadeiras. Brincar é a expressão máxima da imaginação e da criação no mundo das crianças. As que não brincam têm mais dificuldade de se colocar no mundo e sair de situações diversas. Elas têm que recortar , modelar, desenhar, pintar e imaginar coisas com os outros irmãos e com os coleguinhas. Isso tem que existir!
2.   Seja confidente dos filhos: os filhos, quando crianças, procuram os pais para contar-lhes os segredos ou para denunciar um coleguinha ou irmão. Criar obstáculos a essa tendência significativa repulsa ao diálogo e a cumplicidade. Escute a sua criança, valorize o que ela está lhe dizendo e sinalize sempre que está disposto a ouvi-la. Seja próximo, mostre carinho e interesse pelo que ele tem a contar-lhe.
3.    Esteja sempre com os seus filhos: o afeto é uma boa base para estabelecer em família um relacionamento de segurança para os filhos. Quando não estiver no trabalho, esteja com os seus filhos. Elege o “dia a dia familiar”, aquele que você se dedica perto dos filhos. Domingo é ótimo. Procure sair com a família e acolha seus filhos com carinho. Se não gosta de correr, brincar etc., fique próximo a eles, toque, peça mais beijos, dê atenção, converse. Valorize o que eles têm feito, elogie o desenvolvimento de cada um. Mostre que se importa com eles.
4.    Assuma seu papel de pai e de mãe: vó é ótima, mas mãe é melhor para os filhos. Os avós são só carinho e orgulho. As crianças têm que ter claro em sua mente qual é o papel dos avós e qual é o papel dos pais. Não pode haver confusão aí. Os pais, esses sim, devem ter a última palavra na educação dos filhos. A responsabilidade na formação dos filhos deve estar ao encargo dos pais.
5.    Conquiste a confiança dos filhos: O afeto e a sinceridade na família facilitam essa confiança e a confidência dos filhos com os pais. Os pais devem ser sinceros e jamais enganarem os filhos. A verdade traz sempre segurança e serve para consolidar os valores importantes da vida.
6.  Observe e acompanhe os filhos: você já parou para observar seu filho? Tem acompanhado o seu desenvolvimento sócio-educacional? O respeito à intimidade dos filhos é fundamental, mas é preciso acompanhar a vida deles. Está seguro quanto às necessidades de seu filho? Conhece os amigos dele? Precisamos estar atentos e principalmente dar importância aos fracassos e às vitórias que estão trazendo para casa. Eles querem isso!
Por isso, nunca me cansarei em dizer: amem seus filhos, sejam amigos deles, chamem ao diálogo, corrijam os excessos, ensinem coisas boas, tenham alguma religião, acompanhem a sua rotina escolar, mas acima de tudo sejam confidentes e tenham respeito por eles. São seres humanos em formação que necessitam de afeto e respeito.
E, tenho certeza, se fizermos assim até poderemos errar na educação deles, mas certamente erraremos muito menos.

Sejamos felizes para sempre!


Referência bibliográfica - IDE (Instituto de Desenvolvimento da Educação) – Ribeirão Preto – SP

