Educação, educadores e valores são partes de um mesmo contexto. No universo educação, temos de um lado o indivíduo e de outro o educador, impregnado de valores éticos, intelectuais e morais que serão, durante o exercício prático do ato de educar, incutidos nesse indivíduo. Como valores são normas, regras, preceitos e princípios de educação, segundo Piaget, torna-se uma relação normativa entre um indivíduo e os valores (Palmer, pág. 58). Assim, a educação deixa de ser apenas um ato de ensinar e passa a ser uma troca carregada de valores, principalmente no que tange à relação educador-educando.
O educador, por força da “intencionalidade inconsciente”, acaba incutindo valores ao educando que muitas vezes não são os valores que possuía até então. Na escola, os alunos não são uma página em branco, pois trazem do universo família e meio sócio-cultural uma impressão do mundo. E, na relação do dia-a-dia na escola, o educando, na troca com o professor, acaba recebendo novos valores, aqueles impressos na própria experiência de vida do professor.
Partindo do princípio de que aprender nada mais é do que adquirir conhecimentos e que conhecimentos é mais do que a aquisição e o armazenamento de habilidades e competências em uma área do saber, é óbvio que o educador ensina muito mais do que é proposto em um plano de ensino; ele ensina também os seus valores. Dessa forma, os profissionais usam de seus valores morais e intelectuais na educação de nossas crianças. Assim sendo, educar não é só ensinar, mas imprimir valores, o que, por certo, exige do educador uma consciência de um real papel.
Na rotina escolar, em suas aulas, quando o professor tece um comentário sobre o comportamento de alunos, ou quando aborda temas que permitem uma reflexão sobre o mundo, o professor está fazendo uma educação de valores. Ele coloca normas morais no mesmo status que matérias científicas.
Como “passar valores” é inerente ao processo de ensino, a educação nas escolas pode, no entanto, se dar de forma oposta à maneira doutrinária. O professor e seus alunos podem ter posições diferentes sobre valores. Deve prevalecer o entendimento de que tudo é relativo e de que não há obrigatoriamente uma posição de valores que seja mais correta do que a outra. A escola deve estar preparada para gerir a pluralidade cultural de um público, permitindo a coexistência de valores diferenciados. Ela precisa cuidar da formação de seus alunos e dar aos mesmos a oportunidade de reflexão e discussão acerca dessa pluralidade cultural, que, por sua vez, promove uma igual pluralidade de valores. Devemos sim educar conforme os valores pertinentes ao grupo social em que o educando está inserido, mas respeitando os valores éticos e morais.
Para Piaget, a formação moral de alunos e mesmo dos educadores passa necessariamente pela construção de valores, regras e normas, a partir de uma efetiva troca entre o educador e o educando no ato do processo ensino-aprendizagem. Para o sucesso dessa troca, a visão piagetiana segue o exercício da reciprocidade, do pensar no que pode ser válido ou ter valor para mim e para qualquer outro. (Maria Suzana, pág. 28)
Quando falamos em educação de valores, não queremos aqui propor receitas ou dar dicas de ensino, mas o educador deve proceder diante da tarefa de ensinar os seus alunos sem passar valores particulares. Penso ser essa tarefa quase impossível de realizar. Todavia, acredito na necessidade de uma ação educacional orientada por alguns princípios fundamentais, tais como princípios humanitários, cidadania, responsabilidade ambiental, ética etc., encaminhado pelo respeito mútuo entre as pessoas envolvidas no processo educacional. Penso não haver lugar para certezas no campo de valores e da moral, e defendo que devemos estar abertos à discussão de ideias e à revisão de princípios muitas vezes cristalizados.
Bibliografia:
1 – PALMER, Joy A. 50 Grandes educadores modernos. Ed. Contexto, 2006.
2 – MENIN, Maria Suzana de Stefano. Educação e Pesquisa (antigo – Valores na Escola) São Paulo. V.28, n.1, pág.1-100, 2002.
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