sábado, 21 de maio de 2011

Educação Brasileira: um pouco de História


A educação brasileira tem em suas raízes uma forte influência do que eu chamo de “jesuitismo”.
“Jesuitismo” é, na essência, uma concepção ideológica pautada em uma prática de educação doutrinária com veio autoritário, a partir do pensamento trazido pelas ordens religiosas, sobretudo a Cia de Jesus (ordem dos Jesuítas), que vieram para o Brasil na época da Colônia. Trouxeram o modelo educacional “teologizado” de Portugal e cumpriram o papel de primeiros professores.
Os jesuítas, em sua ação pedagógica, atuavam como reprodutores dos valores elitistas e cristãos. A escola era, na verdade, uma extensão da sacristia. A educação era catequética e o educador, um padre que se via na missão evangelizadora. Essa dinâmica perpetuou-se por séculos, mesmo após a expulsão dos jesuítas em 1759, sendo que essa educação tradicional, eclesiástica e centrada na autoridade do professor, persistiu até 1930.
Foi com Getúlio Vargas que a educação deixou de ser marcadamente religiosa e privada. De 1930 a 1964, período marcado pelo choque entre o ensino privado, religioso, público e laico, é que surge a “escola nova”, opondo – se ao tradicionalismo. A “escola nova” era centrada na educação da criança e baseada em métodos despidos da ideologia dominante, contrapondo os métodos tradicionais. Surge com força de lei o ensino público e obrigatório, ampliando o direito à educação a setores populares da sociedade. Era um contraponto, visto que as escolas privadas e religiosas mantinham seus valores e práticas.
O populismo do estado Getulista era sensível às reivindicações das massas populares urbanas e à inclusão dessa massa no sistema educacional. Servia também para que o poder de Vargas se reproduzisse, visto que o sistema eleitoral contemplava o direito de voto somente ao alfabetizado. É nesse período que a “nova escola” fez com que a educação se transferisse da sacristia para o palanque. As salas de aula tinham a bandeira do Brasil e o quadro de Getúlio Vargas na parede. É aqui que o “jesuitismo” passa por uma transmutação, mas não acaba. Passa a ser prática do modelo educacional estatal  na versão do populismo Varguista. A constituição de 1937 introduziu o ensino profissionalizante sensibilizada pela necessidade de formar um enorme batalhão de mão- de- obra especializada para o mercado de indústrias que surgia, mas também com a missão de inclusão do operário na educação. Dessa forma, no período Getulista (1930- 1945), o ensino oficial ganhou corpo e o ensino privado perdeu fôlego. Nessa linha, visando também à reprodução da sociedade populista, mas essencialmente elitista, em 1934 foi criada a Universidade de São Paulo (USP), centro irradiador da ideologia dominante que ia ao encontro dos anseios de uma classe média urbana, formadora de opinião e baluarte do conservadorismo.
 No período democrático (1946 a 1964), a educação ganhou um novo impulso. Incentivou-se o ensino secundário, a educação do surdo, dos deficientes visuais, e  começou-se a política de distribuição do material didático. É nos anos 50 que Paulo Freire desperta a curiosidade dos educadores com reflexões revolucionárias acerca de métodos e da proposta educacional vigente.
Com o regime militar (1964-1985), passamos a viver o período de “desânimo educacional” (Moacir Gadotti- 1993). O regime militar tomou para si todo o autoritarismo do “jesuitismo” e promoveu reformas no ensino que moldavam o sistema educacional aos interesses dos militares. A educação foi despolitizada e a partir de ações como o Mobral (Movimento Brasileiro de Alfabetização), o modelo educacional passou a dar resultados manipulados para servir de propaganda ao sistema.
Com o fim do regime militar (1985) pôde-se respirar os ares da liberdade e os educadores se lançaram em debates exaustivos na busca de novos paradigmas para a educação brasileira. A Constituição de 1988 estende o direito de educação a todos e fala em educação para a cidadania e qualificação para o trabalho. O ensino é livre à iniciativa privada e temos investimentos vultosos no ensino superior. A escola, em seu espaço e prática, vive reformas democráticas. Os professores estabelecem diálogos com os alunos, e métodos e propostas são experimentados. Mas e o “jesuitismo”, será que superamos definitivamente essa influência e prática? 
A sala de aula de hoje não é uma sacristia e nem um palanque populista, é verdade. Porém, há na própria ação dos professores práticas do “jesuitismo”, que são produzidas no relacionamento professor-aluno. Os professores ainda se colocam diante da classe, no seu discurso e prática, como reprodutores de valores e doutrinas. Para eles o espaço da classe é o seu centro de poder. Mesmo que não façam pregações religiosas ou políticas, nas aulas que ministram, passam os valores e as ideologias que carregam. Como membros de uma classe social, os professores, ao exercerem o magistério, exercem também o poder de influência, reproduzindo o sistema dominante; mesmo que pensem que sua prática seja contestadora, é apenas uma manifestação de construção da ordem vigente e não de desconstrução. É o “jesuitismo” em sua versão contemporânea.

Educar não é nada fácil

      É muito comum nos dias de hoje nos questionarmos sobre a educação que estamos dando aos nossos filhos. E, mais do que isso, é comum nos sentirmos inseguros com as atitudes que temos ou com as providências que tomamos diante de um conflito na difícil tarefa de educar. Tenho crianças em casa e, por isso, não só como educador mas como pai, eu mesmo me vejo diante do dilema: “será que estou fazendo a coisa certa?”
     No meu entendimento, erramos muito, mesmo que o único objetivo seja acertar. Erramos por excesso, por medo ou por achar que somos mais vividos e, por isso, sabemos exatamente o que fazer. Lembro que meus pais também agiam assim e, com certeza, meus avós também agiram dessa forma. Mas o que fazer para tentar errar menos? É importante termos segurança, metas educacionais e muita clareza em nossos objetivos. São os nossos valores e princípios, nossa ética e preceitos que devem nortear nossa caminhada.
      Se você acha que seu filho agiu errado porque uma atitude dele acendeu a luz amarela de sua consciência, converse com ele, mostre a ele o caminho de forma segura e paciente. Seja firme, mas dócil. Não tenha culpa por reprimir uma ação que não julgue aceitável. É necessário o diálogo e é preciso impor limites. Não podemos ser omissos, permitindo que a criança faça de tudo. É feio e é, acima de tudo, ruim para ela. Diante dos colegas, vizinhos e parentes, ela se torna uma criança indesejável, chata. O pior é que ninguém fala isso para nós, e a gente sempre tem aquela desculpa: “É fase, isso passa”. Passa se agirmos, se interferirmos, no sentido de corrigir. Amar a criança é torná-la aceita em seu meio e permitir que ela seja feliz.
      A boa educação não deve ter como parâmetro os conflitos que nós tivemos na infância. A criança de hoje vive em mundo diferente do nosso. Não adianta pensar que nossos filhos irão agir como agíamos. Eles são de outra época. Assim, cada filho é um ser individual que vive seus dilemas e que reage de forma diferente do que reagiríamos ou reagimos quando vivemos na infância conflitos semelhantes. Agora, uma coisa é certa, mesmo vivendo em “mundos diferentes”, somos seres humanos dotados de sensos que necessitam serem despertados. Os pais, ao lado dos professores, são os responsáveis por essa magnífica tarefa: despertar nas crianças os sensos que a formarão como seres humanos. Educar é isso. É conduzir, orientar e formar.
      Aos pais, cabe ainda uma avaliação mais profunda: é necessário observar se estão mesmo vigilantes quanto ao propósito de serem mestres de seus filhos.
      Não deixe que os mesmos sejam desrespeitosos quando falam com você. Seja afetuoso e ensine a eles a valorizar o que possuem. Cobre deles respeito e compromisso. Permita que eles sejam autônomos, mas mostre o porto, caso necessitem de apoio. Seja cúmplice deles e estabeleça limites. Não é uma forma mágica, mas sim um princípio simples que na correria do dia-a-dia esquecemos. Os pais têm que estar seguros do que realmente querem de seus filhos e para os seus filhos. Com tudo isso, ainda tenho coragem de dizer a vocês que continuaremos errando. Não muito, mas ainda erraremos, mesmo que a vontade seja sempre de acertar.
      Quanto aos valores, saibam que pai e mãe têm mais responsabilidade do que a escola. Os princípios éticos e morais, embora colocados pela escola, são parâmetros de cada família ou grupo social em que essa família está contextualizada. Claro que não iremos ter uma unanimidade na questão dos valores humanos, mas se faz necessário observar junto aos filhos as necessidades de respeitarem os amigos, os mais velhos, os professores e o ambiente em que vivem. Respeitar a natureza, as diferenças étnicos culturais e conhecer as mazelas sociais de forma a sensibilizarem com os problemas do meio em que vivem. Valores são fundamentais para que as nossas crianças cresçam com espírito de cidadania e respeito à pluralidade do mundo em que vivemos. Crianças conscientes, educadas e colaboradoras permitem que o mundo seja melhor. Nessa tarefa de educar para a vida, nós, “educadores escolares”, convidamos os “educadores familiares” a caminharmos juntos no desafio de educarmos nossas crianças com o senso de respeito aos outros. Não podemos achar bonito os filhos que são brigões na escola, egoístas e espertões. Vamos ensiná-los que o verdadeiro sentido da vida não está em levar vantagem em tudo, mas sim em compartilhar e respeitar, e que isso não desfaz a ideia de estarem sendo preparados para serem pessoas de sucesso na vida. Aliás, o verdadeiro sucesso está em pessoas que venceram com ética e respeito ao próximo. A verdadeira liderança é aquela que respeita os liderados e se coloca a seu lado, mesmo que a decisão esteja com ela.
      A cada dia, como pai e educador, me convenço de que educar não é nada fácil. Mas, todos os dias, quando acordo, encaro o desafio de buscar o melhor que há em mim para deixar para meus filhos e compartilhar com a minha equipe e os meus alunos. Tenho a certeza de que os senhores são parceiros em nossa caminhada de tal forma que ao chegarmos no final do ano letivo poderemos com o sorriso da felicidade dizer: “realizamos um bom trabalho”.

sábado, 14 de maio de 2011

As maneiras da construção da família e a criação dos filhos


     Hoje, muito se fala sobre o papel da família na construção de pessoas estáveis e felizes. Hoje não! Na verdade eu ouço isso desde que eu era criança. Nas antigas aulas de “Moral e Cívica”, meu professor sempre dizia: A família é a célula “mater” da sociedade. Parece que de um tempo para cá essa visão de família saiu de moda. Era ser contemporâneo atribuir à família os problemas (depressão, divórcio, dificuldade de relacionamento etc.) do dia-a-dia das gerações dos anos 80 e 90.
     Mais recentemente, a família vem reconquistando espaço. Li em uma edição da revista Veja de 2007 que encontrei quando buscava gravuras para a tarefa de minha filha do maternal II, a articulista Lya Luft que escreveu um artigo intitulado Família tem de ser careta a dizer que “quem não estiver disposto a dizer não na hora certa e se fizer de vítima dos filhos, que, por favor, não finja que é mãe ou pai”. É o que vem acontecendo. Depois de percorrer um caminho do “amor negligente”, pais que se diziam modernos sentiram na pele os problemas de terem criado filhos “sem limites”. Atualmente é usual o discurso da necessidade do “amor responsável”, do “amor exigente”. É isso, a geração de pais afetada pelo psicologismo está dando lugar a uma geração de pais mais cuidadosos e difíceis no relacionamento cotidiano com os filhos.
     Tem sido comum encontrarmos nas livrarias obras de auto-ajuda sobre o tema. A busca pela “família ideal” leva a um consumo de livros que tentam passar uma fórmula perfeita para a construção de uma família perfeita. Eu, por experiência e observação, penso que a busca do equilíbrio na família se dá a partir de pontos simples como o respeito mútuo, sinceridade no falar e no agir, visão otimista da vida, tolerância que é resultado da cordialidade e do entendimento, flexibilidade, confiança nas pessoas que compõem a família. Como podemos ver, a fórmula é simples, não há nada de novo. Dessa forma, fica evidente que cabe a nós a responsabilidade pelo sucesso ou não do bom relacionamento familiar. A busca tem que ser permanente e a fé no sentido de que uma família vale a pena é o combustível para o bom relacionamento, para o sucesso da família feliz.
     Os filhos, fruto de amor e dedicação, devem ser tratados como parte efetiva da família e não como uma classe de pessoas abaixo da vontade dos pais. É preciso dar ouvido a eles e respeitar a individualidade. Não os compare, pelo menos na frente deles, e saiba que cada ser é um ser único. Tenha afetividade e norteie os passos deles. Não dê a eles tudo o que pedem e nem achem graça quando falam palavrões. Faça-os guardar os brinquedos após as brincadeiras e nunca brigue na frente deles. Exija responsabilidade e não tome partido dos seus erros, faça-os enxergar a verdade. Dê a eles conselhos, carinho e atenção. Dessa forma, pavimentamos o caminho que nos levará a uma família consistente e feliz.
     Se você quiser ler um pouco mais sobre o assunto, eu gostei muito de dois livros da Tânia Zagury. Um chama-se LIMITES SEM TRAUMAS e o outro EDUCAR SEM CULPA. Ambos são da editora Record e estão no mercado em edições novas. Vale à pena conhecer mais um pouco do comportamento das crianças, para termos parâmetros para sermos mais eficientes com os nossos filhos. 
 
Muito obrigado.

AUTOESTIMA

DISTRAÇÃO, IMPULSIVIDADE E HIPERATIVIDADE: SAIBA MAIS SOBRE O DISTÚRBIO DO DÉFICIT DE ATENÇÃO



      Recentemente, muitas denominações e siglas têm surgido para referir-se ao Distúrbio do Déficit de Atenção (DDA), quando mais severo, o distúrbio é denominado  Distúrbio do Déficit de Atenção com Hiperatividade – Impulsividade (DA/HI), na prática, DA ou DA/HI e outras denominações são agrupados sob o prisma da sigla DDA (entendimento mais recente entre os profissionais clínicos que fazem o diagnóstico e o tratamento do referido distúrbio).
      O que é na prática o DDA? Quando falamos em DDA, não estamos exatamente tratando de um cérebro com “defeito”, referimo-nos sim a alterações da atenção, impulsividade e da velocidade da atividade física e mental em crianças e em adultos. O distúrbio está apoiado no tripé: distração, impulsividade e hiperatividade. Para melhor compreendermos o problema e conhecer a angústia dos portadores desse déficit, vamos analisar o referido tripé.

1) Distração: Este sintoma é o mais importante no entendimento do DDA. O portador pode não apresentar alteração na atenção. Os sintomáticos são crianças ou adultos que apresentam acentuada dificuldade na concentração. Possuem forte tendência à dispersão, são distraídos a ponto de não conseguirem a concentração necessária para o bom desempenho na escola e no trabalho. Distraídos, atraem para si dificuldades de organização e até mesmo de convívio social. As relações interpessoais são abaladas por aquilo que se apresenta como sendo desinteresse ou descuido, mas na verdade foi a distração que gerou o esquecimento.

2) Impulsividade: Ser impulsivo é reagir com força diante dos estímulos do mundo externo. É emergir com muita emoção, é ter ato impulsivo. Tal fato provoca impacto negativo no convívio social, no meio familiar e também no ambiente profissional. O DDA é inconstante emocionalmente, apresentando impulsividade verbal, o que causa a ele sérios problemas. As crianças costumam dizer o que lhes convém, criando atrito no grupo social e mesmo em casa. O adulto, com tanta impulsividade acaba tendo problemas no relacionamento afetivo e profissional. Muitas vezes nós confundimos a impulsividade, sintoma de DDA, com temperamento forte da pessoa. Observe com cuidado, o DDA entra e sai com freqüência nos grupos sociais e empregos, além de ter problemas sérios no relacionamento amoroso. Tudo para ele é muito, é intenso. Há forte tendência a compulsividade e muito desespero. 

3) Hiperatividade: Há muita agitação nas pessoas portadoras de DDA. Quando crianças, desassossego na escola, brigas na rua,  movimentam-se correndo ou pulando, mexem em vários objetos ao mesmo tempo e são considerados muito levados. Na fase adulta, eles dormem pouco, o cérebro não consegue desligar, “sacodem” as pernas, ficam sem sossego até mesmo  quando sentados na cadeira, sentem-se cansados e irritadíssimos com tudo.

      A Dra. Ana Beatriz B. Silva, psiquiatra e autora da obra Mentes Inquietas, elaborou uma tabela com cinqüenta critérios para caracterizar um DDA. Irei salientar alguns pontos mais perceptivos que, na minha opinião, contribuem para maior caracterização de um DDA:
            - Atenção desviada com facilidade;
            - Desorganização;
            - “Brancos” durante uma conversa;
            - Interrupção na fala dos outros;
            - Interrupção de tarefas no meio;
            - Está sempre inquieto (pernas e mãos);
            - Realização de várias coisas ao mesmo tempo;
            - Costuma dar respostas antes que a pergunta seja concluída;
            - Impaciência;
            - Compulsão para compras;
            - Ações contraditórias;     
            - Baixa auto-estima;
            - Dependência química;
            - Depressões freqüentes;
            - Intensa dificuldade em manter relacionamentos;
            - Tendência a tropeçar e deixar cair objetos;
            - História familiar positiva para DDA.
           
       Na escola, principalmente nas séries iniciais do Ensino Fundamental, os profissionais de educação têm um papel importante para o diagnóstico de um DDA. A psiquiatria e especialidades médicas afins têm tido avanço no tratamento de pessoas portadoras. Há medicação capaz de atenuar o problema e permitir o fim do desconforto pessoal e social do indivíduo, permitindo, assim, a sua inclusão a um estilo de vida considerado normal. Segundo estatísticas atuais, o problema atinge cerca de 3% a 5% das crianças, sobretudo as do sexo masculino. Assim, os educadores e familiares têm que estar atentos para o problema e não simplesmente encarar as crianças portadoras como “desafiadoras” e “teimosas”.


Fonte:
1. Livro do 6º Simpósio Nacional Sobre Distúrbios de Aprendizagem. Coletânea de diversos artigos, São Paulo, 2002. 
2. Mentes Inquietas. Ana Beatriz B. Silva, Ed. Gente, São Paulo, 2003. 34ª Edição.

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Henri Wallon: um pouco de filosofia da educação


      Nós, educadores, estamos sempre aprendendo. Recentemente conheci a pedagogia de Henri Wallon. Médico e psicólogo francês do século XIX, Wallon, que também era filósofo, mostra que as crianças têm também corpo e emoções e não apenas cérebro. A partir dessa ideia, foi ele quem lançou a tese de que a escola deve proporcionar ao educando uma formação integral (intelectual, afetiva e social).
       A teoria pedagógica de Wallon parte do pressuposto de que o desenvolvimento intelectual das crianças vai muito além do cérebro e de sua capacidade cognitiva. Foi inovador, pois foi o primeiro filósofo da educação a contestar a máxima pedagógica da época que dizia ser a memória e a erudição os princípios da construção do conhecimento. Para ele, a construção do conhecimento e a perfeita relação entre o ensino e a aprendizagem dependiam também do afetivo. Não se aprende se o emocional da criança não está bem equacionado. Para o filósofo, “a emoção é uma forma que a criança encontra para exteriorizar os seus desejos e suas vontades”.
     Mesmo antes de conhecer Wallon, sempre acreditei na formação integral das crianças. Entendendo que o desenvolvimento intelectual do educando é possível a partir de uma pedagogia mais humanizada que provoque na criança o despertar de uma sintonia com o meio em que vive. Assim, ele passa a fluir melhor o seu pensamento e a compreender o seu desenvolvimento como pessoa.
       A abordagem de Wallon leva-nos a perceber a pessoa como um todo. Ela passa a ser não um cérebro que está acumulando conhecimento, mas uma pessoa que necessita do conhecimento para viver melhor e mais feliz. Leva-nos a sentir a necessidade de ver, nos nossos alunos, seres humanos que expressam suas emoções e necessitam de afetividade e, mais do que isso, ela nos conduz à missão de formar, respeitando a história de cada educando. Isso é maravilhoso, pois faz da educação uma tarefa de aprendizado constante também para o educador. A sensação que tenho é que ao nos debruçarmos sobre o desafio de ensinar, acabamos por aprender muito sobre a essência dos seres humanos e as necessidades reais do aprendizado. O pensamento Walloriano oportuniza-nos a reflexão do “homem-total”, daquele que necessita aprender para a vida. Falamos então na construção integral do ser, capaz de desenvolver o intelecto, sem esquecer o emocional e o social.
       Em uma proposta pedagógica global como a nossa, há lugar para apreciarmos a proposta de Henri Wallon, pois nos comprometemos a formar para a vida, ensinando de verdade. Sabemos e vemos o aluno como indivíduo e, por isso, um ser em formação que exige cuidados e carinho. Temos consciência de que a perfeita formação respeita a pessoa como um todo. Em nossas atividades pedagógicas e eventos, envolvemos-nos com afinco na idéia de que as emoções e o pensamento são elementos essenciais para o perfeito desenvolvimento das crianças.
      Entendendo que a Escola guarda para si o compromisso de difusora do conhecimento acumulado, sabemos também da necessidade de atender o indivíduo em aspectos afetivos e individuais. (Claro que reservamo-nos a aspectos que no campo psicopedagógico possam ser geridos por educadores de formação exclusivamente pedagógica, isto é, profissionais com formação exclusiva em técnicas pedagógicas). Dessa forma, a criança desfruta do conhecimento ministrado na escola e tem preservado seus traços originais de cultura, histórico familiar e relações sociais, e, estando ela no convívio escolar, interage com pessoas diferentes, vivendo em uma diversidade que tende a enriquecer a personalidade. E aqui temos novamente a idéia de Wallon, que coloca o meio escolar como propiciador de subsídios para a compreensão maior das condutas individuais de nossas crianças, permitindo assim um proveitoso conhecimento sobre o seu mundo, para que nossa atuação como educadores seja capaz de agir para uma formação sólida.



Bibliografia:
Galvão, Isabel. Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Ed. Vozes. 
Wallon, Henri. As origens do pensamento na criança. Ed. Manole.